Por Marcos “Big Daddy” Garcia
O quinteto SKIN CULTURE já se tornou notório na cena brasileira de Metal.
Capitaneado por Shucky Miranda, seu vocalista, a banda continua com sua música intensa e azeda em “The Flame Still Burns Strong”, seu mais recente disco, lançado no segundo semestre de 2013 via Laser Company no Brasil.
Aproveitando a deixa, lá fomos nós bater um papo com Shucky e saber detalhes sobre a carreira da banda, sobre o disco mais recente e sobre pontos de vista na cena brasileira, e alguns pontos bem polêmicos.
Metal Samsara: Primeiro de tudo, Shucky, agradecemos demais pela entrevista, e começamos com uma pergunta forte: De onde veio o nome da banda? Sim, pois “Skin Culture”, em uma tradução livre, seria algo como “Cultura de Pele”, certo? E qual o significado por trás dele?
Shucky Miranda: Pow, a honra é toda minha, eu quem agradeço pela oportunidade. É exatamente isso, Cultura de Pele. Podemos nos referir sobre os marcos importantes em nossas vidas escrito por sangue através das tatuagens também.
Mas pra mim significa todas as culturas de todos os povos em um só corpo, em um só amor.
MS: Bem, a banda já tem uma boa experiência, e ela transpira em “The Flame Still Burns Strong”. Como o disco foi concebido, qual a temática que o envolve, e como fica bem evidente, o título tem alguma mensagem de vocês. Poderia nos contar qual é?
Shucky: O álbum remete a toda essa destruição de caráter que o homem está vivendo hoje.
Falta de amor, de respeito a tudo, falta de conhecimento e principalmente a falta de esperança em si mesmo. A juventude já não tem mais freios e estão cada vez mais assassinando sonhos e valores. Então tentamos usar o exemplo de Cristo que foi dilacerado na cruz por semear amor entre todos, para mostrar que tudo o que você faz tem uma consequência. Quem planta o bem, não colhe o mal.
É aquele velho ditado: “Digas com quem andas que eu o direi quem és”.
MS: Apesar de muitos ainda não conhecerem vocês em termos de Brasil, vocês já tocaram com SEPULTURA e SOULFLY, dois nomes bem pesados dentro do circuito Metal do Brasil. Como foram as experiências? Há algum momento marcante, já que, de certa forma, o SKIN CULTURE parece ter bastante influência de ambas as bandas em vários aspectos...
Shucky: O Sepultura sempre foi e sempre será influência para qualquer musico brasileiro, e com o SKIN CULTURE não é diferente. Eu sempre acompanhei a banda, mas foi na época do "Chaos A.D.", assistindo o show do Hollywood Rock que a música e a postura de palco deles tomou conta da minha vida; Foi ali que eu decidi que queria viver de música também. Em 2007, o SKIN CULTURE foi convidado pra tocar no Monsters Of Rock na Argentina ao lado do Sepultura, Ian, Bruthal 6, Razones Concientes entre outras bandas, e foi uma experiência sem tamanho, acompanhar lado a lado a principal banda que nos influenciou a viver de música. Na época, eles estavam lançando o álbum "Dante XXI", que pra mim é o melhor álbum com o Derrick, e foi um terremoto o show deles.
Em 2012 Tocamos com o Soulfly em São Paulo e também em Buenos Aires; fomos muito bem recebidos pelo Max Cavalera e sua tribo. Na Argentina foi muito especial, pois o show aconteceu no dia do meu aniversário, e a casa lotada começaram a cantar "parabéns pra você" durante o nosso show, esse foi o momento que marcou para sempre em minha vida. Em 2012, tocamos com o Sepultura novamente dessa vez na cidade de Suzano, interior de São Paulo, foi bem legal também. Mas não só o Sepultura e o Soulfly, mas todos os shows que fizemos ao lado de bandas como Korn, POD, Ill Nino, Chimaira, Born Of Osiris , No Guerra , Bruthal 6, etc... todos foram muito importantes.
