Por Marcos Garcia
Há alguns anos, em nome de um profissionalismo frio e estranho, o comportamento de vários membros de bandas, tanto no Brasil quanto de fora, tem se tornado cada vez mais distante, como se em uma manifestação de ojeriza aos fãs, como se a banda nada devesse a estes.
Atitudes que vão de encontro a isso não faltam, mas citamos alguns exemplos:
- Bruce Dickinson, do IRON MAIDEN, em show recente, ofendeu um fã, que estava usando de seu celular, de forma contundente, durante o show da banda em 19 de julho em Indianapolis, EUA (Fonte: http://metaldailha.blogspot.com.br/2012/07/bruce-dickinson-e-o-fa-nerdzinho.html).
Podem vê-lo gritar isso logo no início do vídeo abaixo. As câmeras não mentem:
- Lars Ulrich, do METALLICA, cansa de esnobar os fãs vez por outra. Uma das mais recentes foi declarar de forma irônica que ‘a comunidade do Metal se leva a sério demais’ (Fonte: http://www.rockway.com.br/metallica-comunidade-metal-se-leva-serio-demais-diz-lars-ulrich). Outra foi a do parceiro Lou Reed dizer que o disco ‘Lulu’, feito em parceria com Lars e Cia, ‘é para os literatos’ (http://www.hennemusic.com/2011/12/lou-reed-metallica-lulu-is-for-literate.html).
Cabe aqui um questionamento bem profundo: como é que o empregado (músicos, bandas) quer questionar e agredir o patrão (fãs)?
Sim, os patrões, pois quem dá condições às bandas de continuarem rodando o mundo e vivendo bem são aqueles que pagam por discos e shows, que compram revistas e todo tipo de produto que mantém as bandas em evidência e na ativa. Sem eles, Lars, Bruce, James, Lou e outros arrogantes teriam que pegar no pesado, trabalhos '9 to 5', fossem físicos ou mentais. Ser músico demanda esforços, óbvio, mas não chega a ser algo como um pedreiro, um padeiro, um pesquisador ou professor tem que fazer todos os dias, pois eles trabalham com o que gostam e sabem fazer, logo, é um privilégio que mais de 70% das pessoas do mundo não possuem.
E isso não é ser profissional de forma alguma, mas ser mal-educado e se achar algo mais do que é. Profissionalismo é a atitude que vemos do finado DISMEMBER no DVD ‘Under Bloodred Skies’ (que tem versão nacional pela Shinigami Records), quando eles enumeram situações estranhas (como um membro ter que autografar um item no qual ele não teve participação), e explicam o quão cansativo é o atendimento (muitas vezes, após shows e na chegada de uma viagem), mas o fazem porque é um DIREITO dos fãs, e o fazem sem se estressar como Bruce, ou esnobar os outros, como Lars e Lou. Mesmo porque estes dois últimos esquecem que ser fã de música não tem por pré-requisito ser letrado, e mesmo que o fosse, o que mais existe dentro do Metal são fãs com, no mínimo, formação de Nível Superior, se não for mais adiante.
Óbvio que existem fãs que transcendem seus limites, e todos têm que lidar com situações constrangedoras, mas mesmo assim, a distância que alguns advogam transpira ao seguinte pensamento: ‘quero seu dinheiro, mas não quero saber de você’, ou seja, o fã deixa de ser alguém para se tornar em fonte de dinheiro.
Uma situação bem constrangedora foi ver um fã em um show de uma banda com uma componente feminina, cantando-a (no mau sentido da expressão) e chamando-a de ‘gostosa’ durante a apresentação. Este que vos escreve tomou uma atitude, digamos assim, mais enérgica (ou seja, um belo chute nas costelas do sujeito, que ainda levou uma bronca daquelas e um aviso que poderia ser pior que aquilo, caso o marido da moça visse. Felizmente, o mesmo se comportou depois disso).
O Metal Samsara sempre defende o profissionalismo como base de crescimento da cena, que as bandas devem receber cachê e serem respeitadas, mas esta linha de pensamento não implica em distância da banda ou em conter os fãs, mas respeito de ambos os lados, o que é plenamente possível.
Como fã, este que escreve estas linhas mantém uma atitude pessoal e particular, que serve apenas a ele, e não a todos os fãs: se uma banda não faz caso deste fã, obviamente a mesma cai no esquecimento, bem como todo seu material é trocado por outras, em protesto, já que a escravidão (onde um apanhava e ainda tinha que aceitar aquele processo de boca fechada) está quase extinta no mundo. Ou seja, não somos escravos ou empregados das bandas, mas seus patrões, e trabalhamos muito, todos nós, para sustentá-las, logo, nada mais justo do que sermos respeitados, ou alguém já se arriscou a dar uma bela bronca do patrão sem medo de tomar uma justa causa?
Um exemplo pessoal: MARDUK, em 2010.
Vosso escritor favorito aqui foi ao show da banda e teve a oportunidade de conversar, tirar fotos e cumprimentar cada um dos membros do quarteto, sendo que todos eles foram atenciosos e gentis, e isso depois do show, quando estavam todos eles cansados, pois um show da banda é extremamente desgastante para seus membros. Nenhum estrelismo, nenhuma arrogância, nenhum nariz em pé ou olhar de raiva ou desprezo, mas pelo contrário, muito apreço e educação
Resumindo: respeitar o trabalho musical de uma banda se faz necessário e obrigatório sempre, mas ao mesmo tempo, mesmo que ela tenha lançado um ‘Sabbath Bloody Sabbath’, um ‘The Number of the Beast’, um ‘Master of Puppets’ ou outro disco que seja referência, os músicos devem respeito aos seus fãs, pois nenhum desses discos seria relevante na história se não tivessem que os comprassem...