Por Marcos "Big Daddy" Garcia
Quando se fala em Classic Thrash Metal no Brasil, vários nomes nos vem à mente, mas um dos que andam causando furor na cena atualmente é o do MAD DRAGZTER, de São Paulo.
De volta desde 2012, após anos separados, finalmente o terceiro disco da banda, "Master of Space and Time" saiu este ano, mostrando um lado mais agressivo e trabalhado de sua música, com ótimas melodias, mas ainda assim, feroz e agressivo como sempre foram.
Aproveitando o momento, fomos bater um papo com a banda, e fomos saber do passado, presente, futuro e mesmo alguns temas polêmicos.
Mad Dragzter |
BD: Para início de conversa, quero agradecer do fundo do coração por esta entrevista, então, vamos nós: qual o motivo de terem ficado parados após o lançamento de "Killing the Devil Inside" e 2014, quando retomaram as atividades? Aparentemente, a segunda metade da década passada foi bem cruel com as bandas de Thrash Metal do Brasil, pois muitas realmente pararam por anos, e todas prometiam tanto...
Tiago Torres: Marcão nós que agradecemos muito a força e a entrevista! Basicamente a banda parou logo depois do lançamento do "Killing..." (Novembro de 2006). Parou porque eu, Tiago, não gostei do resultado final. Veja bem, eu gosto do "Killing...", tem quem diga que é nosso melhor álbum, mas não ficou como eu esperava. Vínhamos com a responsabilidade de suceder e dar um passo acima de tudo que tínhamos feito com o "Strong Mind", o álbum e a tour, e o "Killing..." ficou muito "melódico", "suave", "lento", para o que eu esperava e desejava para a banda. Na época, muita gente pôs a mão no "Killing..." e muita gente também queria que nosso som fosse, nas devidas proporções, na linha do Metallica no "Black Album". E eu queria que o MADZ fosse uma banda 100% Thrash Metal sujo, rápido e agressivo, ahahahahahaha... Em 2008, eu já tinha algum material do "Master..." composto e pensei em lançar um disco solo, mas no final, falei com os caras e decidimos que seria o terceiro álbum do MADZ. Então eu considero que banda voltou em 2008 mesmo, gravando as primeiras demos do "Master...". Sobre a cena de Thrash brasileira, para falar a verdade, ficamos meio afastados, e só agora estamos descobrindo quem ficou e quem parou. Mas me parece que, como sempre, o Brasil continua sendo um grande produtor de bandas desse estilo!
BD: Encontramos em uma entrevista no site Road to Metal que concederam uma informação inusitada: que algumas músicas de "Master of Space and Time" eram para ser um disco solo de Tiago (Torres, guitarrista/vocalista da banda). Como foi esta transição de um disco solo para um terceiro disco do MAD DRAGZTER? Parece que muita água rolou embaixo da ponte.
TT: Como falei acima, eu tinha muitos riffs e idéias. E a principio não sabia se o MADZ ia voltar. O "fim" da banda no final de 2006 foi meio estressante. Logo depois do processo de gravação do "Killing...", ficamos mais de um ano sem nos falarmos ou encontrarmos. Só lá para o meio de 2008 comecei a mostrar os riffs para o Gabriel e depois para o Eric e Armando. Fizemos uma reunião e resolvemos voltar e gravar o "Master...". Foi lá também que falei das minhas idéias e direcionamento lírico do disco. Todos concordaram e se animaram com a volta do MADZ. Nesse período também gravamos uma demo bem tosca da primeira faixa do disco que foi composta, "Megiddo". E depois disso as coisas fluíram e estamos aqui novamente!
BD: Outra: por que 15 músicas? Sim, o número chega a ser enorme, mesmo para uma banda de Thrash Metal tão pesada e agressiva como vocês. E mesmo assim, não consigo ver o "Master of..." sem uma delas que seja.
