18 de mai. de 2014

Resenha: X-Rated – Shaking Like a Bad Machine (CD)

Nota 9,0/10

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Tem alguns discos que realmente merecem ser relançados, pois retratam um momento histórico da cena nacional, bem como mostram o quanto somos ricos em termos musicais. E a Urubuz Records nos prestou o favor em relançar em CD o primeiro disco do quarteto X-RATED, “Shaking Like a Bad Machine”, um disco ótimo e de importância.

Primeiro de tudo, é preciso dizer que o quarteto é um supergrupo em termos de Brasil, pois temos na época a união de Lucky Lizard (ex-vocalista do METALMANIA, a banda de Robertinho do Recife dedicada ao Metal), Marcos D. B. (ex-guitarrista do AZUL LIMÃO), André Chamon (ex-baterista do STRESS), mais Bruno Schubnel no baixo. E a proposta musical do grupo era criar um Hard Rock clássico mais sujo, atualizado e pesado. E realmente o grupo conseguiu isso, pois “Shaking Like a Bad Machine” é um disco pesado e bem atual até para os padrões de hoje.

Vocais em timbres altos, rasgados e fortes (em um estilo semelhante a Robert Plant em seus trejeitos), riffs de guitarra pesados e ganchudos, com boa dose de “feeling” vindo do Soul e do Blues (e solos inspirados), base baixo bateria com técnica e peso, resultando em uma música realmente suja, oleosa, pesada, mas bastante acessível e bem feita. E isso é bem antenado com a época, já que no final dos anos 80, boa parte das bandas de Hard Rock do exterior já buscava uma sonoridade mais pesada e crua.

X-Rated
Produzido pelo próprio quarteto, e gravado no Brasil mesmo (no Farm Studios, em Valença), temos uma sonoridade realmente forte e densa, uma coisa bem difícil de ser feita por aqui naquela época sem a presença de algum gringo nos processos de gravação, mixagem e masterização. Mas eles fizeram, e muito bem, contando ainda com as presenças de Ivan da Costa e Cláudio Caratsch (teclados), e Paulo Rego (saxofone) na faixa “Back in the USSR” (uma das faixas bônus da edição em CD atual).

A arte preserva aspectos do LP original. A capa é a mesma, o encarte muito próximo, apenas adornado com várias fotos coloridas e adaptadas, em um ótimo trabalho de Victor Santiago da Imaginativa Design, que respeitou o original, mas deu uma abrilhantada e melhorada.

Musicalmente, o currículo individual de cada um dos “X-Raters” não deixa a desejar, e vemos uma música bem espontânea e vibrante, mas bem cuidada e com arranjos instrumentais perfeitos.

Destaques: a grudenta e pesada “Striptease Boogie” (um andamento pesado e bem conduzido pó baixo e bateria, e reparem bem na voz agressiva e à lá “creole” de Lucky Lizard), a cativante “Evil Generation” (onde o baixo se sobressai bastante, fora um trabalho ótimo de guitarras e um refrão bem forte), a mais rocker “Down in My Shelter”, o hino “I Wanna Beer”, “Have You Heard the News” e sua levada puramente Rock’n’Roll (ainda mais com a presença de um piano), e as ótimas “Cocktail Whale Crime” e “In a Bad Mood”. Óbvio que a bônus “Back in the USSR” é ótima e também merece aplausos, bem como a “Blue Heart” e “Realize It”.

Um disco ótimo, que soa atual e merece a aquisição, ainda mais que a banda está por aí, fazendo shows com sua formação original.



Tracklist:

01. Striptease Boogie 
02. Blue Heart 
03. Evil Generation
04. Down in My Shelter 
05. I Wanna Beer
06. King of the Hill
07. Have You Heard the News 
08. Face the Dog 
09. Cocktail Whale Crime 
10. In a Bad Mood
11. Back in the USSR
12. Striptease Boogie (demo tape)
13. Blue Heart (demo tape)
14. Realize It (demo tape)


Formação:

Lucky Lizard – Vocais
Marcos D. B. – Guitarras 
Bruno Schubnel – Baixo
André Chamon – Bateria 


Resenha: Morte Negra – Que a Desgraça Caia Sobre a Humanidade (CD)

Nota 9,0/10

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Tosco, sujo, pesado, direto e cru. E nada disso desabona o trabalho de uma banda quando bem direcionado, especialmente em se tratando de Black Metal de raiz, aquela sonoridade SWOBM que todos conhecem e gostam, lá dos anos 91 e 92. E sim, ainda existem excelentes representantes do estilo por aí, e no Brasil, um nome que surge e mostra um trabalho ótimo é o MORTE NEGRA, de São Paulo. E seu disco de estreia, “Que a Desgraça Caia Sobre a Humanidade”, é uma aula de rispidez bruta e negra para cima de todos.

Que se diga, antes de tudo, que a banda faz algo mais cru e direto, mas isso não quer dizer que não exista valor técnico, muito pelo contrário: é a simplicidade técnica da banda que a faz ser ótima. E as letras tratam não só do Satanismo extremamente simplista, mas sim sobre os aspectos destrutivos que existem em cada ser humano (e vemos letras em nossa língua natal, o que abrilhanta ainda mais o trabalho do trio). E nas músicas. Vocais rasgados a extremo, riffs abrasivos e solos bem feitos, base baixo/bateria bem simples, mas bem feita. E musicalmente, o grupo merece aplausos, pois sua música nos envolve completamente.

