19 de set. de 2016

VOCIFERATUS - Mortenkult (álbum)



2016
Nacional

Nota: 10,0/10,0


Músicas:

1. Eloi, Eloi, Lama Sabachthani
2. Blood Runs Over Bayt Lahm
3. The New Opposition
4. Storms Are Mine
5. Terrível Coisa é Cair nas Mãos do Deus Vivo
6. Mortenkult
7. Chaos Legions Battlefront
8. Where Hope Dies
9. Amenti


Banda:


Pedrito Hildebrando - Vocais
Luiz Mallet - Guitarras
Filipe Lima - Guitarras
Lucas Zandomingo - Baixo
Augusto Taboransky - Bateria


Contatos:

MS Metal Agenci Brasil (Assessoria de Imprensa): http://www.msmetalagencybrasil.com/ptbr/artista-vociferatus/

Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Uma das melhores experiências de se pode ser um escritor de Metal é acompanhar a evolução de algumas bandas desde sua gênese mais primordial e ir observando o quanto elas evoluem e amadurecem. Óbvio que nem tudo é um mar de rosas e decepções ocorrem, o que é extremamente normal. Mas existem aquelas que nascem para ser grandes, para modificar as regras do jogo, e fazer as coisas a seu modo. E isso, meus caros, é traço dos grandes, de bandas que não aceitam a zona de conforto sob o pretexto de "não queremos fazer nada de novo". 

E nisso, no se reciclar e crescer sempre, nós temos no quinteto carioca VOCIFERATUS um de seus nomes mais fortes no cenário nacional. Tal idéia nasce após poucas ouvidas em "Mortenkult", que após uma laboriosa gestação, chega para buscar ser um dos discos do ano. 

E do jeito que está eles conseguem!

A banda não abriu mão de seu jeito Blackned Death Metal em nada desde o Demo CD "Vociferatus" de 2010, e depois com o EP "Blessed By the Hands of Flames" de 2011. Mas o grupo foi aglutinando musicalidade e influências musicais diferenciadas, crescendo e buscando se diferenciar. E conseguiram, pois "Mortenkult" dista dos clichês do gênero, pois existem partes percussivas muito bem utilizadas, guitarras limpas, teclados, backing vocals insanos, vocais com timbres diferentes e outros detalhes muito inteligentes. Mas se você curte música agressiva, capaz de destruir seu pescoço, podemos garantir que este disco é feito para você.

Produzido por Luiz Freitag e Jon Marques, e tendo a masterização feita no GrindHouse Studios na Grécia por George Bokos (ex-guitarrista do ROTTING CHRIST, atualmente no STONE COLD DEAD), a sonoridade de "Mortenkult" é surpreendente. Brutal e opressiva como a banda sempre foi, mas devido à estar seca, o peso é absurdo e se consegue compreender cada mínimo detalhe das músicas (e não são poucos).

Na arte gráfica, temos mais um trabalho primoroso de Marcelo Vasco (da PR2Design), que soube dar uma capa que seja coerente com a proposta musical/lírica do quinteto. É a expressão agressiva e mórbida do que o VOCIFERATUS faz musicalmente.

O disco é repleto de convidados: Dominic Mongrain-Thériault, mais conhecido como Tal (vocalista do grupo canadense CRYPTIK HOWLING), participa dos vocais em "The New Opposition", Santiago Galdino e Leonardo Dias nas percussões brasileiras (com os arranjos criados por Thiago di Sabbato), Arthur Kauffman fez o trabalho das percussões orientais, Sandro Shankara tocou cítaras, Bruno Sá fez as partes de piano, Natália Espinosa deu uma canja nos vocais, e os corais estão cheios de convidados ilustres, como Thiago Pereira (baterista do SOLIFVGAE), Renan Brito (guitarrista/vocalista do SPREADING HATE e ESPERA XIII), Eduardo Ayres (baixista do SPREADING HATE), Rodolfo Ferreira (baixista do DARKTOWER), Flávio Gonçalves (vocalista do DARKTOWER), e Bruno Valente (ex-baixista do DARKTOWER). E cada um deles deu um toque de classe ao disco.

"Mortenkult" nasceu em berço de ouro, pois sua demorada gestação permitiu o VOCIFERATUS atingir o máximo de sua criatividade no momento, e é um dos melhores discos do Metal extremo nacional em sua história. E eu, Marcos Garcia, falo muito sério quando digo isso, pois a ousadia da banda transcendeu barreiras. Todos os arranjos são caprichados, a dinâmica das músicas não deixa de ser espontânea em momento algum. E não, o quinteto não se limitou por regras ou modelos, mas criou o próprio modelo. 

