6 de mar. de 2016

LUVART - Book of Shadows (EP)


2015
Nacional

Nota 9,5/10,0


Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Um dos fatores que mais nos atrai a atenção no cenário Metal brasileiro é a grande quantidade de bandas antigas que estão em atividade, sejam as que continuaram a luta por anos ou aquelas que retomaram suas atividades. E nesse ponto, podemos dizer que o trio LUVART, um ancião do Black Metal brasileiro que vem de Juiz de Fora (JF) que ficou alguns anos parado, está em uma atividade criativa intensa. E mesmo com o lançamento do álbum "Rites of the Ancient Cults" em 2015, os rapazes ainda encontraram tempo para lançar o EP "Book of Shadows" no mesmo ano, em uma parceria com os selos Misanthropic Records (do DF) e Songs for Satan (de MG).

O estilo do LUVART não necessita de muitas apresentações: Black Metal cru e feroz, na linha da velha escola dos anos 90, tendo como inspiração nomes como VARATHRON, NECROMANTIA, ROTTING CHRIST antigo e SAMAEL da época de "Worship Him". Mas não precisam se alarmar, já que a proposta da banda é bem personalizada, sem usar de velocidade, focando em algo mais soturno, mórbido e climático. E isso anda bem raro de ser ouvido, mas é sempre ótimo.

Luvart
Assim como seu predecessor, "Book of Shadows" foi produzido, mixado e masterizado por Rodrigo Itaboray (e mais uma vez, tocou algumas partes de guitarra). A qualidade sonora é a mesma: soturna e densa, mas limpa e com cada instrumento em seu devido lugar, nos permitindo compreender tudo o que o trio faz, além de entender sua personalidade musical. No tocante ao trabalho artístico, mais uma vez Marcelo Vasco (PR2Design e que já fez trabalhos para SLAYER, BORKNAGAR e OBITUARY, entre tantos outros) é feita à imagem e semelhança da música do grupo, reforçando o lado sombrio e mórbido do LUVART.

O trio consegue ser criativo e distorcido, mas sem deixar a proposta de algo mais cru e simples em termos técnicos, adornado com teclados sombrios, algo difícil em um estilo já tão erodido pelo uso. Mas eles conseguem, e é ótimo. Uma boa comparação seria dizer que o LUVART é uma versão Black Metal do BLACK SABBATH de seus primórdios.

Under the Full Moon - Lenta, azeda e soturna, com um trabalho instrumental bem feito, reforçando aquela aura fúnebre de sua música. É incrível ver que nesta simplicidade dos riffs de guitarra e do peso da base rítmica, aliado a teclados providenciais e vocais roucos, a musica da banda se agiganta. 

Symbol of Ignorance - Aqui, temos uma versão do velho hino do grupo curitibano MURDER RAPE, vinda da Demo Tape "In Liaison with Satan". E é interessante notar que a nova roupagem que o trio deu à canção é ótima, mas sem deteriorar a personalidade original da canção. Cada arranjo foi respeitado e executado, apenas com a pegada dos membros do LUVART.

E é bom lembrar que "Book of Shadows" é em vinil, e possui a tiragem limitadíssima de 333 cópias numeradas à mão.

O Brasil anda ficando pequeno para uma banda desse porte...


Músicas:

01. Under the Full Moon
02. Symbol of Ignorance


Banda:

Brucolaques - Guitarras, vocais
Marbas - Baixo, teclados 
Blood Devastator - Bateria


Contatos:


LUVART - Rites of the Ancient Cults (álbum)


2015
Nacional

Nota: 9,5/10,0

Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Talvez não seja domínio de muitos dos atuais Metalheads no Brasil o que vou dizer, mas é um fato: o Brasil sempre foi extremamente antenado com as tendências do Metal fora daqui. E em termos de Metal extremo, a relação é quase em tempo real, mas com uma imensa vantagem: as bandas do Brasil evoluem, mas nunca deixam de lado suas raízes. E isso se constata claramente em "Rites of the Ancient Cults", novo disco do veterano LUVART, de Juiz de Fora (MG).

