1 de nov. de 2013

Confronto – Imortalizando a cena brasileira






Por Marcos Garcia

Quando se fala no nome do CONFRONTO, a primeira imagem que se tem é de uma banda brasileira prestes a explodir no cenário mundial, tendo em vista suas turnês fora do Brasil, bem como seu profissionalismo sonoro e capacidade de não ceder diante de dificuldades e desafios.

E com a chegada de “Imortal”, seu mais novo CD, a banda dá mais um passo adiante em sua luta, vencendo as dificuldades e o conformismo. E aproveitando a oportunidade, fomos bater um papo com a banda e saber de seus planos.


Metal Samsara: Antes de tudo, agradecemos pela oportunidade, e vamos falar logo do disco novo, “Imortal”: quais seriam as maiores diferenças entre ele e “Sanctuarium”, de 2008? E o que houve que demoraram tanto entre um Full e outro? Estaria relacionado ao processo de composição das músicas?

Felipe Ribeiro: Nós que agradecemos o espaço. É um prazer pra nós poder responder as perguntas.

Bom, A diferença é que em “Imortal” conseguimos implementar vários elementos que até então nós não havíamos trabalhado nos álbuns anteriores. Acho que “Imortal” é mais completo, mais coeso e consequentemente, mais pesado do que os anteriores. A demora entre o “Sanctuarium” e o “Imortal” se deu pelo fato de que ficamos muito tempo na estrada, em uma turnê muito longa que somou o álbum de 2008 com a turnê de divulgação do nosso DVD “Confronto: 10 Anos de Guerra”, que foi lançado em 2010.


Metal Samsara: Ainda sobre “Imortal”, as faixas são ainda mais agressivas e intensas que nos discos anteriores, apesar da produção polida. Este ponto foi devido às mãos de Davi, ou ao que vocês queriam fazer do disco? 

Felipe Ribeiro: A ideia realmente era fazer um álbum pesado, com uma pegada mais densa, mais encorpado... Sem fugir das características básicas da banda. Acho que conseguimos. O Davi Baeta produz os CDs do CONFRONTO há muitos anos e já sabe exatamente o que pensamos. Ele consegue extrair sempre o melhor de nós e isso é uma coisa muito boa. A ideia sempre foi deixar o som com a nossa cara, com uma pegada bem orgânica... O mais natural possível, se deixar de soar limpo e claro. Quando ouve o a música no CD é possível visualizar a banda executando a musica com pulsação, respiração e não soar como algo mecanizado e artificial como muitos fazem hoje em dia.


Metal Samsara: O CONFRONTO já é uma banda com nome bem conhecido na cena mundial logo, houve alguma pressão durante a composição e gravação de “Imortal”, por parte da gravadora, da mídia e mesmo de vocês?

Felipe Ribeiro: Pressão não houve. Mas de certo que muitas pessoas pediam por novidades, queriam ouvir coisas novas e nós mesmos já estávamos ansiosos por isso. Mas tivemos toda liberdade do mundo para criar com o tempo que fosse necessário para fazermos exatamente aquilo que gostaríamos de fazer com calma e tranquilidade.


Metal Samsara: Outro ponto do CD que chama bastante a atenção de todos é a capa, um belíssimo trabalho de Patrick Wittstock. Como é que chegaram a ele, e como a arte foi feita? Houve intervenções de vocês nesse sentido?

Felipe Ribeiro: O Patrick já trabalha com o CONFRONTO há um bom tempo. Elaborou a capa de “Sanctuarium” e do nosso DVD. Completou a trilogia com “Imortal”. Ele é um artista alemão, uma pessoa sensacional e já trabalhou com bandas como Amon Amarth, Heaven Shall Burn, Grave, Caliban, entre outras... Além de gravadoras como Metal Blade e Century Media. E como nos já temos uma afinidade muito grande, ele consegue absorver a ideia da banda e elaborar um conceito que se encaixa perfeitamente dentro do que queremos com a banda! O mix entre a sua cultura e seu senso estético europeu com a nossa atmosfera, sangue e temas latinos acabou sendo junção perfeita. O Patrick é um cara sensacional! 


Metal Samsara: “Imortal” ainda é repleto de participações especiais legais, como João Gordo (do RATOS DE PORÃO, em “Uma Hora”), Carlos “Vândalo” Lopes (do DORSAL ATLÂNTICA, em “Flores da Guerra”), Felipe Eregion (do UNEARTHLY, em “Sangria”), Jonathan Cruz, Caio Mendonça e Paulo Doc (do LACERATED AND CARBONIZED). Como pensaram em ter este time como vocês, e como foi trabalhar com tantos convidados ao mesmo tempo?

