Por Marcos Garcia
Há alguns dias nós, da imprensa dedicada ao Metal, temos observados artigos lançados na internet que criticam o trabalho de revistas, sites, público, enfim, de todos que estão relacionados ao Metal de alguma forma, então, o METAL SAMSARA, na condição de um veículo realmente esclarecedor, deseja pôr algumas cartas na mesa, e como este que vos escreve costuma dizer, se idade é posto, acreditamos que 30 anos ouvindo Metal possam nos credenciar para tanto.
Um dos atacados, de forma irônica, é a ROCK BRIGADE, revista especializada em Metal e que se encontra na ativa desde 1982 (antes como fanzine, depois como revista), ou seja, 30 anos de muita luta (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rock_Brigade_(revista)), sendo que um de seus fundadores, o Sr. Antonio D. Pirani, é um dos alicerces da cena Metal.
Expondo as críticas feitas e revelando a verdade:
1 – Criticam a linguagem usada na época, que realmente não era algo profissional, mas quem imaginava na época, em plena década de 80, em cena de Metal profissional?
Muitas das conquistas daqueles tempos foram feitas de forma amadora, pois não havia ainda know-how da coisa por aqui. Copiar o modelo europeu era inviável, pois a economia do Brasil, caótica e feita sobre planos econômicos que nada resolviam não tornava a aquisição das mesmas simples, isso sem mencionar a barreira do idioma. Conseguir discos importados era tarefa árdua, e pior ainda se falando em revistas. Além do mais, o know-how nacional surgiu dentro da própria BRIGADE, e isso em 1988;
2 - Houve erros e injustiças? Sim, existiram, e cito o exemplo do CELTIC FROST, que levou uma nota baixa para o ‘Morbid Tales’ na época. Mas na época do lançamento do ‘To Mega Therion’, houve uma retração. Uma atitude que poucos que tecem críticas por aqui possuem;
3 – A Brigade é a revista que abriu as portas do underground mundial para os Headbangers brasileiros, pois foi a primeira a falar sobre discos e fazer entrevistas com bandas como EXCITER, ANVIL, METALLICA, SLAYER, MEGADETH, SAVATAGE, KREATOR, DESTRUCTION, SODOM, HELOWEEN, POSSESSED, DEATH, bem como ajudou a divulgar o trabalho de bandas nacionais que ralavam no underground, e ali, bandas como SEPULTURA, OVERDOSE, SARCÓFAGO, CENTÚRIAS, VIPER, VODU, SALÁRIO MÍNIMO, MX, AVALON, DORSAL ATLÂNTICA, VULCANO, KORZUS e outras tiveram espaço;
4 – A fundação do selo Rock Brigade Records, em 1986 (seu primeiro lançamento foi o segundo disco do VULCANO, ‘Bloody Vengeance’) ajudou bandas novatas a terem como lançar seus discos, e isso não era barato. Com um computador e softwares, hoje em dia, qualquer um pode fazer um CD e pôr na net. Na época, era incrivelmente difícil, e isso sem falar na barreira da falta de experiência dos técnicos de estúdio em gravar discos de Metal. Se as notas para os discos eram altas, o que muitos alegam ser protecionismo, por outro lado nos dá direito a lançar uma pergunta: os discos em si não mereciam avaliações altas? VULCANO, ENTOMBED, VODU, DISMEMBER, MORBID ANGEL, BENEDICTION, ANGRA, VIPER... Há alguém em sã consciência que possa dizer que estas bandas não mereciam boas avaliações, com os discos que foram lançados pela gravadora? Falar em ‘distanciamento profissional’ não é desculpa, pois se uma pessoa se diz fã de Metal e não é envolvido pela música, há algo errado, pois a música, como qualquer outra forma de arte, afeta os sentimentos humanos que carregamos.
5 – Se for falar em ANGRA, que fique bem claro que a dissidência que levou André Mattos, reconhecido na época como um dos melhores vocalistas do Metal Nacional em eleições anuais que ocorriam na própria Rock Brigade e outros veículos (zines em especial), a sair do VIPER eram de ordem profissional, pois André desejava continuar uma linha mais melódica, com arranjos complexos, ao passo que o restante da banda queria fazer algo mais seco e pesado, o que se confirma no disco ‘Evolution’, de 1992. Além do mais, André e Rafael Bittencourt fundaram o ANGRA em 1991, quando se conheceram na Faculdade Santa Marcelina (aqui está a fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Angra_(banda)). E mesmo que o ANGRA tenha sido empresariado por seja lá quem for (não se fala em nomes sem provas) e lançado pela Rock Brigade Records, teve apoio maciço da imprensa na época do lançamento do ‘Angels Cry’ por méritos de um bom trabalho feito, ou alguém quer discordar da qualidade da banda? Isso sem falar que eles criaram algo novo (a fusão de músicas regionais brasileiras com o Metal técnico da banda) no ‘Holy Land’. Discordar de tais fatores não é ser correto, mas tacanho e cego às provas, pois a História não é interpretativa e feita em cima de suposições, mas em fatos reais documentados;
A outra a entrar na dança foi a ROADIE CREW, outra conhecida e respeitada revista de Metal brasileira, que está com 15 anos de muita luta nas costas.
