16 de set. de 2016

AS DRAMATIC HOMAGE - Enlighten (EP)



2016
Nacional

Nota: 9,0/10,0


Músicas:

1. Advert
2. Astral Infernal
3. Praxis
4. Enlighten
5. Full Moon Madness


Banda:


Alexandre Pontes - Vocais, guitarras, programmings
Alexandre Carreiro - Guitarras, guitarra solo
Leonardo Silva - Teclados
Vinicius Rodrigues - Bateria


Contatos:



Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Em termos de Metal nacional, todos os dias bandas novas surgem nesta Terra de Santa Cruz. Não há como negar este fato. Mas por outro lado, nomes de veteranos vez por outra aparecem mais uma vez, mostrando que estão em atividade, e dispostos a conquistarem seu lugar ao Sol na base da música. Nesse contexto, o Rio de Janeiro sempre foi um celeiro de bandas diferenciadas, muitas delas em sintonia com as tendências em evidência no exterior. 

E um dos nomes mais tradicionais do cenário carioca é o AS DRAMATIC HOMAGE, banda que ao longo de seus mais de 15 anos de existência soube evoluir, mas mantendo sua fidelidade às raízes do Avant-garde Metal que pratica. E depois de lançar dois Demo-CDs e seu primeiro álbum em 2012, o aclamado "Crown", lança seu novo EP, "Enlighten".

O que "Enlighten" nos trás?

A verdade é que a banda estabilizou sua formação como quarteto, e vemos que o gênero que trilham é um mix inteligente e pessoal de influências de bandas de Doom Metal clássicas, mais a energia de tendências extremas, e a força de bandas inovadoras como BORKNAGAR e ARCTURUS. Ou seja, é intenso, pesado, agressivo na medida certa, mas ao mesmo tempo, diferenciado e com momentos de pura beleza. 

Gravado no HCS Studio no Rio de Janeiro, tendo a produção, mixagem e masterização da própria banda, temos uma sonoridade bem feita, com cada instrumento em seu devido lugar, além do equilíbrio entre peso, melodia, agressividade e clareza estarem em ótimo nível. E vale salientar que quem gravou as partes de baixo do EP foi Fabiano Medeiros, músico convidado.

O trabalho gráfico da capa é cheio de uma simbologia subjetiva interessante, e que está plenamente em sintonia com o conteúdo musical do EP e com a proposta musical/lírica do AS DRAMATIC HOMAGE.

Composto por uma regravação, um cover e duas músicas mais atuais (a faixa "Advent" é uma introdução), percebe-se que "Enlighten" visa fazer uma ponte de ligação entre o passado da banda, o álbum "Crown" e o futuro que ainda virá. Mas é preciso ressaltar que o quarteto faz um trabalho longe de ser convencional, longe de ser comum ou repetitivo. 

As linhas melódicas do grupo são belas e com elementos progressivos/Avant-garde que estão longe da complexidade técnica que muitos esperam, e ao mesmo tempo não são simples. Arranjos ótimos, vocais que oscilam entre timbres agressivos e outros mais limpos, teclados muito bem encaixados, e base rítmica com boa dose de peso e técnica é o cerne do trabalho do quarteto, mas isso lhes permite infinitas possibilidades musicais. E isso, meus caros, eles sabem explorar muito bem.

"Advert" - Uma introdução bem soturna e climática, preparando o ouvinte para o desafio que virá.

"Astral Infernal" - Por ser uma música mais antiga da banda (vem do Demo CD "Atmosphere of Pain/Anthems of Hate", de 2005), apesar da roupagem atualizada, é mais seca e agressiva. Mas mesmo assim, existem momentos extremamente cheios de beleza ímpar, como as incursões de vocais limpos e belos teclados.

"Praxis" - Introspectiva e focada em guitarras limpas e vocais melodiosos, ela nos lembra bastante algo próximo ao que ARCTURUS e ULVER já fizeram. Mas o diferencial é a busca pelo belo em termos musicais/artísticos, e eles conseguem atingir seu objetivo. È onde vemos o que o futuro guarda para a banda.

