Por Marcos “Big Daddy” Garcia
Veteranos da cena Metal nacional, com uma bagagem enorme nas costas em quase 20 anos de estrada, o quinteto SEVENTH SEAL, de Santo André, SP, acaba de soltar “Mechanical Souls”, seu terceiro disco, que trás além de um conceito que permeia o disco como um todo (sem que exista uma ligação explícita entre as letras de cada canção), ainda mostra a banda em um approach mais agressivo de sua música, sem perder a linha que fazem desde que surgiram em 1995.
E lá fomos nós, aproveitando a chance que a Shinigami Records nos concedeu, de entrevistar a banda.
MS: Primeiramente, obrigado por nos receber. Começando, poderia nos dizer o motivo de terem ficado tanto tempo em certo “silêncio”, sem lançarem nada? Aliás, é um traço interessante: vocês lançam discos a cada seis anos...
Tiago Claro: Na verdade, tivemos um período difícil após a saída dos dois irmãos (Ricardo e Guilherme Busato), que fundaram a banda junto comigo. O Ricardo Busato era um cara que fazia muitas músicas para a banda e nós também vínhamos com nossas idéias ou trabalhávamos os todos na idéia dele. Enfim, após a saída dos irmãos, nós remontamos a banda e fizemos mais shows, só que ainda não estávamos prontos para compor. Em 2009, pintou o convite para irmos para Europa, e nós chamamos o Thiago Oliveira e um baterista. Quando voltamos da Europa, já voltamos com a intenção de começar a compor e gravar, só que infelizmente teve a saída do Ricardo em 2011, que complicou muito para nós, pois tivemos que ir atrás de um novo vocalista, ensaiar e acabou demorando mais 2 anos pra finalizarmos o álbum. O próximo tentaremos lançar em 3 anos quem sabe conseguimos desta vez, hahaha...
Thiago Oliveira: O que você reparar é que boa parte das bandas da cena não lançam material com regularidade. Todo mundo tem vida fora da banda, contas pra pagar e responsabilidades. No nosso caso, o Tiago tem a produtora dele, eu tenho os meus alunos, as bandas que eu produzo e toquei em 2 musicais, o Leandro, os mil alunos dele e ele canta na noite. Isso tudo faz com que o tempo que a gente tem pra compor e gravar um disco seja limitado. Então, quando você vê, o ano acabou e o processo não terminou. É a vida, a não ser que você tenha uma grande estrutura e viva da banda, aí o papo é outro. Mas no underground é assim que a coisa anda.
MS: Uma pergunta que não quer calar: por que o Ricardo (NR.: Peres, ex-vocalista) saiu da banda? E como chegaram até o Luciano Caçoilo? E não há nenhum receio que a banda seja boicotada por conta dele ter passado pelo ETERNA? Hoje em dia, existe muito fundamentalismo “capetalista” no Metal, se é que me entendem...
TC: Quando nós voltamos da Europa, nós chegamos com diversos convites para voltar e fazer uma tour com shows em festivais maiores, só que precisávamos de um CD novo. Então, nós começamos a compor na casa do baixista, gravamos e mandávamos as músicas pro Ricardo colocar a voz, só que infelizmente ele não estava tendo tempo para gravar. Ele estava trabalhando bastante, ficamos por um tempo aguardando até que conversamos e ele chegou a conclusão que era melhor deixar a banda, mas é um grande vocalista, somos grandes amigos e torcemos para o sucesso dele. O Leandro eu já conhecia desde a época do Sacred Sinner, anos atrás fizemos umas jams juntos. A namorada do Thiago Oliveira estava fazendo aula de vocal com ele. O Thiago foi na aula um dia e mostrou as músicas novas pra ele e falou que o Ricardo havia saído. Ele ouviu, curtiu bastante, daí pintou um show e fizemos o convite pra ele fazer este show como contratado. Após o show, conversamos e oficializamos a entrada dele. Sobre o Eterna, não ligamos pra isso, cada um tem sua maneira de pensar, de dizer isso em suas letras e respeitamos. Nossa idéia é outra, sempre vivemos o Metal, a cena, a galera já sabe como somos, então não me preocupo com estigma disso ou daquilo, nossa história já fala por si.
TO: No Eterna, ele cantou sobre Jesus, no Soulpell sobre Hobbits, e com a gente o show de abertura pro Anvil foi no Inferno Club, então acho que atraímos ele pro lado negro da força! Hahahahhha... Brincadeiras à parte, ele nunca foi um cara bitolado em religião e eu acho muito importante a gente ter respeito pela crença do outro. E como ele não teve nenhum problema com as nossas letras, tudo certo.
MS: Falando de coisas melhores: como foi o processo de composição de “Mechanical Souls”? Sim, a pergunta vem do fato que ele é bem mais agressivo e com sonoridade mais moderna que seus antecessores. O Luciano chegou a ter alguma responsabilidade nesse aspecto? E ele já está integrado ao processo de composição da banda?
