14 de nov. de 2014

Liar Symphony - Before The End (CD)

Encore Records
Nota 10,0/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


O Brasil é cheio de bandas icônicas. Basta falar o nome de alguma delas, e sua sonoridade característica logo nos toma os sentidos, já que existem aqueles que possuem uma personalidade musical tão forte que a menção a seus nomes é honrosa e cheia de méritos. E por isso, é um enorme prazer poder resenhar "Before The end", novo disco do LIAR SYMPHONY, quinteto de Guarulhos (SP), que acaba de sair pela Encore Records. E como é prazeroso ouvir um disco desse nível.

Antes de tudo, é bom que se diga que o trabalho do quinteto deu uma bela evoluída, pois aquele Heavy Metal tradicional técnico e elegante volta um pouco mais seco, agressivo e moderno, com uma pegada bem pesada. Mas não se enganem: o grupo continua com a mesma identidade de antes, apenas preparado e revigorado para novos tempos e desafios. Nuno continua cantando em alto nível, sabendo variar bastante entre seus tons mais agressivos e graves com outros mais altos; as guitarras de Pedro estão com excelentes riffs, bem envolventes e que grudam em nossos ouvidos, além de solos bem feitos e com bom nível de técnica e melodia; os teclados de Alécio se encaixam perfeitamente, tanto como base como em orquestrações muito bem feitas; o baixo de Marcos é preciso, firme na marcação rítmica, e vibrante em muitos momentos onde se sobressai; e a bateria de Anderson é excelente, tendo aquela pegada pesada e técnica nos bumbos e baquetas, chamando para si a responsabilidade de guiar os andamentos da banda. E meus caros, a mistura que esses cinco criam é algo maravilhoso, vibrante, pesado e envolvente demais, com belos momentos e ótimos refrões (onde os backings são muito bem postados).

Liar Symphony
A produção de Pedro Esteves (que ainda fez mixagem, masterização e cuidou de toda engenharia de som) é ótima e esmerada, sabendo posicionar cada instrumento em seu devido lugar, sem que os instrumentos se sobreponham, e com boa escolha de timbres (se bem que é sensível que estes são timbres bem próximos do que o grupo faz ao vivo sem problemas). Dárcio Nunciatelli fez uma linda capa, enquanto o encarte e o layout é de Nuno Monteiro, com gravuras que vão de encontro ao teor lírico de cada uma das faixas do CD (e digamos de passagem: a banda tem mensagens muito boas a transmitir).

Um dos aspectos mais interessantes de "Before The End" é que as músicas são longas, sempre passando dos quatro minutos, o que no caso do LIAR SYMPHONY é pouco, uma vez que a versatilidade musical e a dinâmica de arranjos do grupo é bem rica, fazendo que mesmo as mais longas passem como se fosse um simples estalar de dedos. O grupo mostra que consegue fundir um trabalho musical pesado e técnico com maestria.

