31 de jul. de 2013

Retomando o passado em direção ao futuro – Entrevista com CENTÚRIAS



Por Marcos Garcia

Quem conhece o Metal brasileiro de longa data, sabe que o nome CENTÚRIAS tem peso no cenário de nosso país.


Fundado em agosto de 1980 pelo baterista Paulão Thomaz (que hoje está tocando no KAMBOJA e no BARANGA), e tendo participado do histórico primeiro volume da “SP Metal” em 1984. Depois de gravarem o EP “Última Noite” (de 1986) e “Ninja” (de 1988), e ter sido um dos pilares do Metal da cena de São Paulo, o grupo encerrou suas atividades, mas após alguns shows em 2004 e 2008, e à retomada do crescimento do Metal cantado em português, o grupo retorna definitivamente à ativa em 2012, tendo a benção de Paulão (que não está na banda, mas deu toda a liberdade ao grupo atual) e a presença de Nilton "Cachorrão" Zanelli no vocal, Ricardo Ravache no baixo (ambos da formação que gravou “Ninja”), mais Roger Vilaplana nas guitarras e Júlio Príncipe na bateria.

Tivemos a oportunidade de entrevistar o grupo, e aproveitamos para falar do passado, presente e futuro do grupo.

Metal Samsara: Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer pela oportunidade. Por que após tantos anos, mesmo com os shows de reunião em 2004 e 2008, o grupo retornou à ativa?

Ricardo Ravache: Os culpados são bem identificados (risos). Desde a época do primeiro 'revival', ficou comprovada a viabilidade de a banda voltar à ativa. Houve uma importante aceitação do público e da crítica. Mais tarde, o projeto do documentário "Brasil Heavy Metal", idealizado pelo amigo e excepcional músico Micka Michaelis, colocou mais lenha na fogueira. A gota d’água foi o tradicional evento "Stay Heavy Metal Stars" em 2011, no qual o Cachorrão, nosso vocalista, também participou e subiu ao palco para cantar 'Metal Comando'. Como o Ricardo Batalha, redator chefe da revista Roadie Crew (amigo de longa data e um dos maiores incentivadores do Metal nacional) estava lá, ele nos questionou: "o que falta pra vocês voltarem?". Conversamos um pouco a respeito e pronto! A banda estava de volta. Valeu, Batalha!

Nilton "Cachorrão" Zanelli: O Batalha teve um papel importante nessa volta. Ele fez o meio de campo com maestria. Valeu a força, Batalha!


Metal Samsara: Falando um pouco do passado do CENTÚRIAS, uma característica que saltava aos olhos nos anos 80 eram as constantes mudanças de formação. Quais as motivações de tantas mudanças naquela época, e acreditam que este “carma” possa vir mais uma vez a se tornar uma constante?

Ravache: Quanto às mudanças, não posso afirmar o que houve, por ter feito parte da formação que gravou o álbum “Ninja”, a última dos anos 80 e não tive contato muito próximo com os outros músicos. Acredito que tenham sido os motivos comuns que afetam a maioria das bandas. Nada especial. Agora, quanto à formação atual, um ponto importante a considerar é que já temos idade mais avançada – tiozões (risos) –, a cabeça mais assentada e vida mais estabilizada. Sabemos o que queremos, onde queremos chegar e como vamos fazer.


Metal Samsara: Bem, esta é bem apimentada: se ouvimos atentamente a “SP Metal” e o EP “Última Noite”, vemos que o trabalho da banda era pesado, mas com várias nuances de Hard Rock setentista. Já o “Ninja” é mais voltado ao Metal tradicional. Como se pode explicar esta mudança? Elas ocorreram devido às mudanças de formação da época? E com isso em vista, futuros discos de vocês podem ganhar contornos mais modernos?

Ravache: Sem dúvida, a mudança de formação levou a uma mudança nas composições. Boa parte do material já estava composta para um projeto de banda que eu, o Marcos Patriota e o Jack Santiago montamos ao sair do Harppia. O segundo guitarrista nesse projeto era o Roger Vilaplana, atualmente conosco no CENTÚRIAS e que foi coautor de cinco das músicas do "Ninja". Certamente nossos futuros álbuns e composições terão uma cara mais atual, porém sem perder a pegada oitentista, que está no nosso sangue. Não vamos mudar de estilo, não.

Cachorrão: Realmente a formação que gravou o "Ninja" e as músicas são totalmente Heavy Metal e a nossa meta é ser fiel ao estilo. Na verdade, o Heavy Metal é atemporal!

Roger Vilaplana: Estou muito empolgado com minha volta aos palcos e em poder, de certa maneira, dar sequência àquele projeto que participei com o Ravache e que acabou culminando em cinco músicas gravadas no "Ninja". A vantagem é que agora faço parte do Centúrias e estamos trabalhando para que tenhamos material de qualidade para um futuro CD em breve.