Vamos nós:
1 – O questionamento sobre a índole de seus representantes é algo falacioso, pois como citado acima, especular algo sem mostrar provas daquilo que advoga (art. 156 do Código de Processo Penal deixa claro que ‘A prova da alegação incumbirá a quem a fizer (...)’ ), e é leviano, algo cabível de processo judicial, por danos morais, calúnia, difamação. Juntando tudo isso, dá um bom tempo de cadeia.
2 – No quesito notas, questiona-se por aí os critérios usados nas resenhas. A opinião pessoal de um indivíduo não deveria ser critério para a contestação pública, uma vez que opiniões diferentes são comuns no meio. Vejam que alguns clássicos do Metal até hoje sofreram críticas severas na época de seus lançamentos, especialmente o BLACK SABBATH em seus três primeiros discos (vejam por si mesmos: http://www.rollingstone.com/music/albumreviews/black-sabbath-19700917 (‘Black Sabbath’), http://www.rollingstone.com/music/albumreviews/master-of-reality-19711125 (‘Master of Reality’), e sobre o ‘Paranoid’, pedimos que olhem o verbete deles em inglês na Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Black_Sabbath). Além disso, distância não é um bom critério para uma avaliação, muito pelo contrário, pois se a música não é capaz de comover o ouvinte, crítico ou não, ela não tem sentido de existência. Não é música...
3 – Sobre a qualidade da revista e de seus textos, dizer que o padrão caiu é ser leviano. A qualidade está lá, a linguagem pode ter se alterado em função de mudanças que a equipe de colaboradores teve, pois o background de cada pessoa difere do de outras, algo bem simples de ser compreendido. Opiniões são importantes, mas nenhuma pode ser maior que outra, e se discorda de alguém, por que não fala diretamente com esta pessoa? Mesmo porque tanto a ROADIE CREW quanto a ROCK BRIGADE quanto o WHIPLASH, como qualquer outro veículo, sabe dar ouvidos;
4 – Existe na ROADIE CREW um padrão, que lhe rendeu vários prêmios (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Roadie_Crew), que ela própria criou, assim como a ROCK BRIGADE possui o dela, e o WHIPLASH tem o seu. E por falar no WHIPLASH, ele mostrou um modelo de sucesso, mas nem por isso as revistas perderam sua importância, mesmo porque são elas que possuem contatos com artistas que nós, do baixo underground, não temos como ter o devido acesso. Elas ainda possuem muita lenha para queimar, ainda bem.
Sobre as críticas às lojas e gravadoras, novamente fica uma verdade: diante do que já foi no passado, a coisa está muito melhor, pois quantos dos mais velhos esperaram anos (ou economizaram cada centavo que ganhavam) para ter suas versões nacionais de alguns discos?
Creio que poucos fãs de hoje saibam que os três primeiros discos de bandas do underground que tiveram sua versão nacional foram o ‘The Warrior’ do CHARIOT, ‘Witch Hunter’ do GRAVE DIGGER e ‘Endless Pain’, do KREATOR, e isso graças à finada Woodstock discos, do irmão Walcir, e isso somente em 1985, que só tomou forma porque a ROCK BRIGADE estava lá, ajudando a dar este ponta-pé inicial. Outro que saiu aqui, em 1986, foi a versão nacional do ‘Show No Mercy’ do SLAYER, um dos primeiros discos do underground a serem lançados por uma major.
Ainda sobre notas, será que os altos conceitos obtidos por discos não reflete que a coisa anda bem das pernas? Aliás, será que as pessoas que criticam tanto as notas dadas assim REALMENTE se deram o trabalho de ouvi-los como se deve, ou seja, com o carinho e atenção devidos, coisa que o ‘distanciamento profissional’ não permite? Não acreditamos...
Sobre o público, acreditamos que aqueles que não andam no nosso meio, não vão aos shows, não interagem conosco, nada deveriam dizer, pois existem problemas e ideias erradas na cena, óbvio, mas apenas olhar pela internet dá uma visão errada sobre o assunto, pois o Headbanger sabe ser civilizado, e mesmo com a parca educação que temos em nosso país, raramente tem-se um tratamento ruim. O Headbanger é solidário, vide as manifestações que ocorreram nos dias 03, 04 e 05 no Facebook, que revelaram que um dos cabeças do Metal Open Air estava organizando uma excursão do DESTRUCTION no Brasil, e sabendo disso, a banda desistiu, bem como farão a excursão em 2013, com um novo parceiro (leia-se uma nova agência), como se pode observar no cartaz abaixo, compartilhado por todo o dia de ontem.
Aqui, ainda cabe um texto bíblico que, apesar do METAL SAMSARA ser um veículo laico, cabe esta citação: aquele que não tiver pecados, que atire a primeira pedra, e garantimos que todos nós temos erros suficientes que nos proíbem de apedrejar-nos mutuamente.
E como dito em matéria anterior, o METAL SAMSARA apoia a ROCK BRIGADE, a ROADIE CREW, o WHIPLASH, além de revistas, blogs, zines, assessorias de imprensa, fã-clubes, bandas, promoters de shows, casas, fãs e todos aqueles que, honestamente, ajudam a cena de uma forma ou de outra, pois unidos, somos fortes e podemos fazer a diferença.
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(Se somos fortes, nossa força falará por si mesma. Se somos fracos, palavras não serão de ajuda alguma). |
Finalizando, uma dica a cada um dos que fazem isso: por favor, se a cena Metal, com tudo que ela envolve, os estressa, basta apenas que saiam dela, e vão ouvir outros estilos...
O Metal agradece.