Dissecando o CD (pois não tem "melhores momentos" nele):

"Eloi, Eloi, Lama Sabachthani" - Uma introdução que mostra sons de uma guerra com pessoas orando em árabe ou aramaico ao fundo, mostrando que o grupo está em sintonia com o que ocorre no mundo atual. E para quem não matou, o título vem do aramaico e significa "meu deus, meu deus, por que me desamparou?", passagem célebre da bíblia.

"Blood Runs Over Bayt Lahm" - Um torpedo de brutalidade, veloz e opressivo, com a cara do grupo. Apesar de ser uma música um pouco mais simples, vemos surgir arranjos de piano que vão dando aquele toque diferencial à canção, onde a base rítmica de Lucas (baixo) e Augusto (bateria) se destaca bastante. E o encerramento vem com um dedilhado que nos lembra a música do Oriente Médio (para quem não pegou a idéia, "Bayt Lahm" é o nome em hebraico de Belém, cidade onde nasceram Davi e Jesus).

"The New Opposition" - Uma cítara melodiosa dá a partida, e o quinteto começa a mostrar as garras, criando alguns arranjos de guitarra bem diferentes, fora algumas mudanças rítmicas de primeira. E vai fazer as pessoas gritarem o refrão nos shows. Obviamente, o destaque vai para o ótimo trabalho nos vocais, pois a participação de Tal dá um toque diferencial, embora Pedrito seja um dos grandes vocalistas da atual geração do Metal extremo nacional. E que belas percussões são encontradas próximo ao fim da canção!

"Storms Are Mine" - Primeiro Single de divulgação do álbum. A velocidade é brutal, embora o grupo use de passagens diferenciadas nas guitarras (verdade seja dita, Luiz e Filipe estão destilando veneno extremo durante todo o disco), fora passagens de teclados, baixo e bateria mudando os tempos sem perder a coesão e peso.

"Terrível Coisa é Cair nas Mãos do Deus Vivo" - É uma instrumental curta, focada no em percussões e a melodia hipnótica de cítara, que nos trás à mente as regiões do Oriente Médio assoladas por conflitos religioso-étnicos extremos.

"Mortenkult" - O quinteto é capaz de gerar uma muralha sonora absurda e intransponível com seu instrumental. Algumas incursões das guitarras aumentam uma sensação soturna, e logo momentos de guitarras limpas com toques percussivos e vocais femininos aumentam a aura opressiva da música. E solos de guitarra melodiosos começam a sair pelos falantes acompanhados de percussões hipnóticas, antes de voltarem ao andamento original e os vocais urrados deixarem tudo ainda mais extremo. E o encerramento é todo feito com percussões (lembrando que o culto aos mortos tem profunda influência indígena).

"Chaos Legions Battlefront" - Curta e grossa, essa aqui veio para saciar o lado mais extremo do grupo, embora os arranjos de guitarra estejam de primeira mais uma vez, fora as variações de timbres dos vocais, e o coral de muitas vozes sendo usado com maestria no refrão.

"Where Hope Dies" - A banda abre a canção com bumbos velozes e o baixo acompanhado perfeitamente na base rítmica, mas o uso de melodias melancólicas é assombroso. E isso sem falar que é uma canção com andamento mais cadenciado, enriquecida com detalhes de guitarra perfeitos, criando uma aura soturna e depressiva, mais alguns vocais limpos bem pensados. É uma música atípica da banda, mas que está perfeita no disco, dando aquele toque diferenciado tão essencial.

"Amenti" - Fechando o disco, temos uma faixa cheia de mudanças e passagens diferenciadas. O início é épico, com um toque egípcio perfeito, ótimos teclados e coral de vozes intocado. A dinâmica da banda está perfeita, com arranjos em velocidade que se alterna nos momentos certos, a cozinha rítmica com peso e muitas mudanças de ritmo (apresentando momentos brilhantes), momentos de acordes limpos de guitarra (com um belo solo) e bateria regendo. Novamente, para os que não sabem, "Amenti", na mitologia egípcia, é o templo que existe no post mortem, onde Osíris, deus dos mortos, julga as almas daqueles que faleceram.

No mais, "Mortenkult" é daqueles discos que fascinam na primeira ouvida, e nas seguintes, vamos percebendo o quanto ele está diante de seu tempo.

Parabéns, VOCIFERATUS, por ousar, por buscar ser diferente. E por fazer de "Mortenkult" um compêndio de como ser criativo, inovador e bruto no Metal extremo.

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