MS: Ainda sobre “The Flame Still Burns Strong”, ele apresenta vocês com um aspecto mais moderno, com um som de afinação mais baixa, e o disco é pesado de doer os ouvidos incautos. Como foi que esses elementos se aglutinaram à música do grupo? Seria da evolução da banda, ou mesmo de novas influências que foram ganhando com o passar dos anos?
Shucky: Na verdade, eu sinto muita falta daquela variedade musical que havia nas bandas até os anos 90, hoje em dia todas as bandas parecem covers umas das outras. Então, eu queria resgatar minhas principais influências, que vinham de Sepultura, Pantera, Machine Head, Fear Factory, Slayer e Meshuggah. Como não somos uma banda onde os músicos ficam fritando as guitarras com solos mirabolantes (risos), usamos as guitarras do Meshuggah como influencia. Resolvemos apostar no peso extremo das guitarras de 8 cordas, pois hoje têm bastante bandas novas que pesquisamos e estamos ouvindo como M.A.N (Massive Audio Nerve), Molotov Solutions, Structures, Red Seas Fire, Whitechapel, A Plea For Purging etc... Acabou dando certo.
Acho que conseguimos fazer o álbum mais pesado que o Brasil já produziu (risos) .
MS: há um hiato de 4 anos entre “Rapture” e “The Flame Still Burns Strong”. O que causou esse atraso? Entre eles, há o Single/DVD “Rapture”, que tem um cover para “Don’t Let Me Down”, do BEATLES, o que chega a ser surpreendente de certo ponto. Como foi que a ideia de gravar uma música deles surgiu? E seria os BEATLES, de certa forma, uma influência a mais para vocês?
Shucky: Essa versão foi sugerida pelo Silvio Palmeira, nosso empresário quando gravamos o álbum “The Earth Spits” (2009). Foi uma experiência bacana levar para o som dos Beatles a fúria do Metal dos anos 90 e trazer para a música do SKIN CULTURE a magia dessa que é uma das principais bandas de rock da história. Na época ficamos entre gravar essa musica ou uma do Mutantes, acabei optando por "Don't Let Me Down", que encaixou melhor tanto no som como a letra no conceito do "The Earth Spits".
Quanto a buraco existente entre o single "Rapture" e o "The Flame Still Burns Strong", foi meio que o momento mais difícil que a banda passou, até cheguei a anunciar o fim da banda, mas recebi inúmeras ligações e e-mails de amigos me incentivando a não parar e a continuar. O Danny do Ill Nino, o Fieldy (baixista do Korn) , o Allan do Eminence, o Steev e o Glenny do Skinlab, o Jair do No Guerra, o E. Jay Ali do St Grial e o Emi Rojas do Desierto Gris, todos são peças fundamental pra que o SKIN CULTURE esteja aqui hoje. O que pegou foi que a banda chegou a um ponto onde todos começaram a só falar de dinheiro, e cada um dos músicos queriam transformar a banda em algo que em sua visão pessoal fosse rentável. Glória, Killswitch Engage, Dead Fish até Dance Of Days, coisas que não tinham absolutamente nada a ver com a banda. Foi onde eu acabei explodindo. Mas acabou que naturalmente cada um desses caras foram saindo, e o ciclo foi se renovando até chegar a formação que o SKIN CULTURE está hoje, que ao meu ver é uma formação bem sólida, com músicos profissionais e principalmente que amam o som que fazem, independentemente de dinheiro.
MS: Outro ponto que o disco novo chama a atenção é o número de convidados especiais, e mesmo as diferenças musicais entre eles, já que Desi Hyson (THE ORIGINAL WAILLERS, vocalista e tecladista da banda de Bob Marley), Marcello Pompeu (KORZUS), Emi Rojas (DESIERTO GRIS), Fabricio Ravelli (IMBYRA, ex-HYRAX) e Luciano Vassan (TAMUYA THRASH TRIBE) são de estilos bem diferentes. Como foi que a ideia dos convidados surgiu? E não foi difícil conciliar tantas diferenças? Ah, sim, o Luciano Vassan me deve uma cerveja depois dessa pergunta (risos).
