12 de out. de 2016

MY DYING BRIDE - Feel the Misery (álbum)


2016
Nacional

Nota: 10,0/10,0

Músicas:

1. And My Father Left Forever
2. To Shiver in Empty Halls
3. A Cold New Curse
4. Feel the Misery
5. A Thorn of Wisdom
6. I Celebrate Your Skin
7. I Almost Loved You
8. Within a Sleeping Forest


Banda:


Aaron Stainthorpe - Vocais
Calvin Robertshaw - Guitarras
Andrew Craighan - Guitarras
Lena Abé - Baixo
Shaun Macgowan - Teclados, violino


Contatos:


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Em termos de Metal, sabemos que cada vertente do mesmo possui bandas lendárias, gigantes que, nas origens de cada uma delas, ajudou a criar as fundações e características pelas quais um gênero é conhecido. E falar de bandas assim, para um escritor, nem sempre é fácil pela importância histórica que elas carregam. Mas sempre existe aquele prazer em poder observar o quanto algumas delas continuam criando discos ótimos e relevantes, por mais que não estejam mais revolucionando. 

E este é o caso do MY DYING BRIDE, clássico grupo inglês de Halifax, conhecido por ser um dos pilares do Doom-Death Metal/Doom Metal atual. Óbvio que eles possuem clássicos como “Turn Loose the Swans” e “The Angel and the Dark River” (que são tão importantes para o gênero como um “Altars of Madness” é para o Death Metal atual), e algumas derrapadas. Mas em geral, o saldo da banda é positivo, e “Feel the Misery”, seu mais recente disco, é a prova do quanto eles ainda podem dar ao Metal. Ainda mais agora que a Shinigami Records colocou uma versão nacional do disco nas lojas.

Se estão querendo algo de extremamente inovador do MY DYING BRIDE, esqueçam. O estilo da banda está cristalizado, aquele Doom Metal melancólico e melodioso, com muito refinamento musical, impera. E embora existam momentos com vocais mais agressivos, a banda se mantém firme em sua própria zona de segurança. Mas vejam bem: a zona de segurança do grupo é muito vasta, lhes proporcionando possibilidades musicais que poucas bandas possuem, e mesmo sem querer inventar mais nada, o quinteto continua forte e impondo-se sem medo.

“Feel the Misery” foi produzido e mixado pelo experiente Mags (bem conhecido por seus trabalhos com CRADLE OF FILTHY, BAL-SAGOTH, PRIMORDIAL e o próprio MY DYING BRIDE), e mais uma vez, ele soube captar a essência musical do que o grupo queria para o disco. E assim, criou uma sonoridade esmerada, limpa e cristalina, beneficiando o lado mais soturno e introspectivo da banda, mas sem deixar de ter peso em doses generosas.

Em termos de arte gráfica, a capa de Andrew Craighan é muito bela, evocando o lado lírico melancólico do grupo. E o design e layout de Matt Vickerstaff estão muito bonitos.

Em termos musicais, o MY DYING BRIDE continua com aquela marca registrada: músicas longas, onde eles podem expressar uma riqueza de arranjos muito boa. E são brilhantes o tempo todo, e isso em um álbum em que o grupo estava sem baterista fixo. Quem gravou as partes de bateria foi Dan "Storm" Mullins, que trabalhou as gravações do disco, e já tocou com BAL-SAGOTH e o próprio MY DYING BRIDE.

“Feel the Misery” tem oito ótimas canções, e merecem destaque as seguintes:

“And My Father Left Forever” – Uma canção cheia de variações de ritmo, indo do introspectivo ao melancólico, mas sempre com aquelas melodias muito bem pensadas, e sem exageros técnicos. E em meio a tantas mudanças, quem se destaca é mesmo vocal do veterano Aaron, pois seu timbre limpo é envolvente, e consegue expressar bem todo o sentimento que o grupo carrega, sem falar pelas belas incursões de teclados.

“To Shiver in Empty Halls” – Aqui, temos algo mais denso e agressivo, rebuscando os elementos de “As the Flower Withers”, com muito uso do vocal gutural de Aaron (mas não se prendam a isso, pois o grupo não se prende a nada). Mas vale destacar o soberbo trabalho de Calvin e Andrew nas guitarras, e os teclados providenciais de Shaun.

“A Cold New Curse” – Se você conhece bem o trabalho deles, sabe que mixar peso, melodia e introspecção de forma equilibrada, e ainda pôr momentos extremos no meio disso tudo, é uma das especialidades do grupo. Mas ela é envolvente, de tal forma que ficamos presos a ela do princípio ao fim, especialmente devido ao trabalho ótimo de Lena no baixo e de Dan na bateria.

