2016
Importado
Nota: 10,0/10,0
Músicas:
1. Carthago Delenda Est
2. Across the Wolf's Blood
3. Annibalem
4. With Tooth and Nail
5. Dark Days of Rome
6. Scipio Indomitus Victor
7. Mare Nostrum
8. Zama: Where Tusks are Buried
9. Excidium
10. Sowing Salt
Banda:
Traianvs - Vocais
Fabio - Guitarra base
Nero - Guitarra solo
Caligvla - Baixo
Commodvs - Bateria
Contatos:
Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia
146 A.C.
Após as três Guerras Púnicas, o Império Romano enfim destrói Cartago, cidade do Norte da África que tendia a se reestruturar militarmente após cada derrota, e representava uma ameaça aos interesses de Roma no Mar Mediterrâneo.
Um dos maiores defensores do fim de Cartago foi o célebre senador romano Catão, o Velho. O mesmo sempre usava a mesma frase para findar seus discursos: "Ceterum censeo Carthaginem delendam esse" ou "Ceterum autem censeo Carthaginem delendam esse" (que em latim significa "Considero ainda que Cartago deve ser destruída"), e que acabou sendo simplificada para "Carthago Delenda Est", ou seja, "Cartago deve ser destruída".
E a célebre frase é relembrada pelo quinteto italiano ADE, que chega com uma obra-prima, que tem por nome "Carthago Delenda Est", uma tempestade Death/Black Metal de bom gosto.
É preciso estabelecer que o ADE tem uma personalidade musical brutal e violenta, mas cheia de energia, usando temáticas referentes à cultura Greco-Romana. Agora imagine esse tipo de tema tendo como elementos vocais guturais de primeira linha (além de momentos mais sussurrados ótimos, e a dicção não é comprometida em momento algum), uma dupla de guitarras estuprando os ouvidos alheios com riffs velozes e destruidores (mas sempre com bom gosto e boa técnica), e um baixo e bateria mostrando uma técnica ótima e velocidade extrema em alguns momentos, mas com muito peso. Mas ao mesmo tempo em que é agressivo, o trabalho musical do quinteto é grandioso, com uma atmosfera épica que permeia cada canção do CD.
A mensagem é clara: Cartago deve ser destruída, e você deve se render ao trabalho deles, sem concessões!
A produção é de Riccardo Studer, que acompanhou as gravações, além de fazer a mixagem e masterização do CD. E ele conseguiu conferir ao quinteto uma sonoridade brutal, azeda e moderna, que encaixa muito bem com o contexto sonoro do grupo. Mas ao mesmo tempo, é clara e limpa, nos permitindo compreender a música do grupo sem dificuldades.
A arte é linda, e transpira o clima tenso e selvagem de uma das Guerras Púnicas. Aparentemente, a luta entre o general cartaginense Hannibal Barkas (célebre por atravessar os Alpes com uma guarnição de infantaria, cavalos e elefantes) contra as centúrias romanas em Zama, embora isso seja referente à segunda Guerra Púnica. Mas assim mesmo, está muito boa, dando corpo à música brutal do ADE.
Mesmo sendo uma banda que transita entre o Death/Black Metal e o Technical Death Metal, o ADE não passa o tempo todo em uma velocidade de quebrar pescoços. Não, eles sabem usar alguns momentos mais cadenciados, ou então, velocidades não tão extremas. Mas tudo sob um alinhavo melódico de primeira, oculto por tanta brutalidade musical. E ainda conseguem encaixar algumas orquestrações ótimas e teclados refinados, ambos tocados por Riccardo Studer. E vejam que nem citei que a banda usa passagens em latim, ótimos refrões, e estruturas harmônicas de primeira.
"Carthago Delenda Est" é um disco incrível, quanto mais se ouve, mais se descobre de detalhes e se apaixona por ele.
Melhores momentos:
"Carthago Delenda Est" - Após uma introdução cheia de nuances étnicas/orientais, a banda entra com uma música rápida e violenta ao extremo, mas mostrando uma qualidade ímpar, com momentos grandiosos e refrão empolgante. Destaques óbvios para os vocais de Traianvs e a bateria de Commodvs. Mas não se perca, porque existem orquestrações épicas preciosas permeando a canção.
"Annibalem" - É outra cheia de orquestrações que lembram o Oriente Médio, mas sem que o quinteto perca o impacto. Aqui, a pegada musical do grupo é veloz e um pouquinho mais direta, embora cheia de mudanças de ritmo incríveis. E nos momentos mais lentos, se percebe a técnica de Caligvla no baixo.
"With Tooth and Nail" - É incrível como a brutalidade técnica do quinteto consegue ser de uma beleza magnífica. Aqui, ao mesmo tempo em que a banda apresenta uma boa técnica instrumental, o andamento é mais cadenciado e azedo, adornado por orquestrações pontuais. Óbvio que os vocais se destacam bastante, mas Fabio e Nero nas guitarras criam riffs e arranjos de cair o queixo.
"Dark Days of Rome" - Aliando velocidade e técnica de maneira equilibrada, o quinteto cria uma música arrasadora, com detalhes musicais preciosos. Cadenciada em algumas partes, mais veloz em outras, é sempre épica, permeada de teclados climáticos dando um sabor diferenciado ao trabalho técnico e feroz das guitarras.
"Scipio Indomitus Victor" - O lado épico prevalece, mesmo que o fundo seja brutal e técnico. É uma característica intrínseca e particular do ADE, algo que os faz não ser apenas mais um. Reparem bem como os tempos vão mudando de forma harmoniosa em meio à brutalidade imposta por baixo e bateria (a solidez da base rítmica da banda é algo surpreendente).
"Zama: Where Tusks are Buried" - Mais uma vez, a banda opta por explicitar uma pegada mais épica, recheada de belos teclados que preenchem os espaços. Mas o trabalho técnico da banda é ótimo, com tempos quebrados e muito peso. E isso faz com que os vocais e as guitarras se destaquem bastante.
"Sowing Salt" - Salgar o terreno é uma prática antiga para se evitar que qualquer coisa nascesse. E usando este tema, o quinteto cria uma explosão de pura agressividade, mais cheia de momentos técnicos.
No mais, "Carthago Delenda Est" é o disco perfeito para aqueles que desejam desbravar novas sonoridades dentro do Metal extremo, além de uma aula de História.
Avante, Centuriões do ADE!