"Enlighten" - Talvez seja faixa que vai deixar muitos dos ouvintes perplexos, pois ela junta o lado agressivo do grupo (algo que vem de suas raízes) com o Avant-Garde do futuro que está chegando. Existem belos momentos da base rítmica, uma riqueza de riffs muito boa, os vocais oscilando entre timbres rasgados e outros mais macios, solos de guitarra caprichados. E como dito acima: não é uma faixa complexa em termos técnicos, mas seus elementos são capazes de fazer a maioria dos fãs terem que ouvir muitas vezes para compreendê-la. E cada ouvida nova é uma experiência nova e bela.

"Full Moon Madness" - Aqui, temos a versão para um clássico do MOONSPELL que foi gravado para o tributo "Em Nome do Medo", lançado em 2014. A banda soube respeitar a música original, mas impõe sua personalidade, seu jeito de ser, criando ótimos momentos para nossas mentes e ouvidos.

Resumindo: "Enlighten" não veio para mostrar que o grupo está vivo, mas para mostrar para todos que o AS DRAMATIC HOMAGE ainda tem muito a dar ao cenário nacional. E não é a toa que foram escolhidos como "opening act" para o show do ROTTING CHRIST no Rio de Janeiro, em novembro próximo.

Quem viver, verá.

E a versão digital do EP já se encontra disponível, distribuída pela Cold Arts Industry no seguinte link: https://coldartindustry.bandcamp.com/album/cold008-as-dramatic-homage-enlighten-ep-2016

SPELL FOREST - Amentia Ludibrium Tenebris (álbum)



2016
Nacional

Nota: 9,5/10,0

Músicas:

1. O Poder Invisível do Caminho Pervertido
2. Amentia Ludibrium Tenebris
3. My Call of Hate 
4. Per Triangulum Autem Serpentis Nefarium
5. My Insanity Becomes Wisdom
6. Belial Dominus Deorum


Banda:

Lord Mephyr - Vocais, guitarras, teclados
Flagellum - Guitarras
Lord Morpheus - Baixo
Pestiferat XIII - Bateria, percussão


Contatos:


Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Como é sabido por todos quando o assunto é Black Metal, o Brasil é um dos países onde o estilo é feito de uma maneira diferente, mesmo com a influência musical vinda da Europa. Aqui, o Black Metal ganha contornos diferenciados, com toques ou de outros estilos de Metal ou com a energia e acentuado toque latino nas linhas melódicas. Isso transforma e adapta um gênero ao público de nosso país.

E com certeza, um dos nomes mais fortes do país é o do SPELL FOREST, experiente grupo de São Paulo, e que retorna com o ótimo "Amentia Ludibrium Tenebris", que a Drakkar Productions acaba de pôr nas prateleiras das lojas.

De certa forma, o grupo preferiu fazer algo um pouco mais climático e voltado às raízes do Black Metal, ou seja, ainda continua criativo e com muitas mudanças rítmicas, mas a atmosfera do álbum como um todo é soturna, densa e cheia de momentos sombrios. Algo que retoma o que a banda fazia em seus trabalhos iniciais, mas sem negar a experiência acumulada pelos anos, logo, é um disco bem tradicional em termos de Black Metal, mas muito criativo e melodioso.

Tendo a produção dividida por Lord Mephyr (vocalista, guitarrista e tecladista da banda) e Fabiano Penna (do REBAELLIUN), mais a mixagem de David Castillo, a sonoridade de "Amentia Ludibrium Tenebris" é seca, com timbres cortantes, ou seja, mantém aquela qualidade característica do Black Metal. Mas ao mesmo tempo, foi bem cuidada, permitindo que o ouvinte compreenda bem o que o quarteto está fazendo.

O trabalho gráfico, por sua vez, ficou de primeira, com tudo trabalhado em tons de preto, marrom e amarelo, dando uma visualização sinistra ao que a banda faz musicalmente. Ou seja, a arte visual feita por Rubens Snitram (da Azoth Artwork) se encaixou perfeitamente na música do SPELL FOREST.