Shucky: Eu trabalhei como Tour Manager em duas turnês do Original Wailers no Brasil, e acabei ficando muito amigo do Desi Hyson. Na última tour, em 2010, ele ficava me mostrando as bandas de reggae no MP3 (player) e eu ficava mostrando as bandas de Metal que eu curto, foi quando resolvemos fazer uma música juntos e escrevemos a letra da "One Tribe, One Soul, One God". Quando comecei a escrever o "The Flame Still Burns Strong" não pensei duas vezes em incluir essa parceria no álbum. O Pompeu (KZS) é um grande amigo, e quando eu escrevi a "Ashes and Flames", eu queria colocar uma parte em português e imediatamente o Pompeu me veio na cabeça, mandei a música pra ele, ele curtiu e fez um excelente trabalho. Regravamos uma versão da musica "Blind Soul" da banda argentina PR3SSIO,N do Martin Carrizo baterista da banda A.N.I.M.A.L com o Emi Rojas do Desierto Gris. O Emi foi o guitarrista do SKIN CULTURE junto com o baterista Adrian Esposito (Tim Ripper Owens/Judas Priest) na tour com o Soulfly na Argentina em 2012. Então, fizemos essa homenagem ao Emi e a todos os amigos que temos na Argentina.2013 No final o próprio Emi acabou participando. Já o Luciano Vassan é um grande amigo, fizemos uma tour juntos no inicio de 2013 e o chamei com prazer. Também gravamos uma versão de "Slave New World" do Sepultura, até tentei incluir o Derrick ou o Andreas, mas eles estavam fora do Brasil na época.
MS: Outro ponto foram as mãos de Raul Dipeas produção junto com você, e de Brendan Duffey na masterização. Como foi que chegou até eles, e o resultado do trabalho deles chegou a ter alguma influência no resultado final?
Shucky: O Raul Dipeas é o principal responsável pelo amadurecimento musical do álbum, pois ele além de guitarrista, também é um especialista no estilo Djent (bandas que trabalham em cima do conceito de guitarras com 8 cordas). O Raul trabalhou 100% na elaboração do álbum. Em princípio, iríamos finalizar o "The Flame..." no The Porch studios nos EUA, com o produtor Tim LauD (Soulfly, Six Feet Under, Morbid Angel). O Tim trabalhou com o SKIN CULTURE nos dois últimos álbuns, o "The Earth Spits" e o Single "Rapture". O problema é que o Tim trabalha numa concepção totalmente vintage, o que ficou totalmente oposto do conceito do Raul para o álbum. Com isso acabamos optando em finalizar com o Brendan Duffey no Norcal estúdio, que na verdade acabou levando o álbum para uma terceira dimensão. Mas no fim chegou perto do que realmente queríamos.
MS: Em termos de repercussão, recepção da crítica e fãs, como o “The Flame Still Burns Strong” tem ido? Acreditamos que o resultado tem sido positivo.
Shucky: A recepção do "The Flame Still Burns Strong" realmente surpreendeu a todos nós, pois não imaginávamos que chegaria a tanto. Fomos cotados em alguns sites e revistas especializados em Metal, por exemplo a Roadie Crew etc.. Como um dos melhores álbuns de 2013. A primeira prensagem está praticamente esgotada, e todo mundo que compra o álbum se surpreende e vem nos falar que está simplesmente fantástico o CD. Isso é realmente prazeroso, afinal de contas todo esse trabalho foi feito minuciosamente pensado para o fã de Metal.
