Imaginem uma banda que, fugindo do conservadorismo e continuísmo que vemos no Metal mundial, resolve tomar um caminho bem sinuoso e cheio de criatividade. E se o nome do SCIBEX vier a sua mente entre as primeiras opções, pois se já teve o prazer de conhecer ‘Path To Omors’, o ótimo CD deste quarteto, seja bem vindo, pois sabe do que falamos.
Aproveitando que o CD físico está no mercado, e que a Metal Media Management nos concedeu a oportunidade, fomos bater um papo com a banda.
Metal Samsara: Primeiramente, agradecemos pela oportunidade. A primeira pergunta é bem trivial: por favor, poderiam nos contar um pouco da história da banda, de sua formação até o momento? E de onde surge o nome SCIBEX, qual seu significado e qual o conceito por trás dele?
Diogo Bald: Nós é que agradecemos a oportunidade da entrevista e os elogios, é muito bom saber que existem sempre pessoas interessadas em nosso trabalho! Bem, o SCIBEX atual é bem novo se comparado a outras bandas que lançam seu primeiro álbum de estúdio, pois tivemos que reformular bastante coisa desde a minha saída do Lycanthropy até a atual formação. Explicando melhor, quando o Lycan “acabou” em 2011, ele ia se chamar SCIBEX, pois para gravar o álbum (Com o projeto já aprovado na prefeitura) queríamos um nome novo. Por diversos motivos os antigos membros saíram e retomaram o Lycan, e eu fiquei com o SCIBEX, naquele momento com Thales e Lennon. Depois de quase desistir do projeto, decidi persistir e o Thales convidou o João para tocar baixo, fizemos o teste e rolou! Desde então estamos juntos e gravamos o single, EP e o Full. O nome SCIBEX, a exemplo de vários nomes citados no CD, é um neologismo que representa pensamentos não materiais, evolução e transcendência mental, buscando sempre um novo nível de consciência onde se assume que não existe regressão, ou seja, deve-se sempre evoluir para o crescimento.
Metal Samsara: As primeiras audições do trabalho do SCIBEX são surpreendentes, pois o rótulo de “Avant-garde Black Metal” não faz justiça à diversidade musical e criatividade do grupo. Não acham que rótulos acabam criando idéias errôneas sobre a sonoridade da banda antes da audição, ou que esta venha a ser influenciada por ele? E por falar nisso, quais são as influências musicais da banda? Este autor tem a leve impressão que o finado VED BUENS ENDE, bem como o ARCTURUS, podem ser algumas delas, certo?
Diogo Bald: Concordo plenamente. Se transpusermos isso para o campo lírico, por exemplo, não teríamos como ser rotulados Black Metal, pois em nada nos assemelhamos liricamente com a “proposta” do gênero. Nesse sentido eu acredito que tudo que se rotula automaticamente se limita, e somos exatamente o oposto disso tudo. Com relação às influências, acredito que cada um de nós traz um tipo diferente de influência e isso somado à diretriz sonora do metal resulta no que apresentamos a vocês. Das bandas citadas por você eu conheço o ARCTURUS, sou muito fã do trabalho do Vortex principalmente como vocalista.
Lennon: Como o Diogo disse, títulos definitivos limitam toda a riqueza do som, então acredito que títulos deveriam funcionar mais como referência do que como definição. Por exemplo, quando a pessoa não conhece a banda e lê uma resenha, essa referência pode ajudar como uma forma de dar uma base bem parcial do que se trata o som, mas nunca como exatamente é. Então é bom sempre ouvir desapegado de qualquer título e sentir a música ao invés de se preocupar em definir qual é o tipo de som. Música, arte, é algo muito subjetivo para ser colocado dentro de uma “caixa” e dizer: é assim e pronto. Cada um interpreta da sua forma.
Metal Samsara: Antes de ‘Path To Omors’, você tem dois trabalhos, o Single ‘Error Bath’ e o EP ‘Matha’s Prision’. Como foi a recepção do público a estes trabalhos na época? Chegou a dar um ânimo para vôos mais altos, que culminaram no Full-Length?
Diogo Bald: Para ser bem sincero, eu só estou sentindo uma resposta concreta com o full. Os trabalhos anteriores foram essenciais para que nós nos conhecêssemos enquanto banda e principalmente para que encontrássemos nossa identidade musical. Mais precisamente no EP ‘Matha’s Prison’ a gente conseguiu definir a linha musical da banda, optando por acrescentar mais elementos ao som. O single foi lançado de forma independente na forma de mini CD contendo três cards com capa, letra e créditos, ainda tenho cópias das capas, os CDs só serão feitos mediante alguma encomenda que porventura tivermos. O EP foi lançado somente na Malásia pelo selo RDL Records, uma parceria bastante positiva com pessoas sérias e comprometidas. Recebemos apenas 20 cópias desse trabalho, por isso não o disponibilizamos para vendas.Todos esses trabalhos foram muito importantes e tem seu papel no SCIBEX, mas acredito que estou muito mais contente com ‘Path to Omors’.
