3 de jun. de 2016

NERVOSA - AGONY (CD)


2016
Nacional

Nota: 10,0/10,0

Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia

Músicas:

1. Arrogance
2. Theory of Conspiracy
3. Deception
4. Intolerance Means War
5. Guerra Santa
6. Failed System
7. Hostages
8. Surrounded by Serpents
9. Cyberwar   
10. Hypocrisy
11. Devastation
12. Wayfarer


Banda:

Fernanda Lira - Baixo, vocais
Prika Amaral - Guitarras, backing vocals
Pitchu Ferraz - Bateria


Contatos:

Facebook (fã clube brasileiro)


Resenha: Não é de hoje que os debates sobre qual o lugar da mulher dentro do Metal e do Rock andam ficando acirrados. No fundo, em meio a tantos fatos e boatos, militâncias e ideais (muitas vezes com motivos, outras não tão nobres), tiroteios ideológicos e acusações mútuas, aquilo que é mais importante no que tange avaliar o trabalho de uma banda é deixado de lado, e justamente aquilo que realmente importa: pelo seu valor como música. E nisso, meus caros leitores e leitoras, não é importante se a banda em questão é composta de pessoas com bilau ou sem bilau.

Talvez a banda que mais sintetize isso é o NERVOSA, power trio feminino de Thrash Metal de São Paulo, que anda ganhando mais e mais espaço no meio, seja no Brasil ou no exterior. E pelo visto, em "Agony", as primeiras damas do Metal brasileiro realmente estão dispostas a irem mais longe do que se poderia pensar.

De "Victim of Yourself" para cá, a banda excursionou e tocou em vários festivais e show pelo mundo, tanto que o que se ouve em "Agony" é fruto de muita maturidade. O Thrash Metal furioso de antes ganhou maior diversidade musical e influências interessantes, tornando o trabalho do grupo ainda mais precioso. Agora, se percebe influências de Death Metal da escola dos anos 90, um pouco de Punk/Hardcore também deixa sua marca (ouçam como isso fica evidente em "Guerra Santa"), e algumas melodias agressivas estão claras.

Individualmente, a banda cresceu muito: Fernanda está cantando bem melhor, com uma grande diversidade de timbres, bem como seu trabalho nas quatro cordas deu uma melhorada substancial. A técnica de Prika nas guitarras está bem melhor, com riffs certeiros e empolgantes, além de solos melodiosos e que ficam na nossa mente. E Pitchu mostra-se uma batera de muito peso e energia, além de ter trazido ao trabalho do NERVOSA uma diversidade rítmica ótima, fugindo do ponto comum do Thrash Metal.

E assim, unindo esta evolução pessoal de cada uma delas, "Agony" aparece como um álbum de primeira linha, mostrando que elas não se contentam em ser mais uma banda, mas querem ir ainda mais adiante, conquistar aquilo que puderem. E desse jeito, elas chegam lá!

Nervosa
"Agony" foi gravado nos EUA (no The Foundation em Oregon as partes de bateria, e o restante no Norcal Studios na Califórnia), e mais uma vez tendo Brendan Duffey na produção, além da mixagem e masterização de Andy Classen. A sonoridade que a banda atingiu é bem mais acabada que antes, com cada música soando pesada, com o capricho ideal para que ouçamos cada arranjo da banda. Mas é bom tomarem cuidado, pois a agressividade dos timbres instrumentais é tamanha que pode chegar a doer os ouvidos dos menos acostumados.

A capa é de Godmachine, que ficou ótima, expressando em termos visuais o que o trio nos brinda na forma de música. E foge do ponto comum do Thrash Metal que vems por aí.

Ser grande implica em ser diferente, e o NERVOSA mostrou que não se encaixa em rótulos que lhes atribuíram antes. Não, pois a música do trio está conseguindo soar cada vez mais como elas mesmas, com uma cara diferente. A espontaneidade não foi afetada, mas o esmero é enorme, o cuidado estético em tornar cada uma das canções do CD em um laço que a todos acaba pegando.

