Nota 9,5/10
Por Marcos Garcia
O Brasil sempre surpreende em termos de Metal, não há dúvidas disso. Podem falar o que quiser alguns fãs, mas o Metal nacional cada vez mais dá mostras não só de profissionalismo, mas também de música de alto nível. E não é à toa que nomes de nosso país estão cada vez mais mantendo pé firma na cena européia. Essa conquista é questão de tempo e paciência. E mais um que mostra força e disposição
para entrar no time de cima é o SKIN CULTURE, banda vinda de Mogi das Cruzes (SP). Basta ouvir "The Flame Still Burns Strong", seu novo CD e verão isso com clareza, que apesar da gravadora americana, é distribuído no Brasil pela Laser Company.
O quinteto é comprometido até os dentes com uma sonoridade que convencionou-se chamar de Groove Metal, só que com nuances de Thrash Metal e Hardcore, e é bruto como um homem das cavernas armado e furioso, e o som é muito intenso e agressivo, mas sem se furtar o direito de lançar a mão de nuances melodiosas vez por outra.
Vocais urrados à extremo em uma escola à lá Phil Anselmo (só que mais agressivo, intenso e diversificado), riffs brutos e bem gordurosos (com os dois guitarristas usando instrumentos de oito cordas, o grupo ganhou muito peso), baixo e bateria bem entrosados, gerando uma cozinha rítmica forte e pesada, mas com bom nível técnico. Resultado: brutalidade desmedida, mas muito bem estruturada.
Tendo as mãos de Raul Dipeas e Shucky Miranda na produção e gravado no Noise Croocked House Studio, e mais o conhecido Brendan Duffey na masterização no Norcal Estúdio, o disco tem uma gravação que prioriza bastante os timbres graves (mas sem obliterar os agudos), o que torna a gravação bem intensa e sem buracos sonoros, com cada instrumento em seu devido lugar e com sonoridade bem clara. A arte é esmerada, bem feita e já prepara o ouvinte.
Um outro ponto a ser destacado é a presença de alguns convidados, com Fabrício Ravelli (do IMBYRA, ex-HYRAX) em "For the Same Hell as Before", Marcello Pompeu (do KORZUS) em "Ashes and Flames", Luciano Vassan (do TAMUYA THRASH TRIBE) em "Here I Preach", Desi Hyson (do ORIGINAL WAILERS, banda de Al Anderson, que trabalhou com Bob Marley) em "One Tribe, One Soul, One God", e Emi Rojas (da banda argntina DESIERTO GRIS) em "Blind Soul", e assim, o disco ganha um brilho todo próprio, um charme e bom gosto lapidados.
Ao ouvir o CD, uma dica se tiverem aqueles vizinhos que vivem te atazanando com funk, pagode, axé, sertanejo, música gospel e derivados desses: ponha as caixas para fora com o volume no talo, e espere o carro da polícia bater a sua porta.
Podemos dizer que "The Flame Still Burns Strong" é o disco mais maduro do SKIN CULTURE, e o melhor de sua carreira, já que o nível de composição está bem elevado e homogêneo, e tal afirmativa é justificada por músicas como a agressiva "Brutal" (um murro de pura velocidade e agressividade nos ouvidos, ms reparem bem na diversidade de andamentos e no ótimo trabalho das guitarras com riffs intensos e fortes, fora o vocal estar animal), a mais grooveada "Rapture", a abrasiva e com andamentos medianos "Dementia" (dêem uma reparada nas guitarras, cujos riffs remetem o que ouvimos em bandas como o MESHUGGAH), a curta "Ashes and Flames" (a alternância de climas é ótima, dando uma diferenciada bonita, e ouçam a força do baixo), "The End of My Days" (outra em que o trabalho musical do baixo prevalece, em conjunto com vocalizações muito bem encaixadas, alternando entre vozes limpas e urros extremos), a climática e mais calma "The End of My Days" (que vocais são esses??? Limpos e urros se alternam de maneira ótima, e com belos "inserts" melodiosos), a técnica e quebrada "One Tribe, One Soul, One God" (os vocais de Reggae casaram muito bem na intensidade bruta do grupo), e a abrasiva "Synthesized Lies". Mas quem pegar a versão americana, leva um bônus: a versão do grupo para "Slave New World", do SEPULTURA, que ganhou uma roupagem muito pessoal, e está ótima.
Segundo o vocalista Shucky Miranda, a banda quis resgatar suas raízes musicais, ou seja, algo que fica entre SEPULTURA, MACHINE HEAD, FEAR FACTORY,SLAYER e PANTERA, adicionado o uso de guitarras com 8 cordas, ganhando um sonoridade moderna à lá MESHUGGAH, WHITECHAPEL, A PLEA FOR PURGING, entre outras, e com as próprias palavras de Shucky enfatizam, "como não somos musicos virtuosos, nossa intensão foi fazer o álbum mais pesado que uma banda brasileira possa ter feito até agora".
Ouçam, pois a satisfação é garantida, ao mesmo tempo em que é um murro de quebrar os dentes nos detratores do Metal nacional!
Tracklist:
01. Set Me Free
02. Rapture
03. For the Same Hell as Before
04. Dementia
05. Ashes and Flames
06. Here I Preach
07. The End of My Days
08. One Tribe, One Soul, One God
09. Blind Soul
10. Thirts for Hunting
11. Synthesized Lies
12. Heart Song
13. Slave New World (bônus da versão americana)
Formação:
Shucky Miranda - Vocais
Attilio Negri - Guitarras
Tueu Isaac - Guitarras
Nathan Soler - Baixo
Marcus Dotta - Bateria
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