Por Marcos "Big Daddy" Garcia
Quando se fala no lema DIY (Do It Yourself) ou no aspecto anarquista do Metal, é bom que lembremos que esses fatores são, antes de tudo, heranças do Punk e do HC, e mesmo com bandas que já tocavam no tema, como o próprio SEX PISTOLS já fazia em "God Save the Queen" e "Anarchy in the U.K.", ainda faltava inspirar atitude realmente coerente com o que se falava. E nisso, não adianta: o mestre e Godfather da coisa é mesmo o ácido e controverso quarteto DEAD KENNEDYS, de San Francisco, Califórnia. Atitude, ironia, agressividade e acidez (tanto musical quanto lírica) são elementos claros de sua musicalidade (que ainda incorporava elementos da Surf Music, do Rock Psicodélico do Garage Rock e do Rockabilly), e uma prova clara disso é seu primeiro disco, que completa esse ano 34 anos de lançamento, o impactante "Fresh Fruit for Rotten Vegetables".
O grupo é tão anarquista que ousou ter um nome que agredia a mítica família Kennedy, de onde saíram vários líderes políticos que, posteriormente, encontraram o final prematuro de suas vidas, e ainda mais em uma sociedade tão conservadora (por mais que o intento, nas palavras de Jello Biafra, vocalista do grupo, apenas simbolizasse o "fim do Sonho Americano"). Mas mesmo assim, o grupo sempre foi cercado de controvérsias, uma após a outra, como processos legais (por conta da capa do disco "Frankenchrist", em 1986), a célebre apresentação diante de um grupo de empresários da indústria musical (enquanto tantos outros hoje se arrastam em busca de um contrato com uma major), e por aí vai. Mas ao mesmo tempo, como não gostar dessa mistura de vocais cantados com ironia, guitarras com riffs forte, baixo e bateria roncando pesado? E tudo isso usando a tradicional fórmula dos três acordes, embora o DK (como é conhecido por seus fãs) não seja uma banda muito simplista. Mas é algo genial, cheio de garra e energia, inovador ao seu tempo.
Dead Kennedys |
Falar na música do DK é quase um "nada igual veio antes", pois embora influências do Rock'n'Roll em geral e do Punk Rock estejam bem presentes, a banda nunca foi muito acomodada em uma fórmula única, e sempre aglutinou outras nuances em sua música. O Punk/HC deles é dinâmico, instigante, e irá influenciar não só bandas do gênero, mas várias gerações do Metal, especialmente os estilos mais extremados.
Não, não é preciso falar mais do que já se falou das músicas de "Fresh Fruit for Rotten Vegetables", pois quase tudo já foi esgotado. Músicas como a irônica e melódica "Kill the Poor" (um embrião do que viria a ser a cena HC melódica do HC nos anos 80 e 90, com o jeitão irônico de Jello cantar muito bem entrosados com os riffs de Ray), a instigante (em termos musicais, por favor) "Drug Me", o hino "California Über Alles" (cozinha perfeita aqui. A letra versa sobre o então governador da Califórnia, Jerry Brown. E "Über Alles", em alemão, significa "acima de tudo", uma referência ao nazismo, logo, fica clara a alusão que Jello faz), e o clássico absoluto "Holiday in Cambodia" (outra canção extremamente envolvente. Uma referência clara às desgraças causadas pelo Khmer Vermelho no Camboja, e vemos citado claramente o nome de Pol Pot, Premier socialista de 1975 a 1979, que massacrou entre 1 a 3 milhões de mortes de cambojanos, em uma população estimada de 8 milhões. Entre os mortos, servidores públicos, militares, policiais, professores, vietnamitas, líderes cristãos e muçulmanos, pessoas da classe média e com boa formação escolar, ou seja, aparentemente foi algo sistemático).
34 anos depois, o disco continua soando tão atual como em sua época, seus temas ainda são bem atuais e contundentes. E em algumas versões do vinil, encontramos o bônus de "Too Drunk Too Fuck".
Ouça no volume mais alto, sem dó de seus vizinhos fãs de estilos mais populares!
Tracklist:
1. Kill the Poor
2. Forward to Death
3. When Ya Get Drafted
4. Let's Lynch the Landlord
5. Drug Me
6. Your Emotions
7. Chemical Warfare
8. Too Drunk to Fuck
9. California Über Alles
10. I Kill Children
11. Stealing People's Mail
12. Funland at the Beach
13. Ill in the Head
14. Holiday in Cambodia
15. Viva Las Vegas
Banda:
Jello Biafra – Vocais
East Bay Ray – Guitarras
Klaus Flouride – Baixo, backing vocals
Ted – Bateria
6025 – Guitarra base em "Ill in the Head"