24 de set. de 2014

Resenha: Detonator – Metal Folclore The Zoeira Never Ends (CD)

Independente
Nota 9,0/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Na onda dos desafios que infestam as redes sociais, um amigo meu me desafiou a fazer uma resenha do CD novo do DETONATOR E AS MUSAS DO METAL, personagem que no Brasil ousou fazer a mistura entre Metal com letras muito bem humoradas. Óbvio que o desafio foi feito tendo em vista que o Pai Marcão aqui tem uma opinião diferente da dele. Mas mesmo um velho guerreiro como eu aprende algumas lições na vida, como a de entender e aceitar que as diferenças podem coexistir pacificamente. E verdade seja dita: o trabalho musical de Detonator é de grande competência.

Primeiramente, o trabalho da banda é ótimo, com um instrumental muito bem feito e entrosado, transitando entre o Metal tradicional moderno e o Power Metal em alguns momentos. Mas é pesado, técnico e espontâneo até os ossos. Guitarras pesadas em riffs muito bem feitos, solos melódicos privilegiados, baixo e bateria com boa técnica e sabendo conduzir perfeitamente os andamentos (e muitas mudanças rítmicas, diga-se de passagem), e os dotes vocais de Detonator são ótimos, com bastante técnicas e sabendo explorar bem agudos de uma forma que não agride nossos ouvidos (algo raro nos dias de hoje). Mesmo quando ele usa sua voz como personagem, ela é muito boa.

A produção sonora do disco é de primeira. A sonoridade está clara e brilhante, com timbres muito bem escolhidos em cada instrumento, isso sem mencionar que o disco é de um peso e bom gosto bem grandes. A arte, um trabalho ótimo de Rafael Louzada, transpira o clima bem humorado das letras e as mensagens, e ainda tem um álbum de figurinhas auto-adesivas.

Detonator e as Musas do Metal
Mas que fique claro: musicalmente, o estilo da banda não chega a ser inovador, e como dito acima, transita entre o Tradicional Moderno e o Power Metal, mas sem ter aquelas levadas velozes que, por vezes, acabam apenas enchendo linguiça. Não, a banda mostra bons arranjos em todos os momentos, e ainda temos convidados como Alexandre Frota (nas narrativas), Edu Ardanuy (DR. SIN), Rafael Bittencourt (ANGRA), Michel LemeThiago Bianchi (SHAMAN, NOTURNALL), João Gordo (RATOS DE PORÃO), e Ricardo Confessori (ex-ANGRA). Um time de peso que deu um brilho a mais ao trabalho.

Sobre as letras, realmente a ZOEIRA não para um segundo sequer, e dessa vez, Detonator solta o verbo (e seu humor) para cima do Folclore Brasileiro, valorizando-o e misturando com a boa e velha idéia do Deus Metal e tudo mais. No fundo, se todos tivermos um pouco de humildade e revermos opiniões, esse disco tem um valor muito grande, e um ponto fortíssimo: o de refletir até onde as coisas devem ser levadas a sério, e outras que realmente são dignas de serem zoadas até o final dos tempos. E dessa vez, todo o humor fica claro devido às letras em português, ponto positivo, já que a métrica não é ferida, e a pronúncia ficou bem compreensível.

O disco tem um nível de composição muito bom, distribuído em cada uma de suas composições. Mas é impossível não dar valor à ótima "Metaleiro" com seus ótimos riffs e vocais (com ótimas mudanças rítmicas, e os trechos do Hino Nacional são muito bem sacados, além da incorporação de um grito de torcida de futebol, cantando "sou Metaleiro, com muito orgulho, com muito amor". Se pararem para compreender, a mensagem intrínseca na ZOEIRA é: somos brasileiros, antes de tudo), a pesada "Metal Zumbi" (cadenciada e azeda no início, depois ganhando mais punch e um pouco mais velocidade), a mais Power Metal "Curupira" (lembra um pouco uma mistura de HAMMERFALL e MANOWAR, com boas intervenções das seis cordas, especialmente nos momentos dobrados), a cadenciada "Boto" e seus ótimos solos (além de bateria e baixo perfeitos na base rítmica que demanda peso. E peso é o que temos!). "Boitatá" é pesada e ganchuda, com um andamento envolvente e variados, além de vocais muito bem encaixados. Começando lenta e com vocais muito zoados (o "se liga no solo" é de matar de rir), mas então surge um dueto ótimo de Detonator com um vocal feminino excelente, então a música vira uma paulada direta na cara, mais uma vez com guitarras excelentes. Em "Cuca", a coisa fica ainda mais pesada e ganchuda, solos ótimos e peso absurdo do baixo e bateria (crises de riso quando se percebe que a letra zoa com o tema da Cuca do Sítio do Pica-Pau Amarelo). Mais um protesto subjetivo (contra a desvalorização de nosso folclore) é visto na azeda e agressiva "Saci", onde vemos um insert de música regional e vocais mais brutos (cortesia de João Gordo). "Saquito" já é mais chegada na NWOBHM, bem próximo ao IRON MAIDEN, com ótimo andamento, e assim, baixo e bateria mostram um trabalho sublime. E fechando o disco, a ganchuda e ótima "Qual é o Negócio?", também com uma pegada meio IRON MAIDEN, só que mais pesada e seca, novamente com os vocais roubando a cena, mas NÃO DEIXEM DE OUVIR o diálogo entre Detonator e Alexandre Frota em "Missão Cumprida", a vinheta que vem antes. Agora o diálogo final entre Detonator e o Mestre Ares (sim, o mesmo de Cavaleiros do Zodíaco) é IMPAGÁVEL, onde temos a participação especialíssima de Gilberto Baroli, dublador do célebre vilão, e que acaba soltando um "Explosão Galática" em nosso herói, e pelo visto, o próximo disco promete ser uma Saga das Doze Casas com Detonator querendo ir às forras. 

Aqui, apenas evitei comentar a maioria das vinhetas, mas elas são partes obrigatórias do CD.

Ame ou odeie, mas verdade seja dita: DETONATOR E AS MUSAS DO METAL mostraram que um trabalho desse nível tem espaço (e muito) no Brasil.

Ah, sim, que Detonator me permita usar suas palavras. "Já que vão "upar" mesmo, que vcs ouçam no canal do dono do disco!!!  Caso vcs gostem, dêem uma força pq eu banquei o disco sozinho e sem gravadora."

Ou seja: comprem o CD, pois fazer Metal no Brasil é difícil.


Tracklist:

01. Intro
02. Metaleiro
03. Uma Grande Tragédia
04. Metal Zumbi
05. Tadinho Dele
06. Curupira
07. Boto
08. Boitatá
09. Mula Sem Cabeça
10. Cuca
11. Saci
12. O Pimpolho do Folclore
13. Saquito
14. Missão Cumprida
15. Qual é o Negócio?
16. Mestre do Santuário


Banda:

Detonator - Vocais
Paulitchas Carregosa - Guitarras
Isa Nielsen - Guitarras
Juliana Farias - Baixo
Iza Molinari - Bateria


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