Felipe Ribeiro: Foi tudo muito legal, fácil e divertido. Todos são músicos excelentes e amigos. Cada participação teve a sua história, por exemplo, o Carlos Vândalo, nós estávamos chegando ao estúdio para o Chehuan finalizar algumas vozes e encontramos o Carlos na saída do estúdio. A DORSAL ATLÂNTICA estava gravando seu CD no estúdio Superfuzz, que é o mesmo estúdio que gravamos o “Imortal”. Conversamos um tempo e sugerimos a ideia dele gravar umas vozes com a gente e ele aceitou. Foi sensacional! Já o João Gordo foi uma ideia do Felipe Chehuan. Quando fizemos a musica “1 Hora”, ele imaginou a música cantada pelo Gordo e sugeriu essa possibilidade. Todos nós achamos a ideia muito boa e partindo disso, como estabelecemos uma proximidade muito grande com todos os caras do RATOS DE PORÃO, fruto de muitos shows em que tocamos juntos e criou-se essa amizade, o Chehuan ligou e marcou com o Gordo no estúdio Mr. Som, do Pompeu do KORZUS. O resultado foi simplesmente absurdo!! Já o Felipe Eregion e os caras do LAC são amigos da cena aqui do Rio de Janeiro, frequentamos as casas uns dos outros, shows, somos todos bem próximos e já tínhamos essa ideia de chama-los para participar do CD de alguma forma. Foi perfeito! 


Metal Samsara: E por falar em participações especiais, como foi a participação de vocês no CD do LACERATED AND CARBONIZED, “The Core of Disruption”, já que Max participou da faixa “L.A.C.”, e Felipe em “O Ódio e o Caos”? Está parecendo uma troca de figurinhas (risos)...

Felipe Ribeiro: Pois é... Como disse, somos muito amigos e estamos sempre juntos, participando de projetos uns dos outros, seja em estúdio ou em shows. L.A.C. é uma banda sensacional e junto com o UNEARTHLY, são responsáveis pelos sons mais brutais praticados em solo carioca. Orgulho demais dessas duas bandas!


Metal Samsara: As letras do disco estão mais ácidas que de costume, especialmente em “Imortal”. Sabemos que a situação que vemos a cada dia realmente é nauseante, mas como as letras são escritas? Existe algum referencial ideológico ou literário que os ajuda nessas horas? E aparentemente, alguém entre vocês tem formação universitária, logo, como enxergam essa questão das pessoas ouvirem sua música, mas muitas delas não querer saber sua mensagem?

Felipe Ribeiro: Então, na verdade o único na banda que tem formação universitária é o vocalista, Felipe Chehuan. Ele escreve algumas letras e eu escrevo outras. Temos estilos bem diferentes de escrever e sempre foi assim, mas que de uma maneira bem natural, dentro do álbum, essas diferentes formas de escrever acabam se completando. O Chehuan tem uma abordagem mais direta como na letra de “Levante”, por exemplo. Eu escrevo de maneira mais, digamos assim, poética, com mais metáforas e alusões, ainda que sejam em temas bem diretos como na musica “Imortal”, “Eu sou a Revolução” ou “Mariah”. 

Nesse álbum, eu e Chehuan escrevemos algumas letras em parceria, coisa que nunca havia ocorrido antes. Fizemos isso em “Meu Inferno” e “Flores da Guerra”, por exemplo.

As ideias para as letras surgem de maneira bem natural e tem como pano de fundo a nossa vivência na periferia do Rio de Janeiro. Tudo aqui nos influencia... Do clima quente à violência, do descaso à “liberdade” das ruas. Qualquer conversa de rua ou um simples olhar pela janela pode virar uma letra de música e pra nós isso é algo bem natural. A letra de “Flores da Guerra” é uma homenagem às mulheres... É uma musica de amor e admiração por elas. “Meu Inferno” é sobre a Baixada Fluminense e a relação de amor e ódio que naturalmente sentimos em relação ao lugar onde fomos criados.

O que vemos é que as pessoas se identificam, pois a realidade que vivemos aqui, não é diferente das pessoas que vivem pelas periferias do Brasil como um todo. O mesmo acontece quando tocamos em países como Colômbia, Equador, Argentina, Chile, Peru, etc... Ou até mesmo nas partes mais pobres da Europa. Vemos que nossos fãs se sentem expressados e isso e bem legal! Mas agora, música é musica... Sempre ela que vai dar o tom. Tem pessoas que se apegam mais a melodia, outras, mais as letras... Mas no geral, a grande maioria consegue ligar uma coisa a outra.


Metal Samsara: E já que falamos em letras, por que sempre em português? Isso não chega a criar uma barreira para o público do exterior?

Felipe Ribeiro: Sempre criamos em português e sempre foi espontâneo... Nunca chegamos a pensar sobre isso. Desde o começo da banda foi assim e seguiu assim até hoje. Foi cantando em português que fizemos todas as nossas turnês fora do país e sempre foi motivo de muito orgulho poder levar essa parte da nossa cultura lá pra fora. E legal ver as pessoas na Republica Checa, Polônia, Alemanha, Noruega, Suécia, Dinamarca, Espanha, Turquia, etc... Cantando e tentando acompanhar as musicas em português. Essa subversão de valores é uma conquista pra nós. É a Revolução do Metal Latino Americano!


