8 de jul. de 2014

Resenha: Hate Embrace - Sertão Saga (CD)

Nota 10,0/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Trabalhos musicais diferenciados andam aparecendo com certa frequência no Brasil. Isso é bom, pois mesmo tendo forte ranço Old School no Brasil (cuja existência é necessária por muitos motivos que este autor já ressaltou muitas vezes, embroa muitos tomem isso como um posicionamento radical, o que não é correto), ainda vemos bandas que buscam inovar algo em seu trabalho. E o HATE EMBRACE, banda de Death Metal de Recife (Pernambuco), mostra que conformismo não é com eles em "Sertão Saga".

O quinteto faz um Death Metal mais tradicional, embora lance mão de técnica, alguns momentos mais thrashers (nos riffs) e melodias algumas vezes (graças aos teclados que surgem bem aqui e ali), com estruturas harmônicas não muito convencionais. E sim, "Sertão Saga" é um disco bem criativo, já que usa letras em português (focando a vida de Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, um cangaceiro do sertão brasileiro, em um trabalho de promoção histórica fantástico), vários momentos de música regional do Nordeste. É uma incrível fuga do marasmo incrível!

A produção sonora do grupo ficou em bom nível, nos permitindo a compreensão clara de seu trabalho, dando peso e conseguindo deixar o trabalho musical bem claro, onde o próprio grupo junto com Joel Santana conseguiram deixar a sonoridade bem feita (poderia ser um pouquinho melhor, mas está boa). O trabalho gráfico é fantástico, rebuscando a arte que vemos em vários trabalhos de pintores que retratam a realidade da região Nordeste de nosso país, um trabalho esmerado e lindo de Ricardo Necrogod (baterista/vocalista do grupo) e Tamy Daksha (tecladista).

Hate Embrace
Em termos de composição, o HATE EMBRACE abusou da criatividade, trazendo arranjos maravilhosos para os instrumentos tradicionais do Metal, mais os toques regionais já citados acima. E vale dar nome às participações especiais de Wanessa Campos (jornalista e pesquisadora sobre o cangaço de PE), Silvério Pessoa (cantor em "Utopia"), Magno Barbosa e Rafael Cadena (vocalista/baixista e vocalista/guitarrista, respectivamente, do CANGAÇO, em "Utopia" e "Imponência"), Pedro Thomaz (vocalista do NECROHOLOCAUST em "O Começo do Fim"), Alcides Burn (vocalista do INNER DEMONS RISE em "Revolta"), Adriano Forte (vocalista do LETHAL RISING em "Utopia" e "Imponência"), Washington Pedro (guitarrista/vocalista do THE AX em "Intolerância"), além de Ivanúbis Holanda (ex-EMPTY BOOK, e atual violinista da Orquestra Sinfônica do CPM), que deram contribuições maravilhosas ao disco. 

Em termos de música, basta dizer que o disco inteiro é forte, digno de aplausos, e não tenho como falar mal de uma faixa que seja. Não dá, é humanamente impossível!

Uma introdução narrada sobre as desgraças da seca no NE (que abre "O Início", primeira parte da trilogia histórica que o disco abrange) antecede "Vidas Passadas" (com um trabalho de guitarras bem diferenciado, mais arranjos de teclado e mudanças de andamentos maravilhosas), passando pela bruta "Intolerância", e pela agressiva "Revolta" (mas cheio de momentos mais técnicos das guitarras, com bateria e baixo mostrando um trabalho fantástico). Outra narrativa (abrindo o segundo ato, "O Meio") vem antes da fantástica "Guerranunciada" (linda melodias de teclados e guitarras entremeando um andamento não tão veloz, permeada por um bom trabalho de vocais guturais e bumbos), a bela e climática "Utopia" (que começa com toques regionais, e quando a coisa ganha peso, temos belos trechos com vocais limpos, para depois surgir uma faixa com mais mudanças rítmicas e um certo toque de melancolia), passando pela aguerrida e cadenciada "Lampião Rei" (um toque regional com um distorcedor antecede uma música de andamento não tão veloz, com belo trabalho de bateria e baixo mais uma vez, para um teclado raçudo dar um toque de beleza no meio de tanta pancadaria e mudanças de andamentos). O terceiro ato, "O Fim", abre com uma narrativa melancólica sob o som de um violino, e então, vem a insana "Imponência" (que guitarras!), pela opressiva e mais dinâmica "No Rastro" (um clima mais cadenciado, só que mudanças surgem vez por outra), então a obra encerra com chave de ouro em "O Começo do Fim", outra pancada forte, mas envolvente e ganchuda. Mas ainda temos uma soturna instrumental, chamada "Sertão Dual", que fecha o disco, focada em efeitos e teclados.

Uma obra fantástica, sem sombra de dúvidas, cuja aquisição é obrigatória.



Tracklist:

1º Ato : "O Início"
01. Vidas Passadas
02. Intolerância
03. Revolta

2º Ato : "O Meio"
04. Guerranunciada
05. Utopia
06. Lampião Rei

3º Ato : "O Fim"
07. Imponência
08. No Rastro
09. O Começo do Fim


Banda:

George Queiroz - Vocais
João Paulo - Guitarras
Tamyris Daksha - Teclados
Alexandre Cunha - Baixo, vocais
Ricardo Necrogod - Bateria, vocais


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