TT: Muita gente pergunta isso, ahahahahahaha... Temos, ou talvez eu tenha, mania de colocar muitas músicas. O "Strong Mind" tem 14 faixas, e o "Killing" 13, então é mania nossa mesmo. Primeiro porque nos "apegamos" as músicas e diferentemente da maioria das bandas que compõem 14/15 faixas para escolher 10, nós colocamos todas... Ahahahahahaha... Segundo porque não gostamos de deixar nada para trás, é como se nos liberássemos desse período da banda, colocássemos um ponto final em uma fase, para poder compor coisas novas para o próximo, e no caso do Master ainda teve o fator tempo que ajudou a aumentar as faixas, teve faixa como a "Sons of Thunder" ou a "Gehenna" que foram compostas bem no final do processo. Mas acho que esse é nosso último álbum longo e com muitas faixas. Isso deve mudar para os próximos! Mas concordo com você sobre o "Master...". Gosto muito do jeito que ficou. Tempo e número de faixas. E gosto muito de cada faixa que está no álbum. Também não tiraria nenhuma.
BD: Olhando em perspectiva agora, quais seriam as maiores diferenças e semelhanças entre "Strong Mind" de 2003, "Killing the Devil Inside" de 2006, e "Master of Space and Time" em termos musicais? E se pudesse alterar algo nos dois primeiros, o que seria?
TT: Acho que temos algumas coisas bem características no nosso som. E nos três álbuns elas aparecem. A mudança de tempo várias vezes nas faixas com partes rápidas e lentas, os climas melódicos. O jeitão dos solos do Gabriel que não são muito ortodoxos no Thrash. Não tem muita "fritação" mas tem muito feeling. Os caras que o Gabriel mais gosta na guitarra solo são Santana e Richie Blackmore então já dá para perceber o porque disso. Os backings vocals melódicos. O não ter medo de colocar elementos novos no som. Tem de reggae a baião. Coro infantil a cavaco. E isso também vem da musicalidade do Gabriel, que é um cara que gosta de tudo, de música boa em qualquer segmento. Essa mistura toda é que faz, na minha opinião, com que aos poucos o MADZ esteja conseguindo criar uma identidade própria, um som próprio, um estilo próprio. "Strong..." + "Killing..." + "Master..." foram previews do que será o som definitivo do MADZ.
BD: Falando de "Master of...", como foi gravá-lo, e por que resolveram deixar a produção nas mãos de Gabriel (Spazziani, guitarrista da banda)? E qual o sentimento em relação à qualidade sonora que conseguiram?
TT: O Gabriel é um grande e respeitado produtor musical já há alguns anos. Tem feito muita coisa boa pilotando seu estúdio Casa da Lua, que tem em parceria com outro grande produtor, o Gabriel Mineiro. Gravaram, produziram, mixaram gente do calibre de Arnaldo Antunes, Cauby Peixoto, Ângela Maria entre outros de diversos estilos musicais. Por isso foi natural a escolha dele e seu estúdio para o terceiro disco do MADZ. E o resultado final ficou fantástico. A masterizacão, que também ficou muito boa, ficou por conta do Mauricio Gargel, que já trabalhou com bandas como Sepultura, Viper, Titãs, etc....
BD: Qual o conceito por trás do nome do disco? Sério: por eu ser Físico, quando vi "Master of Space and Time", juro que a primeira coisa que me veio à mente foi a Teoria da Relatividade de Einstein (risos).
TT: Aliás, o nome Einstein é gritado na faixa título, ahahahahahah... A idéia básica era na verdade encontrar cientistas renomados que através da ciência haviam tido um encontro com uma força maior, com um Criador, com Deus. E entender como poderia ser possível a ciência coexistir com essa idéia. E nesse caminho fui me deparando com Newton, Edson, Einstein e muitos outros. E o ponto principal de todos eles era que quando você estuda profundamente as três dimensões do espaço e a chamada quarta dimensão, que é o tempo, você se depara com uma força maior, criadora, organizadora, toda poderosa, onipresente e onisciente que criou e controla tudo isso. E a partir daí quis faixa a faixa apresentar quem é Esse Mestre do Espaço e Tempo que muitos cientistas famosos encontraram e que eu encontrei em meados de 2008.
