7 de nov. de 2013

O Núcleo do Terceiro Mundo – Entrevista com o LACERATED AND CARBONIZED



Por Marcos Garcia


Poucos nomes da cena brasileira andam causando tanta agitação como o do quarteto carioca LACERATED AND CARBONIZED, uma unanimidade da cena brasileira.

Após o ótimo “Homicidal Rapture” e de uma extensa turnê sul-americana, resolveram dar mais um passo adiante, fizeram uma tour pelo Leste europeu para divulgar o single “Third World Slavery”, e na volta, soltaram o novo CD, “The Core of Disruption”, mostrando a ousadia do uso de elementos brasileiros em sua música, bem como centrando toda sua proposta lírica na violência cotidiana da cidade do Rio de Janeiro.

E assim, o quarteto nos recebeu para uma entrevista, onde pudemos saber mais sobre o CD, a tour passada e os planos futuros do grupo.

Metal Samsara: Bem, começamos com uma pergunta bem clichê: como foi o tempo entre o lançamento de “Homicidal Rapture” e o do “The Core of Disruption”? Teve uma época, inclusive, onde vocês estavam quase que fazendo um show a cada 15 dias. E diriam que foi justamente durante estes muitos shows que começaram a surgir as idéias sobre o segundo álbum?

Caio Mendonça: Em primeiro lugar, obrigado Marcos & Metal Samsara pelo apoio de sempre! Como você disse, fizemos muitos shows após o lançamento de "Homicidal Rapture". Viajamos para uma longa turnê sulamericana e tocamos em alguns festivais com grandes nomes do metal mundial. Voltamos da nossa primeira turnê internacional com muito mais experiência e um modo diferente de enxergar a banda. Isso se refletiu nas composições embrionárias, que viriam a se tornar as músicas de "The Core Of Disruption".


Metal Samsara: Ainda sobre “Homicidal Rapture”, depois de dois anos, podem dizer que o resultado, tanto em termos de vendagens quanto de divulgação, e até mesmo a realização pessoal com ele foi satisfatória para vocês?

Caio: Com certeza! Quando fomos gravar "Homicidal Rapture", éramos inexperientes em estúdio, mas metemos a cara, pois sabíamos que tínhamos um material com grande força em mãos. No final das contas, o álbum foi lançado no Brasil e Peru, sendo distribuído para vários países, e conseguimos excursionar ao máximo graças ao interesse das pessoas em ver a banda tocando esse novo material ao vivo. "Homicidal Rapture" abriu as portas para o LAC.


Metal Samsara: Focando um pouco em “The Core of Disruption”. O disco não foi um passo, mas um salto adiante em termos de qualidade e músicas. Como foi que as músicas foram se desenvolvendo, e chegaram ao ponto que ficaram? Um ponto que chama a atenção é que em algumas faixas, vocês estão soando um pouco mais refreados que antes, e até mais técnicos, especialmente no tocante ao trabalho de bateria. Isso foi algo mais intencional?

Caio: Antes de "The Core Of Disruption", eu pegava a guitarra e focava toda a agressividade na palhetada. É por isso que "Homicidal Rapture" é rápido e direto. Em "The Core Of Disruption", nós temos uma mensagem muito forte. Eu precisei compor grandes riffs que pudessem combinar com a temática das músicas e transmitir toda a violência que a gente queria. As mudanças no som não foram intencionais, mas a verdade é que você não precisa tocar rápido o tempo todo para soar brutal. 


Metal Samsara: E por falar na bateria, além da técnica de Vitor está mais apurada, sem perder a pegada, podemos reparar os “inserts” de percussões tipicamente brasileiras. Como foi que esta idéia surgiu, e como se deu a escolha dos instrumentos?

