28 de dez. de 2016

2016: ano de perdas, de ganhos, e de questões a serem respondidas no futuro


Bem, chegamos ao final de 2016, e coincidentemente, resolvi escrever uma retrospectiva no dia em que completa um ano sem a presença de “Mr. Rock’n’Roll” entre nós, Lemmy.


Assim, fica claro que desde então, o Metal e o Rock, e mesmo a música de bom gosto foi perdendo grandes nomes. Nomes essenciais, de impacto, sendo ele do Metal ou não. David Bowie, Jimmy Bain, Glenn Frey (do EAGLES), Signe Toly Anderson (JEFFERSON AIRPLANE), Maurice White (EARTH, WIND & FIRE), Keith Emerson (EMERSON, LAKE & PALMER), Naná Vasconcelos (percussionista brasileiro que poderia ter gravado as partes dos instrumentos de percussão no “Roots” do SEPULTURA), Billy Paul (cantor de R&B americano famoso por “Me and Mrs. Jones”), Prince, Roye Albrighton (que passou pelo grupo de Rock Progressivo NEKTAR), Lidoka (do grupo AS FRENÉTICAS), Pete Burns (da banda Pop DEAD OR ALIVE), George Michael, entre tantos outros. Alguns causaram grande comoção, outros nem tanto, mas todos são grandes perdas para a música. Óbvio que outras perdas ocorreram em outros ramos das artes que causaram comoções ainda maiores, como Carrie Fisher (a eterna princesa Leia Organa, da franquia cinematográfica “Star Wars”), mas pretendo me ater apenas ao aspecto musical.

David Bowie

Jimmy Bain

Naná Vasconcelos

Maurice White

Billy Paul

Óbvio que todos sabemos que a passagem ocorre mais dia, menos dia. É algo que todos já estão conscientes que vai acontecer. Mas em 2016, realmente Thanatos andou trabalhando com afinco, levando muitas personalidades, músicos e outros que vão deixar saudades. Alguns que nunca poderão ter preenchido essa sensação de vazio que deixam.

Carrie Fisher
Paralelo a isso, o ano de 2016 também marca o anúncio do fim de bandas sagradas. BLACK SABBATH está em sua tour final, assim como o DEEP PURPLE já anunciou que está começando sua tour de despedida. Steve Harris deu algumas entrevistas em que suas declarações mostram um tom de cansaço, de que o IRON MAIDEN também pode estar entrando em processo de aposentadoria. Ou seja, gigantes que andam longe de seus tempos áureos em termos de produção de discos estão dando mostras de cansaço.

Existem duas visões sobre este ponto:

1. É algo triste saber que alguns heróis estão parando, cessando carreiras longas e bem estabelecidas, e deixando órfãs legiões de fãs. Mas o que mais se poderia pedir de bandas que já fizeram tanto? E será que um fã não sente uma pontada no coração de decepção quando a banda diminui o ritmo de suas músicas, baixa afinações, tudo para se adaptar ao que o vocalista pode fazer? Vejam o JUDAS PRIEST por exemplo. No show do Wacken em 2015, ao executarem “Painkiller”, percebe-se isso claramente. Sei que parece que estou ofendendo um gigante, mas este autor que vos escreve ama esta banda há 32 anos, já os viu ao vivo no auge. É constrangedor, pois nisso, se paga para ver a banda ao vivo, mas não para ouvi-la tocar com excelente desempenho.

2. É muito bom, pois isso permite que o foco seja mudado, e que novatos tenham uma chance maior ao Sol. Muitas vezes, os mais jovens acabam ficando eclipsados pela sombra dos gigantes.

Amon Amarth

Nesse segundo aspecto, muitos nomes foram se firmando ainda mais nesse ano, crescendo e estabelecendo uma sólida base de fãs. Alguns exemplos ficam por conta do AMON AMARTH (nessa tour do disco mais recente, “Jomsviking”, chegaram a ter uma resposta do público maior que o todo poderoso IRON MAIDEN em um grande festival na Europa, conforme depoimento de um amigo que estava lá, sem mencionar que eles crescem em termos de fãs a cada novo disco), GHOST (que a cada lançamento vai angariando mais e mais fãs sob a mística de seu “Rock Horror Show”), e o SABATON (que além de se apresentar em grandes festivais há alguns anos, a cada disco vai crescendo absurdamente em número de fãs). Óbvio que muitos fãs no Brasil começarão a ter ataques de pelancas ao lerem estas palavras, como seu eu estivesse escrevendo algo blasfemo. Mas como não existe mais Santa Inquisição e eu não serei queimado em praça pública, prefiro me ater aos fatos ao invés de opiniões, e usar as sábias palavras de Isaac Newton: “Sou amigo de Platão, amigo de Aristóteles, mas antes de tudo, sou amigo da verdade”.

Sabaton

Os movimentos políticos e a crise econômica do país causaram muito alvoroço no cenário Metal. Mas é algo esperado, uma vez que não estamos isentos da realidade causada pelas reviravoltas políticas dos últimos anos. Mas direita ou esquerda, liberal ou conservador, tais fatos mostraram mazelas entre os fãs de Heavy Metal, que mostraram (em ambos os lados) uma completa intolerância ao pensamento do outro. E me perdoem, mas se não existe respeito mútuo, o sonho da unidade do cenário naufragará sempre. Aliás, o sonho de um país melhor naufraga, pois não se pode ter um país melhora para um segmento apenas, mas para todos.

