2017
Independente
Nacional
Nota: 10,0/10,0
Tracklist:
1. The Beloved Bones
2. Smile Back to Me
3. King for a Moment
4. This Loathsome Carcass
5. Parasite
6. Breaking Up Again
7. Empowerment
8. Nihil Mind
9. Purple Letter
10. Sola Mors Liberat
11. When Shadow Falls (Bonus track)
Banda:
Mario Linhares - Vocais
Glauber Oliveira - Guitarras
Hugo Santiago - Guitarras
Gustavo Magalhães - Baixo
Brendon Hoffmann - Bateria
Contatos:
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Bandcamp:
Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia
O Heavy Metal e todas as suas vertentes deveriam estar criando algo melhor para o mundo. Mas está justamente indo no sentido oposto: nunca se viu tantas brigas e picuinhas por nada. O que antes era um estilo que pregava a liberdade, agora vive cheio de regras e defensores da opressão (em qualquer forma de expressão que ela possa assumir); o que antes era sinônimo de contestação cedeu espaço para o “Sex, Drugs and Rock ‘n’ Roll” ou a versão tupiniquim “Sex, Drinks and Metal”, coisas que podem ser boas, mas não essenciais para a vida e são usadas para anestesiar os sentidos diante das penúrias do mundo real. Grande parte dos headbangers hoje mais se preocupa com picuinhas na internet do que com a música, em pregar discursos de ódio e preconceito contra tudo e todos que dar voz à contestação a tudo que se sofre nos dias de hoje. Mas isso é reflexo de uma realidade amplas, onde estamos todos inseridos.
Isso vem da prisão que criamos para nós mesmos, dada pela sequência Inconsciência - Negação - Fuga - Vitimização - Desespero - Súplica - Reflexão - Equilíbrio - Coragem - Decisão - Liberdade, que formam a espinha dorsal do inferno que se passa na vida, a clausura na qual essa enorme parcela de fãs acaba se acorrentando, a essência do Samsara ao qual estamos todos submetidos.
E é justamente este inferno nosso de cada dia o tema central de “The Beloved Bones”, novo CD do lendário quinteto brasiliense DARK AVENGER. Sim, eles estão de volta após 4 anos desde “Tales of Avalon: The Lament”, e a música do disco é um oásis na aridez de idéais em que anda o Metal atualmente.
Aqui, o estilo da banda, aquele Heavy tradicional atualizado e cheio de influências modernas (e ainda assim, rico em belas melodias e boa técnica) mostra-se grandioso e pomposo, mas cheio de vigor e energia. E justamente por “The Beloved Bones” ser a primeira parte de uma estória (esta parte é chamada “Hell”), se focam nos eventos cotidianos em que os seres humanos são expostos à repetição contínua de eventos amargos. Imaginem pessoas que vivenciam todos os dias casamentos infelizes, relacionamentos abusivos, vício em drogas, dificuldades referentes ao poder aquisitivo, entre outros. São os infernos nossos de cada dia, de todos os dias.
Desta forma, se o aspecto lírico mostra complexidade, a música segue o mesmo caminho. Apesar de ser um disco de fácil assimilação, “The Beloved Bones” mostra uma complexidade musical única, já que o grupo mostra arranjos primorosos em cada instrumento, bem como vinhetas e narrativas vão aclimatando o ouvinte. E sem falar que os vocais estão ainda melhores, usando uma diversidade de timbres muito boa. Ou seja, o DARK AVENGER é como um bom vinho: quanto mais envelhecido, melhor.
A produção e mixagem de “The Beloved Bones” foram feitas pelo guitarrista Glauber Oliveira em seu estúdio (Asylum Studio, em Brasília-DF), enquanto a masterização é assinada por Tony Lindgren, dos Fascination Street Studios, Örebro, na Suécia (ANGRA, DRAGONFORCE, ENSLAVED, KATATONIA, SEPULTURA, SOILWORK, e muitos outros), garantindo assim uma sonoridade fluida, moderna e pesada, mas clara para que nada no disco seja perdido.
Já a arte da capa é um trabalho do artista francês Bernard Bitler, que procurou traduzir para o visual toda a dinâmica lírica e toda a gama de sentimentos das músicas. E ficou ótima, sedutora e sombria, mas com sutilezas que mostram contrastes entre o sombrio e o belo.
O ponto forte do DARK AVENGER é justamente não se acomodar musicalmente, sempre buscando se atualizar, aglutinar influências, mas mantendo suas características primordiais. Tudo em “The Beloved Bones” é perfeito, bem pensado, mas soando espontâneo. Não há espaços vazios ou arranjos supérfluos, tudo está simetricamente encaixado e grandioso, embora a complexidade musical/lírica do disco possa ludibriar a percepção de muitos. Ele é pesado instigante, desafiador e maravilhosamente envolvente, ilustrando o conflito entre o Emocional e o Racional em todos nós diante da vida, quase com um toque dos debates entre o copernicano Salviati e o aristotélico Simplício em “Dialogo Sopra i Due Massimi Sistemi del Mondo” (ou “Diálogo Sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo”), obra célebre de Galileu Galilei.
Violinos sombrios introduzem “The Beloved Bones”, que explode em uma agressividade melódica ótima, andamento envolvente e a banda toda em grande forma, com belo refrão e vocalizações perfeitas (lembrete: estamos falando de Mário Linhares). Orquestrações e um ritmo mais ameno são a tônica da pesada “Smile Back to Me”, onde a diversidade rítmica ditada por baixo e bateria é sublime, fora corais muito bem encaixados. A grandiosidade operística de “King for a Moment” contrasta com seu approach mais modern e denso, cheia de um feeling mais introspectivo, alguns vocais mais extremos e lindas linhas de guitarras e teclados. O início com toques orientais logo vira um crescente de belíssimas guitarras em “This Loathsome Carcass”, que é cheia de belas passagens melodiosas e levemente azedas. A velocidade e agressividade de “Parasite” surpreendem o ouvinte logo de início, mas a tônica desta canção é dada por contrastes, logo, se prepare para belas passagens melodiosas e técnicas. O início de “Breaking Up Again” é lento e melodioso, priorizando belas partes interpretativas, mas logo ganha peso e velocidade, guiada por belíssimos e ricos riffs de guitarra. Um pouco mais swingada, mostrando contrastes entre lindos teclados e guitarras azedas, vem “Empowerment”, onde os vocais estão muito bem mais uma vez. Em “Nihil Mind”, segue o minimalismo técnico, a força do estilo da banda, de suas melodias intrincadas e bem feitas, dando suporte a mais um trabalho muito bom de baixo, bateria e teclados, sem falar no refrão de primeira. E tome partes agressivas modernas se mesclando com teclados climáticos em “Purple Letter”, com seus momentos belos sendo complementados por partes mais cruas e cheias de energia que nos seduzem. Vocalizações operísticas de muito bom gosto introduzem “Sola Mors Liberat”, uma linda e melancólica balada, cheia de momentos introspectivos e belos pianos, para logo solos melodiosos aparecerem e complementarem as vocalizações suaves. As versões brasileira e japonesa ainda possuem uma faixa extra, “When Shadow Falls”, uma segunda balada, terna e melódica, com um clima mais ameno e positivo, como se fazendo ponte para a segunda parte de “The Beloved Bones”, que será “Divine”.
“The Beloved Bones” é um disco fenomenal, que mostra que o DARK AVENGER ainda tem seu lugar garantido entre os grandes nomes do Metal nacional. E ele estará disponível em Agosto para a aquisição, logo, se preparem para mais um dos grandes discos de 2017!