2016
Nacional
Nota: 10,0/10,0
Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia
Músicas:
1.
Arrogance
2. Theory
of Conspiracy
3.
Deception
4.
Intolerance Means War
5. Guerra
Santa
6. Failed
System
7. Hostages
8.
Surrounded by Serpents
9. Cyberwar
10.
Hypocrisy
11.
Devastation
12.
Wayfarer
Banda:
Fernanda Lira - Baixo, vocais
Prika Amaral - Guitarras, backing vocals
Pitchu Ferraz - Bateria
Contatos:
Facebook (fã clube brasileiro)
Resenha: Não é de hoje que os debates sobre qual o lugar da
mulher dentro do Metal e do Rock andam ficando acirrados. No fundo, em meio a
tantos fatos e boatos, militâncias e ideais (muitas vezes com motivos, outras
não tão nobres), tiroteios ideológicos e acusações mútuas, aquilo que é mais importante
no que tange avaliar o trabalho de uma banda é deixado de lado, e justamente
aquilo que realmente importa: pelo seu valor como música. E nisso, meus caros
leitores e leitoras, não é importante se a banda em questão é composta de
pessoas com bilau ou sem bilau.
Talvez a banda que mais sintetize isso é o NERVOSA, power
trio feminino de Thrash Metal de São Paulo, que anda ganhando mais e mais
espaço no meio, seja no Brasil ou no exterior. E pelo visto, em
"Agony", as primeiras damas do Metal brasileiro realmente estão
dispostas a irem mais longe do que se poderia pensar.
De "Victim of Yourself" para cá, a banda
excursionou e tocou em vários festivais e show pelo mundo, tanto que o que se
ouve em "Agony" é fruto de muita maturidade. O Thrash Metal furioso
de antes ganhou maior diversidade musical e influências interessantes, tornando
o trabalho do grupo ainda mais precioso. Agora, se percebe influências de Death
Metal da escola dos anos 90, um pouco de Punk/Hardcore também deixa sua marca
(ouçam como isso fica evidente em "Guerra Santa"), e algumas melodias
agressivas estão claras.
Individualmente, a banda cresceu muito: Fernanda está
cantando bem melhor, com uma grande diversidade de timbres, bem como seu
trabalho nas quatro cordas deu uma melhorada substancial. A técnica de Prika
nas guitarras está bem melhor, com riffs certeiros e empolgantes, além de solos
melodiosos e que ficam na nossa mente. E Pitchu mostra-se uma batera de muito
peso e energia, além de ter trazido ao trabalho do NERVOSA uma diversidade
rítmica ótima, fugindo do ponto comum do Thrash Metal.
E assim, unindo esta evolução pessoal de cada uma delas,
"Agony" aparece como um álbum de primeira linha, mostrando que elas
não se contentam em ser mais uma banda, mas querem ir ainda mais adiante,
conquistar aquilo que puderem. E desse jeito, elas chegam lá!
Nervosa |
A capa é de Godmachine, que ficou ótima, expressando em
termos visuais o que o trio nos brinda na forma de música. E foge do ponto
comum do Thrash Metal que vems por aí.
Ser grande implica em ser diferente, e o NERVOSA mostrou que
não se encaixa em rótulos que lhes atribuíram antes. Não, pois a música do trio
está conseguindo soar cada vez mais como elas mesmas, com uma cara diferente. A
espontaneidade não foi afetada, mas o esmero é enorme, o cuidado estético em
tornar cada uma das canções do CD em um laço que a todos acaba pegando.
Arrogance - É um típico Thrash Metal veloz e agressivo, e a
influência de Death Metal seja sensível em alguns riffs e pela brutalidade
detonada em nossos ouvidos. Óbvio que o trabalho das guitarras é de primeira,
bem como alguns backing vocals mais guturais.
Theory of Conspiracy - A força Thrasher da banda está clara
mais uma vez, mas reparem como a bateria mostra grande diversidade rítmica,
apresentando levadas de Death Metal, mas também alguns momentos grooveados da
sessão rítmica.
Deception - Alguns urros guturais e o uso de timbres não tão
agudos dos vocais mostram o quanto a banda amadureceu. E a canção em si tempo
um tempo não tão veloz, focando mais no peso e interação de guitarras e vocais
(aliás, o solo é muito bom).
Intolerance Means War - Certo ar de Crossover aparece no
meio dessa canção furiosa, mais uma vez com a técnica precisa e brutal da
bateria dando contrastes diferenciados a esta canção tão rica em mudanças de
andamento. Mas o baixo mostra em muitos momentos seu valor.
Guerra Santa - Cantada em português, o lado mais Hardcore/Crossover
da banda fica bem evidenciado, um jeitão meio RDP aqui e ali aparece, mas casa
bem com o trabalho do trio.
Failed System - Mais uma canção de Thrash Metal, com aquelas
famosas guitarras empolgantes, mas mesmo assim, cheia de momentos brutais que
encaixaram como uma luva. E como o baixo aparece bem durante as mudanças de
ritmo.
Hostages - A música do vídeo oficial, logo, é uma das melhores
(se é que o disco tem isso). Mais um Thrash Metal de primeira adornado com
influências mais brutais e opressivas (veja como os riffs são cheios de peso e
impacto). E como os vocais estão de primeira.
Surrounded by Serpents - Assim como "Deception",
urros guturais dão as caras mais uma vez, embora o trabalho instrumental esteja
mais cheio de técnica, além de muito esporrento! E isso é um elogio, pois a
qualidade é alta.
Cyberwar - O baixo mostra-se no início em uma introdução
muito interessante, mas logo é seguido por guitarra e bateria. Óbvio que um
toque mais moderno e atualizado surge de maneira espontânea. E mais uma vez, a
cozinha rítmica da banda está em grande forma, fora um refrão de primeira.
Hypocrisy - Esta já nos lembra um pouco mais o que a banda
fez em "Victim of Yourself", com a velocidade não tão extremada e um
lado Thrasher mais tradicional. É justamente aqui que se percebe a melodia mais
evidenciada nas guitarras, em especial nos solos ótimos que Prika desencadeia,
embora o baixo mostre muito sua força.
Devastation - Rápida e intensa, mostra toques de técnica
mais grooveada, ótimo refrão e algumas mudanças de tempos bem interessantes.
Mas cuidado, pois a bateria de Pitchu está mais uma vez fantástica.
Wayfarer - Novamente o baixo dá início à canção, e surge
aquela influência do Southern Rock/Blues, mostrando ótimos vocais limpos
melodiosos (sim, Fernanda canta muito bom com tons mais amenos e suaves
também), mas logo o peso e a cadência do Thrash Metal assumem o comando, e a
música fica naquela levada em velocidade mediana. Mas atentem que nesses seis
minutos de duração, a banda mostra uma diversidade musical que é não
convencional, e no final, apenas a voz aparece limpa em um canto Bluesy que nos
trás algo de Janis Joplin à mente. Talvez seja a faixa que mostre o quanto o
NERVOSA ainda pode dar ao Metal.
No mais, o NERVOSA mostra em "Agony" que não são
de ficarem paradas, mas que sabem usar suas influências musicais individuais
para levar sua música a outro patamar.
Um dos melhores discos do ano, e talvez o Top Thrash Metal
strike do ano!