25 de fev. de 2015

Mortifera – Bleüu de Morte (CD)

Nota 9,0/10

Por Marcos "Big Daddy" Garcia




Voltando aos anos 90, podemos dizer que foi a LLN (Les Légions Noires) que reacendeu o interesse dos fãs na França. Mesmo nos anos 80, a cena francesa raramente era mencionada em revistas importantes por todo mundo (uma exceção que pode ser citada é o TRUST, especialmente Nicko McBrain ter ido para o IRON MAIDEN, Clive Burr ter tocado na banda e o ANTHRAX ter feito uma versão para “Antisocial”). Mas o jogo mudou, e após a década de 90, vemos uma autêntica invasão de bandas vindas da França, e na maioria dos casos, temos trabalhos ótimos e muito relevantes. E um dos nomes mais interessante da cena underground do país é o lendário MORTIFERA, que está na ativa desde 2001. E graças ao esforço da Drakkar Brasil Productions, temos o acesso a “Bleüu de Morte”, álbum de 2013 do grupo e que ganhou versão brasileira.

Antes de tudo, que fique claro uma coisa: o trabalho do MORTIFERA remete sim ao Black Metal soturno e mórbido dos anos 90, mas lembre-se que o país tem sua própria veia no gênero. Ou seja, é aquele Black Metal intenso e sujo dos anos 90, com trabalho instrumental mais simples, mas com muita influência do Dark Ambient/Atmospheric Black Metal, logo, difere bastante da vertente norueguesa, mas mesmo assim, os fãs mais ortodoxos irão adorar esse trabalho que prima justamente por fazer algo mais próximo das raízes do gênero, mas que consegue ter uma personalidade bem própria. É cru, pesado, azedo e mórbido, mas bem feito. Reparem como a dinâmica entre vocais, guitarras, baixo e bateria é bem diferente do usual.

Mortifera
A produção é bem crua, nos melhores moldes da Second Wave of Black Metal (SWOBM), mas é preciso que o caro leitor se lembre: a qualidade de gravação deve sempre estar emparelhada com o que a banda faz. E aqui, ela soa perfeita, com o toque de sujeira e crueza que o estilo exige, mas sem tornar o trabalho do grupo incompreensível. A arte, simples e toda em preto e branco, é um atrativo a mais aos fãs do gênero.

Qualidade, bons arranjos, boa dinâmica entre os aspectos soturnos e os mais agressivos de sua música, é impossível não se render ao trabalho como um todo. É ótimo, e aos mais saudosistas dos anos 90, vai falar diretamente ao coração.

O CD como um todo é muito bom. E já começa bem com “Asphyxii de Couleur Bleüu” que tem boas variações e um clima opressivo forte, graças às guitarras, seguida das sinistras “Scintille Momme le Froid” (ótimos vocais e mais uma vez riffs bem mórbidos) e “Prison de Marbre” (bom trabalho da base baixo/bateria, mas buscando algo mais melancólico). Em “Night Eternal”, já temos uma faixa com um andamento mais variado, oscilando entre momentos mais velozes e outros mais cadenciados, enquanto “Les Vents de la Mélancolie”, com andamento em meio tempo, mórbida e climática, se destacando bastante mais uma vez os riffs. A curta e intimista “Triste Spectre” se segue, uma instrumental de violão e baixo, mais alguns efeitos, e depois, “Chute Invisible”, que começa com arranjos simples e opressiva, depois ganhando velocidade e peso, onde os vocais ríspidos dão a tônica da canção. Mais focada no peso, temos “Désespoir”, outra não tão veloz, com a bateria se arriscando um pouco mais nos dois bumbos e o baixo dando peso, mas com um toque de requinte nos riffs. “La Forêt de Ronces” segue a mesma linha, só sendo mais seca que a anterior, e o fechamento com chave de ferro é dado na opressiva “Souvenirs Macabres”, onde mais uma vez a base rítmica mostra boa técnica no meio da atmosfera mais azeda e densa da música.

O MORTIFERA tem muito a oferecer aos fãs do gênero, e mesmo aos não tão iniciados assim, bastando lhes dar uma oportunidade. Abra bem os ouvidos e o coração, que a viagem e satisfação serão certas.




Músicas:

01. Asphyxii de Couleur Bleüu 
02. Scintille Momme le Froid 
03. Prison de Marbre 
04. Night Eternal 
05. Les Vents de la Mélancolie
06. Triste Spectre 
07. Chute Invisible 
08. Désespoir 
09. La Forêt de Ronces 
10. Souvenirs Macabres 


Banda:

Noktu – Vocais, guitarras
Nigl – Guitarras
Spektir Beadg – Baixo
JFW – Bateria (músico contatado)


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