TC: Nós compomos as músicas na casa do baixista, gravamos uma pré-produção e mandamos pro Leandro. O Thiago Oliveira foi na casa dele e acompanhou essas gravações, dando idéias e etc. Ele não chegou a compor músicas, mas compôs as melodias do CD! Sobre o peso do CD, a voz dele ajudou muito a chegarmos no resultado, é claro, mas quanto as músicas, já estavam todas prontas quando ele entrou. Quem sabe no próximo, fazemos músicas juntos.
TO: Também como ele usa muito drive pra cantar acaba tendo uma pegada mais agressiva. O vocal sempre passando essa energia pro som.
MS: Em “Mechanical Souls”, as letras e ambientação da arte trazem uma mensagem de mecanização da humanidade, certo? Poderiam nos contar como este conceito surgiu para o CD, e como a ideia se desenvolveu? E aproveitem e falem qual a mensagem que desejam falar com as letras e conceito do disco.
TO: Bom, eu acabei escrevendo todas as letras do disco e foi uma coisa que simplesmente aconteceu. Fizemos um show com o Leandro como convidado e resolvemos tocar uma (música) nova que acabou sendo a “Mechanical Souls”, que era inspirada no filme Blade Runner. No final das contas, tudo que eu escrevia acabava gerando em torno dos temas do filme e do livro que deu origem ao filme, que se chama Do Androids Dream of Electric Sheep?, do Phillip K. Dick. Apesar de não ter virado um álbum conceitual, alguns temas acabam sendo recorrentes na temática das letras como controle corporativo da mídia, inteligência artificial, degradação ambiental, identidade, consumismo, realidades alternativas e todo esse labirinto de espelhos alienante que se tornou a nossa sociedade capitalista e que através de um monte de ilusões consumistas acaba nos transformando em escravos do consumo, andróides sem alma. O mais interessante é observar que mesmo se tratando de obras de 30 e 40 anos atrás, os temas são super atuais e extremamente precisos com relação ao rumo das coisas.
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Seventh Seal na abertura do Anvil. |
MS: Ainda: vocês trabalharam com Brendan Duffay na mixagem e masterização do disco. Ele chegou a influenciar esse aspecto mais moderno e seco do disco? E até onde ele chegou a influenciar algo em termos musicais do CD? E podemos dizer que estão 100% satisfeitos com o trabalho dele?
TC: Não influenciou em nada musicalmente, porque já estava tudo pronto. O que ele fez foi deixar com uma sonoridade mais brutal, mas nas músicas, não teve influência. O Brendan é um cara muito legal e bem direto, te fala a real na cara e isso é muito bom. Se tá uma porcaria (pra não falar outra coisa, hahahha), ele fala na cara e isso é muito bom pra trabalhar, porque você sofre no primeiro instante, mas depois vê que é isso mesmo. E sim, ficamos muito felizes com o resultado, e esperamos que o próximo façamos com ele e o Adriano Dagga novamente.
TO: Como eu já tinha o disco na cabeça e já tinha gostado do resultado que ele teve com outras bandas como o Almah e o Furia Inc, então eu expliquei pra ele o que nós queríamos e foi daí pra frente. A música tava pronta já, então não houve interferência.
MS: Bem, apesar do pouco tempo, como tem sido a resposta a “Mechanical Souls”? Já sabem como ele tem sido recebido por público e crítica?
TC: Espetacular! Eu esperava sim uma boa repercussão, mas nem perto do que está sendo. Para você ter uma idéia, até agora nós tivemos 4 resenhas e três delas nos colocaram entre os melhores do ano, então com certeza estamos crescendo bastante e só temos que agradecer todos (imprensa e público) que estão nos ajudando, indo nos shows, conversando conosco pelas mídias sociais, enfim, sem o público não somos nada! Muito obrigado!
TO: Como eu tive um contato muito intenso com todo o material em todas as etapas, eu acho que acabei perdendo um pouco a perspectiva do trabalho finalizado. E pra mim tem sido uma surpresa gigante ver as resenhas, as reações das pessoas que compraram o CD. Tem horas que eu esqueço da qualidade dele, hahahha...
MS: Sobre shows: vocês tocaram recentemente duas datas com o DYNAHEAD, banda de Brasília, shows que foram bem divulgados e que geraram um belo barulho no underground. Como foi a experiência de tocar com uma banda de um estilo tão diferente do de vocês, já que no Brasil, isso é um pouco incomum? E aproveitando essa deixa, como enxergam esta fragmentação das pessoas por estilo no Metal? Quero dizer, as pessoas vivem determinados rótulos, “só curto Power Metal” ou “eu sou fã de Metal extremo”?
