29 de jan. de 2017

ROCK FREEDAY Collection Volume I (Coletânea)


2017
Voice Music
Nacional

Nota: 8,0/10,0

Tracklist:

1. KING BIRD – Break Away
2. BLAZING DOG – Deus Ex Machina
3. BIG MOFFO – Bring Back the Good Times
4. LO HAN – Dance With the Devil
5. BIFE – If
6. SEPTERRA – Nightmare
7. ENDLESS – Black Veil of Madness
8. MAESTRICK – Pescador
9. INHERITANCE – State of Mind
10. CELESTIAL FLAMES – Final Destination
11. NO WAY – Kill for Money
12. MORRIGAM – Corpo Seco
13. BELLA UTOPIA – Dilema do Prisioneiro
14. DUDÉ E A MÁFIA – A Cidade
15. GUS NASCIMENTO – Reconcerto
16. ERVA MATT – Romeu e Julieta
17. ZY3 – 365 Dias


Contatos:

Rock Freeday (Rádio)
TRM Press (Assessoria de Imprensa)


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


É interessante como o formato coletânea tem voltado a ser amplamente utilizado, mesmo fora do Brasil. Antigamente, elas serviam para as gravadoras terem uma resposta em relação às quais bandas tinham potencial para lançarem discos, e atualmente, visam apresentar diversas bandas para o fã de um determinado grupo. E é um prazer poder ouvir um trabalho tão bom como “Rock Freday Collection Volume I”, coletânea idealizada pela Rádio Rock Freeday, e que nos chega agora.

Neste primeiro volume, temos a prevalência do Hard Rock clássico e do Heavy Metal tradicional, mas também existem representantes do Power Metal, do Prog Metal e mesmo do Thrash/Death Metal. Ou seja, há espaço para todos os gostos e estilos.

Em termos de produção sonora, óbvio que a qualidade sonora muda de uma banda para outra, mas pelo simples motivo que cada uma tem sua própria forma de fazer música, seu próprio jeito de ser, e em nenhum momento, a idéia foi extirpar isso delas. Não, de forma alguma, aqui, imperou o respeito.

E a arte gráfica é mais um trabalho de primeira da J. Duarte Design. A distopia representa a diversidade sonora do cenário nacional, que apesar de tantos problemas (tanto estruturais como econômicos, e muitos causados pelos próprios fãs do Metal por aqui), é fértil. E casou muito bem com a proposta eclética do trabalho que temos em mãos.

Todas as bandas são excelentes, cada uma à sua maneira e com sua personalidade. Mas destacamos o trabalho do KING BIRD com seu Hard’n’Heavy anos que mistura toques dos 70 com a estética dos anos 80 em “Break Away” (belíssimo trabalho, especialmente dos vocais e guitarras, sem desmerecer a cozinha do grupo), o Metal tradicional agressivo e bem feito do BLAZING DOG em “Deus Ex Machina” (vocais de primeira, mais um trabalho muito forte de baixo e bateria), o Rock 70 homogêneo do BIG MOFFO em “Bring Back the Good Times” (com aquele jeitão Bluesy/Rock à lá LED ZEPPELIN, com guitarras ótimas), o lado 70 Bluesy do LO HAN em “Dance With the Devil” (que belíssima cozinha rítmica!), o jeitão Rock mais acessível do BIFE em “If” (que lindas linhas melódicas de fácil assimilação), o Prog Metal/tradicional agressivo do SEPTERRA em “Nightmare” (as linhas vocais são excelentes, e a música bem diversificada, com um refrão apaixonante), o trabalho mais voltado ao Metal tradicional do ENDLESS em “Black Veil of Madness” (com um jeitão de Metal tradicional alemão mixado com peso absurdo, e belos riffs de guitarra), as linhas complexas e belas do Prog Metal do eclético MAESTRICK em “Pescador” (uma canção onde o Rock Progressivo e a força da música regional brasileira dão as mãos, mostrando uma banda sólida como um todo), a força agressiva e melodiosa do Metal tradicional modernoso do INHERITANCE em “State Of Mind” (o contraste entre momentos ríspidos e outros mais melodiosos é excelente, com vocais lindos e guitarras com riffs e solos muito bons), o peso absurdo e voltado ao Power Metal do CELESTIAL FLAMES em “Final Destination” (outra que usa melodias inspiradas na escola alemã, mostrando riffs muito bons), a golfada brutal, violenta e de qualidade do NOWAY em “Kill For Money” (um Death/Thrash agressivo e bem tocado, com baixo e bateria arrasando, embora as guitarras sejam ótimas, e os vocais femininos agressivos são fantásticos), a sujeira do Metal cheio de influências regionais do MORRIGAM em “Corpo Seco” (cheia de toques regionais em meio a um tema brutal e explosivo, sendo outra banda de Death/Thrash Metal que faz parte do movimento “Levante do Metal Nativo”), a agressividade melodiosa do BELLA UTOPIA em “Dilema do Prisioneiro” (mais uma banda com um trabalho bem homogêneo em termos instrumentais), o Rock’n’Roll clássico, melodioso e descompromissado de DUDÉ E A MÁFIA em “A Cidade” (que lindas linhas rítmicas de baixo e bateria, mas a banda como um todo é excelente, nos seduzindo com suas linhas melódicas acessíveis), a força densa e moderna das melodias desencadeadas pelo GUS NASCIMENTO em “Reconcerto” (um Rock forte e com boa dose de energia, e que além de vocais ótimos, ainda temos a participação de Edu Ardanuy, Caco Grandino), e o Hardcore/Rock melodioso do ERVA MATT em “Romeu e Julieta” (percebam como as melodias são levemente agressivas, e o refrão é muito ganchudo) e do ZY3 em “365 Dias” (um pouco mais agressivo que seu colega de estilo, mas com uma energia e pegada tão acessível quanto, com vocais secos de primeira).