Metal Samsara: ‘Path To Omors’ é um trabalho bem diferente, bem longe do que estamos acostumados a ver em termos de Brasil, pois se uma palavra pode descrever o que ouvimos é “inovador”. Contem um pouco de como foi o processo de composição do CD, bem como foi gravar um disco tão ousado em termos de Brasil. E como foi gravar o CD? O Rodrigo Nepumoceno foi uma boa escolha para a produção?
Diogo Bald: Legal ter tocado nesse assunto! É engraçado porque não sabíamos o que esperar do resultado final da gravação do álbum, tudo foi muito experimental pra gente em termos de vivência na música. Imagine que a gente foi conhecer as músicas por completo somente quando elas já estavam prontas para a master! Então a todo momento a gente, incluindo o Rodrigo, colocava e tirava coisas nas músicas, algo semelhante a uma lapidação de uma jóia, pois é assim que tratamos nossa arte. O Rodrigo “Cheba” foi um grande parceiro da banda, não poderíamos estar melhor auxiliados em nossa produção! Foram longos meses de prazos para cumprir, músicas para gravar, regravar e por aí vai... O Cheba é um grande parceiro do SCIBEX.
Metal Samsara: Vocês são de Uberlândia, em MG, uma cidade bem fértil em termos de Metal, mas ao mesmo tempo, existe uma tradição na região em termos de Metal extremo, e sem querer ofender ninguém, impera certo conservadorismo musical. Vocês não são um pouco segregados da cena por isso? Perguntamos porque o radicalismo musical na cena Metal do país inteiro é bem notório...
Diogo Bald: O que acontece na verdade é que ainda não somos conhecidos na cidade por conta de não termos feito shows ainda. Então estamos naquela máxima “quem não é visto, não é lembrado”, e não sabemos se vamos ser excluídos, incluídos ou não. De fato isso não tem muita relevância, pois nossa proposta foi sempre buscar a nossa sinceridade musical e lírica e não um enquadramento na cena compreende? A história de Uberlândia dentro do Metal nacional é indiscutível, temos vários representantes importantes aqui e inclusive somos amigos de vários deles! O Lennon era do Krow e tem grande amizade com o pessoal, eu sou muito amigo do Juarez Tibanha (Scourge), tocamos juntos na minha época do Lycanthropy e por aí vai. O radicalismo, seja ele de que natureza for, nunca vai levar ao crescimento musical, variabilidade de sons e o SCIBEX busca exatamente fugir de todo este pragmatismo.
Lennon: Pode haver o conservadorismo, mas procuramos sempre ter personalidade, e no final das contas, personalidade soma mais à cena do que conservadorismo. Mas, além disso, uma coisa que chama atenção em Uberlândia é que em termos de Brasil, a produção autoral aqui acontece. Não estou dizendo que é bem sucedido, ou mal sucedido. Mas é interessante, que você vê bandas querendo fazer som próprio, gravar seu som e espalhar, movimento esse que não é tão frequente de se ver, pois na maioria das cidades que eu conheci, há muitos covers (não estou condenando ninguém por isso), e o som autoral passa a ser um nível distante. Mas em Uberlândia, isso chama atenção. Não apenas dentro do metal, mas no meio independente temos muitas bandas boas. Como o Diogo já disse, há no Death Metal o Krow e Scourge, no Hard Rock o Killer Klowns, no Hardcore o Attero, Uganga, No Defeat, Ritorsione, na música alternativa o Porcas Borboletas e muitas outras que merecem ser citadas. Todas essas têm bons álbuns autorais lançados, e isso é um atrativo.
Metal Samsara: Voltando ao CD, a arte dele é outra fuga dos padrões, já que a capa é rica em tons claros, e de certa forma, a arte é bem enigmática. Poderiam explicar um pouco o conceito por trás dela, e onde ela se encaixa no título? Aliás, qual o significado do mesmo, e de onde vem a palavra “Omors”? E ainda sobre a arte, como foi ter a participação de Edgar Franco (NR.: conhecido autor de história em quadrinhos, e responsável por trabalhos artístico de bandas como MEDICINE DEATH, NEW YORK x BELZEBU, e outros)?