Caio: O Victor já era um grande baterista quando começamos a banda, mas agora eu posso garantir que ele está tocando de forma muito mais brutal. Sua performance em "The Core Of Disruption" reflete isso. Foi dele a ideia de inserir alguns inserts percussivos regionais em algumas músicas para que esses elementos pudessem ajudar o ouvinte a se identificar com a temática do álbum. Utilizamos bongô em "Corrupt Foundations", tamborim em "Call For Blood" e tambores e até um botijão de gás em "Third World Slavery". Foi um desafio conseguir microfonar e conseguir o melhor timbre desses instrumentos na gravação, mas o resultado ficou ótimo e a o Victor fez um ótimo trabalho durante a gravação.

Metal Samsara: A produção sonora está fantástica, em um nível de primeiro mundo, então, Caio (guitarrista da banda), como foi a experiência de produzir o trabalho? E como foi a relação com Flávio Pascarillo e Julio Oliveira no HR durante as gravações?

Caio: O importante é entrar em estúdio já sabendo aonde você quer chegar e o tipo de som que quer para o álbum. Eu já tinha isso em mente, precisava somente de um estúdio que fornecesse a infraestrutura necessária para que eu pudesse chegar a esse resultado, e o HR se mostrou uma ótima escolha. Além do ambiente, trabalhar com o Flávio e o Júlio foi muito bom, pois além de serem ótimos engenheiros de som, também são ótimas pessoas.


Metal Samsara: Em separado, o Andy Classen, lá na Alemanha, foi quem mixou e masterizou o disco. Como se deu o processo, ou seja, chegaram a ir lá e ficar com ele um tempo? E como foi conviver com Andy, que já trabalhou com KRISIUN, VIOLATOR e BELPHEGOR? Ele chegou a contribuir mais do que apenas mixar e masterizar o CD? E para o futuro, acreditam que vão ter Andy novamente no mesmo papel, se ele produzirá ou mesmo irá participar de alguma forma?

Caio: O resultado final mostrou que foi muito acertado trabalharmos com o Andy. Nosso contato foi todo pela internet, mas as ferramentas disponíveis hoje fazem com que esse contato seja muito fácil. Conversamos bastante durante todo o processo, desde a pré-produção do álbum até a masterização, e ele esteve 100% ativo no desenvolvimento do álbum, mesmo que em continentes diferentes. Ele é ótima pessoa e muito profissional. Com certeza vamos trabalhar juntos novamente no próximo álbum.


Metal Samsara: De certa forma, as letras e arte de “The Core of Disruption” enfocam bem a realidade das grandes cidades do Brasil, em especial a do Rio de Janeiro, onde são relembrados eventos extremamente violentos de nossa história, como o Massacre da Candelária de 1993. De onde veio esta inspiração para falar em temas mais voltados à nossa realidade?

Caio: Em 2011, a sobrinha de um amigo foi uma das crianças assassinadas no "Massacre de Realengo". Nessa época, já estávamos compondo material para "The Core Of Disruption" e decidimos fazer uma música sobre isso, que acabou virando a faixa "BloodDawn". A partir desse ponto, percebemos que o dia a dia da nossa Cidade tem elementos violentos o suficiente para serem explorados em nossas letras: tráfico de drogas, abuso policial, assassinatos, corrupção... LAC é Rio de Janeiro, e Rio de Janeiro é violência!


Metal Samsara: Estes temas, inclusive, são abordados no vídeo de “Awake the Thirst”, onde vemos cenas aéreas de favelas da cidade do Rio de Janeiro, lixões com catadores de lixo, fotos de pessoas mortas no chão, ao lado de cenas das praias cariocas. Não chegaram a ter problemas sérios com ele por parte de censura do governo (que tenta sempre censurar mensagens de que não está tudo bem por aqui)? Já no vídeo de “Third World Slavery”, onde a banda aparece, vemos a aparição de referências à violência, uso de drogas e tudo mais. Como ele foi concebido, isso é, como a idéia dele se desenvolveu? Além disso, vemos que o trabalho de Vinícius Hozara na produção (pela CS Music Videos) ficou bem refinado, e a cara da banda. Foi bom trabalhar com ele? E é óbvio que o nosso querido Bruno Horgy deve ter aparecido por lá... (risos)

Caio: Lançamos "Awake The Thirst" antes da nossa última turnê Europeia e a resposta foi impressionante. Muitas pessoas vinham até nós durante a tour para perguntar detalhes sobre as imagens, se eram reais ou não. Em "Third World Slavery", filmamos um policial atormentado com a rotina de violência do Rio de Janeiro. Ele está imerso em um cotidiano tão violento e corrupto que suas válvulas de escape são a droga e mais violência. Tivemos uma equipe grande nos apoiando nesse clipe. Vinícius Hozara é o cara que esteve presente em todas as etapas, desde a concepção à pós-produção, e o Bruno Horgy contribuiu com as filmagens do making of.