Detentor e defensor do Black Metal nos moldes da velha escola, com clara influência da escola grega do gênero, o trio ainda possui aquela mesma essência: um som mais cadenciado, soturno, denso, feito com vocais guturais e alguns teclados mais climáticos. Algo que era muito usual entre 1992 e 1995, mas que acabou sumindo um pouco. E como é bom ouvir esse tipo de música brutal e mórbida...

Luvart
A produção sonora é de Rodrigo Itaboray (que também fez a mixagem e masterização do álbum, e ainda tocou algumas guitarras acústicas). O resultado é uma sonoridade intensa, mórbida e pesada, mas bem límpida, sendo algo que chega a ser estranho para o gênero. Mas o LUVART nunca foi uma banda de se prender à regras, e a clareza deixou o trabalho ainda mais soturno. Ou seja: aliaram o peso e agressividade de sua música à uma qualidade sonora muito boa e se saíram muito bem. E a arte como um todo é de Marcelo Vasco, da PR2Design, e ficou excelente, dando corpo à música do trio.

Um dos pontos que mais contribuem para a música do LUVART soar tão boa aos nossos ouvidos é a capacidade de seus membros saberem equilibrar a espontaneidade requerida com uma dinâmica de arranjos bem feita. Embora as músicas de "Rites of the Ancient Cults" sejam bem simples, há certo refinamento e brilhantismo nelas. E quanto mais se ouve o disco, mais ele nos cativa.

Primordial Incantation - Esta é uma introdução feita com teclados sinistros e vocais sussurrados, com algo de fúnebre e bem opressivo.

Thy Draconian Majesty - Aqui, vemos uma faixa sinuosa, com boas variações de ritmo, guiada por vocais urrados próximos ao gutural, mas com boa dicção. E que belo trabalho pesado de baixo e bateria, diga-se de passagem.

At the Gloomy Sky - Outra pedrada infernal, que começa mais rápida, mas logo se torna lenta e intensa, com riffs de guitarra que reforçam aquela aura depressiva e densa. É uma canção envolvente, que por conta da longa duração possui momentos sublimes onde os vocais dão uma caprichada na interpretação.

The Path of Serpent - Como é bom ouvir uma canção dessas, em que o peso da cozinha rítmica em andamentos cadenciados cria aquela opressiva sensação de agonia, e ainda mais com alguns teclados sinistros que dão as caras.

Summoning the Black Light - A levada lenta de opressiva nos lembra bastante trabalhos de bandas como VARATHRON, onde o foco é soar pesado e azedo, terrorozo e sem muitas firulas. E mais uma vez, as guitarras se impõem com um peso absurdo nos riffs.

Wrathful Tyrant - Fúnebre e bem mais lenta que as anteriores, com belas melodias intensas surgindo dos riffs, mas reparem bem como os vocais se mostram muito bem.

Beyond the Gates of Realms - Os bumbos duplos dão um toque mais acelerado, embora aquela atmosfera intensa e azeda da música do trio continue presente. E mesmo sendo a mais curta das canções do disco, é um festival de ótimos riffs.

Tenebris Mater - Novamente, o grupo lança mão de uma canção com o andamento extremamente refreado. Mas não se preocupem, pois ela não se parece com as outras, e aglutina valor ao trabalho graças aos vocais bem postados e trabalho ótimo de baixo e bateria.

O LUVART é daquelas bandas que merecem aplausos, verdade seja dita, pois como focam suas forças em sua música, e não em polêmicas, só tendem a crescer mais e mais.



Músicas:

1. Primordial Incantation 
2. Thy Draconian Majesty 
3. At the Gloomy Sky 
4. The Path of Serpent 
5. Summoning the Black Light 
6. Wrathful Tyrant 
7. Beyond the Gates of Realms 
8. Tenebris Mater 


Banda:

Brucolaques - Guitarras, vocais
Marbas - Baixo, teclados 
Blood Devastator - Bateria


Contatos:


TIMOR TRAIL - Timor Trail (EP)


2016
Independente
Nacional

Nota: 8,5/10,0

Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Se um país no mundo é capaz de alterar a personalidade sonora de alguns gêneros, adicionando elementos diferenciados, e assim ampliando fronteiras, é o Brasil. Sem ufanismos ou viralatismos, raramente se vê um estilo de Metal aportar aqui e não ganhar uma diversidade sonora. E é isso que o quarteto TIMOR TRAILS, de Sorocaba, consegue em seu EP "Timor Trail", seu primeiro testemunho musical.