Temos 11 faixas excelentes, mostrando que o hiato entre "Choose Your Side" de 2005 e "Before The End" (já que "Choosing the Live Side" e "Acoustic, Alive, In Studio" são discos ao vivo, com o segundo sendo acústico) ajudaram a banda a dar uma bela amadurecida a mais em sua música. "Welcome" abre o disco com belos arranjos de teclados e riffs fortes, para então se transformar em uam canção forte, pesada e com boa pegada técnica, com vocais e refrão vibrantes. Em "Self Destruction", temos uma canção excelente e perfeita, com excelentes backing vocals em um refrão maravilhosamente envolvente e mais uma vez com belo trabalho de guitarras (especialmente nos solos). Peso e cadência se unem à elementos etéreos em "Sleeping Dead", outra com refrão memorável e com destaque para baixo e bateria, que estão perfeitos, fora as incursões de teclados bem eletrizantes. Mais energética e agressiva é "The Fool", especialmente pelo trabalho dos vocais que ficaram mais secos. Em "Waste Land", surge aquela famosa semi-balada climática e bela, com algumas partes ótimas de backing vocals, fora a bela interpretação de Nuno. A bateria rouba a cena na mais técnica e pesada "Digital Living", com um andamento forte e muito boas incursões de teclados e guitarras. "After Years" é outra canção mais pesada, ganchuda e seca, com uma pegada mais agressiva, ressaltando bastante o trabalho das seis cordas mais uma vez, mas se repararem direitinho, perceberão que os teclados dão um sabor muito especial à canção. "When the Sun Light Dies" tem uma pegada um pouco Prog, só que bem mais seca e ríspida, sem destruir a elegância sonora da banda os as preciosas melodias, exaltando-se mais uma vez o refrão, e esses mesmos elementos surgem em "Born Again", esta apenas com maior enfoque melódico. Já "Where the Wind Blows To" é uma balada melodiosa, cheia de grandes participações dos teclados, e podemos ver que as vocalizações sabem muito bem se adequar a estes momentos mais amenos. "Prisionier in the Mirror" é uma faixa bem dinâmica, com momentos que variam da agressividade até outros mais etéreos e progressivos, mas sempre mantendo o nível musical e de interesse do ouvinte bem alto. E fechando, "The Lament", uma instrumental curtinha e climática, com fundo de teclados e violão acústico (pelo que aparenta), dando aquela sensação gostosa que nos faz dar um infinito "repeat" no CD.

Um disco maravilhoso, perfeito, indicado para os fãs de todos os gêneros, e o melhor de tudo: o LIAR SYMPHONY é daquelas bandas que tem muito o que dizer, logo, aproveitem as letras e a excelente música do quinteto.





Tracklist:

01. Welcome
02. Self Destruction
03. Sleeping Dead
04. The Fool
05. Waste Land
06. Digital Living
07. After Years
08. When the Sun Light Dies
09. Born Again
10. Where the Wind Blows To
11. Prisionier in the Mirror
12. The Lament (instrumental)


Banda:

Nuno Monteiro - Vocais
Pedro Esteves - Guitarras
Marcos Brandão - Baixo
Alécio Rodrigues - Teclados
Anderson Alarça - Bateria


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Necromancer - Forbidden Art (CD)

Heavy Metal Rock
Nota 9,0/10

Por Marcos "Big Daddy" Garcia

O passado do Metal é sempre visto como algo muito romantizado, e às vezes, fora da realidade.

Sim, é incrível ver e perceber certa idolatria pelos anos 80, muitas vezes por pessoas que não estavam lá, que nem ao menos eram nascidas. Ou mesmo eram apenas crianças de colo, que não viram o que era a coisa em si. Mas esquecem-se muitas vezes de dizer aos mais novos no gênero sobre as imensas dificuldades sócio-econômicas da época, o que acabava limitando em muito o número de bandas a lançarem discos por aqui, já que os selos sofriam com as mesmas problemáticas nascidas da economia decadente de nosso país. 

Mas ao mesmo tempo, é ótimo quando um grupo daqueles tempos retorna para cumprir uma missão em aberto, algo que deveria ter sido feito, mas que problemas e mais problemas evitaram. E podemos enquadrar o quinteto carioca NECROMANCER nessa turma. Sim, eles são veteranos da cena (ainda lembro de um de seus shows, quando abriram para MX e TAURUS no antigo Caverna II, em Botafogo), e que agora, quase 30 anos depois de sua formação (são de 1985), lançam seu primeiro CD, "Forbidden Art". E agradecimentos à Heavy Metal Rock por comprar esta briga e colocar o CD nas lojas.