Metal Samsara: Bem, vamos falar um pouco do giro pela Europa que deram ano passado. E aí, foi uma experiência boa para a banda? Quais seriam as grandes lições que tiraram? Ah, sim: sempre existe uma das famosas experiências toscas nas excursões, então, tem alguma que poderiam contar? Mas cuidado com o nível da tosqueira (risos)!

Caio: A verdade é que uma banda não sobrevive sem turnê. Você pode até optar por tocar somente na sua cidade, mas tenha em mente que sua banda não vai crescer. A resposta que a gente tem com uma tour é enorme: novos fãs, merch vendido, parcerias, contatos, contratos, fora a experiência de conhecer pessoas, lugares e culturas diferentes. Excursionamos ano passado com o Vile (EUA) e com o Slaughter Denial (Itália) por toda a Europa, e quando você está na estrada tocando e bebendo todos os dias, sempre existem muitas histórias. Por exemplo, em um festival na Rússia, a cozinheira do festival ficou apaixonada pelo Jonathan. Foi amor à primeira vista! O problema é que ela era careca e o namorado dela, que era o segurança do evento, estava puto, pois ela perseguia o Jonathan para todos os lugares. Ele queria conversar com fãs e algumas garotas, mas a cozinheira sempre vinha atrás dele com um prato de sopa e muito amor (risos)!


Metal Samsara: Bem, como o “The Core of Disruption” está se saindo em termos de crítica e vendagens? Fora isso, a Eternal Hatred tem feito um trabalho bem legal de divulgação, mas sabem dizer se lá fora, o disco já teve algum impacto? E já existem planos para mais um giro na Europa? E por aqui e América do Sul?

Caio: "The Core Of Disruption" foi lançado no Brasil pela Eternal Hatred e no Canadá/ EUA pela Mulligore Records. As críticas estão sendo ótimas, tanto no Brasil quanto na Europa/ EUA. Parece que todos estão curtindo as novas músicas e o fato de estarmos contando um pouco da nossa realidade brutal nas letras. Sobre as vendagens, a primeira leva está se esgotando e vamos reprensar o disco novamente em dezembro com uma faixa bônus. Levaremos boa parte dessa reprensagem para a nova turnê europeia em março e abril de 2014. Ao retornar da Europa, estamos planejando uma mini tour pelo Nordeste. Em breve anunciaremos os detalhes.


Metal Samsara: Uma coisa que sempre chega ao nosso conhecimento é: em geral, para que a banda possa se sustentar, é necessário um esforço hercúleo, e vocês devem estar quase chegando ao ponto de escolher entre uma carreira estável fora do Metal ou a banda. Qual a previsão de vocês para que isso ocorra? E já se prepararam para ela?

Caio: Alguns de nós já tivemos que abandonar o emprego para poder cair na estrada. Essa decisão não se torna difícil quando a banda é uma prioridade para você. Em 2014 faremos duas turnês europeias e duas mini turnês, uma no nordeste e uma no Peru/ Ecuador. Será um ano corrido, mas muito produtivo para o LAC!


Metal Samsara: Agradecemos muito mesmo pela entrevista, e deixem, por favor, sua mensagem aos nossos leitores.

Caio: Obrigado, Marcos e Metal Samsara! Espero que todos procurem conhecer as músicas de "The Core Of Disruption" e suas mensagens. Para ficar ligado nas novidades da banda, basta acessar o site oficial: WWW.LACERATEDANDCARBONIZED.COM

Valeu!


Assistam o vídeo de "Third World Slavery":




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