Apesar de voltado ao trabalho que conhecemos da SWOBM, o SPELL FOREST não nega sua experiência ou mesmo sua capacidade de criar músicas diferenciadas, com arranjos de qualidade que são capazes de surpreender até mesmo os detratores do Black Metal. Arranjos de primeira, boa dinâmica entre guitarras e teclados (criando aquela aura sinistra e mórbida tão característica da banda), baixo e bateria sabendo criar momentos diferenciados nos tempos, e vocais rasgados bem tradicionais são os elementos da banda, que unidos, criam algo fenomenal.

Usando de canções longas, os melhores momentos do disco são:

"O Poder Invisível do Caminho Pervertido" - é uma introdução bem climática e soturna, capaz de deixar os fãs arrepiados.

"Amentia Ludibrium Tenebris" - Uma música agressiva e ríspida, cheia de mudanças de andamento (o que mostra como a base rítmica da banda é técnica e coesa), mais um trabalho excelente dos teclados (que com suas intervenções providenciais ajudam a reforçar a atmosfera opressiva da canção). 

"My Call of Hate" - Mais uma vez, a agressividade é a tônica da música, mas o andamento não é tão veloz, embora bastante variado. E ela é cheia de passagens que nos empolgam, que nossos ouvidos captam e não esquecem mais, especialmente porque os trabalhos das guitarras e vocais estão de primeira linha.

"Per Triangulum Autem Serpentis Nefarium" - A banda usa uma pegada bem tradicional, onde mesmo os momentos mais rápidos estão próximos ao que a SWOBM ostentava em seu início. Mas o nível técnica é muito bom, mais uma vez se destacando o trabalho de primeira das guitarras em riffs sinistros à lá Euronymous.

"My Insanity Becomes Wisdom" - Aqui, impera aquele feeling melancólico e opressivo em meio a arranjos mais rápidos, mas com boas intervenções das guitarras, criando aquela aura macabra que o Black Metal brasileiro oferece sempre. Reparem que a dinâmica dos andamentos é fenomenal mais uma vez, indo de momentos bem velozes para outros mais soturnos sem pudor algum. E sempre muito criativo, especialmente porque baixo e bateria mais uma vez se destacam.

"Belial Dominus Deorum" - A velocidade dá espaço a uma música com enfoque mais cadenciado e arrastado. E isso cria algo ainda mais opressivo que antes, denso e climático, com a banda exibindo alguns momentos perfeitos nas guitarras, mas não se pode deixar de citar o quanto os vocais estão bem encaixados nessa música, que fecha o CD.

"Amentia Ludibrium Tenebris" é um ótimo CD, sem sombra de dúvidas, e existe em duas versões: a jewelcase e a edição Digipack (que é linda) em número bem limitado.

Corram logo, antes que acabem, pois este disco merece!

IMPERATIVE MUSIC Vol. XII (coletânea)


2016
Nacional

Nota: 8,5/10,0

Músicas:

1. ALICE IN HELL (Japão) - Time to Die
2. INFACT (Luxemburgo) - Change My Name
3. CAVERA (Brasil) - Controlled By My Hands 
5. NIHILO (Suíça) - On the Brink
6. STATUE OF DEMUR (Canadá) - Hot to Trot
7. DARCRY (Japão) - Cry of Despair
8. DEATH CHAOS (Brasil) - Atrocity on the Peaceful Fields
9. THE HOLY PARIAH (EUA) - No Forever
10. TRIBAL (Brasil) - Broken
11. HIDE BOUND (Japão) - Eden Kew
12. PHANTASMAL (EUA) - Specter of Death
13. BASTTARDOS (Brasil) - Exilados
14. METANIUM (EUA) - Resistiendo
15. THE WILD CHILD (Itália) - You and the Snow
16. ARMED CLOUD (Holanda) - Jealousy With a Halo
17. EDUARDO LIRA (Brasil) - The Edge
18. GODVLAD (Portugal) - Game of Shadows


Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


E mais uma vez, temos em mãos uma coletânea com várias bandas. 

