Do final dos anos 80 para cá, um fenômeno ganhou proporções absurdas no Brasil: as bandas cover, ou seja, aquelas que se especializam em tocar música de bandas grandes como IRON MAIDEN, SABBATH, AC/DC, BON JOVI e outras mais. E algumas se tornam tão especializadas que buscam a permissão de uma banda grande e ser cover apenas daquela banda.
A proposição acima, diante de uma análise fria, é semelhante a fazer sexo com uma boneca inflável, pensando na pessoa que deseja, ou seja, você quer ver a banda com a qual sonha, mas a possibilidade de vê-la com frequência moderada nem sempre satisfaz o anseio dos fãs (hoje em dia, o Brasil recebe bandas internacionais com frequência de, pelo menos, uma vez a cada dois anos, ou menos ainda). Mas quando encerra-se o ato, fica aquele gosto amargo de decepção no âmago da pessoa, pois você não fez sexo com a pessoa pela qual anseia, e da mesma forma, não ouviu a banda original. Apenas uma cópia, um embuste, um genérico que, muitas vezes, faz bem mais danos à saúde do que ajuda em algo.
Diante da atualidade, não pudemos nos calar, e é preciso dizer algo que vai doer e magoar muitas pessoas, mas evocamos a sábia frase de Isaac Newton: "Amicus Plato amicus Aristoteles magis amica veritas", ou seja, "sou amigo de Platão, amigo de Aristóteles, mas minha grande amiga é a Verdade".
Antes de tudo, uma banda cover tem algo em comum com as autorais (aquelas que compõem sua própria música), que é a questão de gastos com ensaios e instrumentos. Mas a igualdade de condições se encerra aqui.
Uma banda cover cobra cachê para tocar, assim como a autoral. Mas a banda cover sempre tem platéia (os viciados em genéricos citados acima), ao passo que, não entendemos porque cargas d'água as autorais, por melhores que sejam, são recebidas com frieza pelo público. A banda cover recebe seu cachê (e tem bandas nacionais que, conforme fontes que não podemos revelar, cobram R$2500,00!), mas na maioria das vezes, uma banda autoral é OBRIGADA A PAGAR PARA TOCAR (o que mostraremos em breve em outro texto). Não recebem passagens, alimentação, estadia, nem mesmo um réles copo de água!
Isso sem falar nas condições de tocar. Bandas cover acabam pegando dias melhores, como sextas e sábados à noite, e sempre com bons públicos, que chegam ao descaramento de pedir canções. Já as autorais são obrigadas a pegarem dias ruins, horários péssimos, e públicos medíocres. E mesmo que o dia seja bom, o público prefere beber fora do local do show...
Pagam por bandas cover, bem como shows que custam os olhos da cara de bandas que, se olhar com cuidado e sem ser tendencioso, verá que são bandas mortas, sem mais nada a dizer a quem quer que seja.
Será isso o vício do "mais do mesmo", ou seja, a mania de ouvir ad infinitum uma música que já conhece de trás para frente, ao invés de apoiar material novo?
Já passou da hora do fã de música no Brasil parar de correr atrás de bandas covers, e peço que elas nos perdoem pelas palavras, mas honestamente, será que algum deles REALMENTE tem a coragem de achar que seu trabalho (que se for olhar bem a fundo, não é deles) vale mais que uma banda autoral? E sabiam que existem músicos que fazem trabalhos autorais maravilhosos e cheios de vida, mas que são obrigados a tocar em bandas cover para poderem ganhar algum dinheiro?
Aqui onde este autor mora (em Magé, uma cidade que está situada ao fundo da Baía de Guanabara, cujo tempo de viagem entre ela e a capital do RJ é apenas uma hora), nos anos 80, o ANALFA, banda cover muito conhecida no RJ, arrastava multidões para shows nos clubes da cidade, ao passo que bandas que hoje pararam, como GOOX, COMUM ACORDO, CENTRAL DO BRASIL e outros. E mesmo aqui, esta maldita preferência por covers é uma tendência que sufoca o trabalho autoral. Alguns membros das bandas citadas se tornaram membros de bandas cover JUSTAMENTE por não ter suporte do público!
Em uma opinião bem particular, e que perdoem-me os amigos que transitam por este caminho, este autor, mesmo que não fosse da imprensa, não paga para ver bandas cover.
E mais uma: a cena Metal no Brasil é forte e tem muitas bandas ótimas, mas é preciso transformar este potencial em dinheiro, em tratar nossas bandas com o carinho e cuidado que elas bem merecem, pois senão, fenômenos como os ocorridos com SEPULTURA, ANGRA e KRISIUN, ou seja, o quase abandono do público tupiniquim em prol do gringo (que não é ruim, longe disso). Ou acreditam que saíram daqui apenas pelas condições que recebem de fora?
Lá, estas bandas ganham cachê por seus shows, e aqui? Tocar pela cerveja, "pelo Metal"? Nada disso! Profissionalismo JÁ!
Em resumo: dê suporte financeiro às bandas autorais em primeiro lugar, pois a vida delas é árdua, e necessitam de você. A banda cover, cuja existência depende muito mais daquele que "homenageia", em bem menor escala...