Diogo Bald: Como mencionei anteriormente, a capa e toda arte do CD ficou a cargo de Edgar Franco (Posthuman Tantra), que foi responsável também por duas letras no álbum. Desde o Single, sempre deixei ele livre para criar o que quisesse em cima do contexto lírico, pois dessa forma ele também expressa o que sentiu a partir de sua leitura, coisa que enriquece ainda mais nosso trabalho que além de musical se expressa visualmente também. De forma semelhante ocorreu com a capa do ‘Path to Omors’, onde o artista não expressou literalmente um ‘Caminho para Omors’ (Omors é um neologismo que quer dizer algo como “além do sentido mortal”), mas fez sua leitura e através da imagem expressou sua percepção. Na capa estão representados seres tratados nas letras como Matha e seus Matworms. Se me permite colocarei aqui algumas palavras do próprio Edgar sobre a capa: “As figuras/seres que estruturam a arte são o princípio feminino (a fêmea presente nas capas do Single e EP) aqui ela tem também um véu sobre sua boca, mas revela seios voluptuosos, ao mesmo tempo sua cabeça termina em uma glande ejaculando, é a fêmea que usa seu lado sensual para obter poder, mas também pode gerar, é a dubiedade. Já a figura masculina no centro da composição é o macho-racional-destruidor do planeta, ele também é dúbio pois tem uma teta feminina e está grávido (a gravidez só é revelada na contra -capa do CD) e por incrível que pareça ele gera um ser luminoso no ventre.”
Metal Samsara: E sobre as letras? Existe alguma mensagem ou conceito que desejam transmitir ao ouvinte?
Diogo Bald: Sim. De forma metafórica, com neologismos e criação dos seres, buscamos expressar a busca por um nível de consciência que transcenda o nosso atual modo de percepção e até mesmo de convivência mundana. Estamos cada vez mais nos distanciando de nossa condição natural e isto está nos levando à exacerbada idolatria do dinheiro e da matéria. 'Path to Omors' representa o desligamento dessa condição.
Metal Samsara: Uma das maiores maldições que perseguem as bandas no Brasil são as chamadas mudanças de formação. No atual momento, vocês estão em busca de um baterista, certo? E quem gravou as partes de bateria em 'Path To Omors'? E um aviso: não busquem no RJ, pois bateristas livres aqui são uma espécie em extinção (risos)!
Diogo Bald: Exatamente (risos). Não sabemos exatamente quando iremos encontrar um batera, mas seria bom que fosse logo, estamos loucos para tocar! As baterias do disco foram programadas pelo Rodrigo, pois não tínhamos tempo hábil do projeto para concluir as gravações se fossemos esperar um batera.
Lennon: Há grande preconceito com baterias programadas, mas o que eu posso dizer é que a gente estava com a vontade de gravar, com a condição para gravar e com as ideias, então não íamos ficar parados deixando tudo isso mofar no tempo por causa de preocupação sobre como ficaria a imagem do CD feito com bateria programada. É claro que queríamos gravar com um baterista. Mas enfim, aconteceu assim. Aproveitando a oportunidade, fica a mensagem pros bateristas: quem tiver afim, por favor, entre em contato, somos gente fina. Haha.
Metal Samsara: Bem, o disco está lançado, mas um pouco antes das cópias físicas estarem disponíveis, vocês permitiram o download gratuito do CD inteiro. Pode ser uma estratégia de divulgação, mas não temem que isso venha a causar problemas nas vendas do CD físico? Embora este autor não acredite que alguém deixe de ter um CD desse nível em prol de um download digital...
Diogo Bald: A exemplo do que eu disse em uma entrevista anterior, somente retribuímos, com a disponibilização do CD para download, o investimento público feito no SCIBEX. Se porventura vendermos cópias físicas será de grande ajuda para futuras gravações da banda, mas a intenção é espalhar o som, contribuir com nossa arte e de forma positiva acrescentar alguma coisa em cada um.
Metal Samsara: Bem, com o CD lançado, está na hora de alguns shows acontecerem. Já possuem algo em vista? Estamos esperando ansiosos!
Diogo Bald: Estamos somente esperando o tal do batera aparecer (risos). Estamos ensaiando sem ele por enquanto para não perder o ritmo, mas enquanto não rolar o batera, estaremos de molho!
Lennon: “Sangue nos zóio” pra tocar! Não temos baterista ainda, mas se tiver algum produtor local interessado, vamos manter contato.
Metal Samsara: Agradecemos demais por sua gentileza, e deixamos o espaço para sua mensagem aos nossos leitores.
Diogo Bald: Nós é que agradecemos a oportunidade de responder perguntas tão pertinentes e bem feitas. Ficamos felizes pela atenção prestada ao nosso trabalho e convidamos a todos para que conheçam o Scibex! Um grande abraço!
Lennon: Muito obrigado pela oportunidade. Aqueles que ouviram o som, por favor, nos deem seu feedback. Abraço a todos.