2017
Nacional
Nota: 10,0/10,0
Tracklist:
Disco 1 (CD) - "Gods of Violence":
1. Apocalypticon
2. World War Now
3. Satan is Real
4. Totalitarian Terror
5. Gods of Violence
6. Army of Storms
7. Hail to the Hordes
8. Lion with Eagle Wings
9. Fallen Brother
10. Side by Side
11. Death Becomes My Light
12. Earth Under the Sword (faixa bônus)
Disco 2 (DVD) - "Live at Wacken 2014":
1. Mars Mantra
2. Phantom Antichrist
3. From Flood Into Fire
4. Warcurse
5. Endless Pain
6. Pleasure to Kill
7. Hordes of Chaos
8. Phobia
9. Enemy of God
10. Civilization Collapse
11. The Patriarch
12. Violent Revolution
13. United in Hate
14. Flag of Hate / Tormentor
Banda:
Mille Petrozza - Vocais, guitarras
Sami Yli-Sirniö - Guitarras
Christian "Speesy" Giesler - Baixo
Ventor - Bateria
Contatos:
Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia
Poucas vezes na história da raça humana, o mundo viveu um período de tanto ódio, tanta violência exposta...
Houve uma polarização, as pessoas perderam a vontade de debater, de conversar, de compreender-se mutuamente, evitando os conflitos. E cada vez mais, a corrupção dos governos, o extremismo religioso, a dualidade entre a “political correctness” que se transforma em discurso de ódio contra outras formas de pensar.
Talvez o mundo esteja próximo de mais uma guerra, onde os Deuses da Violência se fartaram com o sangue de inocentes e culpados, bons e maus, corruptos e íntegros, quando a raça humana, enfim, estiver sepultada em um misto de caos, morte e aniquilação...
E é isso que move o quarteto alemão KREATOR, um dos membros do trio de ferro do Thrash de seu país. E depois de “Phantom Antichrist”, que dividiu a opinião de fãs e crítica, eles retornam com “Gods of Violence”, seu mais recente álbum, que tem lançamento nacional pela Shinigami Records / Nuclear Blast Brasil.
Alguns saudosistas irão reclamar um pouco (é o melhor que eles podem fazer mesmo, então, já não incomodam mais), já que o quarteto segue o mesmo estilo que já estão fazendo desde “Hordes of Chaos”, ou seja, o uso de melodias bem definidas e limpas em meio ao caos Techno Thrash Metal que eles desencadeiam. Só que neste disco, a fórmula encontrou seu ponto de equilíbrio perfeito, onde eles mostram uma inspiração musical sólida. Óbvio que o grupo sabe bem o que faz, pois a experiência de mais de 30 anos fazendo o estilo, mais a solidez da formação atual (que está junta desde 2001, quando a banda retornou ao estilo que os consagrou), e uma capacidade bem particular deles: continuam sendo criativos e ousados. Um traço de quem é realmente grande e sem medo, e que odeia cair no ponto comum.
A produção, gravação e mixagem são de Jens Brogen, um dos produtores mais requisitados do Metal nos últimos anos, tendo Tony Lindgren na masterização. E mais uma vez, ele faz um trabalho perfeito.
A sonoridade de “Gods of Violence” é perfeita, clara e com uma agressividade opressiva, mas fluida e limpa. Isso porque além dos timbres instrumentais estarem ótimos, o equilíbrio sábio entre tons graves, médios e agudos (algo bem raro em termos de Metal) está no ponto. Moderno, pesado, agressivo, sem obliterar as melodias.
A arte da capa é fenomenal mais uma vez, com um trabalho belíssimo de Jan Meininghaus. E isso em um belíssimo formato Digipack, que a Shinigami Records fez questão de reproduzir perfeitamente. E a versão norte-americana tem capa exclusiva de Marcelo Vasco, da PR2design.
Mille continua com sua voz esganiçada, longe do rasgado nasalado de outrora, mas eficiente. E tanto ele como Sami estão excelentes nas guitarras, com riffs pesados, técnicos e instigantes, e solos e partes melodiosas ótimas. E a base rítmica de Christian (baixo) e do veterano Ventor (bateria) é pesada, segura e com boa diversidade técnica. E junção desses quatro, mais a inspiração que transpira das músicas, os arranjos precisos e melodias bem encaixadas tornam “Gods of Violence” um dos melhores discos do ano. Talvez até mesmo seja um destaque na discografia do grupo.
