10 de set. de 2014

Resenha: Project46 - Que Seja Feita a Nossa Vontade (CD)

Wikimetal Music
Nota 9,5/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


O Metal brasileiro tem uma ampla diversidade sonora, ninguém há de negar. Do suave e melodioso ao bruto e explosivo, o Brasil gera banda de todos os tipos e gostos. E isso é bom, pois assim, evita-se a associação do país apenas a um único gênero, com é o Death Metal de Gotemburgo, o Thrash Metal da Bay Area de São Francisco, o Hardcore de Nova York, entre tantos outros. A diversidade torna o gênero forte, e assim ele sobrevive. Aqui, desde os anos 80 surgem nomes fortes, e atualmente, um dos nomes mais proeminentes na cena é o do quinteto paulista PROJECT46. Misturando Metal e Hardcore, com uma pegada moderna e em proporções extremamente explosivas, o grupo mostra em seu segundo disco, "Que Seja Feita a Nossa Vontade".

O trabalho do quinteto é bruto e feroz, ora veloz e rasgado, ora mais cadenciado e opressivo, pulsando com uma energia e agressividade extremas, mas sempre em composições muito bem pensadas e soando compactas. A fusão de vocais urrados (com variações que vão de urros guturais a alguns urros rasgados), riffs abusivamente pesados e coesos (com solos bem compostos e onde melodias aparecem muito bem), baixo e bateria mostrando em forte entrosamento e uma técnica bem apurada (fora um peso absurdo) é excelente, vibrante, e cheia de vida. Um prato cheio para quem gosta de ver as paredes da casa tremer e ouvir os vizinhos reclamar. E aqui, é sem e nem piedade!

Adair Daufembach produziu o CD (em conjunto com o próprio grupo), acompanhou as gravações e mixou o trabalho no Estúdio Daufembach, sendo que as gravações de bateria foram feitas no Estúdio El Rocha. O resultado, em termos qualitativos, não poderia ser melhor: a gravação abrasiva e ríspida da banda de forma alguma está tornando as músicas emboladas, muito pelo contrário: os instrumentos estão bem audíveis e claros sob a massa sonora do quinteto. A arte, criada e feita por Will Ferreira, é algo de absurdamente linda, bem feita e perfeitamente coerente com as letras do grupo (que canta em português).

Project46
Em termos de composição, o PROJECT46 não é louvado por público e crítica à toa, já que o grupo mostra saber o que faz quando compõe, tendo uma noção ótima de como arranjar suas músicas de forma em que elas não deixem o ouvinte cansado, mesmo debaixo de tanta violência sonora. Vemos que existem mentes pensantes em termos musicais. 

As letras do grupo merecem destaque, já que em português, fica ainda mais claro o teor azedo e crítico. Não espere "sex, drinks and Metal" deles, pois aqui, a visão clara de nossa realidade de cada dia, dos guetos e favelas, da riqueza e opressão do governo, está muito bem retratada. E nem chegamos a falar das presenças especiais de Otávio Augusto (do PRAY FOR MERCY) e Leeo Mesquita (do SURRA) nos vocais em  "Foda-se (Se Depender de Nós)".

Do início ao fim, não há nada de negativo a ser dito sobre "Que Seja Feita a Nossa Vontade". É perfeito, uma pedrada sonora de doer os ouvidos não acostumados, mas sempre com alto nível e bom gosto.

O massacre começa com "Caos Renomado", uma faixa explosiva e transbordando agressividade em uma andamento mediano (embora técnico), onde a força dos vocais alternados e base rítmica ficam evidentes (especialmente pelo baixo evidente em vários momentos), seguida do hino "Foda-se (Se Depender de Nós)", rápida e instigante, com ótimo refrão e solos muito bons (a dupla de guitarras da banda é fenomenal nisso), fora um trabalho de bateria de muito alto nível. Riffs sinuosos, vocais urrados extremos e muita agressividade é o que "Erro +55" apresenta, novamente com um ritmo não tão veloz, mas com muita influência do Hardcore de Nova York, mais belas passagens soturnas, e "Desordem e Progresso" segue mais veloz e com muito mais agressividade, com solos ótimos. Riffs bem graves introduzem a opressiva "Carranca", onde os vocais e o contrabaixo se sobressaem bastante. Tanto "Na Vala" quanto "Empedrado" são golfadas de brutalidade, onde o andamento alternado entre momentos mais calmos (mesmo com vocais agressivos) e outros mais abrasivos, e chegam a ser um abuso de tão boas. Tão opressiva e abrasiva quanto é "Veneno", só um pouco mais veloz e com ótimo trabalho de guitarras, e "Em Nome de Quem?" é uma faixa bem diversificada em termos de ritmo (ponto para a bateria, mais uma vez fantástica). Fechando, "Vergonha na Cara", outra tijolada agressiva e bem rápida, onde o lado HC da banda fica mais evidente.

O PROJECT46 merece todo respeito que anda angariando pelo país, já que tanto sua música de excelente qualidade, aliada a sua determinação, tende a levá-los bem longe.

"A Revolução começa onde termina o conformismo" (PROJECT46).



Tracklist:

01. Caos Renomeado
02. Foda-se (Se Depender de Nós)
03. Erro +55
04. Desordem e Progresso
05. Carranca
06. Na Vala
07. Empedrado
08. Veneno
09. Em Nome de Quem?
10. Vergonha na Cara


Banda:

Caio MacBeserra - Vocais
Vinicius Castellari - Guitarras
Jean Patton - Guitarras
Rafael Yamada - Baixo
Henrique Pucci - Bateria


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