Por Gabriel Arruda da Silva
Fernanda Terra é uma baterista que vem ganhando destaque aqui no Brasil, que com a ajuda de grandes nomes das baquetas de nossa terra, vem sendo considerada a melhor baterista feminina do país na atualidade. Na entrevista a seguir, ela conta sobre os momentos da sua ex-banda (NERVOSA), o inicio de carreira e dos planos seu futuros planos.
A NERVOSA ganhou bastante destaque desde o lançamento do clip 'Masked Betrayer', em março desse ano, com vários shows nos cantos do Brasil. Você acha que, a banda formada apenas por garotas, foi um papel determinante para a explosão desse sucesso ou pelo trabalho que vem fazendo nos palcos?
Fernanda: Eu acho que foi a química que rolou e não o fato da gente ser mulher, até porque hoje em dia está cheio de banda de mulher e não é mais uma novidade.
Antes de vocês lançarem a demo, a banda iniciou uma avalanche de shows em terra brasileiras ao lado, também, de grandes nomes do Heavy Metal mundial. Como tem sido a reação do público durante esse todo tempo na estrada?
Fernanda: Os shows aqui no Brasil têm sido muito bons, a galera tem recebido bem.
É visível que a zona confortável da banda é dentro do Thrash Metal, mas quando vocês apresentaram o primeiro clip do trio há publico a banda recebeu vários tipos de rótulo, que lembra muito Destruction, Slayer, Death e etc. O trio caminha na trajetória dessas bandas ou tentam criar a própria identidade?
Fernanda: Fico feliz em saber que lembra muito essas bandas, é um elogio. Pra mim toda banda é a mistura de tudo que os integrantes ouvem em comum, no caso da NERVOSA acaba caindo nessas bandas que você citou mesmo. Mas eu gosto de muita coisa, muita coisa mesmo, mas quando procurei as meninas pra montar a NERVOSA a proposta era fazer uma banda de metal e colocar um pouco de ritmo brasileiro no som. Então mesmo que a gente goste de Blues, por exemplo em comum, não colocamos essa influência no som, pelo menos ainda não (risos).
No inicio a NERVOSA era formada por um quarteto, que é você (Fernanda Terra - bateria), Prika Amaral e Karen (guitarras), e Fernanda Lira (vocal/baixo). Por quê a banda passou de quarteto para trio?
Fernanda: Já tivemos várias formações antes dessa, mas os primeiros shows foram nessa formação. A Karen mora em Curitiba e isso dificultou ela permanecer na banda, na época ela tinha um namorado que não queria e nem podia vir morar aqui São Paulo, um trampo que não podia largar de um dia pro outro, rolou uma pressão com a gravação da demo e um monte de pequenas coisas prendeu ela em Curitiba na época. Eu gostaria que ela voltasse, mas a Fernanda e a Prika querem manter o Power-Trio. E tudo a gente decide assim, vence a maioria.
O lançamento da demo era pra ter sido lançado entre os meses de março/abril desse ano, mas ela recebeu um adiamento por conta das conversas que vocês estavam tendo com a gravadora Napalm Records. Como venho o convite e a negociação de entrar no 'cast' da gravadora?
Fernanda: A gente entrou pra gravadora graças ao clip da 'Masked Betrayer', a Demo já estava gravada e fizemos uma vaquinha pra lançar. A gente demorou pra decidir se lançava com o dinheiro da vaquinha ou pela gravadora, mas só que pela gravadora ia custar muito caro e não ia valer a pena, ninguém ia comprar uma Demo de três musicas por 15 reais, aí lançamos com o dinheiro da vaquinha, depois a gravadora teve a ideia de lançar em EP lá fora, e acabou sendo muito bem aceita até mesmo aqui no Brasil.
Através do selo austríaco, a demo só está sendo lançada lá fora em Vinil transparente. O que é preciso para os fãs da Nervosa adquirirem o material?
Há pouco tempo, você se desligou da NERVOSA de uma maneira amigável por motivos particulares. O que te andou prejudicando ou afetando essa saída repentina na banda em uma véspera de um show?
Fernanda: Nada! Por mim eu faria o show, elas disseram que já tinham alguém pra fazer isso. No fim foi melhor assim, eu tinha saído da banda há um mês antes delas anunciarem. Não foi repentina a saída.
E o que achou da baterista que está assumindo o seu lugar agora, July Lee? Foi uma boa escolha que a Nervosa fez?
Fernanda: Eu acho que combina com a banda, ótima escolha.
Agora querendo saber sobre a seu respeito, quando despertou o seu interesse pela música, o Rock e de aprender a tocar bateria?
Fernanda: Quando eu tinha dois anos minha mãe me levou no show da Rita Lee, ela disse que eu nem piscava. Depois disso me deu a coleção completa que nunca mais parei de ouvir. Gostava também da Baby do Brasil - que na época era Baby Consuelo -, ela tinha um disco pra crianças... Bom, minha mãe nem sabia o que estava criando, normal não dava pra ficar. (risos) Ai a MTV veio pro Brasil nos anos 90 e isso me incentivou bastante. Meu vô tocava violão por hobbie e meu irmão começou a tocar guitarra nessa época, faltava baterista na banda aí logo comecei a fazer aula pra entrar na banda.