Arrogance - É um típico Thrash Metal veloz e agressivo, e a influência de Death Metal seja sensível em alguns riffs e pela brutalidade detonada em nossos ouvidos. Óbvio que o trabalho das guitarras é de primeira, bem como alguns backing vocals mais guturais.

Theory of Conspiracy - A força Thrasher da banda está clara mais uma vez, mas reparem como a bateria mostra grande diversidade rítmica, apresentando levadas de Death Metal, mas também alguns momentos grooveados da sessão rítmica.

Deception - Alguns urros guturais e o uso de timbres não tão agudos dos vocais mostram o quanto a banda amadureceu. E a canção em si tempo um tempo não tão veloz, focando mais no peso e interação de guitarras e vocais (aliás, o solo é muito bom).

Intolerance Means War - Certo ar de Crossover aparece no meio dessa canção furiosa, mais uma vez com a técnica precisa e brutal da bateria dando contrastes diferenciados a esta canção tão rica em mudanças de andamento. Mas o baixo mostra em muitos momentos seu valor.

Guerra Santa - Cantada em português, o lado mais Hardcore/Crossover da banda fica bem evidenciado, um jeitão meio RDP aqui e ali aparece, mas casa bem com o trabalho do trio.

Failed System - Mais uma canção de Thrash Metal, com aquelas famosas guitarras empolgantes, mas mesmo assim, cheia de momentos brutais que encaixaram como uma luva. E como o baixo aparece bem durante as mudanças de ritmo.

Hostages - A música do vídeo oficial, logo, é uma das melhores (se é que o disco tem isso). Mais um Thrash Metal de primeira adornado com influências mais brutais e opressivas (veja como os riffs são cheios de peso e impacto). E como os vocais estão de primeira.

Surrounded by Serpents - Assim como "Deception", urros guturais dão as caras mais uma vez, embora o trabalho instrumental esteja mais cheio de técnica, além de muito esporrento! E isso é um elogio, pois a qualidade é alta.

Cyberwar - O baixo mostra-se no início em uma introdução muito interessante, mas logo é seguido por guitarra e bateria. Óbvio que um toque mais moderno e atualizado surge de maneira espontânea. E mais uma vez, a cozinha rítmica da banda está em grande forma, fora um refrão de primeira.

Hypocrisy - Esta já nos lembra um pouco mais o que a banda fez em "Victim of Yourself", com a velocidade não tão extremada e um lado Thrasher mais tradicional. É justamente aqui que se percebe a melodia mais evidenciada nas guitarras, em especial nos solos ótimos que Prika desencadeia, embora o baixo mostre muito sua força.

Devastation - Rápida e intensa, mostra toques de técnica mais grooveada, ótimo refrão e algumas mudanças de tempos bem interessantes. Mas cuidado, pois a bateria de Pitchu está mais uma vez fantástica.

Wayfarer - Novamente o baixo dá início à canção, e surge aquela influência do Southern Rock/Blues, mostrando ótimos vocais limpos melodiosos (sim, Fernanda canta muito bom com tons mais amenos e suaves também), mas logo o peso e a cadência do Thrash Metal assumem o comando, e a música fica naquela levada em velocidade mediana. Mas atentem que nesses seis minutos de duração, a banda mostra uma diversidade musical que é não convencional, e no final, apenas a voz aparece limpa em um canto Bluesy que nos trás algo de Janis Joplin à mente. Talvez seja a faixa que mostre o quanto o NERVOSA ainda pode dar ao Metal.

No mais, o NERVOSA mostra em "Agony" que não são de ficarem paradas, mas que sabem usar suas influências musicais individuais para levar sua música a outro patamar.

Um dos melhores discos do ano, e talvez o Top Thrash Metal strike do ano!



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