Metal Samsara: Falando do vídeo de “Imortal”, ele é bem carregado e opressivo em alguns aspectos, longe do convencional, com uma mensagem visual muito áspera. Como ele foi concebido, artisticamente falando? E como foi a escolha justamente de “Imortal”, em meio de tantas faixas ótimas do disco?

Felipe Ribeiro: Logo de cara acreditamos que o primeiro Single do álbum seria “Imortal” não apenas pelo título, mas pela força da música, pela ideia contida nela. Todo roteiro, concepção e produção foi feito pela produtora Pavê Gastronomia Visual, que é umas das grandes produtoras que temos no Rio de Janeiro e no Brasil. Eles já trabalharam com o CONFRONTO outras vezes e o diretor Eduardo Souza é um grande amigo da banda e já nos conhecemos há muitos anos. Já sabe o que gostamos e nos confiamos plenamente em sua visão artística. Um completou o outro, e o vídeo está sendo esse sucesso todo. Nós gostamos muito desse sentimento que permeia todo o vídeo... É angustiante e vai criando ansiedade. Ele é forte, polêmico, soturno... As pessoas ficam meio assustadas de início, esperando o que vai acontecer, e o desfecho acaba sendo impactante pras pessoas. Elas não esperam... 


Metal Samsara: Vocês possuem a agência Sob Controle cuidando de seus shows, e a The Ultimate Music Press cuidando da imprensa. Logo, estão satisfeitos com o trabalho deles?

Felipe Ribeiro: Melhor do que isso seria muito difícil. São duas das maiores agências não apenas do Brasil, mas como da America Latina como um todo. Trabalham com grandes nomes como KRISIUN, SEPULTURA, SHADOWSIDE e com eventos de proporções gigantescas no Brasil. Tudo que a musica independente precisa... Dedicação e profissionalismo de ponta, nível europeu e que fazem as coisas acontecerem de maneira correta. Somos muito orgulhosos de hoje dermos fazer parte do cast dessas duas agências! 


Metal Samsara: Bem, CD nas lojas, então, hora de cair na estrada. Já sabemos de alguns shows por aqui, inclusive o lançamento no Teatro Odisséia em 17/11, e alguns outros pelo Brasil. Mas já existe algo em termos de Norte, Nordeste e Sul do Brasil? E há previsão de novos giros pela Europa, e algo para EUA e América Latina?

Felipe Ribeiro: Sim, claro! Agora é cair na estrada! Dezembro, provavelmente, estaremos em SP e até o final do ano já estamos praticamente fechados de datas. Ano que vem tem América do Sul e a turnê europeia assim como nordeste também. Começamos a turnê de “Imortal” com shows em Londrina, Curitiba, Porto Alegre, Sapiranga, Guarulhos, etc.. Fizemos algo diferente das outras vezes. Antes lançávamos o CD e começávamos a turnê pela Europa e depois iniciávamos a parte nacional da turnê. Agora estamos fazendo justamente o contrario, começamos a turnê em solo brasileiro... O que é muito legal!


Metal Samsara: “Imortal” mostra um nível de amadurecimento técnico bem elevado, bem como que o CONFRONTO não lida com as dificuldades inerentes ao meio musical reclamando, mas enfrentando de frente os problemas com sangue nos olhos e dentes rangendo. Seria essa uma boa dica para aqueles que estão começando, a chave de seu sucesso? E como evoluir sempre sem nunca mudar a personalidade de sua música?

Felipe Ribeiro: Chave do sucesso nós não temos e nem temos essa pretensão. Também não acho que sucesso seja a palavra certa, porque acho que nunca foi isso que buscamos. Eu acredito é que você pode encontrar quatro amigos que possam dividir com você os mesmos sonhos, as mesmas alegrias e as mesmas músicas. E que a amizade pode fazer vocês passarem por momentos bons e momentos difíceis sem perder o foco. Acredito na música humanizada, que tenha pulsação, que respire, que transmita sentimento... Que seja real. Que não seja criada e concluída em computadores e que não seja apenas um caminho para atenuar suas mais profundas vaidades. Acredito que quando se faz música com o único intuito de atingir o que chamam de sucesso, as chances são mínimas. Eu particularmente gosto das coisas reais... Das palavras e das musicas verdadeiras. Gosto de escutar uma musica e saber que tem alguém ali tocando e dando o sangue pra aquilo ficar bom e se fazer ouvir. A música tem que dizer alguma coisa, mesmo que seja apenas com a melodia... Tem que ser viva.  


Metal Samsara: Novamente, agradecemos muito pela entrevista, e deixamos o espaço para sua mensagem aos nossos leitores.

Felipe Ribeiro: Nós que agradecemos de mais pela entrevista e pelo espaço!

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