Ainda sobre política, houveram bandas que causaram comoções no Metal mais pelas polêmicas do que pela música em si. Não questiono a qualidade do que elas fazem, mas pelas polêmicas um tanto quanto desnecessárias. MUNICIPAL WASTE com a bandeira com a efígie do Presidente norte-americano eleito Donald Trump atirando na própria cabeça, ou o VIOLATOR no Brasil com seu “foda-se Bolsonaro” foram episódios lamentáveis de quem, no mínimo, pode se achar cheio de atitude política, mas que esquece de que as pessoas possuem liberdade de expressão, inclusive de serem conservadoras ou liberais conforme desejem (o que não se pode é ir contra as leis do país). No mínimo, esse tipo de atitude não parece expressão, mas oportunismo. Toda polêmica chama a atenção, especialmente de bandas que ou estão em decadência ou nunca chegaram a lugar algum. E falar que o Metal é de esquerda ou direita é uma falácia. Ele é um estilo rebelde, que na direita conservadora é mal visto, e na esquerda, vira defunto. E engajamento político, que deveria ser algo pessoal de cada um, acaba se tornando um discurso de ódio contra outros. Se não vale discurso de ódio contra uma idéia, não deveria existir discurso de ódio contra a oposição a esta idéia. Aliás, o mundo já anda tão cheio de ódio que o Metal deveria sim se levantar contra isso, pois nada justifica tal sentimento, seja você pró ou contra a causa que seja.

Aliás, falar que um gênero musical que cresceu graças ao suporte financeiro das grandes gravadoras no passado tem conotação de esquerda é algo que somente um néscio em termos de História do gênero pode afirmar...

Voltando ao aspecto meramente musical, 2016 também foi um ano de muitas surpresas em termos de bandas mais velhas que se mostraram produtivas. Ouvir os discos de bandas como “Cemetery Junction” do DEMON, “Tygers of Pan Tang” do TYGERS OF PAN TANG, e “Fear No Evil” do QUARTZ nos fazem refletir o quanto algumas bandas que nunca foram gigantescas ainda podem contribuir muito, justamente por não estarem tão pressionadas como as bandas de maior nome.

Metallica

2016 também viu o renascer do METALLICA com “Hardwired... To Self-Destruct”, que foi muito bem recebido por público (especialmente pelos mais fãs mais antigos da banda), o MEGADETH mostrando fôlego em “Dystopia”, o ANTHRAX fazendo o ótimo “For All Kings”. Se o SLAYER deixasse “Repentless” para este ano, poderia se dizer que 2016 seria ano do renascimento do Big 4, e menções honrosas para o TESTAMENT com “Brotherhood of the Snake” e outras tantas bandas que fizeram ótimos discos. Tudo bem que estes citados podem não estar em seu auge, mas os discos são muito melhores que tantos outros que vimos por aí.

Megadeth
Testament

Falando de Brasil, bandas consolidadas como ANGRA, SEPULTURA e KRISIUN andaram colhendo frutos dos discos que divulgaram nesta época. Ao mesmo tempo, o underground mostrou muita força com DARKTOWER, ANCESTTRAL, LACERATED AND CARBONIZED, PANZER, TAMUYA THRASH TRIBE e outros que lançaram discos novos em 2016, e deixam claro que o cenário nacional anda muito bem em termos musicais. Só falta ao público nacional perceber isso.

Lacerated and Carbonized

DarkTower

Tamuya Thrash Tribe


Ainda sobre o Brasil, nomes de novatos como MELANIE KLAIN, AFFRONT, CHRONICODE, UNNATURE e outros dentro do underground já mostram talento e muita força, bem como veteranos como o FÓRCEPS superam dificuldades para se manterem ativos. É algo bastante promissor.



Os shows andam melhorando, e o cenário do Rio de Janeiro, que sofreu tanto com o radicalismo e divisões internas infantis e sem nexo, anda dando sinais de recuperação graças ao festival HELL IN RIO, que em sua primeira versão teve bastante sucesso ao ponto de uma segunda versão já estar sendo alinhavada. O próprio underground já mostra recuperação, já que o show de lançamento do TAMUYA THRASH TRIBE, em uma quarta-feira distante de feriadões, lotou, assim como o show do ROTTING CHRIST teve bom público e o evento beneficente com EVIL INSIDE, INDISCIPLINE, UNNATURE e NERVOSA lotou.

Ou seja, uma das cenas clássicas do Metal e do Rock no Brasil começa a reagir. Espero de coração que o mesmo esteja ocorrendo em todo país.

E por falar no trio NERVOSA, talvez tenha sido a banda nacional que mais se destacou em 2016, como já estava fazendo no ano de 2015.

Nervosa

Além do lançamento do ótimo segundo disco (“Agony”, lançado pela Shinigami Records), do destaque em várias revistas em entrevistas (inclusive fora do país), o trio anda em uma sucessão de shows enorme. Nem mesmo a saída da baterista Pitchu fez com que a banda desistisse das datas. E assim, se tornam o nome mais destacado do Metal nacional fora do Brasil, inclusive sendo idolatradas na Europa (onde estarão no primeiro trimestre de 2017, em tour com o DESTRUCTION). 

Nervosa

No mais, 2017 se aproxima, e este autor gosta de acreditar que será um ano melhor não só para o Metal, já que uma nova versão do Rock in Rio se aproxima (e esperamos os nomes a serem confirmados), bandas consagradas lançarão seus discos neste ano que está chegando, algumas promessas terão a oportunidade de se firmarem...

2017 promete, então, vamos pensar positivo!

E eu aproveito para deixar meus votos de um Ano Novo cheio de alegrias e conquistas para todos, seja você fã de Metal ou outro estilo qualquer. 



Por Marcos “Big Daddy” Garcia.
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