20 de jul. de 2012

A Conquista do Black Metal – Entrevista com Kråke


Por Marcos Garcia

Após anos de espera, o primeiro CD do Kråke, Conquering Death, foi  lançado, mostrando uma música poderosa, mixando o agressivo e pesado jeito  do Black Metal da Noruega com atmosferas negras e opressivas, soando ao  mesmo tempo sinfônico e cru, mas com um toque de elegância.
Aproveitando esse momento, o Metal Samsara está orgulho em ter feito uma  entrevista com o núcleo da banda, Beist e Dreugh, para falar da banda, do  disco e de seus planos.


Metal Samsara: Antes de tudo, por favor, falem um pouco da história da  banda para nossos leitores

Beist: Bem, o Kråke foi fundado por mim e Dreugh há algum tempo, e sendo  irmãos, sempre soubemos o que queríamos fazer algo, musicalmente falando. E  não aconteceu até 2008, quando conseguimos produzir e lançar um Demo e começamos a nos focar na banda. Desde então, gravamos e produzimos nosso  primeiro álbum, Conquering Death.


Metal Samsara: Bem, essa é bem clichê: quais são as influências musicais de  vocês dois, as bandas das quais gostam e aquelas que poderíamos dizer que  influenciaram a música do Kråke? Apenas ouvindo, não é algo simples de se  identificar… 

Dreugh: Esta é uma pergunta muito boa, e eu poderia falar por era em termos de fontes de inspiração e influência de outras bandas, mas se não fosse pelo trabalho de bandas como Satyricon, Dimmu Borgir, Old Man's Child, Emperor, Bal-Sagoth, só para dizer algumas, Kråke talvez nunca tivesse existido. Estes pioneiros foram muito importantes para nós como  músicos.

Beist: Eu e Dreugh somos irmãos, com um ano apenas de diferença, e crescemos juntos dividindo o mesmo gosto musical, e ainda é assim até os  dias de hoje. É claro que nossas influências entram em nossa música de uma maneira ou de outra, mas creio que conseguimos capturar algo nosso, algo  único para o Kråke.


Metal Samsara: Outra sobre a história da banda: o nome Kråke, em norueguês, siginifica 'Corvo', mas em sua visão, tem um significado bem além disso, certo? Pode nos contar o conceito que tinham em mente quando o escolheram? Está de alguma forma ligado a Hugin e Munin? (NR.: Munin e  Hugin são os corvos de Odin, na mitologia Nórdica) 

Beist: O nome de nossa banda tem causado alguma controvérsia aqui na Noruega, e temos visto algumas perguntas como 'o nome é uma brincadeira ou não'. E posso dizer que encaramos com muita seriedade o nome de nossa banda. Para nós, o corvo é muito mais que um mero pássaro. É quase como se fosse uma figura sinistra e que tem recebido várias propriedades místicas por muitas culturas por todas as eras, sendo ele um arauto da desgraça ou um sinal de sabedoria e astúcia. Os corvos companheiros de Odin  (relativamente próximos ao corvo) Hugin e Munin são bons exemplos de como estas aves negras tem sido elevadas a criaturas quase divinas, sendo ao mesmo tempo temidos e respeitados.


Metal Samsara: Perdão por perguntar, mas a banda, lá no início, seria uma banda de estúdio? A pergunta vem do fato que todo o álbum foi gravado só por vocês dois (NR.: Beist e Dreugh), sem a ajuda de ninguém... E falando nisso, existe um motivo específico para ambos trabalharem dessa forma? 

Beist: Nunca foi nossa intenção de manter o Kråke como uma banda de estúdio apenas, mas sei o porque você pensa assim. A produção de nosso primeiro álbum foi um longo processo, pois tivemos problemas médicos que interferiram na produção, e ao mesmo tempo, tivemos algum azar com nosso equipamento de estúdio. Mas de qualquer forma, a maior causa do atraso que foi a busca pelo som perfeito que se adequasse à nossa música. Durante todo o tempo desse processo, podemos dizer que acumulamos um conhecimento  inestimável de como produzir a música que queremos, do jeito que queremos, nos dando a possibilidade de continuarmos fazendo do nosso jeito. Talvez isso não fosse possível se tivéssemos apenas reservado um estúdio e ajuda de fora na engenharia de som quando estávamos gravando o Conquering Death
Bem, é verdade que todo o processo de gravação e produção de Conquering  Death foi quase que feito principalmente por Dreugh, e também tivemos alguma ajuda na finalização, já que a masterização foi feita por Jens Bogren no Facination Street.


