24 de set. de 2016

LÁSTIMA - A Vez da Outra Face (Álbum)




2016


Nacional


Nota: 8,5/10,0

Músicas:

1. Intro
2. Destroçar
3. Gloriosa Noite de Satã
4. Sórdida Ilusão
5. Sopro da Morte
6. Queime o Templo
7. Rebelião Vermelha
8. 666 Noites de Volúpia
9. PDM
10. Papas do Apocalipse


Banda:



Rodrigo Bastardo - Vocais
Afonso - Vocais
Zé Cachaça - Baixo
Alface - Guitarras
Thiago Splatter - Bateria, backing vocals 


Contatos:


Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


No Metal, existe uma estranha dicotomia: o Metal deve soar cru e sujo, ou limpo e com definição sonora? Qual é a verdadeira cara do Metal?

A resposta não é única, mas a que melhor se encaixa é: ambos são jeitos de se fazer música, logo, ambos são válidos e permitem uma diversidade sonora que alcança pessoas diferentes, com opiniões diferentes. Logo, a melhor forma é pensar no Metal como um diamante de muitas facetas, e cada uma delas nos concede trabalhos de primeira linha.

E um desses trabalhos interessantes é "A Vez da Outra Face", o primeiro álbum da banda carioca LÁSTIMA, que após anos de luta no underground, com EPs e Splits lançados, chega até nós.

Bastante conhecido nos porões do underground nacional, o agora quinteto despeja uma fúria que mistura elementos musicais do Thrash, do Black (especialmente a temática), do Death, mas sua essência mais forte é do Grindcore. Óbvio que isso os diferencia de uma enorme quantidade de bandas que existe por aí, e acresce mais valor ao cenário nacional. É ouvir e gostar, pois dentro do que se propõem a fazer, o quinteto realmente cria canções com muita energia e que se agarram aos nossos ouvidos facilmente.

Gravado no Albergue Estúdio em Duque de Caxias (RJ), com a mixagem e masterização feitas pelo guitarrista Alface, o resultado é uma gravação que é suja e crua na medida certa, sem deixar que a sonoridade da banda fique embolada. É possível captar o que cada instrumento está tocando sem dificuldades. Ou seja, houve a percepção que qualidade sonora e sujeira poderiam se equilibrar e ajudar a música da banda a ganhar impacto.

A parte gráfica é algo muito interessante, com uma capa bem agressiva em uma arte não muito complicada (um belo trabalho de Leonardo BH), e o encarte e layout de Raphael Gabrio ficaram bem despojados, mas refletem a personalidade da banda.

Musicalmente, o LÁSTIMA sabe mostrar músicas com criatividade, soltando uma esporreira brutal de primeira. Arranjos muito bons em cada instrumento, vocais que usam timbres mais rasgados ou guturais conforme a necessidade, e tudo isso em canções curtas. Não dá para não gostar, verdade veja dita.

Melhores momentos:

"Destroçar" - Nesta, se percebe a veia despojada do grupo, graças à mudanças rítmicas muito interessantes, variando entre o Grind serrado até alguns toques Death/Thrash um pouco mais técnicos. E a base rítmica (ou seja, baixo e bateria) estão se destacando muito.

"Gloriosa Noite de Satã" - Aqui, o lado mais extremo do quinteto dá as caras, ou seja, é agressividade desmedida, a velocidade muda bastante entre algo mais extremo e outros mais moderados. E tudo isso guiado por um trabalho ótimo das guitarras (com riffs de primeira, diga-se de passagem).

"Sórdida Ilusão" - Mais uma exibição de primeira de baixo e bateria, pois sendo uma música mais longa para os padrões da banda (3:14 minutos de duração), nos permite ouvir como a banda capricha nos arranjos. E os vocais estão muito bons, oscilando entre rasgados bem característicos e guturais interessantes.

"Sopro da Morte" - Apesar da agressividade desenfreada, há momento em que certo toque soturno do Black Metal da Second Wave aparece, especialmente porque os timbres de guitarra estão muito bem pensados, ou seja, a crueza impera, mas não é cru apenas para parecer algo "real". E isso sem falar em momentos mais lentos, onde a atmosfera sombria surge e angustia o ouvinte.

"Rebelião Vermelha" - Mesmo curta, mostra uma sonoridade extrema e veloz de primeira. Aqui, aquela aura Grindcore mais evidente dos trabalhos anteriores do grupo dá as caras. E reparem na dinâmica interessante entre vocais e guitarra.

"Papas do Apocalipse" - Uma faixa excelente, com uma agressividade extremada que é saudável. Reparem bem como os arranjos de baixo e bateria estão muito evidenciados, com uma técnica diferente, mesmo com toda a aura brutal e agressiva do LÁSTIMA. Isso mostra que o grupo não faz o seu trabalho sem pensar pontualmente em cada pequeno detalhe.

No mais, o LÁSTIMA continua sendo um nome forte, e que merece maior expressão dentro do cenário extremo do Brasil. E que "A Vez da Outra Face" tenha uma seqüência em breve!