Metal Samsara: Esta é aquela famosa pergunta chata: qual o motivo de Paulão (Thomaz, ex-batera e um dos fundadores) não estar com vocês nessa volta? E esse fato não tem causado certa comoção entre os fãs?

Júlio Príncipe: O motivo é que o Paulão hoje é o baterista do Baranga e do Kamboja. No entanto, por ser o fundador do CENTÚRIAS, ele nos deu carta branca pra seguir com o legado e é isso que estamos fazendo. Os fãs aceitaram positivamente.

Cachorrão: O legal é que não houve problema algum com ninguém. O Paulão é nosso amigo. Ele está focado no Baranga e agora também no Kamboja, com quem já dividimos o palco. Está tudo em casa. Os fãs entenderam as mudanças e apoiam a nova formação.


Metal Samsara: Obviamente, muitos podem alegar que a banda retorna por saudosismo ou por oportunismo, já que o nome do CENTÚRIAS é bem estabelecido, logo, por direito, é direito a vocês de dizerem algo sobre isso. O espaço é de vocês.

Júlio: O CENTÚRIAS não retornou por saudosismo nem por oportunismo porque nunca fechou suas portas. É muito difícil formar um time onde todos se entendam, onde todos tenham a mesma cabeça, os mesmos gostos, as mesmas metas. Infelizmente, o CENTÚRIAS também passou por isso, mas agora conseguimos uma estabilidade na banda, e a consequência disso tudo é o que estamos vivenciando no momento.

Cachorrão: Como também participei do CENTÚRIAS nos anos 80, posso dizer que é lógico que lembro do passado, mas como lembrança boa de algo positivo que fizemos. Se isso for considerado saudosismo, paciência... Ou melhor, maravilha! (risos) Mas oportunismo? Se estivéssemos voltando por um contrato para gravar CD, DVD, uma série shows com cachês altos, vá lá. Aliás, até gostaria de ser chamado de oportunista nessas condições (risos). Estamos buscando o nosso espaço novamente, tocando por aí e as circunstâncias atuais não são muito diferente das daquela época. Tocamos Heavy Metal porque gostamos, mesmo!


Metal Samsara: "Inúteis Palavras”, música que gravaram para o projeto, “Brasil Heavy Metal” mostra que vocês não vieram apenas para ficar fazendo shows, ou seja, vivendo de passado. Já há mais material pronto? E se já, quando é que este play sai? Já existem propostas de gravadoras para o lançamento? E já avisamos: este autor está ansioso por isso! (Risos)

Júlio: Estamos com duas músicas prontas que serão incluídas no set list a partir do show no Aldeia Bar, em Jundiaí: "Ruptura Necessária" e "Sobreviver". Ambas trazem a mesma pegada que o CENTÚRIAS sempre teve. As outras composições estão em fase de finalização e farão parte do novo CD, previsto para 2014. Sobre gravadoras, ainda não temos nada em vista.


Metal Samsara: Nesses mais de 30 anos de atividades, as dificuldades devem ter sido inúmeras, e algumas bem estranhas. Lembram de alguma realmente marcante? A do “No Posers” não vale, pois é a próxima pergunta (risos)...

Ravache: Sendo sincero, não lembro de grande dificuldade, principalmente por não termos feito uma quantidade muito grande de shows mas, em vez de dificuldade, lembro de um fato bem divertido e que tem relação com a polêmica do "No Posers". Num show em Santos, lá por volta de 1987, dividimos o palco com o Salário Mínimo, que na época tinha um cuidado muito grande com o visual (risos). Como sou um sujeito sacana, perguntei para o baixista deles, o Galinha, se ele teria rímel azul. O cara, com a maior boa vontade, falou: "Azul eu não tenho, mas tenho preto", e já se abaixou pra pegar na mochila e me oferecer. Falei que era só uma brincadeira e fiquei até com remorso, depois (gargalhadas).


Metal Samsara: “No Posers” virou uma espécie de “grito de guerra” de vocês, uma marca registrada da banda nos shows, mas teve aquele de 12 de março de 1987, no Teatro Mambembe, que acabou gerando aquele falatório que envolveu o CENTÚRIAS e o Proteus (NR.: banda de Hard/Glam da época), que havia tocado uma semana antes no mesmo lugar. Qual era a ideia na época para o slogan? E fora esta polêmica, não chegou a existirem outras? E concordam que “poser” seria, em um sentido mais atual e abrangente, aquelas pessoas que posam de headbangers, mas não vão aos shows e não apoiam a cena nacional de bandas?

