24 de out. de 2013

Arandu Arakuaa - Kó Yby Oré (CD)

MS Metal Records - Nacional
Nota 10/10

Por Marcos Garcia


É comum ver grande parte das pessoas em nosso país bradando aos 4 ventos a falta de uma busca pela nosso cultura, metendo o dedo na cara de muitos (inclusive de Headbangers), chamando-nos de "alienados" e "sem cultura". Mas a estas pessoas, que se dizem pensadores, questionamos: o que os senhores realmente conhecem de nosso país, de sua cultura?

Sim, pois não é aceitável pessoas com o pensamento tão undimensional criticando aquilo que não compreendem, e que nem ao menos buscam conhecer, sendo que o Metal é de onde tem vindo várias manifestações de resgate cultural, não visto em outros. E a prova na cara é o excelente "Kó Yby Oré", primeiro álbum do fantástico quarteto brasiliense ARANDU ARAKUAA.

Rotular  o som da banda é algo quase impossível (ainda bem! Os adeptos de rótulos que se mordam), pois vemos um grupo extremamente Avant-garde, e nada do que vocês ouviram antes se compara a experiência de ouví-los. É uma mistura de Metal com temáticas indígenas, mais fortes doses de várias formas de nossa música regional, logo, é preciso muito desprendimento de convicções vazias para entender o excelente trabalho da banda, e apreciá-lo como merece. Mescla de vocais limpos femininos e masculinos, alguns vocais rasgados, backing vocals tribais, guitarra com riffs pesados e insanos, vez por outra dando espaço a violas e acordes limpos, baixo sempre extremamente técnico, valendo o mesmo para uma bateria bem diversificada, isso sem contar a inclusão de teclados climáticos, maracás e viola caipira. Chamar de Folk Metal brasileiro, como tentam por aí, seria reduzir demais o trabalho deles. Isso sem falar as letras em Tupi, língua de nossos ancestrais indígenas, já que ainda levam um toque de Progressivo em certos momentos. Original até a alma.

Gravado no Broadband Studio, com produção de Caio Duarte, a sonoridade que podemos ouvir é de muito bom nível. Ela poderia ser melhor, mas o nível está altamente satisfatório, com cada instrumento extremamente audível e na medida certa, com peso e brilho próprios, sem estarem se embolando. E digamos de passagem que Caio deve ter tido um trabalho enorme!

A arte, muito bonita, está plenamente antenada com o som do grupo, valorizando o índio brasileiro e sua cultura, e com as letras no encarte, sendo mais um ponto positivo, pois o trabalho de Leandro Lestat é muito acima da média.

O quarteto realmente caprichou no nível das composições, o que o leva a ser bem homogêneo, com cada música sendo um ótimo trabalho e um enigma a ser decifrado. 

Pontos altos: a enigmática e intensa "T-atá îasy-pe" (uma música com tempos quebrados e ótimos riffs de guitarra, que começa forte e intensa, para ficar mais climática ao final, com destaque para os vocais femininos), a elegante e pesada "Aruanãs", "Kunhãmuku’i" (reparem no baixo se destacando em seus momentos mais etéreos), a mezzo peso e mezzo regional "O-îeruré" (a cozinha mostra um trabalho divino, especialmente nos momentos mais limpos), "Tupinambá" (uma autêntica viagem "heavissíva", com peso e rispidez se combinando com ritmos indígenas. Maravilhosa), a bela e melodiosa "îakaré ‘y-pe", a tribal e pesada "Kaapora", e "Gûyrá" (outra faixa bem trabalhada e com boas variações rítmicas).

Novamente, dizemos que o trabalho do grupo não é trivial ou "mais do mesmo", mas bem complexo e desafiador. Aos que tiverem coragem, paciência e mente aberta, bem vindo, pois encontraram uma ótima banda.


Tracklist:

01. T-atá îasy-pe
02. Aruanãs
03. Kunhãmuku’i
04. A-kaî T-atá
05. O-îeruré
06. Tykyra
07. Tupinambá
08. îakaré ‘y-pe
09. Auê!
10. A-î-Kuab R-asy
11. Kaapora
12. Gûyrá
13. Moxy Pee Supé Anhangá


Formação:


Nájila Cristina - Vocais, maracá
Zândhio Aquino -  Guitarras, violão, viola caipira, vocais tribais, teclados, maracá, apito
Saulo Lucena - Baixo, backing vocals, maracá
Adriano Ferreira - Bateria, percussão, maracá


Contatos:

aranduarakuaa@gmail.com
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