26 de jun. de 2017

NORTE CARTEL - De Volta ao Jogo (Álbum)


2017
Independente
Nacional

Nota: 9,6/10,0

Tracklist:

1. Canção de Guerra II
2. Fiel à Tradição
3. Auto-Inimigo
4. Quando Um é Por Todos
5. Agora e Sempre
6. De Volta ao Jogo
7. Meus Cantos são Seus
8. Blocos Negros
9. Falsa Vitória
10. De Sul ao Norte
11. Ainda Aqui
12. Camponês
13. Como Eu e Você
14. Não Tente Me Mudar


Banda:


Felipe Chehuan - Vocais
Marlon Pacheco - Guitarras
Daniel Portugal - Guitarras
Julio Longo - Baixo
Dudu Manel - Bateria


Contatos:

Site Oficial:
Assessoria:


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


O Hardcore brasileiro tem profundas e sólidas raízes. Mas um dos pontos mais interessantes são as diferenças que cada região do Brasil confere ao estilo. Mas mesmo na diversidade, não há como negar que cada estado contribui com bandas ótimas. E o Rio de Janeiro, terra de bandas como CONFRONTO, temos ainda a esporreira sonora de um cartel hardcorizado de alto quilate, o quinteto NORTE CARTEL, que chega com “De Volta ao Jogo”, seu mais recente disco.

Antes de tudo, é preciso entender que o quinteto tem uma proposta de raiz, ou seja, o bom e velho HxCxRxJx sendo repaginado e modernizado, mas mantendo suas características mais seminais: agressividade desmedida (embora emoldurada pelas tradicionais melodias do gênero), muitos corais e backing vocals nos moldes da escola de Nova York, riffs simples e muito eficientes (alguns solos podem ser ouvidos também), base rítmica sólida e com bom nível técnico, e vocais com timbres abrasivos ótimos. Algumas influências de Rap e Hip Hop são sentidas (como em “De Volta ao Jogo”), dando um molho especial ao som bruto e empolgante do quinteto.

Papo Reto: Hardcore “Made in Rio de Janeiro” no mais alto nível.

A sonoridade de “De Volta ao Jogo” é sólida, agressiva e abrasiva, mas muito bem cuidada. Sim, os ajustes de mixagem, edição e masterização não deixaram o trabalho do quinteto mais palatável para modistas do gênero, mas vai de encontro que os fãs de HC mais desejam: dureza, agressividade e papo reto, na lata, sem muito enrolação. Ponto para Davi Baeta, produtor do gênero no Rio de Janeiro e que já trabalhou com nomes como CONFRONTO, QUESTIONS e DFC.

E a arte da capa (de muito bom gosto, por sinal), uma foto do que pode ser visto nas comunidades do RJ, mostram que nelas, não existe apenas tráfico e crime, mas pessoas comuns que tentam levar a vida da melhor forma possível (impossibilitadas muitas vezes pelo poder da sujeira que tomou conta desse país desde sua fundação).

Se de um lado o NORTE CARTEL não chega a ser inovador, de outro mostra uma identificação com o Hardcore que poucas vezes se vê no atual cenário nacional. Músicas espontâneas, com muita energia e arranjos bem feitos, sendo ganchudas a ponto de se conseguir cantar todas após poucas audições. Sim, é um puta de um disco, sem meias palavras!

Melhores momentos em um disco onde as 14 faixas (a maioria bem curtas) são excelentes:

“Canção De Guerra II” - Andamento lento e sonoridade azeda, com aquela pegada explosiva e brutal, além de vocais declamados ótimos. É uma explanação de toda a fúria anarquista do grupo.

“Fiel à Tradição” - Rápida e instigante, com um trabalho fabuloso das guitarras e backing vocals tradicionais dando aquele peso abrasivo intenso que se encontra no gênero. Mas se preparem para as mudanças de ritmo (e não são poucas no disco).

“Auto-Inimigo” - Com riffs que farão qualquer um entender como o Crossover e o Thrash Metal surgiram, é outra saraivada de agressividade que flui pelos falantes. O nível de energia é absurdo, assim como baixo e bateria estão fazendo um trabalho de primeira.

“Quando Um é Por Todos” - O azedume e certa influência de Rapcore se fazem presentes, uma vez que o andamento se torna mais abrasivo e intenso. Se percebe que a banda se aproxima bastante do Crossover aqui, fora o trabalho bem técnico de baixo e bateria, e uma letra fenomenal.

“Agora e Sempre” - Nesta, certa influência do Hardcore melódico das bandas californianas é clara, com vocais ótimos mais uma vez, com timbres que mudam de linhas mais melodiosas a outros tons à lá lixa d’água. E ainda tem a participação de Badauí (do CPM22).

“De Volta ao Jogo” - Se uma letra do disco pode representar a vida do cidadão de classe média/baixa das comunidades do Rio de Janeiro, é esta. A música em si é o tipo Rap/Hip Hop hardcorizado, onde o linguajar é sem meias palavras. E ainda assim, nos embala, pois sente-se todo feeling da canção com facilidade.

“Blocos Negros” - Uma das mais agressivas de todo o disco. Aqui, os riffs das guitarras e os vocais deixam tudo soando duro, abrasivo e intenso. E a energia que sai pelos falantes não é pouca, haja pescoços!

“De Sul ao Norte” - Excelente canção! Mixando agressividade e melodias nas doses certas, mais a atitude positiva expressa nas letras, associadas aos ótimos vocais, mudanças de ritmo, excelentes backing vocals e base rítmica intensa, não tem como não gostar. E é uma das canções que possui vídeo de divulgação.

“Camponês” - Pronto, eles escancararam de vez em termos de arranjos ganchudos e riffs marcantes. E as linhas sinuosas das guitarras guiam os vocais insanos e corais hardcorizados extremos de primeira!

Dessa forma, o NORTE CARTEL se mostra firme, cheio de vida e pronto para encarar grandes desafios.

Aliás, precisamos de mais bandas assim!


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