Independente
Nota 10/10
Por Marcos "Big Daddy" Garcia
Discos instrumentais orientados para a guitarra, como o vosso querido autor já disse algumas vezes antes, tendem a ser enjoativos para os pobres mortais que não são músicos, especialmente guitarristas. Isso se deve ao fato que, no auge da moda dos discos desse formato, nos anos 90, era um autêntico festival de auto-indulgência por parte dos guitarristas, que sobrecarregavam nossos ouvidos com milhões de notas por segundo. Mas sempre houveram, ainda bem, aqueles que fizeram da sobriedade e da música em si o maior objetivo, de compor para que todos pudessem ter a compreensão e acesso ao trabalho. E esses guitarristas podemos chamar de monstros da composição, já que tocar como ou emular um "rachador" é muito simples, mas compor é que são elas. Mas é bom ouvir um disco como "Ignition Overdrive", do projeto IGNITION OVERDRIVE, do guitarrista Rodrigo Santos, pois ele prova que realmente é um dos monstros da composição.
Sim, Rodrigo saber não só usar bem as seis cordas de sua guitarra (técnica ele tem, e muita), mas ao mesmo tempo, como um autêntico JOE SATRIANI brasileiro, ele foca seu trabalho nas composições. Nada de "rachadas", acordes à velocidades relativísticas, nada disso. O disco possui técnica, mas as composições é que são importantes, e assim, o feeling, a pegada e mesmo a técnica de Rodrigo se mostra apurada. É um senhor músico, diga-se de passagem, já que ele usa de Rock, Fusion e mesmo um pouco de Blues em suas composições. E que disco maravilhoso!
Rodrigo Santos (Ignition Overdrive) |
Ao ouvir o disco, é clara a impressão que as canções foram buriladas em um período bem longo, já que as músicas são muito bem cuidadas e acabadas. E nisso, vemos que o disco soa homogêneo, um trabalho bem acabado em termos musicais, e um deleite para nossos ouvidos!
Não há como destacar a melhor, então, a análise é: o disco abre com a mezzo Rock, mezzo "bluesy" com arranjos ótimos "Doomsday Blues" (a sonoridade da guitarra nos envolve completamente), seguida pela instigante e modernosa "Full Throttle" (onde realmente a guitarra mostra uma bela técnica), a ganchuda e empolgante "Gotta Push" (arranjos um pouco intrincados e bem pensados aqui), e a charmosa e bela "Breathe". Na sequência, temos a agressiva e pesada "Flux 31", a mais Hard "Thunderous Roar" (belos toques de Fusion aqui e ali), a mais sentimental "Branca" (é incrível como a guitarra soa com cera gentileza aos ouvidos. E pode parecer exagero, mas é a real impressão que temos: de algo mais gentil e delicado que nos envolve), "Bogus Fire" é mais seca e ríspida, com lindos arranjos (aqui, a bateria dá uma bela marcação junto com o baixo), a totalmente Fusion e diversificada "Can't Bring Me Down" (aqui sim a guitarra começa a se exibir, mas de uma forma tão sutil que não soa enjoativa), e a com doses de Funk e Rhythm'n'Blues "Wonderful Sky", sem perder a veia roqueira do trabalho, com arranjos macios e fechando o CD com chave de ouro.
Sim, o disco é maravilhoso, uma aula de como se toca guitarras para todos, um tapa na cara dos "rachadores" e "pranksters" que só querem se exibir. E fazendo um disco onde o que importa mesmo é a música, o IGNITION OVERDRIVE mostra que a genialidade é algo que fica nas mãos não do grande músico, mas do grande compositor.
Ouçam 10, 15, 20 vezes, ah, ouçam até o CD player pifar! E não esqueçam: MP3 ilegal é coisa de fru-fru...
Tracklist:
01. Doomsday Blues
02. Full Throttle
03. Gotta Push
04. Breathe
05. Flux 31
06. Thunderous Roar
07. Branca
08. Bogus Fire
09. Can't Bring Me Down
10. Wonderful Sky
Banda:
Rodrigo Santos - Guitarras, baixo, bateria
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