MS: Bem, hora de meter o dedo na ferida: muitos sites na internet colocam o SKIN CULTURE como uma banda de White Metal, e já percebemos que a coisa não é bem por aí. O direito de resposta e expressão é todo seu, e aproveite e fale sobre esses “boicotes” que andam tão em voga na internet a shows de bandas que tiveram alguma relação com bandas de White Metal, como o notório caso do AS I LAY DAYING e BEHEMOTH (o que gerou uma comoção muito grande no Brasil na época. Tanto que houve boicote ao último show do BEHEMOTH no Carioca Club. Mas o show lotou).
Shucky: Cara, eu sou CRISTÃO, frequento sim igreja com a minha família e acredito fielmente em Jesus Cristo. Acho fundamental você levar o exemplo dos ensinamentos de Jesus nas letras da banda, porque a juventude precisa conhecer esse amor pra parar de fazer merdas. Agora eu, Shucky Miranda, sou literalmente contra qualquer tipo de coisa que use o nome de Jesus para fins lucrativos. Eu abomino o Gospel, e tenho nojo de tudo que se enquadra nesse status de clube privado. A religiosidade é a maior causa da desgraça do homem na terra. Quantas pessoas já morreram e quantos continuam morrendo por causa dessa doença. Pra mim a religião e o nazismo caminham juntos no mesmo propósito. Quanto aos boicotes nos shows por ambos os lados, isso só mostra a imbecilidade e ignorância humana, pois a musica foi feita para unir os povos e não para separar ou discriminar ninguém. O Slayer vai tocar com o Stryper, quero ver quem vai ser o headbanger macho que vai jogar toda a coleção do Slayer fora por causa disso.
O próprio Pete Sandoval (ex-Morbid Angel) e o Dave Mustaine (Megadeth) se converteram ao cristianismo. Eu, por exemplo, curto Marduk, Suffocation, Deicide assim como ouço Impeding Doom, A Plea For Purging e Mortification e nem por isso minha vida ou meu caráter mudou. Como já dizia um sábio: Respeito é muito bom e conserva os dentes (risos).
MS: Outra polêmica que surgiu há algum tempo foi de sites cobrando para fazerem resenhas (e que fique claro que o Metal Samsara não é um deles), e você fez um post no Facebook comentando o assunto. Poderia expressar sua opinião como músico, já que isso gerou um terrível mal estar na cena?
Shucky: Isso é lamentável, pois o músico já paga uma fortuna pra fazer um CD de qualidade pro fã de som pesado, às vezes até somos obrigados a pagar pra tocar e não recebemos nenhum reconhecimento por isso, e ainda vem uns vagabundos querer explorar ainda mais o músico que já está na sarjeta??? Sabemos do tamanho da concorrência na música hoje em dia, você acha justo uma banda gastar mais de 20.000 Reais pra fazer um álbum que se preze, e do nada aparecer uma resenha dando nota máxima e jogando confetes num álbum ruim e mal feito de uma banda qualquer???
Se tem quem faça isso é porque tem quem pague, e quem paga esse sim é o verdadeiro culpado por a musica pesada do Brasil andar capengando.
MS: Bem, como o disco já está nas lojas, como tem sido os convites para shows? Já existe uma possibilidade de irem fazer shows na Europa e EUA, já que o CD foi lançado lá fora pela Stand and Deliver Records?
Shucky: Temos recebidos inúmeros convites para shows no Brasil e também fora.
Recebemos uma proposta pra uma tour na Europa com a banda Ektomorf em breve, estamos nos preparando pra isso. Nos USA também temos alguns contatos, estamos estudando a melhor maneira de concretizar isso por lá.
MS: Bem, Schuky, agradecemos demais pela entrevista, e deixamos o espaço para sua mensagem aos nossos leitores e fãs da banda.
Shucky: Gostaria de agradecer ao Metal Samsara pela oportunidade.
A todos os nossos fãs, amigos e parceiros que tem dado o seu melhor para que essa banda continue viva e integra.
Ouçam o novo CD “THE FLAME STILL BURNS STRONG” e valorize o Metal Nacional. Povo unido jamais será vencido!!!
Deus abençoe a todos.
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