Na sua carreira você já tocou ao lado de baterista renomados daqui do Brasil: Aquiles Priester (Hangar) e Dino Verdade. Como você se sente tocando ao lado dessas grandes feras das baquetas? E quem você ainda sonha dividindo os seus batuques em um workshop?
Fernanda: Pra mim foi uma honra tocar no Paiste Day ao lado do Aquiles e do Dino. Ficaria feliz em tocar ao lado do Dave Lombardo (Slayer), Chad Smith (Red Hot Chilli Peppers/Chickenfoot), Terry Bozzio (ex-UK) e Samantha Maloney (Brother Clyde).
Como você chegou até os bateristas Daniel Oliveira, Duda Neves, Lilian Carmona e Dino Verdade para começar a fazer aulas?
Fernanda: Daniel Oliveira era o vizinho que morava no prédio do lado quando a banda do meu irmão precisava de batera, enquanto morei em Brasília fiz aula com ele. Duda Neves foi logo que eu cheguei em São Paulo, não queria parar de tocar e esse era uma das referências do Daniel. A Lilian Carmona dava aula na ULM, meu ex-namorado estudava lá e ele me avisou que ia abrir um curso livre pra fazer aula de bateria com ela, infelizmente eram duas vagas e tinha que saber um pouco de samba e por isso eu não passei, mas depois passei no teste pra fazer aula de leitura rítmica. Fui procurar o Dino pra aprender o samba e achei que fosse legal entrar pro Bateras Beat pra eu ficar ligada no Bateras 100% Brasil que eu queria fazer parte também.
E já que toquei nesse assunto, você também da aulas no Instituto Musival Ever Dream. Há quanto tempo você exerce esse cargo pedagogo na frente de um iniciante?
Hoje em dia eu dou aula no Ever Dream e no Bateras Beat, estou dando aula desde 2010 acho... E lá por 1998 eu dava aula em casa também, pra quem me pedia nos shows.
Dentre todos os seus alunos, qual você destacaria como o melhor na posição daqui alguns dez ou vinte anos?
Fernanda: Escolher aluno é sacanagem, até porque todos meus alunos são dedicados, mas acho que o Cauê, pela idade e por ter muito incentivo em casa e muita dedicação, vai ser um grande baterista. Eu fico até emocionada quando eu toco alguma coisa e ele pede pra eu repetir e gravar no Iphone pra tentar tirar em casa. Isso pra mim é muita vontade, mas adoro e boto fé em todos meus alunos.
Você já foi comandou as baquetas das bandas Food 4 Life, Baby Scream, Hellas, Touching Lips, No Fashion, Final Fight, Lyrex e Dominatrix (na qual foi chamadas as pressas pra tocar fora do país), que eram bandas só de mulheres. Se acontecer de ser convidada pra tocar em uma banda só de homens você toparia?
Fernanda: Food 4 Life e Final Fight eram só homens, e teve umas outras só com homens também. Recentemente fui chamada pra participar do sexteto de cordas Six Rocks. Está difícil marcar os ensaios com sete pessoas que trabalham com arte em horários distintos, mas adorei o convite e topei na hora. Eu escolho tocar em bandas pelas pessoas e propostas, não pelo sexo delas.
Boa parte das suas influências são de bateristas masculinos. Dentre as mulheres você espelha nessas bateristas, por exemplo: Lauren Berlow (Barlow Girl), Meg White (White Stripes), Kim (Matt & Kim), Caroline Corr (The Corrs), Cindy Blackman (Lenny Kravitz), Sandy West (The Runaways), Dee Plakas (L7) e entre tantos?
Fernanda: Dessas que você citou eu gosto muito da opção número quatro: Cindy Blackman pela pegada animal! Dee Plakas, por ter sido a primeira mulher que eu vi tocar, não tem como não me influenciar, e Sandy West toca numa das minhas banda preferidas femininas. Eu até curto White Stripes e acho que se a batera colocasse mais notas não soaria legal, mas eu nunca teria um White Stripes cover nem montaria uma banda parecida, acho a bateria monótona, mas a banda pede isso. Acho a mesma coisa sobre a simplicidade do Ringo Star, se ele enchesse de nota ia ser muito chato e não ia soar Pop. Tem que ter bom gosto no som que está fazendo.
Sem dúvida a sua beleza é vista com bons olhos pelo público masculino nos shows que você fez com a NERVOSA. Você recebe muito assédio quando está no palco ou ao lado de um fã?
Fernanda: Obrigada. (risos) Mas pra mim beleza é gosto pessoal, não da pra agradar todo mundo, deve ter gente que me acha muito tatuada por exemplo, mas eu acho mais bonito assim. Acho que todo artista acaba recebendo assédio dentro ou fora do palco, não tem como evitar, sendo mulher talvez o assedio seja maior.
Do que de respeito a você, quais são seus planos nesse começo de ano? Já tem projetos em andamentos depois que você saiu da Nervosa?
Fernanda: Tenho projetos em andamento sim, logo mais vocês vão saber as novidades. Fiquem ligados nas minhas redes sociais: twitter; @fernandaterra, facebook; fernanda.terra, site; www.fernandaterra.com
Muito obrigado pela entrevista! Deixo todo espaço para dizer o que quiser.
Obrigada pela oportunidade da entrevista. É isso ai galera, não desista dos seus sonhos! Keep on Rock!!!!
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