A produção sonora do grupo, com mixagem e masterização pelas mãos de Iser (vocalista/guitarrista do grupo) é crua, antenada com a proposta musical do trio, mas isso não quer dizer que por ser tosco está mal feito. Muito pelo contrário: você consegue ouvir os acordes e arranjos musicais muito bem. A qualidade sonora, aliada à sujeira essencial do gênero, tiveram um efeito final realmente positivo. E, além disso, o uso de fotos e diagramações em tons de preto, branco e cinza dão corpo à música do grupo, pois apesar de simples, está bem feita.

Morte Negra
Arranjos simples, mas bem feitos, uma música direta e bem pensada, logo, as oito faixas do CD realmente mostram um trabalho que convence, capaz de falar diretamente ao coração dos fãs de Metal extremo sem problemas.

Destaques: a rápida e abrasiva “Que a Desgraça Caia sobre a Humanidade” (os riffs secos realmente conduzem a música muito bem), a brutal “Illuminati” (mais uma vez, riffs ótimos, associados à uma base baixo/bateria bem sólida), a soturna “O Despertar” (veja a força dos vocais e bateria, pois os andamentos mórbidos e forma de cantar realmente dão uma forte conotação opressiva, e ainda temos a presença de um ótimo solo de guitarra), a ótima e cadenciada “...E a Vida se Extingue” (uma canção soturna e extremamente opressiva, daquelas que se ouve uma vez e não sai mais da cabeça, com ótimos riffs), e a rápida e cativante “Taninsam”.

Uma ótima revelação da cena Black Metal brasileira, que merece respeito e a ouvida cuidadosa, bem como uma cópia física em suas casas.



Tracklist:

01. Ave Domini Satani (Intro)  
02. Que a Desgraça Caia sobre a Humanidade  
03. Apophis  
04. Illuminati  
05. O Chacal  
06. Occidis Bastardum Christos  
07. O Despertar  
08. ...E a Vida se Extingue
09. Taninsam


Banda: 

Iser – Guitarras, vocais
Kingu – Baixo 
Azabua – Bateria 


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Resenha: Devilish - Through the Gates of Death (CD)

Independente
Nota 8,5/10

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


O Brasil sempre se fez notar por ser um país onde a predominância na cena Metal é de bandas dedicadas às vertentes extremas, e isso desde os anos 80. E não é de se surpreender que bandas de Black Metal por aqui consigam fazer trabalhos muito bons, alguns fugindo dos limites impostos. E o trio DEVILISH, de São Paulo, mostra em seu primeiro CD, “Through the Gates of Death”, um trabalho muito bom.

Já experiente devido a três Demos e mais de uma década de existência, o trio faz um Black Metal à lá SWOBM, mas com o diferencial de melodias que surgem aqui e ali em vários momentos (especialmente nos arranjos de guitarra e solos), bem como uma gravação um pouco mais encorpada e limpa. É como se cruzássemos o ROTTING CHRIST da época do “Thy Mighty Contract” com o MAYHEM da época do “De Mysteriis Dom Sathanas”. Essa alquimia não chega a ser algo inovador, mas o trio a apresenta a seu modo, com vida e energia bem dele, logo, é um trabalho ótimo!

A produção do trabalho foi feita por Bruno Kioshi, e Fürst e Rigios na mixagem, que mostraram saber dar ao trio a sonoridade de uma banda de Black Metal, mas buscando fugir um pouco do padrão onde impera a sujeira (ela existe, mas em níveis apenas essenciais ao gênero). A gravação está bem seca, os instrumentos estão bem claros (vejam que o baixo aparece bem, o que é um termômetro para gravações de Metal extremo), os arranjos bem evidentes, logo, a audição ficou de primeira. A arte, um trabalho feito por Fürst, está bem no padrão Black Metal, usando fotos, arte e diagramação em tons de preto, branco e cinza (exceto pelo espelho do CD, que é uma imagem em tons de amarelo escuro, dando uma tonalidade de fogo), que ficou funcional e deixa a banda apresentada ao seu público alvo.

Devilish
Vemos que os 13 anos de banda, de sua fundação até o lançamento do CD, realmente fizeram a diferença, já que as músicas, longe de serem apenas feitas com uma mentalidade “real”, foram criadas com esmero e bem buriladas. Sim, existe uma preocupação estética com a colocação dos vocais, de como as guitarras seriam postas, e de como a base rítmica deveria ser trabalhada. 

O disco inteiro é muito bom, com destaques para a rápida “Eligor” (os andamentos variam bastante, dando uma dinâmica ótima à música, e ainda temos bons arranjos de guitarras), a ótima e variada “Jesus’ Whores ” (ouçam as melodias soturnas que foram mencionadas antes aparecendo bem evidentes nas guitarras, bem como os vocais realmente mostram um encaixe perfeito nos andamentos), a soturna “Through the Gates of Death”, a dinâmica e soturna “The Mystic Tropical Continent” (que belo trabalho de baixo e bateria, que apesar de aparentar simplicidade, mostra peso, energia e boa dinâmica), a ótima e enegrecida “...Aos Cristãos” (cantada em português, e vemos que a métrica não é ferida em momento algum), e a avassaladora “Revelation”.

Uma banda honesta, com muito a dizer, e esperemos que o próximo trabalho não demore muito, pois o DEVILISH merece a apreciação de todos, bem como a evolução nos brindará com mais um grande nome da cena Black Metal brasileira.



Tracklist:

01. The Passage to Hell (Intro)  
02. Eligor  
03. Jesus’ Whores  
04. Through the Gates of Death  
05. The Screams of Your Sons (Intro)  
06. Jesus, Your Head in My Hands  
07. The Mystic Tropical Continent  
08. ...Aos Cristãos  
09. Holocaust  
10. Revelation


Banda:

Lord Wolferian - Vocais, guitarras
Fürst - Baixo
Rigios - Bateria


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