Nota 9,0/10,0
Por Marcos "Big Daddy" Garcia
Há um tempo, perguntaram-me sobre a questão de evolução no Metal, que foi vista no documentário "Evolução?" da Heavy Metal Online. Aproveitando, repito o conteúdo: acredito que tão importante quanto ser inovador é preservar as sonoridades antigas já criadas no Metal, mas nesse último, é necessário a banda contribuir com sua essência, ou seja, soprar vida no próprio trabalho. E isso não é inovar, mas ser realmente autêntico com sigo e com seus fãs. E são bandas como o veterano AGRESSOR, de Macaé (RJ) que mostram o que quero dizer. Basta uma ouvida em "Demise of Life", trabalho mais recente do grupo, que isso fica claro.
A banda segue a boa e velha linha do Thrash Metal à moda antiga, ou seja, suas influências são todas dos anos 80, especialmente aquele mesmo estilo do Trio de Ferro alemão (DESTRUCTION, SODOM e KREATOR), ou seja, mais brutal, mas sem abrir mão de boa técnica. Mas se repararem com atenção, existem toques da escola norte-americana presentes na música deles. A mistura de vocais que lembram bastante uma mistura de Mille Petrozza com Schmier, riffs de guitarras brutos e fortes (sem excesso na técnica), solos certeiros melodiosos (onde certa influência do Metal tradicional está bem evidente), baixo e bateria bem entrosados e pesados, dando diversidade rítmica ao trabalho do grupo, é mais que certeira, resultando em energia, empolgação, e a melhor lição de todas: não tem um pingo de cheiro de mofo, ou seja, o quarteto sabe transpor sua música e influências para algo atual. E vejam: estamos falando de uma banda que está nessa estrada desde 1982, ou seja, 32 anos de muita luta e suor, mas ainda com muito sangue nos olhos.
Produzido pelo próprio quarteto junto com Davi Baeta (este último, o mesmo que produziu "Imortal" do CONFRONTO, ainda fez toda a gravação, mixagem e masterização). O resultado foi bem positivo, pois a qualidade sonora, além de limpa e pesada, busca dar aquela sonoridade um pouco mais seca e oitentista, mas sem deixar de ter aquele aspecto de clareza, para que possamos perceber o que a banda está tocando (e cada instrumento soa bem claro, diga-se de passagem).
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Agressor |
O trabalho artístico, por sua vez, ficou ótimo. A capa (de José Maria Martins) é bem legal, mas abram o encarte e verão que ela tem algumas surpresas bem legais para nossos olhos (que não estragarei o prazer da descoberta por si mesmos), além de um layout muito bem pensado, mas simples e eficiente (trabalho do guitarrista Alexandre com o baterista/vocalista Paulão).
O mais importante em termos de música o AGRESSOR tem: personalidade. Sim, muita, pois isso fica bem evidente em cada uma de suas faixas, onde os arranjos são bem pensados, mas sem destruir a espontaneidade do grupo em momento algum. E a temática da banda é consistente com a realidade do mundo atual.
Abrindo, temos "Save the Forest", uma paulada com ritmo não tão veloz, mas agressiva e ríspida, com ótimos vocais (com corais bem fortes) e guitarras excelentes em riffs e solos (a letra é um manifesto pela preservação da Floresta Amazônica), seguida pela técnica e explosiva "The Origin", mais cadenciada e azeda, com destaque para os duelos de solos e excelente trabalho de baixo (com a temática interessante, tratando da origem da vida de forma científica). Mais agressiva é "Accidental Murder", apresentando boa velocidade (é mosh certo nos shows), novamente com vocais muito bons. Mais cadenciada e terrorosa em seu início, "Morte em Vida" já entra queimando os falantes, mostrando uma bateria muito bem trabalhada e feroz (não é porque Paulão canta e toca ao mesmo tempo que abre mão de boa técnica em suas viradas e em bumbos duplos bem colocados), enquanto "Stupid Pleasure" é outra pedrada com certo toque de SLAYER à lá "Show No Mercy" (especialmente nas guitarras), e o contraste entre os vocais de Paulão e Alexandre (que faz uma narrativa limpa, mas com efeito à lá megafone) ficou muito bom, e sem falar na ótima participação dos corais (a letra é um claro manifesto contra a caçada e maus tratos a animais, tão comuns em rodeios e outras sandices cotidianas). Em "Belo Morte", temos a presença clara da influência do MOTORHEAD nas guitarras (em alguns riffs bem ganchudos) e um trabalho forte da base rítmica (mais uma bela letra, um protesto contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que causa comoções entre ambientalistas e pessoas de bom senso, e que tem como símbolo da resistência o cacique caiapó Raoni). Em "Spirit of Death", em seu início, as guitarras lançam mão de temas não muito convencionais ao trabalho do quarteto (devido ao uso refinado de melodias), mas logo vira uma pedrada ganchuda, com riffs magníficos e baixo vibrante, mais ótimo refrão. "Terra Sem Lei" é um pouco mais sinuosa e bem trabalhada, outra onde baixo e bateria se destacam bastante. Em "Guantanamo", temos uma faixa não tão veloz, com trabalho de bateria muito bom, mais uma vez riffs cortantes (mais uma vez com certo toque de MOTORHEAD aqui e ali) e belos vocais (mais uma letra inteligente, que trata da Penitenciária de Guantánamo, administrada pelos EUA e que ficava em Cuba, um local onde os direitos humanos não eram respeitados, transformando a penitenciária em um inferno de crueldade. A prisão teve seu fim assinado por Barack Obama em 2009, com a exigência da revisão do tratamento dado a seus prisioneiros). Fechando, "Demise of Life", uma faixa que lembra os primórdios do Thrash Metal alemão, ou seja, energia e melodia aliadas, sem deixar de ser agressiva e impactante.
Raízes no passado, olhos no futuro, consciência na música e nas letras. Sim, o AGRESSOR ainda tem muita lenha para queimar, e merece mais espaço e a apreciação de todos.
Músicas:
01. Save the Forest
02. The Origin
03. Accidental Murder
04. Morte em Vida
05. Stupid Pleasure
06. Belo Morte
07. Spirit of Death
08. Terra Sem Lei
09. Guantanamo
10. Demise of Life
Banda:
Paulo Tinoco - Vocais, Bateria
Alexandre Cabral - Guitarra solo, vocais, backing vocals
Raphael Zaror - Guitarra base
Gustavo Lima - Baixo, backing vocals
Contatos: