Nota 10,0/10,0
Por Marcos "Big Daddy" Garcia
De vez em quando, é maravilhoso se desligar um pouco do universo do Metal e ir mais próximo às suas raízes, e ouvir o bom e velho Blues. Não é necessário dizer o quanto o Metal e o Rock são derivados do Blues, e mesmo existem algumas misturas bem salutares, que fazem bem os espírito e ouvidos, e por decorrência às nossas mentes. E um excelente trabalho que mostra a fusão Rock-Blues, chamado de Blues Rock, é o do guitarrista/vocalista norte-americano JOE BONAMASSA. Sendo fiel à raízes de seu trabalho, mas sempre com um olhar não tão convencional, "Different Shades of Blue", que acaba de ser lançado no Brasil pela Voice Music, é um dos melhores discos de 2014, sem sombra de dúvidas.
Como dito acima, o trabalho de Joe transita entre o Rock e o Blues, seguindo uma orientação próxima à escola inglesa do estilo (estamos falando de nomes como Eric Clapton, Paul Kossoff, e Rory Gallagher), logo, não estranhem se em alguns momentos tanto LED ZEPPELIN quanto CREAM venham à mente (estes dois são altamente influenciados pelo Blues). Além disso, o trabalho é de uma sofisticação absurda, e isso ainda reforçado pela presença de músicos de ponta como Anton Fig (baterista e percussionista que já tocou com Ace Frehley, Kiss, Sebastian Bach, Joe Cocker, Gary Moore, Joe Satriani e tantos outros), Lee Thornburg (conhecido trompetista que já esteve no CHICAGO, e toca com o SUPERTRAMP, fora trabalhos nos anos 70 com Wayne Cochran), e outros. Óbvio que o nível musical foi lá nas alturas, sendo que a dinâmica musical usada por Joe é algo fantástico, pois suas músicas fogem ao modelo convencional do estilo. Sim, ele se mostra extremamente criativo não apenas como excelente guitarrista, mas como um compositor de mão cheia.
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Joe Bonamassa |
A produção musical é assinada mais uma vez por Kevin Shirley (que no disco anterior, "Driving Towards the Daylight", além de produzir e mixar as músicas, ainda gravou guitarras, tamborim, piano e sinos. E aqui, novamente fez a mixagem), e gravado nos estúdios The Palms (Las Vegas, Nevada), NV e The Cave (Malibu) (a mixagem foi feita neste último), mais a masterização de Bob Ludwig no Gateway Mastering, em Portland (no Maine), óbvio que o produto final é bem sofisticado em termos de sonoridade. Cada instrumento está ali, audível, presente e forte, com timbres muito bem escolhidos. Mas o mais interessante é que tanta sofisticação não tirou aquela coisa mais orgânica e espontânea que o Blues Rock possui. Longe disso, muitas vezes o ouvinte tem a clara impressão que ouvirá um belo improviso acontecer (que devem ocorrer bastante nos shows). A arte dos Dennis Friel Art Studios é bem surrealista, mas muito bom e dá um corpo maravilhoso ao que ouvimos. E com um detalhe muito legal: na ficha técnica, ainda temos a descrição dos instrumentos e amplificadores usados por Joe no disco.
O trabalho de JOE BONAMASSA em relação às composições é perfeito. Mesmo sendo um ótimo guitarrista, suas bases e solos se prendem muito mais à vibração e feeling do Blues do que ao virtuosismo individualista. Óbvio que todos sabem que o trabalho é dele, mas se não soubéssemos desse detalhe, todos pensariam que temos uma banda como um todo, sem destaques individuais. E além disso, os arranjos mostram um conhecimento de quem entende do que faz com o gosto pela música que cria e toca. E o resultado final: deleite para nossos sentidos.
Óbvio que o CD se nivela por cima, sem dúvidas.
Após a introdução "Hey Baby (New Rising Sun)", temos a excelente "Oh, Beautiful" (um típico Blues Rock ganchudo e denso, e se repararem bem, sentirão os mesmos elementos musicais que são encontrados em obras seminais do Metal, como o "Led Zeppelin I", fora belos arranjos de bateria, excelente solo de guitarra e vocais macios bem bluesy) abre o CD de forma magistral, seguida da ganchuda e mais Rock "Love Ain't a Love Song" (belíssimos arranjos de sopros, ótima presença de backing vocals femininos e baixo mostrando um trabalho bem técnico), "Living on the Moon" e seus arranjos mais jazzísticos, além do típico Blues com jeitão de Mississipi de "Heartache Follows Wherever I Go" (com aquela vibração mais melancólica e andamento cadenciado). "Never Give All Your Heart" é mais a mais etérea e atmosférica (ainda com aquela levada de Blues, mas com um jeitão mais sofisticado e belos arranjos de baixo e no velho Hammond), enquanto "I Gave Up Everything for You, 'Cept the Blues" é o típico Blues'n'Roll (reparem bem no uso do piano e sopros, como eles dão uma engordada belíssima na canção). Já "Different Shades of Blue" é uma bela quase-balada sentimental (mais uma vez, o trabalho das guitarras e a voz agradável de Joe nos embalam e guiam de maneira gentil), enquanto "Get Back My Tomorrow" a é mais intimista (andamento ameno, boas variações de ritmo e a inclusão de backing vocals, teclados e elementos da música negra americana aqui são um must), e "Trouble Town" é outra com jeitão mais Jazz/Fusion bem acessível; e fechando, a balada bluesy "So, What Would I Do", mais uma vez pegando aquela carona no feeling "down the Mississipi river".
Assim, podemos aferir que JOE BONAMASSA é um autêntico Gentleman do Blues Rock, e não é à toa que é saudado como o futuro do gênero, como afirmado pelo The Howard Stern Show. "Different Shades of Blues" é a prova máxima disso.
Comprem logo, pois é um disco maravilhoso!
Tracklist:
01. Hey Baby (New Rising Sun)
02. Oh Beautiful!
03. Love Ain't a Love Song
04. Living on the Moon
05. Heartache Follows Wherever I Go
06. Never Give All Your Heart
07. I Gave Up Everything for You, 'Cept the Blues
08. Different Shades of Blue
09. Get Back My Tomorrow
10. Trouble Town
11. So, What Would I Do
Banda:
Joe Bonamassa - Guitarras, vocais
Michael Rhodes - Baixo
Carmine Rojas - Baixo
Anton Fig - Bateria, percussão
Lenny Castro - Percussão
Reese Wynans - Órgão, piano
Doug Henthorn - Backing Vocals
Melanie Willians - Backing Vocals
Lee Thornburg - Saxofone, trombone, arranjos de sopros
Ron Dziubla - Saxofone
Orquestra Bovaland - Cordas
Jeff Bova - Arranjos de cordas
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