2015
Nacional
Nota 8,5/10,0
Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia
Destaques: Cursed Priest, Sweet Tragedy
O Doom Metal sempre foi um estilo bem difícil de ser digerido pelo público brasileiro. Basta ver que nomes clássicos como CANDLEMASS, TROUBLE, e mesmo as mais extremas como PARADISE LOST e MY DYING BRIDE nunca foram unanimidades. Não, o gênero (por melhor que seja) nunca chegou a ser um grande sucesso em nosso país, talvez devido às nossas tradições extremas, ou mesmo pelo azedume que o estilo carrega. Mas de forma alguma o estilo é ruim, pois tem em si o espírito do Pai de todos, o BLACK SABBATH. E podemos dizer com toda certeza que o quinteto baiano THE CROSS, de Salvador, é um filho e herdeiro legítimo do espírito do Doom Metal. Seu EP, "Flames Through Priests" é uma prova clara disso.
Antes de tudo, estamos falando de um veterano do estilo, pois o grupo foi formado em 1990. Ou seja, eles são o primeiro grupo brasileiro do gênero, com 25 anos de história, apesar de terem estado inativos entre 1998 e este ano, quando retornaram à ativa. E que volta!
O som da banda é azedo, duro, arrastado, e por vezes até mesmo aterrorizante, usando vocais mais urrados muito bem feitos, duas guitarras com bases ótimas e bem variadas, além de solos bem feitos, e uma base rítmica sólida e que dá um peso fenomenal ao trabalho deles. A música é intensa, e mesmo com esses andamentos mais lentos, cheia de energia e impacto. Ou seja, temos uma banda de Doom Death Metal, mas no fundo, quem liga para rótulos?
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The Cross |
A produção da banda é bem artesanal e orgânica, crua e bruta. Mas não confunda essa sujeira com relaxamento, não é isso. A sujeira não deixa o trabalho incompreensível, longe disso. Somos capazes de compreender o que o grupo está tocando claramente sem problemas. E a arte da capa, sinistra, complementa o que o grupo quer dizer em suas músicas.
O grupo usa de canções longas, mas muito bem feitas, e em momento algum soam cansativas aos ouvidos. Cada arranjo soa espontâneo e nem de longe aparenta estar ali inutilmente. A banda arrasa, mostra um trabalho musical ótimo.
Cursed Priest - Tétrica e recheada de arranjos bem melancólicos, é uma música que chega a surpreender por conta de momentos com guitarras limpas. Mas o clima é fúnebre e azedo de ponta a ponta, com um trabalho vocal de primeira.
Sweet Tragedy - Tão fúnebre e soturna quanto a anterior, mas morbidamente envolvente. Baixo e bateria mostram um trabalho técnico muito bom, enriquecendo a canção de uma forma maravilhosa. Mas existem de guitarra que vão dando aquele toque de peso a mais, preenchendo bem todos os espaços.
De bônus, as faixas da Demo Tape "The Fall", que são "Flames of Deceit", "The Fall" e "Scars of an Illusion" estão aqui, disponibilizadas mais uma vez após tantos anos, merecidamente testemunhando o renascimento do THE CROSS. Óbvio que a qualidade de gravação não é lá essas coisas, mas lembro o caro leitor das dificuldades de se gravar discos e demos por aqui, ainda mais com a economia causticante naquele momento histórico do país. E elas servem para mostrar que a banda continua com a mesma pegada, a mesma vontade e mesma integridade sonora.
No mais, o THE CROSS merece uma medalha por seu retorno, pois sua música tem muito para oferecer a todos nós.
Sejam bem vindos de volta!
Músicas:
1. Cursed Priest
2. Sweet Tragedy
Banda:
Eduardo Slayer - Vocais
Elly Brandão - Guitarras
Pedro Maia - Guitarras
Luciano Nogueira - Baixo
Alex Rocha - Bateria
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