“Apocalypticon” é uma instrumental mezzo épica, mezzo hino de Guerra, que vai ambientando o fã. E daqui para frente, o KREATOR coloca as cartas na mesa e mostra quem é quem.
A porradaria desenfreada começa na brutal e técnica “World War Now”, com boas mudanças de ritmo, aproveitando bastante da técnica e peso da base rítmica, mas reparem na força do refrão. A seguinte é o arrasa-quarteirão conhecido como “Satan is Real”, um dos vídeos de divulgação do disco, mostrando justamente a versatilidade melodiosa da banda, já que é uma canção densa e com momentos arrastados, onde os riffs melodiosos vão surgindo e dando aquele toque moderno e precioso ao disco. Já em “Totalitarian Terror”, uma pouco da veia sonora de “Enemy of God” dá as caras, devido à rapidez dinâmica e fluida da banda, mas logo ótimos arranjos melodiosos de guitarras dão aquele adorno fundamental, sem mencionar o ótimo refrão e os vocais de primeira. Algumas melodias um pouco mais tradicionais dão o ar da graça em “Gods of Violence”, onde a velocidade nos leva de volta a alguns momentos mais extremos de “Terrible Certainty” (a bateria está perfeita, com alguns riffs de guitarra bem envolventes e técnicos). “Army of Storms” tem aqueles tempos mais climáticos e modernos que o grupo anexou à sua personalidade desde “Violent Revolution”, mas sempre com aqueles elementos mais técnicos tão característicos deles, fora os vocais estarem muito bem encaixados mais uma vez. Um trabalho mais técnico e abrasivo surge em “Hail to the Hordes”, em uma canção prioritariamente cadenciada, onde certo toque de melancolia melódica dá aquele sabor especial à canção, que tem a participação especial de Boris Peifer nas gaitas de fole em alguns momentos. Uma introdução bem amena dá início à um murro melodioso nos dentes chamados “Lion with Eagle Wings”, cheia de melodias modernas e com as guitarras fazendo bonito em riffs e solos. E como não gostar do mix bem sacado de Thrash Old School alemão com toques modernos e boas melodias em “Fallen Brother”? E que refrão do cão de grudento!
Para encerrar o massacre, temos a veloz e bruta “Side by Side” (onde as lições que eles criaram e aplicam desde “Extreme Aggression” estão aqui, em cada mínimo arranjo, em cada toque melodioso) e a maravilhosa “Death Becomes My Light”, que começa bem introspectiva e deprê, mostrando que as lições da fase experimental ainda podem ser usadas sabendo como e quando. Mas logo guitarras à lá NWOBHM surgem em belos temas, alguns momentos mais lentos, e sempre com lindas linhas melódicas permeando a música onde vocais, guitarras, baixo e bateria estão perfeitos. E para dar aquele gostinho aos brasileiros, a versão nacional ainda tem a música bônus “Earth Under the Sword”. Era para ser só da versão japonesa, mas a Shinigami Records bateu o pé e nos presenteou com ela.
O DVD tem a apresentação do quarteto no Wacken de 2014. E para quem já os viu ao vivo, sabe como o grupo causa comoções e moshpits facilmente, mesmo porque o setlist é de primeira, mixando músicas novas como “Phantom Antichrist”, “From Flood Into Fire” e “Enemy of God” com clássicos como “Endless Pain”, “Pleasure to Kill”, e a dobradinha “Flag of Hate”/”Tormentor”. Mas é legal vê-los levando “Phobia”
Top 10 mais que justo, e se você é daqueles que ainda chora por “Endless Pain”, “Pleasure to Kill” ou outros do passado, pode continuar chorando, pois o choro é livre e gratuito no Brasil. Aliás, você não faz falta mesmo...
Ainda soberanos, ainda ousados, ainda criativos. Ou seja, ainda é KREATOR mais que suficiente para calar a boca de detratores, especialmente aqueles que os copiam, achando que a criatura pode tomar o lugar do criador. E “Gods of Violence” entra entre os melhores de 2017 sem esforço algum.
Obrigado à Shinigami Records e à Nuclear Blast Brasil por torna-lo mais acessível a todos nós nessa edição CD+DVD, ainda mais com a música extra!