“Feel the Misery” – É um dos momentos em que a alternância entre momentos mais pesados e outros mais amenos e melancólicos se faz presente. É incrível perceber como o grupo nos envolve nesses momentos, especialmente porque os vocais estão de primeira com esse timbre mais limpo, e a envoltória melódica criada pelos teclados é muito boa, sem falar na dinâmica entre as guitarras. E o toque de elegância é dado por alguns violinos providenciais (outra marca registrada do grupo).

“A Thorn of Wisdom” – A faixa mais curta do CD, com pouco mais de 5 minutos de duração. Outro momento mais introspectivo do grupo, e com alguns toques experimentais nas partes de teclados. Belíssimas melodias uma vez mais, fora o baixo e a bateria estarem perfeitos.

“I Celebrate Your Skin” – Justamente nos momentos mais introspectivos dessa canção, vemos como os vocais naturais e guturais se encaixam com perfeição, e apresentam mesmo até uma expressividade que poucas vezes se percebe em outras bandas. O andamento é bem arrastado, priorizando aquela aura densa e introspectiva que o grupo sempre apresentou.

“I Almost Loved You” – Uma música mais climática e bela, levada apenas por voz, teclados e pianos, que dá aquele toque de requintada diversidade ao álbum. 

“Within a Sleeping Forest” – Podemos dizer que, justamente por ser a mais longa de todo o disco, é a mais expressiva, onde o quinteto usa esses mais de dez minutos de duração para fazer um compêndio musical de todos os elementos que o disco possui. Há momentos mais agressivos, outros mais belos, outros com forte conotação introspectiva, mas a qualidade imposta é algo assombroso.

Sim, cada uma das faixas foi devidamente analisada, pois “Feel the Misery” é um álbum excelente em tudo, feito com qualidade inquestionável, e é um presente para os fãs.

Imperdível!


SINSAENUM - Echoes of the Tortured (Álbum)


2016
Nacional

Nota: 10,0/10,0

Músicas:

1. Materialization
2. Splendor and Agony
3. Excommunicare
4. Inverted Cross
5. March
6. Army of Chaos
7. Redemption
8. Dead Souls
9. Lullaby
10. Final Curse
11. Condemned to Suffer
12. Ritual
13. Sacrifice
14. Damnation
15. The Forgotten One
16. Torment
17. Anfang des Albtraumes
18. Mist
19. Echoes of the Tortured
20. Emptiness
21. Gods of Hell


Banda:


Sean Zatorsky – Vocais 
Attila Csihar – Vocais 
Stéphane Buriez – Guitarras 
Frédéric Leclercq – Guitarras, baixo, teclados
Heimoth – Baixo 
Joey Jordison – Bateria 


Contatos:


Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


O radicalismo musical é uma praga que assola o Metal no Brasil, e me perdoem pelas palavras: não existe “dose certa de radicalismo” ou “radicalismo consciente”.  Existe radicalismo, o que pode tornar um fã de Metal semelhante a um fanático fundamentalista de qualquer forma de fé religiosa que deseje falar. E faz MUITO mal a todos, com seus milhares de regras de como ser ou não ser um fã de Metal (sério: esse tipo de farisaísmo doentio deveria ter ficado lá nos anos 80).

E se algumas pessoas tivessem uma mente mais aberta aprenderiam lições importantes do bem viver. E algumas lições são forçadas a esta gente goela abaixo, sem dó, como é “Echoes of the Tortured”, primeiro álbum do sexteto internacional SINSAENUM, que chega ao Brasil pela parceria da Shinigami Records e a earMUSIC.

Sim, é uma lição de como fugir do marasmo do Metal extremo.

Por que de tal afirmativa?

Vamos lá: primeiramente, a banda surgiu da fusão dos esforços de Frédéric Leclercq (baixista do DRAGONFORCE, conhecida banda de Power Metal, e que aqui toca guitarra), Joey Jordison (ex-baterista do SLIPKNOT, banda de New Metal), Frédéric Leclercq (guitarrista do lendário grupo francês de Death Metal LOUDBLAST), dos vocalistas Sean Zatorsky (do grupo norte americano DÅÅTH, que faz uma mistura de Death Metal com Industrial) e Attila Csihar (lendário vocalista das bandas de Black Metal TORMENTOR e MAYHEM), além de Heimoth (guitarrista do grupo francês de Black Metal SETH, que aqui toca baixo). 

Ou seja, é um caldeirão de influências musicais diferentes, de estilos díspares, mas que se uniram e fizeram um dos melhores discos de Metal extremo dos últimos 15 anos!

