18 de ago. de 2014

Resenha: République Du Salém - O Fim da Linha Não é o Bastante (CD)

Independente
Nota 9,5/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


A extavagância em certos trabalhos musicais, enquanto arte, realmente é algo extremamente desejado, faz parte da musicalidade de muitas bandas. Isso sempre nos concede atrativos sonoros e visuais de primeira linha. E o quarteto RÉPUBLIQUE DU SALÉM, de São Paulo, é capaz de ser extravagante e surpreendente nas mesmas medidas em seu CD "O Fim da Linha Não é o Bastante", lançado de forma independente e que nos dá um sopro de esperança em termos de música na terra brasilis.

Primeiro de tudo, a banda faz um misto de Rock'n'Roll com influências do Hard Rock setentista mais doses homeopáticas e saudáveis de Folk Rock e Southern Music, sendo acessível a um público maior, e isso sem deixar o trabalho descaracterizado como "Rock". É algo cheio de vida e energia de sobra, fugindo completamente a certos estereótipos musicais, e só faz bem aos espíritos e mentes cansados de certas coisas que teimam em jogar em nossos ouvidos nas grandes rádios do Brasil. Uma mistura de vocais fortes, viscerais e bem postados (com boas doses de agressividade e melodia), um trabalho de guitarras que é ótimo e pode ser descrito como eclético, baixo e bateria firmes em uma base técnica e não muito convencional ao que ouvimos nos dias de hoje. E como é bom!

Adriano Daga e Brendan Duffey fizeram todo o trabalho de produção, mixagem, masterização e gravação no Estúdio Norcal, em São Paulo. A produção, como de praxe, é excelente nos quesitos clareza, peso e ambientação (nisso, Brendan e Adriano são mestres), e percebemos que a qualidade dos timbres escolhidos é ótima. A arte, onde vemos algo realmente extravagente, bem próximo ao que era visto constantemente nos 70, é um trabalho primoroso e bem cuidado de Thiago Sttrachi (vejam o painel formado pela capa e terão a clara idéia do que o Pai Marcão aqui está falando).

République Du Salém
Musicalmente, a banda realmente sabe criar arranjos bem feitos e que se encaixam perfeitamente, sem pôr algo desnecessário ou tirar algo essencial que seja das músicas, além das letras em português mostrarem que a métrica da língua portuguesa pode ser bem adaptada ao Rock sem problemas (e que possuem letras muito interessantes e que merecem uma reflexão mais profunda). E nem falamos ainda nas participações especiais de Rachel Billman (vocais em "Apenas uma Canção de Amor"), Adriano Ganzarolli (que toca o bom e velho Hammond em "Sem Hora pra Voltar") e Adriano Daga na percussão.

Em "Cidadão Kane", temos um típico Rock'n'Roll pesado e cheio de psicodelia setentista, com ênfase nos ótimos vocais e guitarras (reparem bastante no solo de guitarra, cheio de wha-wah, um traço forte da influência dos guitarristas da época), enquanto "Corpo Achado, Bala Perdida" já tem um jeitão bem gorduroso à lá Southern Rock/Blues, enfatizando demais o trabalho perfeito da cozinha baixo-bateria. Em "Apenas uma Canção de Amor", obviamente temos uma balada com belos vocais, mais um violão muito bem colocado (de onde vem a clara influência da Folk Music e que muitos poderão confundir com MPB), que começa amena e vai ganhando peso conforme avança (e encerra amena), se tornando um dos melhores momentos do CD (o uso de letras em português com um verso em inglês foi uma ótima idéia). "Sem Hora pra Voltar" é uma típica canção pesada com forte influência da Soul Music americana, logo o baixo e os corais se sobressaem quase que magicamente. "Os Homens" é pesada, mas mais intimista, com forte dose de Blues, com vocais e guitarras geniais. E fechando, "Expresso 212" é um típico Rock "Zeppeliniano", onde baixo e guitarras se sobressaem muito. O único defeito é: só seis músicas? Poxa, poderiam ter dez, quinze, vinte, pois o CD não nos cansa.

Excelente banda, sem sombra de dúvidas, e isso é Rock'n'Roll de primeira, senhores! 



Tracklist:

01. Cidadão Kane
02. Corpo Achado, Bala Perdida
03. Apenas uma Canção de Amor
04. Sem Hora pra Voltar
05. Os Homens
06. Expresso 212


Banda:

Davi Stracci - Vocais
Guido Lopes - Guitarras, violão e piano
Marcio Albano - Baixo
Raul Lino - Bateria, backing vocals


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