Ravache: Nós do CENTÚRIAS sempre fomos sarcásticos e irônicos. É característica nossa. O lance do "No Poser" foi uma provocação, uma brincadeira. Prova de que não houve desavença é que o Joe Moghrabi, guitarrista do Proteus, duelou com o Patriota no solo de uma faixa do "Ninja", a "Cidade Perdida". Ele, inclusive, chegou a subir no palco conosco quando a tocamos ao vivo. Quanto ao sentido de "poser", na época era voltado para o “Glam Rock”, aqueles caras que usavam roupas femininas, que faziam permanente no cabelo... Com o tempo o significado foi se ampliando. Quanto ao apoio à cena nacional, quem não apoia não sabe o que está perdendo.

Cachorrão: A prova de que todos levaram na brincadeira é que acabamos tocando com o Proteus e o Destroyer em 5 de maio de 1987 no Centro Cultural Vergueiro e foi um show bem legal. Todos se divertiram.


Metal Samsara: O Super Peso Brasil está chegando (NR.: 11 de Novembro, no Carioca Club, em SP), e vocês tocarão com Salário Mínimo, Stress, Taurus, e Metalmorphose, um show com bandas fortes dos anos 80 e que estão na ativa, como vocês. Qual o sentimento de se reunirem com essas bandas em um show? E qual a expectativa de vocês para o evento? Pretendem mostrar alguma música nova no evento, ou estão preparando alguma surpresa para os fãs?

Júlio: Um evento como esse, com esse nível de profissionalismo e com bandas que sempre trabalharam sério, apesar de muitas dificuldades, mostra que o Heavy Metal no Brasil é real. Existe e tem muita gente séria nesse meio fazendo muito para proporcionar aos fãs o melhor. A expectativa é a melhor possível, vai ser bom para todos – bandas e público! Uma das novidades vai ser apresentar as duas músicas novas – "Ruptura Necessária" e "Sobreviver" –, que já vão fazer parte do set list. Outra novidade será o lançamento do EP com essas duas músicas. Fora isso, camisetas, bottons, etc...

Roger: Será uma honra dividir o palco com essas bandas que, assim como o CENTÚRIAS, também são pioneiros do Metal nacional. A expectativa é a melhor possível para um grande show com grandes bandas. Será histórico!


Metal Samsara: Por falar em shows, não existem possibilidades de shows em outros estados? Existe um público enorme no Norte e Nordeste carente de shows de bandas de fora... E por falar nisso, não esqueçam o RJ, por favor!

Ravache: Sim! Queremos e iremos com muita satisfação. Só não conseguimos bancar passagem e estadia... Temos muita vontade, sim. Vemos colegas de bandas de São Paulo que vão para o Norte e Nordeste e voltam maravilhados com a vibração dos nossos irmãos lá de cima. A mesma coisa acontece com o Rio de Janeiro. Fomos convidados pelos queridos amigos do Metalmorphose em outubro de 2012 e compartilhamos o palco no Rio também como Stress e Salário Mínimo. Foi sensacional e queremos voltar mais vezes.

Cachorrão: Temos muito interesse em tocar no interior de São Paulo e em outros estados, também. Basta entrar em contato. Quem tiver interesse em contratar o Centúrias para tocar em sua cidade, escreva para contato@centurias.com.br e vamos conversar, ok?


Metal Samsara: Agradecemos demais por sua gentileza, e por favor, deixem sua mensagem para os nossos leitores.

Júlio: Em primeiro lugar, agradeço a oportunidade desta entrevista e posso dizer para os leitores que o CENTÚRIAS está na ativa, fazendo shows, compondo e programando novos lançamentos. Estamos trabalhando sério e a resposta dos fãs está cada vez mais positiva. Convido os leitores para que nos deem a honra de vê-los nos shows. Afinal de contas, "a máquina não vai parar".

Ravache: Agradecemos, Marcos, a oportunidade desta entrevista e quero dizer para os leitores que estamos mais motivados do que nunca e que nosso objetivo é fazer parte cada vez mais da cena do Metal nacional, que é muito viva e atuante. Procurem o CENTÚRIAS no Facebook, compareçam aos shows, que teremos muita satisfação de compartilhar essa missão que os 'Deuses do Metal' deram a todos nós.

Cachorrão: O CENTÚRIAS está de volta! Nossa meta é poder levar aos fãs do passado e da nova geração a mesma pegada dos anos 80, porém, nosso objetivo é olhar para o futuro e seguir em frente!

Roger: Obrigado pela entrevista, Marcos. Um grande abraço aos fãs do CENTÚRIAS e também aos fãs do Metal!


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Contato para shows e merchandising: contato@centurias.com.br

Centúrias/Fotos: Ricardo Ferreira

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