Bruto, agressivo, algumas vezes mais soturno e climático, oscilando entre velocidades extremas e momentos mais cadenciados, focando na brutalidade e em uma atmosfera densa e azeda, mas com um trabalho instrumental de primeira e com boa técnica, o sexteto veio para destruir preconceitos e idéias. E apesar da fórmula usada (um misto entre Death e Black Metal) não ser algo realmente novo, o grupo sabe inovar e se diferenciar de um bando de clones criados a radicalismo musical. Tem personalidade para reescrever as regras do jogo ao jeito deles.

A produção de “Echoes of the Tortured” é do próprio Frédéric, tendo toda banda ao seu lado. Mas a diferença em termos de sonoridade é feita pelo ótimo trabalho de Jens Bogren na mixagem e masterização. Temos aquela aura sinistra e densa, mas sem abrir mão da agressividade e mesmo das melodias bem construídas que dão o alinhavo musical do grupo. E isso tudo com uma clareza instrumental muito boa, mas sem deixar aquela dose de crueza essencial de fora.

Já a arte de Costin Chioreanu reforça o lado soturno e azedo da música do grupo, em algo que remete às capas das bandas que vieram na invasão Death Metal dos anos 90.

Musicalmente, usando de elementos já conhecidos, o SINSAENUM foi capaz de criar algo personalizado, deles. Talvez justamente porque o “background” musical deles seja tão variado. Ou seja, o espectro criativo amplo de cada um deu algo de diferenciado para a música do sexteto. E para dar ainda mais dores de cabeça nos mais radicais, temos as participações de Schmier (do DESTRUCTION), Dr. Mikannibal e Mirai Kawashima (ambos do grupo japonês SIGH) nos backing vocals de “Army of Chaos”.

“Echos of the Tortured” tem 23 faixas, mas não se assustem: 11 são instrumentais pequenas que servem como introdução (e se preparem, pois não são apenas com teclados. Guitarras e bateria dão suas contribuições nelas). E em termos de qualidade, é muito homogêneo, se destacando as seguintes canções:

“Splendor and Agony” – O grupo já mostra uma música veloz e com alguns ritmos quebrados, cheia de mudanças de andamento. Mas é incrível perceber como o dueto vocal trabalha bem (reparem o contraste dos tons vocais nas partes mais rápidas e nas mais sinistras), e a bateria é algo insano (uma técnica absurda, verdade seja dita).

“Inverted Cross” – É uma faixa puramente Death Metal (como se fosse pouco), mas é assombroso com a banda é capaz de produzir riffs e mais riffs sem soar repetitiva, e sem deixar de soar brutal, mantendo a tônica das mudanças de ritmo. Aqui, se destacam muito o trabalho das guitarras (especialmente nos solos distorcidos e doentios), e do baixo, que aparece em incursões brilhantes.

“Army of Chaos” – Brutal e opressiva, sente-se certo toque de Death’n’Roll nessa música, adornada por um trabalho ótimo de vocais, ainda mais pelas participações especiais, que deram um brilho diferenciado. 

“Dead Souls” – É uma canção mais sinistra a princípio, com aquele jeitão bem opressivo, graças ao andamento bem cadenciado. Óbvio que o vocal sinistro de Attila se destaca nessas partes. Mas logo a velocidade se faz presente mais uma vez, onde Sean se destaca. Mas é incrível o trabalho pesado de Joey e Heimoth na base rítmica.

“Condemned to Suffer” – Uma torrente de caos musical. Novamente, a banda apela para o lado mais Death Metal de sua identidade musical, mas sem perder a pegada mais diferenciada criada pelo trabalho insano de baixo e bateria, aliado à guitarras matadoras e criativas.

“Anfang des Albtraumes” – Outra obra caótica e brutalmente elegante. Sim, o grupo sabe fazer algo destruidor em termos musicais, mas com uma estética de primeira. Que belo trabalho dos vocais mais uma vez no meio dessa velocidade mediana (a voz de Attila é inconfundível), e sem contar o massacre da base rítmica.

“Echoes of the Tortured” – Outro ataque massivo de velocidade e agressividade, com boas mudanças rítmicas, ótimo trabalho das guitarras (outra vez, a riqueza de riffs é surpreendente). E sim, as guitarras e o baixo estão muito bem.

Resumindo: “Echoes of the Tortured” é um tiro de misericórdia muito bem dado em vários mitos em defesa do radicalismo, e, além disso, é um dos grandes discos do ano. Resta-nos esperar que o SINSAENUM volte no futuro com outros discos, que não parem apenas nesse, pois de bandas assim que o Metal precisa.

Revelação de 2016, com toda certeza do mundo!