Dessa vez, é o décimo segundo volume da "Imperative Musis", uma compilação que já se tornou tradicional no meio, cujo enfoque é ter sempre o trabalho de bandas brasileiras junto com de bandas do underground mundial. E esta é uma idéia diferente, e muito bem vinda, mesmo em tempos onde uma grande parte do público esteja entregue ao download ilegal.

Voltando ao disco: desta vez, bem como no volume anterior, não existe nenhum nome gigante. O lado positivo é que a atenção do ouvinte não se foca em apenas uma ou duas bandas, podendo assim se dar o trabalho de ouvir e escolher aquelas que mais se adaptam ao gosto pessoal de cada um. 

Em termos de produção sonora, como quase todas as coletâneas conhecidas, o nível de gravação muda de um grupo para o outro, já que além de cada um deles ceder uma música gravada e já presente em algum trabalho já lançado (ou não), cada um ainda tem sua própria forma de fazer sua música e a idéia de como ele deve soar. Mas mesmo assim, a masterização feita no Slab Sound Studio, na França, deu uma uniformizada na sonoridade, sem obliterar a personalidade de cada grupo.

O nível das bandas é muito bom, mas destacamos as seguintes: a força Thrash agressiva e crua do ALICE IN HELL (Japão) em "Time to Die" (tem aquele jeitão KREATOR de ser, mas muito bem feito, e com uma insana saraivada de riffs), a fúria melodiosa do INFACT (Luxemburgo) que permeia "Change My Name" (embora existam momentos melodiosos muito interessantes), a força moderna do AS DO THEY FALL (Brasil) em "Burn", a brutalidade Death/Thrash Metal do NIHILO (Suíça) em "On the Brink", o destruidor de ouvidos DEATH CHAOS (Brasil) em "Atrocity on the Peaceful Fields" (já enfocado no Metal Samsara na resenha de seu EP de estréia, e aqui, arrasam mais uma vez, com uma faixa intensa e explosiva), o Death Metal bruto e melodioso do HIDE BOUND (Japão) "Eden Kew" (com vocais urrados bem diferentes do usual, bom nível técnico de bateria, e um ataque furioso das guitarras, com riffs intensos e solos cheios de boas melodias), o Thrash mais Old School do PHANTASMAL (EUA) em "Specter of Death" (muito legal ver uma banda que consegue pegar um estilo antigo e dar uma cara nova ao mesmo sem pudores de ser criativo), o Rock sujo e variado do BASTTARDOS (Brasil) com "Exilados" (mais um que busca ser diferente e criativo, usando um "outfit" melodioso e cheio de influências modernas no meio da sujeira despojada e empolgante), o Heavy Metal melodioso e cheio de influências do Hard clássico apresentado pelo THE WILD CHILD (Itália) em "You and the Snow", o lado mais melodioso e sinfônico do Metal dado pelo ARMED CLOUD (Holanda) em "Jealousy With a Halo" (belo trabalho dos vocais, diga-se de passagem, em uma música diversificada e cheia de momentos ótimos), as lindas melodias impressas pelo trabalho de EDUARDO LIRA (Brasil) em "The Edge" (uma faixa instrumental de primeira, onde a técnica do guitarrista é focada em criar uma ótima música, não uma exibição de ego), e a beleza melodiosa e moderna do GODVLAD (Portugal) apresentada em "Game of Shadows". Mas que fique claro: o trabalho de STATUE OF DEMUR (Canadá), DARCRY (Japão), THE HOLY PARIAH (EUA), TRIBAL (Brasil) e METANIUM (EUA) também são muito bons, merecendo aplausos.

Apesar da ausência de grandes nomes, este é um dos melhores versões da "IMperative Music", então, pode comprar com a certeza que vai gostar.

Parabéns à Imperative Music por mais uma ótima empreitada.