17 bandas, cada uma delas com sua própria personalidade, e que esperam todos vocês.

Parabéns a cada banda por seu esforço, a Web Radio Rock Freeday por elaborar e promover este trabalho, à Voice Music por comprar a idéia e bancar a coletânea.

Ouçam cada banda, pois são ótimas!

INDISCIPLINE – Sanguinea (Álbum)


2017
Shinigami Records
Nacional

Nota: 9,0/10,0


Tracklist:

1. Fear in Your Eyes
2. Take It or Leave It
3. Nasty Roar
4. Burning Bridges
5. Degrees of Shade
6. Losing My Mind
7. Born Dead
8. Higher
9. Miss Daniel
10. Poison


Banda:


Alice – Vocais, baixo
Maria Fernanda Cals – Guitarras, backing vocals
Ale De La Vega – Bateria, backing vocals


Contatos:



Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Bandas de Rock’n’Roll mais cru no Brasil tem surgido aos montes nos últimos anos, denunciando o quanto a energia visceral e sujeira ainda encantam a muitos. E isso é bom, para que o que já foi feito em termos de Metal/Rock não seja perdido, mas é preciso que o músico se lembre de nunca deixar de ter aquilo que é mais importante: a personalidade.

Sim, personalidade, pois mesmo fazendo um estilo já conhecido, não se pode copiar o que já foi feito. É preciso ter identidade e sangue nos olhos, garra e vontade de se impor. Fazer “mais do mesmo” é perda de tempo. E identidade é o que o trio carioca INDISCIPLINE tem, e muito. E depois dos EP “In My Guts” (de estúdio) e “Live at Toca” (gravado ao vivo em estúdio), eis que elas chegam com seu primeiro álbum, “Sanguinea”.

Sim, temos um power trio feminino, mas é preciso dizer que o som delas, esse Rock’n’Roll sujo e cru, com evidentes influências de MOTORHEAD, AC/DC com toques de ALICE IN CHAINS e mesmo do “Man in Black” JOHNNY CASH é viciante. Sem exagerar na técnica, a banda faz uma música cheia de energia, forte e com doses bem definidas de peso e melodia. E assim, nasce um disco fundamental para o estilo no Brasil.

É ouvir e ficar viciado!

“Sangunea” nasceu cercado de muitos cuidados, pois a pré-produção foi feita por Gus Monsanto e Felipe Eregion, e posteriormente gravado no Casa do Mato sob a tutela de Felipe. Já a mixagem e a masterização são assinadas por Arkadiusz ‘Malta’ Malczewski (o mesmo que já trabalhou com DECAPITATED, BEHEMOTH, HATE e BLACK RIVER, entre outros), com essas partes feitas no Sound Division Studio, em Varsóvia (Polônia). Se está esperando algo limpo ou mesmo com aquele impacto das bandas que ‘Malta’ já trabalhou, se engana, pois o disco tem uma gravação suja e crua, como bandas do gênero precisam ter, extremamente orgânica e artesanal, mas com a devida clareza. Ou seja, ficou perfeito para o trio.

A capa do álbum é da artista Jas Helena, que pegou a idéia do que é a música do trio: algo artesanal, mas bem definido, lembrando as antigas imagens sensuais dos anos 40 e 50, onde a sexualidade era algo mais subjetivo e imaginativo.

Se vocês estavam esperando algo macio ou adocicado, é melhor pensarem duas vezes, pois “Sanguinea” é visceral, cru e bruto, mas bem acabado e com melodias de fácil assimilação e arranjos muito espontâneos e bem pensados. E essas Rock’n’Roll She Devils vieram para encher seus ouvidos com Rock’n’Roll, nem que seja na marra!

Melhores momentos do disco: a crua e azeda “Fear in Your Eyes” (com melodias de fácil assimilação e um trabalho de primeira de baixo e bateria, fora um refrão ganchudo excelente), as guitarras ferozes com riffs mais simples e bem pensados em “Take It or Leave It”, a mais cadenciada e azeda “Burning Bridges” (um trabalho muito bom dos vocais, mas as guitarras despejam riffs pesados e densos, e reparem nos solos sob os vocais), o peso mais denso e grooveado de “Degrees of Shade”, o peso cavalar aliado a lindas linhas melódicas introspectivas em “Born Dead” (incrível com a banda inteira é arrojada e sólida, permitindo ouvir com clareza cada contribuição delas, e novamente um refrão ótimo, com backing vocals fortes e bem encaixados), o típico Rock’n’Roll mais sujo e acessível em “Higher” (com melodias simples, refrão envolvente e solos cheios de wah-wah que dão aquele toque setentista absurdamente delicioso) e “Miss Daniel” (baixo e bateria de novo seguros, permitindo que vocais e backing vocals mostrem bastante sua capacidade), e a cheia de energia ‘motorheadiana’ “Poison”.

Verdade seja dita: o INDISCIPLINE é mais uma excelente revelação do underground carioca.