2015 – Black Legion Productions/Caatinga Sattiva Records/Lab6 Music/Rock Clube Live – Nacional
Nota 10,0/10,0
Tracklist:
01. Burn Like Hell
02. Gods Upon Mankind
03. The Scourge of God
04. Red Terror
05. Brave New Gold
06. Incident 228
07. State of Blood
08. Like a Thousand Suns
09. Four Corners of the World
Banda:
Jairo – Baixo, Vocals
JP – Guitarras
Luiz Ferrari – Guitarras
Friggi – Bateria
Participações especiais:
Gledson Gonçalves – Darbuka em “Gods Upon Mankind”
Fábio Zperandio – Guitarra solo em “The Scourge of God”
Ítalo Junqueira – Guitarra solo
Fabiano Penna – Arranjos de Samples em “Gods upon Mankind”
Contatos:
Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia
Para muitos, a palavra evolução ganhou uma conotação negativa em termos de Metal nos últimos tempos. Parte tendo em vista o conservadorismo brasileiro que aderiu ao Metal/Rock como uma sanguessuga maligna, parte uma romantização exacerbada de tempos que estão, há muito, no passado e não vão voltar. Mas a evolução é a força motriz por trás de todo avanço que fazemos, e como parte essencial da cultura humana, ela faz parte do Metal, e está rendendo frutos ótimos nesses mais de 45 anos em que o Metal existe. E uma das bandas que possuem a evolução como parte de sua identidade é o CHAOS SYNOPSIS, oriundo de São José dos Campos (SP), e que retorna ao Metal Samsara com seu mais novo trabalho, “Seasons in Red”, um autêntico destruidor de pescoços.
O que não mudou: as convicções da banda em fazer uma fusão entre Death Metal com os elementos mais empolgantes do Thrash.
O que está diferente: a evolução levou o quarteto a dar uma amadurecida no som. Ou seja, a velha fúria e brutalidade ganharam contornos mais técnicos e até mesmo elegantes, com um nível de detalhes bem maior. E isso conferiu à música da banda uma característica sonora ainda mais própria. E se repararem bem, se percebe a existência de muitas melodias sombrias, o que agregou mais valor ainda ao grupo. E isso sem falar no uso de instrumentos não convencionais em alguns momentos, que não irão causar arrepios nos mais conservadores. E ainda temos o fato que a banda mostra um trabalho mais compassado, ainda com momentos velozes, mas com muitos momentos mais cadenciados e azedos.
Tecnicamente, a banda evoluiu bastante: Jairo está cantando muito bem, com um timbre gutural mais baixo que antes, mas bem claro em termos de dicção, e seu baixo mostra-se um pouco mais técnico e audível que antes. As guitarras de JP e Luiz Ferrari estão mais técnicas nos riffs, mas ainda com peso e agressividade como antes, mas estão muito entrosados. E a bateria de Friggi está ainda melhor que em “Art of Killing”, com mais peso e bem mais diversificada na técnica. E tudo isso gerou toda a diversidade que ouvimos em “Seasons in Red”.
A produção sonora, feita por Friggi, deu uma clareada e tanto em relação aos álbuns anteriores. Os instrumentos estão mais claros e secos, o que nos permite entender cada nota e arranjo sem problemas, bem como perceber o quanto evoluíram sonoramente desde “Art of Killing”. A engenharia sonora de Fabiano Penna, mais a masterização de Neto Grous ajudaram bastante neste “boost” de qualidade, sem dúvidas. A arte da banda, idealizada por Jairo e criada por Rafael Tavares, é ótima. Mais uma vez, como o álbum usa um conceito nas letras (o título “Seasons of Red” faz alusão a massacres ocorridos em toda história, grandes derramamentos de sangue infligidos por homens e mesmo grupos, como a Inquisição nas Idades Média e Moderna, os Bolcheviques massacrando seus opositores durante a Revolução Russa e posteriores expurgos liderados por Lênin, o Kuomintang chinês que assassinou a própria população no chamado Incidente 228, entre outros), isso demandou um trabalho artístico mais refinado que se percebe inclusive nos ícones de cada um dos membros nas faces de leptos no encarte.
Chaos Synopsis |
O dilúvio de sangue começa ao som de guitarras acústicas e castanholas. É a agressiva e trabalhada “Burn Like Hell”, cheia de momentos mais cadenciados onde as guitarras mostram a que vieram, mas também com excelente trabalho de bateria. Um pouco mais no estilo característico do grupo é “Gods Upon Mankind”, cheia de energia e boa dose de velocidade, vocais ferozes e um trabalho de baixo e bateria muito bom, mas reparem em uma parte cheia de elementos orientais seguida de uma parte mais lenta com ótimos riffs. A sinuosa e técnica “The Scourge of God” é um flagelo para os mais desavisados, com momentos em que elementos de música regional se fazem presentes, mas sem descaracterizar o grupo, sem mencionar mais uma vez a ótima presença de baixo. Outro inferno de brutalidade explícita (mas bem trabalhada e com algumas melodias) é “Red Terror”, uma lição para quem idolatra idéias fracassadas que visam apenas o totalitarismo político, com riffs abusivamente bem compostos e solos ótimos (há duetos à lá MAIDEN/PRIEST presentes aqui). Em “Brave New Gold”, a sede de sangue é explicitada com um andamento “empogante” (sim, a escrita é propositadamente essa mesma), mas com refinadas nuances em meio a tanta agressividade, e a bateria rouba a cena mais uma vez. Guitarras abrasivas dão início ao banho de sangue que é “Incident 228”, mais peso e agressividade pungentes e vocais infernais. Outra mais no estilo tradicional do quarteto é “State of Blood” (que versa sobre o ditador Idi Amin, ditador de Uganda, que tem entre 100 ou 500 mil mortes em seu governo de 8 anos), enriquecida com arranjos de guitarra em temas muito versáteis, e o baixo dando aquela base perfeita. Em “Like a Thousand Suns”, temos mais uma música que segue o padrão do grupo (ou seja, um Death/Thrash de primeira linha), e a bateria mostra mais uma vez sua técnica. E fechando o massacre, “Four Corners of the World”, que possui alguns riffs bem melodiosos em muitos pontos, mas sem danificar a personalidade musical bruta do grupo.
“Seasons of Red” é mais uma ótima contribuição da banda para o Metal nacional. E um soco no fígado na cara de muito revoltadinho de internet que só fala/faz/pensa asneiras.
Parabéns, CHAOS SYNOPSIS!