BD: Eu estava guardando esta mais pro final, mas vamos direto ao ponto: já ficou uma polêmica enorme por conta das letras de "Master of...", porque todos sabemos que o conceito primordial delas é calçado no cristianismo. Mas aqui no Metal Samsara, acreditamos firmemente na liberdade de expressão, então, nos fale como esse conceito foi encontrado e desenvolvido no disco, que nos parece uma obra conceitual. Aliás, pelo que meus ouvidos me permitiram compreender delas, a abordagem de vocês não é trivial e nem mesmo simplória, mas bem elaborada. Isso é fato?
TT: Sem dúvida. Primeiro queríamos apresentar o Mestre do Espaço e Tempo como citei acima. Segundo, quando se apresenta alguém se apresenta quem é, o que fez, o que faz e o que fará. E isso fizemos com o desenrolar das faixas. Também grande parte do tema é abordado sobre a perspectiva Escatológica, que é a doutrina das coisas que devem acontecer no final dos tempos, no final dessa era, no final desse mundo que conhecemos. Então essa abordagem apocalíptica e agressiva do tema é uma visão não muito exposta e usada para se falar disso. A maioria das bandas que usa esse tema em suas letras fala mais de experiências pessoais. E fala mais de uma abordagem "light". Mas com o nosso tipo de som, "light" seria a última opção que escolheríamos para falar disso, ahahahahaha........
BD: Aliás, ainda sobre esta polêmica toda em relação à fé, não acham que isso pode causar algum transtorno, e mesmo rejeição, ao trabalho de vocês? Seria tão bom que todos entendessem que liberdade de expressão é um direito constitucional em nosso país... Ainda me lembro claramente que entre 1992 e 1993, ninguém dava muita onda para isso, tanto que o vinil do "Scrolls of the Megilloth" do MORTIFICATION vendeu e esgotou as prensagens por aqui, e o CD era disputado a tapas nas lojas naquele tempo...
TT: Marcão, para falar a verdade, a gente não está muito preocupado com isso não. Música é arte. Se a galera gostar, que bom; se não gostar, que bom também. Se não gostar só pelo fato de ter letras polêmicas no meio Metal, que bom também. E se tiver curiosidade e for fuçar esses assuntos abordados, melhor ainda. Pelo menos, escrevo sobre algo que realmente acredito e vivo. Alias foi assim nos outros discos. Quando escrevi sobre minha família destruída por um divórcio e abandono foi assim, quando escrevi sobre a situação do brasileiro no Serasa foi assim e quando escrevo sobre o que acredito espiritualmente também. Uma coisa que tenho notado é que nos reviews gringos nem citam o teor das letras eles citam. Mais ou menos na linha que você faz no Metal Samsara. Todos nós somos livres para escolher no que acreditamos. Todos nós. Simples!
BD: Ainda falando nesse extremismo todo, não acha que isso, no fundo, acaba causando mais problemas do que ajudando? Sinceramente, quando falam a palavra "radicalismo", não consigo conceber algo de bom vindo dela...
TT: Concordo com você.
BD: A capa do disco ficou muito legal, com algo que fica entre os desenhos mais clássicos, no estilo HQ, e algo mais moderno. Como foi que chegaram a esta capa, e quem foi que a criou para a banda? E sim, sei bem que ela é calcada em uma passagem bíblica, mais especificamente no Apocalipse de João.
TT: Conheci o trabalho do Sérgio Cariello através de seu maior best seller, a "Bíblia em Ação". Ele criou uma versão de partes importantes da Bíblia em quadrinhos e está sendo sucesso no mundo todo, lançada em muitos idiomas, etc... Só depois fui descobrir que ele era uma brasileiro radicado há muitos anos nos EUA e que desenhava para Marvel, DC Comics, entre outras. Ele é bem conhecido. Antes dessa capa o "Master..." teve pelo menos outras 5 versões que não gostamos tanto. Basicamente, como comentou, eu mandava o texto em cima do qual deveria ser feita a capa, Apocalipse 19:11 em diante. E é um texto bem detalhado e cheio de elementos que ninguém conseguia fazer. Achamos o Sérgio e depois de bastante conversa e convencimento ele topou. E o resultado ficou matador.