TC: Foi muito legal tocar com o DYNAHEAD, rolou um respeito mútuo. O vocal deles (NR.: Caio Duarte) falou no palco que tinha o CD "Premonition" do SEVENTH SEAL e que ouvia toda hora, e era uma honra tocar conosco, e eu falei que pra mim eles são uma das bandas mais legais que surgiram nos últimos anos do Brasil. Acho que precisamos de bandas que nem eles, tentando criar algo novo ou pelo menos saindo da mesmice. Essa foi nossa idéia nesse CD, por isso acho que nossa "nova sonoridade" está próxima deles. E sobre esse lance de rótulos isso só prejudica a cena, fica aquela coisa limitada entre estilos. Enfim, eu compareço em eventos de Hard Rock, Death Metal, Black, enfim, gosto de tudo um pouco então não ligo para isso.
TO: Eu acho uma idiotice sem tamanho esse tipo de segmentação. Quando eu era moleque em Minas, ia ter um show na minha cidade não importava se era Black Metal, ou Metal Melódico ou sei lá mais o que, você ia lá e foda-se. Hoje em dia rola tanta frescura que parece coisa de patricinha que não dá pro cara se ele não tiver um carrão. Mano, na Europa, nós tocamos com banda de Grindcore, de Hard, de Prog, de Black, de Metalcore e a galera ia lá curtia e foda-se. Se você não curte o estilo, vai pro bar e toma uma sem ficar xingando a banda só porque não é o que você curte. Com relação ao DYNAHEAD, eu acho uma super banda, eu escutei umas coisas deles e pirei, e eu acho que foi super legal fazer com eles pra acabar com esse preconceito sem sentido. Acho que tem que tocar com banda boa, independente do rótulo.
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Seventh Seal com Vitão Bonesso (Programa Backstage) |
MS: Já que falamos de shows, já existem convites para tocarem fora de SP, em outros estados e regiões, até mesmo fora do Brasil? Isso já está em seus planos?
TC: Com certeza queremos fazer sim. Aliás, sei que você é do RJ, e voltar pra aí seria muito legal para nós. Aliás, você poderia me ajudar a convencer o Roberto da Blog'n'Roll hein, hehe, grande amigo e parceiro!! Mas queremos fazer Curitiba, SC, Minas, interior de SP, enfim já fizemos toda essa rota, só falta Norte e Nordeste que queríamos muito ir, quem sabe conseguimos neste CD. Já para a Europa, não somos uma banda que paga booking, passagem e vai pra lá, assim como a grande maioria das bandas estão fazendo. Nós queremos ter pelo menos a mesma estrutura ou melhor da primeira turnê que fizemos, então isso dependerá de uma série de fatores.
MS: Apesar da crise das mídias físicas, a Shinigami Records comprou a luta e colocou “Mechanical Souls” nas lojas. Como tem sido esta relação de vocês com eles? E o que acham do trabalho que tem sido feito?
TC: Estamos gostando bastante do trabalho da Shinigami. Como os dois CDs anteriores foram lançados por outros selos, já estamos meio acostumados e sabemos mais ou menos o que podemos fazer ou não. Eles tem trabalhado muito sério conosco e espero continuarmos essa parceria futuramente.
MS: Ah, sim: ano que vem, vocês completam 20 anos nessa luta, logo, podemos assumir que existirá algum evento especial? E como enxergam esses anos todos de muita luta dentro da cena nacional? Existem arrependimentos ou mesmo grandes vitórias nesses anos todos?
TC: No final do ano que vem, completamos 20 anos, e eu gostaria de fazer algo especial sim, pois uma banda no Brasil durar esse tempo não é fácil. Mas isso não posso falar agora, porque preciso saber antes como será a resposta deste novo álbum. Já temos uma noção, mas precisamos de muito mais tempo, pois temos só 2 semanas do lançamento. Sobre arrependimento, não tive. Claro que eu faria algumas coisas diferente hoje do que fizemos, mas tínhamos que viver e passar por aquilo para aprender e entrar no caminho certo novamente. E assim, com certeza, vamos cometer erros de novo, é normal, mas vamos aprendendo para chegarmos no ideal. Grandes vitórias tivemos várias a melhor delas é ter o público do nosso lado todos esse tempo e conseguindo cada vez mais amigos conosco, isso é nossa grande vitória. Ser elogiado por bandas como Anvil, Orphaned Land e Vision Divine após os shows que abrimos deles também é um imenso prazer.
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No show de Warrel Dane em São Paulo, o Seventh Seal será o Opening Act |
MS: Agradecemos demais pela entrevista, e deixamos o espaço para suas considerações finais e mensagem aos nossos leitores.
TC: Quero agradecer a você, Marcos, apoiador da cena Metal do Brasil, a todo público que vem nos ajudando, comparecendo aos shows, gostaríamos de conhecer mais fãs de Metal, estamos sempre no Facebook conversando com a galera, entrem em nossa página que sempre postamos links de videos e etc para quem quiser conhecer mais a banda e conversar conosco. Muito obrigado!
TO: Muito obrigado, Marcos, pelo apoio e pelo excelente trabalho no Metal Samsara! E quem quiser entrar em contato é só adicionar a gente no face, é sempre um prazer ter contato com a galera!
Contatos:
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