Nota 10,0/10,0
Por Marcos "Big Daddy" Garcia
Bem, desde que o finado CELTIC FROST lançou tanto o "To Mega Therion" quando o "Into the Pandemonium" (especialmente este último), os fãs de Metal são chamados a seguirem dois caminhos diferentes: ou recrudescem em posturas conservadoras e ficam dando voltas em torno de um mesmo ponto, se recusando a admitir novas possibilidades sonoras, ou então abrem sua mentalidade à novas experiências musicais. Muitas bandas preferem manter a postura mais conservadora e ficam sempre em uma musicalidade apenas (há boas bandas, como MOTORHEAD, AC/DC e IMPALED NAZARENE nesta vertente), outras já seguem o caminho que Tom Gabriel "Warrior" deixou e ousar desbravar caminhos ainda virgens. O pior que pode acontecer: nem sempre a banda é aceita, e como no caso do "To Megat Therion", foi aceito meio que de nariz torcido na época (devido aos teclados), e o "Into the Pandemonium" levou anos para ser visto e entendido como o clássico que é. Por este motivo, lidar com discos como "Siren Charms", o novo do quinteto sueco IN FLAMES, é preciso ter cuidado e mente muito aberta.
Antes de tudo, o IN FLAMES nunca foi lá uma banda de ficar sossegada em sua zona de conforto, longe disso. A dinâmica estilística, a vontade de expandir sua música para além das fronteiras impostas, sempre foi a tônica desses sujeitos de Gotemburgo. Mas "Siren Charms" é um desafio enorme para os fãs, pois se em "Sounds of a Playground Fading" a banda já mostrava sinais evidentes que eles não iriam parar de experimentar, este aqui é, sem sombra de dúvidas, seu disco de mais difícil assimilação.
Primeiro, os vocais estão bem limpos em sua maioria, com entonações que vão do Pop ao Gothic Rock sem pudor, mostrando uma nova faceta de Anders Fridén, embora em muitos momentos, urros intensos e agressivos ainda sejam ouvidos aqui e ali (podemos mediar que temos 70% de vocais limpos, e 30% de urros agressivos), as guitarras de Björn Gelotte e Niclas Engelin mostram uma ótima diversidade de timbres, indo de momentos suaves a outros mais agressivos, mas com melodias fortes, e algumas delas remetem diretamente ao IRON MAIDEN antigo (uma das maiores inspirações da banda), a cozinha rítmica de Peter Iwers (baixo) e Daniel Svensson (bateria) mostra-se pesada e firme quando necessário, mais suave quando a música fica amena, mas sempre com boa diversidade técnica; e de quebra, ainda vemos a introdução pontual de alguns efeitos eletrônicos, dando um sabor bem legal ao disco. Podemos dizer que "Siren Charms" mostra uma interessante mistura da musicalidade já característica deles com elementos mais intimistas que ainda não haviam sido explorados.
In Flames |
E realmente, o IN FLAMES realmente caprichou no disco, pois as músicas, amem ou odeiem, são muito bem arranjadas, cada uma delas com uma identidade bem definida, e cativante. O disco poderia se chamar "Sphinx", pois nos desafia a decifrar cada um de seus belíssimos aspectos, ou então de "Diamond", pois foi laboriosamente bem lapidado, e cada uma de suas facetas é intrigante e fascinante.
Em termos de músicas, as 11 faixas são todas ótimas, depois de decifradas, óbvio. "In Plain View", é basicamente meio a meio em termos de elementos novos e antigos, onde os riffs de guitarra são fantásticos e as vocalizações perfeitas. Já "Everything's Gone" é bem viciante, quase uma música antiga, se não fosse a forte presença dos vocais urrados. Em "Paralyzed" já se percebe mais claramente a modernidade no som da banda, com riffs mais quebrados, elementos eletrônicos e uma cozinha rítmica fantástica. "Through Oblivion" é um pouco mais melodiosa e amena, com forte presença de guitarras mais comportadas, vocais limpos e intimistas, mas de extremo bom gosto, com "With Eyes Wide Open" seguindo a mesma linha (embora com belos solos), sendo que ambas possuem uma forte dose de acessibilidade. Um belo trabalho do baixo introduz a intimista e forte "Siren Charms", que fica um pouco mais distorcida e pesada próximo ao refrão (sem quebrar a atmosfera refinada da canção) e durante os solos. A quebrada e dinâmica "When the World Explodes" dá sequência, já mais agressiva e ríspida, mas com melodias muito bem encaixadas nas guitarras e vocais muito ríspidos, embora existam momentos mais amenos, com teclados e vocais femininos (mas é a faixa que mais próxima chega ao trabalho da banda nos CDs anteriores). A conhecida "Rusted Nail" vem depois, outra que lembra bastante o trabalho do CD anterior da banda, com guitarras bem gordurosas, mas com vocais limpos bem próximo ao Gothic Rock e certo toque de Groove (o que faz a bateria e o baixo ganharem mais enfoque), fora alguns os urros extremos. A ousada "Dead Eyes" mostra um possível rumo que a banda venha a seguir mais adiante, com belíssimas melodias, um clima intimista, mas com refrão distorcido e pesado com belas guitarras à lá MAIDEN. Outra em que certo toque de acessibilidade fica mais evidente é "Monsters in the Ballroom", talvez pelo forte toque de Groove e mesmo alguns riffs um pouco Metalcorizados, mas nada que alarme os fãs. E fechando, "Filtered Truth" com mais um belíssimo trabalho de guitarras lembrando em muito suas influências mais melodiosas, usando uma estrutura um pouco mais bem cuidada e vocais mais rasgados (embora alguns mais Goth surjam aqui e ali). E para os aficcionados, existe a versão com duas bônus, que são "The Chase" e "Become the Sky".
Realmente, um desafio delicioso para os de mente mais aberta, e um inferno sonoro para os mais conservadores.
Tracklist:
01. In Plain View
02. Everything's Gone
03. Paralyzed
04. Through Oblivion
05. With Eyes Wide Open
06. Siren Charms
07. When the World Explodes
08. Rusted Nail
09. Dead Eyes
10. Monsters in the Ballroom
11. Filtered Truth
Banda:
Anders Fridén - Vocais
Björn Gelotte - Guitarras
Niclas Engelin - Guitarras
Peter Iwers - Baixo
Daniel Svensson - Bateria
Contatos:
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