BD: Uma quente: a banda WOSLOM, também de Sampa, fez uma versão muito boa para "Break Down", do "Strong Mind". Já chegaram a ouvir esta versão? E o que acharam do resultado final? E juro que uma dobradinha do MAD DRAGZTER e do WOSLOM em SP me fariam sair do RJ só para ver esse show...
TT: O WOSLOM para mim é uma das grandes bandas do Metal Brasileiro! Eles têm personalidade e fazem o que pouca gente faz hoje, pensam na música em primeiro lugar. E a música deles é MUITO boa! Eles são diferentes e gostamos muito mesmo. Foi uma honra a versão que fizeram de "Break Down". Ficou sensacional! São nossos brothers de longa data e com certeza vamos tocar juntos. Quem sabe você nem vai precisar vir para São Paulo, a gente não vá junto aí para o Rio, ahahahahahahah....
BD: O MAD DRAGZTER volta em um momento em que os downloads ilegais andam causando um enorme problema ao cenário. E vocês não só liberaram o "Master of..." para audição na net, mas também distribuíram discos físicos de graça. Qual o motivo disso? E seja a estratégia que usaram, ela está rendendo bons frutos até o momento?
TT: Bom, bem antes do lançamento do "Master", já tínhamos resolvido que o disco seria de graça. Optamos por fazer uma versão física popular para distribuirmos mais cópias. Nós começamos assim. Em 2001, quando lançamos nossa Demo "New Times" distribuímos umas 1000 cópias na Die Hard e em shows. E o "Master..." é o recomeço do MADZ. Outra coisa é que imagine os meses de Agosto/Setembro com lançamentos de Slayer, Iron Maiden, Motorhead, Soulfly, etc.. Nós parados há quase 10 anos. Quem ia comprar o "Master"?? Ahahahahahah... Mas da maneira como tem sido temos trocentos mil downloads do disco inteiro e quase todas as 7000 cópias da primeira prensagem já foram. Bão né!!!!
BD: Bem, disco novo em mãos significa shows por vir. Já existem possibilidades para shows de vocês pelo Brasil? Algum confirmado? E fora do Brasil, existem chances ou algo concreto?
TT: A galera está gostando mesmo do álbum. E temos tido vários convites para shows. Mas nossa agenda vai ser bem tranquila. Nossos próximos passos são o lançamento do site novo, primeiro clipe, show de lançamento e lançamento do vinil duplo (NR: pronto, agora o Fernando Passos morre de enfarte). Depois vem a tour, ano que vem. Temos tido bons contatos fora para lançamento do disco e shows. Mas isso vai ficar para o ano que vem também.
BD: Essa é bem simples, mas que me atormentou o tempo todo: vocês se chamaram BULLDOZER, depois DRAGSTER, e então, MAD DRAGZTER. Como e porque houveram estas mudanças? E o que o nome quer dizer e como se encaixa no som de vocês?
TT: BULLDOZER foi o primeiro nome em 1998. Não conhecíamos a banda italiana de mesmo nome. Mudamos para DRAGSTER e lançamos nossa Demo sob esse nome. Mesmo sabendo da banda inglesa do final dos 70 e começo dos 80 de mesmo nome que já tinha acabado há bastante tempo. Mas apareceu uma banda brasileira, com o mesmo nome, que já tinha pedido inclusive o registro no INPI do nome. Fizemos um acordo com eles. Eles ficariam com o nome e nós viraríamos MAD DRAGZTER e eles não se oporiam no INPI. E foi isso. Os carros de corrida que chegam a 500 km/h, que precisam de um pára-quedas para parar parecia uma boa descrição para o tipo de som que sempre fizemos. Ainda mais quando acrescentamos o furioso/nervoso/louco antes... ahahahahahaha......
BD: Bem, encerramos por aqui. Por favor, deixe sua mensagem para os nossos leitores e os fãs do MAD DRAGZTER.
TT: Marcão sem palavras para agradecer o espaço e a entrevista. Aliás, que entrevista legal e inteligente. Muito prazer em responder todas as perguntas. O MADZ está de volta e a molecada pode esperar por um show furioso. Voltamos para ficar! STAY MADZ!! STAY THRASH!!!!!!
Vejam o lyric video de "Meggido":
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