Antes de tudo, o estilo da banda é aquela mistura bem crua e pesada de Death Metal com Thrash, o que ocorria muito naquele triênio 85-86-87 no mundo inteiro, já que muitas bandas do Death Metal andavam transitando para o Thrash sem problemas. O incrível é perceber que a fúria musical das canções antigas (das 8 faixas do CD, 5 delas são de suas Demo Tapes "Dark Church" de 1987, "Science of Fear" de 1983 e "Victims of Deranged Maneuverings" de 1996. As outras três são novas, ou então, nunca gravadas) não foi perdida, e a crueza deles não tem o mínimo toque de mofo. Não, muito pelo contrário, o trabalho do NECROMANCER é tão atual e até mais honesto que muitas bandas que reviram discos antigos e apenas acumulam clichês tentando refazer o que já foi feito. E os caras aqui são daqueles tempos, logo, se percebe o DNA do grupo. Os vocais continuam tão furiosos como no início, mudando bem pouco e ainda claramente influenciados por Tom Warrior; as guitarras da banda lembram bastante a escola DESTRUCTION-SODOM, com riffs azedos e pesados, e solos crus (mas bem tocados), baixo e bateria com peso e técnica nas medidas certas. Assim, percebe-se que o grupo não exagera em aspectos técnicos ou de agressividade, mas sabe equilibrá-los muito bem, criando algo deles.

Necromancer
A qualidade sonora é bem crua, respeitando o passado do grupo, mas sem deixar de lhes dar aquele toque de clareza e peso tão necessários. Os timbres foram bem escolhidos, os instrumentos estão nos lugares certos. Nada foi mudado em relação aos anos 80 e 90, apenas atualizado pela qualidade dos equipamentos de hoje.  A arte de Marcelo Vasco é bela e bem pensada, uma capa enigmática e com o layout do encarte repleto de fotos antigas da banda.

Respeitando o passado do grupo, mas olhando o futuro, é preciso deixar claro que o trio que gravou o CD, todos membros das formações seminais do NECROMANCER, soube escolher bem o material que entrou no disco. As músicas mostram o feeling certo, pois as composições são possuem aleatoriedade, mas são bem construídas em sua simplicidade. Arranjos bem postados, boa dinâmica de andamentos, tudo muito bem feito.

É incrível sentir o sopro de vida que "Necromancer" (forte e poderosa com velocidade não exagerada e excelentes vocais), "Deadly Symbiosis" (mais focada no peso e andamento na maior parte do tempo não tão veloz, azeda e mostrando o talento das guitarras do grupo, com riffs memoráveis), a emblemática "Dark Church" (outra com velocidade moderada, mas que mostra um trabalho de baixo e bateria muito bom, já que existem mudanças dinâmicas nos arranjos), da mais rápida "Plundered Society" (novamente um show por parte dos vocais), e "Desert Moonlight" (onde a qualidade de gravação fica um pouco mais tosca e crua, sem afetar o produto final. Basta ver a força das guitarras, especialmente nos solos, e nos urros), todas músicas das Demo Tapes, ganharam, bem como "Havocs and Destruction" (que começa com uma intro de guitarras bem lenta, preparando o ouvinte para uma faixa abrasiva e pesada de doer os dentes, com riffs crus insanos), "Middle Ages" (que tem partes cadenciadas e pesadas à lá CELTIC FROST com uma dinâmica mais germânica, ao passo que existem momentos bem empolgantes, e destaque mais uma vez para o ótimo trabalho das guitarras e bateria), e a brutal "The Rival" mostram uma banda com raízes no passado, mas com os olhos no futuro e concentração no presente. 

E tudo isso torna "Forbidden Art" um disco obrigatório para todo bom fã de Metal extremo e para os arqueólogos do Metal, para entenderem, de uma vez, que fazer um som que referencia os anos 80 é para quem estava lá. Assim, o produto final nunca soa clichê ou vazio de alma...

Parabéns ao NECROMANCER, sejam bem vindos de volta, e esperamos shows de vocês em breve!

Em tempo: Gustavo Fernandes (baixo) e Edu Lopez (guitarra) não chegaram a gravar contirbuições em "Forbidden Art", mas o futuro os espera de braços abertos no próximo trabalho do grupo.





Tracklist:

01. Necromantia (Intro)
02. Necromancer
03. Deadly Symbiosis
04. Dark Church
05. Havocs and Destruction
06. Middle Ages
07. Plundered Society
08. The Rival
09. Desert Moonlight


Banda:

Marcelo Coutinho - Vocais
Luiz Fernando - Guitarras, backing vocals
Alex Kafer - Bateria, guitarra solo, backing vocals
Gustavo Fernandes - Baixo
Edu Lopez  - Guitarra


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