Metal Samsara:  O som que vem do CD é bem limpo e mostra uma produção bem cuidada, com uma atenção cuidadosa a cada elemento de sua música, então, Dreugh, você tinha alguma experiência em produção musical? E como foi ter Jens Bogren na masterização? Gostaram do trabalho dele? 

Dreugh: Além de produzir o Demo que lançamos em 2008, fiz um par de mixagens para algumas bandas locais, como o Ainarikiar e o Hellnight. Quando chegou a vez de Conquering Death, tínhamos uma visão clara em termos do 'som' que queríamos, e todo o equipamento que usei nesta gravação foi cuidadosamente selecionado. A produção e mixagem levou muito tempo, e aprendi muito durante este processo, e sei o que fazer na próxima vez desde o início! 
Jens Bogren é um sujeito talentoso, e eu sabia desde o começo que ele era a pessoa certa a contactar quando a mixagem estivesse pronta. E fez uma masterização fantástica, e não tenho como agradecer o suficiente a ele. Jens e Tony, do Fascination Steet, são sujeitos legais, e realmente espero podermos trabalhar juntos no futuro.



Metal Samsara: Sobre o Conquering Death, pode nos contar qual a idéia  por trás do título? Ele é bem forte. 

Beist: Não decidimos o título do álbum até bem perto do fim, e queríamos algo realmente poderoso para pôr uma marca em nossa música. Os temas que eu trouxe durante o processo de escrita das letras foram fortemente influenciados pela morte, de uma forma ou de outra, sendo ela emocional ou sobre o lutar com ela. Trabalhando com isso, chegamos ao título e sentimos que ele era uma adaptação dessas idéias. E também foi o conceito usado na letra de Victorious, I, então você pode chamá-la de faixa-título do álbum.


Metal Samsara: Ouvindo a música em si (NR.: falando do geral no álbum, não  apenas de Victorious, I) ela não é apenas forte e pesada, mas intensa, obscura, e bastante sinfônica. E o mais importante: cheia de vida e personalidade própria, logo, pode nos falar do processo de composição das músicas, e como as letras foram escritas? Por falar nisso, qual é a  mensagem delas? 


Beist: Falando das letras, como eu disse antes, elas versam bastante sobre o tema morte, ligadas aos diferentes estados da morte e do ato de morrer. Tentei focar de uma forma de contar estórias em minhas letras, e tentei ficar longe de tópicos estereotipados das religião na maior parte delas. Não creio que minhas palavras sejam tão enigmáticas, e prefiro desafiar  nosso público para criarem suas próprias idéias sobre o significado delas.  


Metal Samsara: Outro ponto que chama a atenção é a bela capa, feita por Marcelo HVC. Como vocês entraram em contato com ele? E ele conseguiu  atingir suas expectativas?
  

Beist: Contatamos Marcelo há um bom tempo, sendo que eu e meu irmão somos grandes fãs do trabalho dele, e pedimos que ele fizesse a arte de nossa capa. Ele aceito de bom grado, mesmo estando atolado de trabalho, e veio com um projeto para a nossa capa. Como eu disse antes, as coisas se arrastaram durante o processo de gravação e depois ficou um pouco mais calmo. Depois, estávamos com um álbum completo e um contrato com a Indie  Recordings, e as coisas começaram a crescer a partir daí. A Indie queria que finalizássemos o trabalho, e demos a eles a primeira arte feita por Marcelo. O primeiro esboço não era tão bom que valesse ser impresso, então Marcelo, trabalhando em torno do conceito da primeira arte, rapidamente veio com outra. Podemos dizer que todos os envolvidos no processo estavam mais que satisfeitos com o resultado. Ele é um artista fenomenal e um grande sujeito, e estamos agradecidos por tê-lo em nosso time!


Metal Samsara: Falando sobre a formação da banda. Como encontraram os rapazes? E eles irão contribuir em sua música e letras nos futuros lançamentos?

Beist: Preencher as fileiras da nossa banda não foi o problema, pois eles estão ativos na cena local do Metal em outras bandas e tal. Como o Kråke está hoje em dia, eu e Dreugh provavelmente estaremos escrevendo a música e letras para futuros lançamentos. Embora eu esteja certo de que os outros membros têm muito a contribuir, queremos preservar as coisas simples e no espírito do que já criamos. Mas nada é definitivo, e ninguém sabe o que o futuro trará.


Metal Samsara: Conquering Death está lançado, via Indie Recordings,  então, você estão satisfeitos com o suporte deles? Eles estão suprindo suas  expectativas? E como o CD está sendo recebido pela imprensa Metal do mundo? Creio que as resenhas devem estar sendo ótimas!

Beist: Quando iniciamos este projeto, não tínhamos expectativa alguma no que tratava de escolher um selo. Só queríamos pôr nossa música no mercado.  Então o tempo passou, e viemos com mais e mais material para nosso álbum, sentimos que estávamos no caminho certo, então procuramos por um selo até que conseguíssemos mostrar nosso trabalho em toda sua totalidade. Isso acertou as contas no final, e fomos contactados pela Indie após ele  terem recebido uma dica de uma banda que ouviu a fita master do álbum. O resto é história, e estamos bastante satisfeitos de estarmos na Indie Recordings, sendo eles nossa primeira escolha de um selo norueguês em um tiro no escuro!
A recepção que temos tido com Conquering Death, na maioria das vezes tem sido mais que impressionante. Temos tido muito boas notas, e embora não possamos satisfazer a todos, parece que acertamos quando olhamos as pontuações até agora.


Metal Samsara: Vocês vêm da Noruega, um país com uma tradição no Metal,  especialmente Black Metal, então, como vocês enxergam as coisas na cena norueguesa de Metal por agora? Alguns anos após todas as coisas que aconteceram e as bandas expostas aos fãs pelo mundo, vocês podem dizer que a cena Metal daí ainda é forte? E poderiam dizer alguns nomes de bandas novas boas, que estão começando a mostrar sua música? E como está  sendo a recepção ao Kråke em seu próprio país?

Beist: Como você disse, a Noruega tem uma forte tradição quando se fala em Metal, e somos bastante famosos pelo mundo inteiro pelas coisas que  aconteceram aqui no início dos anos 90, e claro, por bandas como Dimmu Borgir, Immortal e Emperor. A cena Metal aqui continua sendo forte, e mesmo tendo aqui uma população pequena, a Noruega tem sido o berço de muitas bandas ótimas, mesmo nos anos mais recentes. Para citar algumas bandas que estão crescendo, só posso apontar para as bandas de nosso selo, a Indie Recordings. Eles reuniram uma boa gama de bandas de todos os diferentes gêneros de Metal sob seu nome, e certamente existem muitas boas bandas, tanto jovens como mais experientes, entre nossos colegas!
A respeito da recepção de nosso primeiro Full Length, tivemos algumas resenhas bastante favoráveis a ele na mídia norueguesa até o momento. Embora ainda não tenhamos nenhum número de vendas para mostrar, fomos informados que tudo está indo muito bem.

Metal Samsara: O CD está nas lojas, então isso significa que alguns shows estão por acontecer, eu suponho. Existe alguma excursão em vista por agora, até alguns shows em grandes festivais na Europa, e talvez até nos EUA e América? E vocês possuem planos de fazer algum vídeo promocional?

Beist: No momento, não temos planos de sair em tours em futuro imediato. Nossa preocupação principal a partir de agora é promover nossa música e criar um público. Este é nosso primeiro disco, e eu acredito que você consegue compreender a importância de promover-nos e expor nosso nome para o mundo. Não me entendam mal, estamos ansiosos para pôr a banda na estrada e tocar nossa música onde quer que nos queiram, mas para fazer isso, as pessoas precisam querer ver você. Quem sabe o que próximos meses trarão, se continuarmos recebendo boas resenhas, provavelmente as pessoas vão começar a notar-nos.
No tocante a um vídeo para a promoção do CD, isso seria fantástico! Embora ainda não existam planos de fazer um agora, só podemos esperar que possamos fazer isso no futuro, para este disco ou para o próximo.


Metal Samsara: Agradecemos muito por sua gentil atenção e palavras, então, por favor, deixe sua mensagem para os fãs brasileiros e leitores do Metal Samsara.

Beist:  Queremos agradecer a você pela oportunidade de introduzir nossa banda aos Metal Heads brasileiros, e esperamos que gostem de nossa música e que nos confiram se gostarem de Black Metal Sinfônico/Atmosférico! Quem sabe, poderemos ir visitá-los no futuro...


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