Resenha: Lottors - Mirage (CD)

Independente

Nota 8,0/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia

Existem bandas que se especializam em criar um conteúdo musical onde buscam aliar requinte, um trabalho musical diferenciado e experimental com algo dos estilos mais agressivos do Metal. Óbvio que existem aqueles grupos que conseguem fazer isso muito bem, mas a mistura nem sempre termina bem. Não é simples encontrar o ponto de equilíbrio nesta fusão, e nunca será. Mas é bom conhecer bandas novatas que estão na luta, em busca de seu espaço na vertente, como o LOTTORS, trio vindo de Santa Catarina, que com seu primeiro álbum, "Mirage", mostra algo não convencional dentro dessa proposta.

Primeiro, podemos descrever a música do grupo como o encontro do RUSH com o DESTRUCTION, mais alguns elementos modernos e mesmo de Doom e Death Metal, tudo isso sem pudores, capaz de deixar os cabelos de muito em pé. Mas se de um lado nos deixa pasmos no início, depois conseguimos assimilar melhor sua proposta e viciar no som deles. Misturando vocai secos e outros limpos (mas que não buscam ser tão melodiosos assim), riffs de guitarra muito bons, uma bateria fantástica e bem tocada, com o baixo mostrando ótima técnica. E a música da banda nos cativa, após o susto inicial de muitos.

Lottors

A produção ficou nas mãos do próprio trio, e com tudo gravado, mixado e masterizado no Kalid Studio pelas mãos de David Schlickmann, o resultado da qualidade de som poderia ser melhor. Óbvio que os instrumentos não estão se embolando ou sem peso, muito longe disso, mas em termos de sonoridade, está um pouco seca em certos timbres que poderiam ser um pouco mais cheios. A arte é de um bom gosto ótimo, um belo trabalho concebido pela banda e feito pelas mãos de Carlos Fides (da Artside Digital Studio).

O grupo mostra que suas composições não se limitam a um estilo específico, com bons arranjos e uma dinâmica enorme. Mas como dito acima, devido ao lado mais RUSH de suas influências, as mudanças de tempo e de clima são bem grandes a cada música. Não estranhem os tempos quebrados, e muito menos as transformações súbitas. O trabalho dele é completo dessa forma. E ainda temos as participações especiais de Ramon "Bob" Martins nos teclados, Caroline D. G. Nazário Schlickmann nas vozes do personagem Elize, Camila D. G. Nazário nas vozes da personagem Susan, e Olinda K. Schlickmann fazendo as vezes da personagem Jessy nos vocais. Ou seja, "Mirage" é um disco conceitual, o que o torna ainda mais atraente.

Os melhores momentos: a quebrada e bruta "Beautiful Confusion" (a bateria dá um show todo dela nas conduções, viradas e mudanças rítmicas), a mais trabalhada "All the Rest of Forgotten Ashes" (graças à diversidade vocal e bons riffs), a mais moderna e abrasiva "Broken Bird" (com algumas lindas melodias de vocais limpos surgindo aqui e ali, contrastando com os mais rasgados e agressivos), a longa e extremante diversificada "Faceless" (música do Single de divulgação, que vai do agressivo ao suave e experimental sem medo de errar. E eles não erram, especialmente em termos de baixo e bateria estarem formando uma base bem diversificada, mas sempre pesada), e a viajante "Desillusion to Another Clown".

O LOTTORS é uma ótima revelação, e com um pouco mais de suporte no futuro, tendem a render ótimos frutos. Suporte que a MS Metal Records deve dar, uma vez que estão renegociando o relançamento de "Mirage" pelo selo, com distribuição para todo o Brasil e Europa.

Tracklist:

01. Mirage I: Glass Mind

02. Beautiful Confusion

03. Dominated (Like a Sun Burning Into Mercury)

04. All the Rest of Forgotten Ashes

05. Broken Bird

06. Mirage II: Reflections

07. Pot of Greed

08. Crossfire My Eyes

09. What I Left to Bleed?

10. Is This Imported?

11. Faceless

12. Mirage III: The River (Reprise)

13. Desillusion to Another Clown

14. The Water is so Deep (On Eternal Circle)

Banda:

João Augusto - Vocais, baixo

David Schlickmann - Guitarras

Julio Duarte - Bateria

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