Autores: João Gordo, André Barcinski
Editore: Darkside Books
Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia
O Rock no Brasil sempre teve figuras icônicas, mas poucos atingem o ponto de serem celebridades que abarcam públicos diferentes, por motivos diferentes. E verdade seja dita: nenhum é tão polêmico, amado e odiado na mesma intensidade, como João Francisco Benedan, que todos nós conhecemos como João Gordo, vocalista do quarteto RATOS DE PORÃO. E enfim, após tantos anos, chega a todos “Viva La Vida Tosca”, a autobiografia de João.
E acreditem: é uma das melhores do gênero, se comparando em termos de diversão a “Eu sou Ozzy”.
O prefácio é de Fernanda Young, escritora, atriz, roteirista e apresentadora de televisão brasileira, que confessa ter sido Punk e fã de João Gordo. É interessante neste ponto reparar em uma visão sobre João diferente do que estamos acostumados em termos de shows, TV e revistas. Ela expõe o lado da personalidade do ser humano Francisco João, que alguns (os mais aptos) percebem apenas subjetivamente.
Logo vem o prólogo, pelo próprio João, narrando momentos de sua vida como músico, e então, começamos a mergulhar na vida desse homem que está por trás do mito.
Nascido em 13/03/1964, poucos dias antes da tomada do poder executivo do Brasil pelos militares, filho de Milton, um policial, e Dona Laura, uma dona de casa e cabeleireira, vemos a história de vida de João perfazendo vários momentos da história de eventos de nosso país, até seus primeiros contatos com a música, e por fim, sua entrada nos movimentos underground de sua época. A narrativa de João é fluida, e faz revelações sobre o cenários Punk, Hardcore, Metal e mesmo sobre o Rock Brasil, sempre regados a uma enorme sinceridade e certa dose de ironia.
Através de suas palavras, ficam claros os motivos das brigas e reconciliações com vários músicos, como Rédson do CÓLERA e Chorão, e mesmo as infinitas perseguições que sofreu (e sofre) até os dias de hoje. É fácil entender suas opiniões fortes e de como as mudanças musicais e mesmo algumas de cunho profissional (como ter sido apresentador na MTV e na Record) lhe causaram problemas com pessoas de visão mais fechada, sem perspectivas de um mundo mais real e palpável. Coisas que todos vivem.
As tosqueiras do cenário musical, a doideira das gravações dos discos e das tours do RxDxP por Brasil e Europa, a relação com produtores de eventos e mesmo com Harris Johns (famoso produtor de discos com quem trabalhou o grupo em “Brasil” e ‘Anarkophobia”), muitas estórias, algumas engraçadas e outras muito tristes, constam no livro. A relação com os irmãos Cavaleira e o SEPULTURA finalmente é esclarecida, as suas internações, bem como as motivações do vocalista para embarcar em projetos na MTV e depois na TV Record, tudo esclarecido para que todos possam tirar suas próprias conclusões. E como são comoventes as partes em que o autor fala de sua relação com a esposa Viviane (que este autor teve o prazer de conhecer em um show da banda no Rio de Janeiro) e os filhos, bem como com a mãe e pai. O epílogo nos deixa com lágrimas nos olhos.
A diagramação, cheia de fotos de vários momentos da longa carreira de João, bem como recortes de jornal e mesmo posters de shows, zines e tudo mais estão no livro. Nada fica de fora, tudo está esclarecido. E isso apresentado com capa dura, um marcador com fita (como se encontra em livros mais velhos), e um martelo de papel.
João e o filho Pietro. |
Amem ou odeiam, leiam, pois “Viva La Vida Tosca” é a resposta para muitas das perguntas que sempre teve sobre essa figura carismática e polêmica de nosso cenário musical. Talvez, com certas reservas, João Gordo possa a ser comparado a Ozzy Osbourne em termos de altos e baixos, de idas e vindas, de problemas e soluções, e que nos leva do riso às lágrimas na mesma intensidade.
Ah, sim: quando estiver lendo, lembre das polêmicas, pois todas são abordadas, como a célebre estória do fechamento do Circo Voador pelo prefeito da cidade do Rio de Janeiro, ou o porradeiro na entrevista com o playboy/bad boy Dado Dolabella.
Além disso uma constatação do próprio João, que tem sido bastante abordada em textos conscientizadores atuais: que enquanto Punks, Carecas e Headbangers perdem tempo o depreciando não só a ele, mas a outros artistas com regras e certa moralidade dos meios, artistas mais populares foram extremamente simpáticos e solícitos com ele.
É, João, impossível não te amar depois de saber mais sobre ti...
Hoje, João possui um programa no Youtube, "Panelaço do João Gordo", e abaixo, um dos programas, onde a convidada é Fernanda Lira, do NERVOSA, e o chef Will:
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