O quarteto faz um Doom/Stoner Metal pesado e bem influenciado por mestres como BLACK SABBATH, WITCHFINDER GENERAL, TROUBLE, CANDLEMASS e CATHEDRAL, não o algo a mais é simples: como os membros do grupo possuem um background de trabalhos musicais com bandas como BYWAR, PASTORE, LAUDANY e PERPETUAL PRISON, essas influências individuais foram se aglutinando de forma harmônica à sonoridade deles. Ou seja, temos uma forma híbrida, que une o peso e aura soturna do Doom/Stoner a toques agressivos e trabalhados, e isso tudo alinhavado por melodias muito boas. E é ótimo ouvir uma banda assim.

A produção da banda é bem simples, focando em timbres instrumentais mais próximos ao som natural e direto de cada instrumento, permitindo que aquele som mais sujo e gorduroso do Stoner fique evidente, mas mesmo assim, há uma diferença básica: a gravação do EP é mais clara e nada embolada, como muitas bandas de fora adoram. Aqui, tudo soa distorcido e sujo, mas em seu devido lugar e com uma clareza muito boa. Apenas os timbres da bateria poderiam ser um pouco melhores.

Timor Trail
O TIMOR TRAIL tem outra característica interessante: fugir do ponto comum do gênero. Isso denota personalidade musical acentuada, além de espontaneidade quando se está compondo. Sim, o grupo não se prende à regras de como se faz Doom/Stoner, e isso se reflete em uma música dinâmica, que flui muito bem, e com arranjos bem feitos.

Em sete músicas, a banda evolui muito bem.

Citizen Kane - O peso é intenso, com riffs de guitarra intensos e gordurosos, e o ritmo é mediano, levando as nossas cabeças a balançar espontaneamente. Sem grandes exibições técnicas, vemos algumas mudanças de tempo muito boas.

Sweet and Cruel - Outra bem forte, com uma agressividade intensa no meio das melodias. E vemos um andamento um pouquinho mais rápido, mas mesmo assim, é uma música envolvente e que gruda em nossos ouvidos. E que belo trabalho de baixo e bateria.

Timor Trail - O lado mais soturno do grupo aparece, tornando esta uma canção soturna, embora existam toques mais melodiosos vindo nas guitarras. E é interessante ver o dueto de duas guitarras no gênero, algo pouco usual.

Finding the Goblin - Mais uma vez, o grupo lança mão de uma canção com uma atmosfera mais densa e pesada, com um trabalho muito agressivo nas guitarras e vocais azedos que encaixam perfeitamente na proposta do grupo.

Insane Fragments - Outra vez, a banda explora um lado um pouco mais melodioso e com um andamento dinâmico e empolgante. E é interessante observar a técnica da banda em arranjos simples, mas muito bem encaixados. E que solos!

When the Eyes Never Close - O andamento varia em termos de velocidade, mas justamente nos momentos mais lentos que vemos o brilho pessoal do quarteto, com riffs brutos e vocais azedos.

My Inner Evil - Aqui, temos uma faixa um pouco mais direta e seca, mais simples, e assim, as melodias se tornam mais evidentes e ganchudas. E vemos mais uma vez baixo e bateria muito bem, ao lado de riffs simples e cativantes.

Podemos dizer que o TIMOR TRAIL é uma excelente revelação de nosso underground.

Ansioso por um álbum inteiro do grupo!




Músicas:

1. Citizen Kane
2. Sweet and Cruel 
3. Timor Trail 
4. Finding the Goblin 
5. Insane Fragments 
6. When the Eyes Never Close 
7. My Inner Evil


Banda:

Adriano Perfetto - Guitarra, vocais, sintetizadores
Ricardo Baptista - Guitarras 
Cesar Lopes - Baixo
Edill Alexandrino - Bateria


Contatos: