2016
Independente
Nacional
Nota: 9,0/10,0
Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia
Um dos pontos mais fortes do Doom Death Metal é ele estar
fora de evidência no momento. Longe dos olhos, e perto do coração, o gênero é
capaz de mutar, evoluir e ganhar novos contornos, e quando o vemos este nosso
velho conhecido, ele está renovado e preparado para novos desafios. E conhecer
bandas que surgem em nossas terras, mostrando como se pode evoluir, mas
mantendo as raízes firmes, é algo sempre bom. E ver o que o quinteto SCARPAST,
de Santa Maria (RS), fazendo bonito em seu primeiro disco, "In
Memoriam", não tem preço.
Mantendo o peso, a cadência e mais aura soturna do gênero,
mas impondo alguns elementos novos, o grupo se mostra diferenciado de muitos
que andam por aí. Basta ver que os arranjos pesados e bem feitos de baixo e
guitarras não são lá muito convencionais (lembram muito algumas coisas do Dark
Metal), vocais que usam uma diversidade de timbres ótima (que vão do limpo sussurrado
ao gutural profundo e mesmo alguns tons mais rasgados), a bateria mostrando que
pode ser técnica, pesada e bem trabalhada sem perder a cadência, além de
teclados, flautas e pianos usados com sobriedade e nos momentos mais certos. A
banda sabe ser diversificada, mas consensual, pesada e elegante, e que está
começando a abrir novas possibilidades sonoras para o gênero. E acreditem: eles
são capazes de encaixar belos momentos limpos e com certa melodia no meio de
tanto azedume e peso. É algo bem diferente!
Ricardo Gehling segurou a produção. E o resultado foi uma
gravação mais seca, mas suja e agressiva, longe dos tons graves usados à
exaustão no gênero. E mesmo assim, a banda consegue ter uma clareza instrumental
quase orgânica, sem muitos enfeites e efeitos. Além disso, o trabalho gráfico
de Cássio Lemos ficou ótimo, especialmente pela capa que deixa claro o lado
artístico e soturno do grupo.
Em oito músicas ótimas, fica claro que o SCARPAST é uma banda
ousada, que resolveu não descartar as possibilidades que as influências
musicais individuais de seus membros poderiam render. Usaram de tudo, tiveram a
sabedoria necessária para tanto, e foram capazes de lançar um disco que, sem
exageros, pode se tornar a pedra angular para muita coisa feita no gênero.
Renascido das Águas, Abençoado por Rosas Negras - É uma
introdução sinistra, adornada com teclados e vocais sussurrados, mas bela e bem
cuidada.
My Deep Loneliness - O azedume começa com uma canção capaz
de deixar os fãs de Doom Death Metal de queixo caído. O peso é avassalador,
fora a cadência fúnebre ser envolvente, mostrando a ousadia do uso de vocais
rasgados e guturais nas mesmas proporções, fora orquestrações bem feitas. Mas cuidado,
pois as mudanças de ritmo são muitas.
Despised by God - Imaginem um BLACK SABBATH dos primórdios
com um jeitão BATHORY. Sim, a banda é capaz de chegar a tanto, mas sem deixar
de soar ela mesma, mostrando um trabalho de riffs e solos de guitarra de
primeira. E se existem mudanças rítmicas ótimas, é apenas para valorizar ainda
mais o grupo, além de belos e introspectivos momentos limpos.
Queen of the Seven Crossroads - Aqui, os tempos não são tão
lentos, mas em termos de criatividade, o grupo arrasa. Os pianos estão muito
bem colocados, mesmo nos momentos mais agressivos, além de a base rítmica ser
bem variada. E mais uma vez, os vocais fogem dos padrões do estilo.
Abyssum Abyssis Invocat - Uma pequena instrumental focada em
teclados e cordas limpas, apenas para aclimar o ouvinte.
Awaking From the Lethargy - Curta e agressiva, mostrando um
lado Doom Death Metal mais ríspido, mas onde algumas melodias nos solos
funcionam muito bem, fora os teclados estarem muito bem mais uma vez.
In Memoriam - Como é uma faixa mais longa (mais de oito minutos),
o lado mais depressivo e melancólico do quinteto aparece, justamente pelo uso
de vocais normais mais góticos, além de muitas mudanças rítmicas fascinantes. E
isso tudo sobre uma base instrumental muito boa e diferente do que costumamos
ouvir por aí.
Painted in Blood and Coldness - A faixa mais longa de todas,
com mais de 10 minutos de muito peso, azedume e diversidade rítmica, sendo que
ela não nos cansa em momento algum (e veja como a flauta aparece muito bem, sem
destoar dos outros instrumentos). E, além disso, lá perto do final, uma surpresa
maravilhosa: a banda emenda com "Man of Iron", uma versão bem pessoal
e acústica do hino do BATHORY.
Não tenho medo de dizer que o grupo se atreveu a pegar o
estilo a partir de discos clássicos como "As the Flower Withers" do
MY DYING BRIDE e "Gothic" do PARADISE LOST e resolveu abrir um
caminho diferente de ambas as bandas, aproveitando e tornando mais versátil o
lado bruto e agressivo do Doom Death Metal.
É ouvir, conhecer e compreender o que digo. E sim, ouvir,
pois a banda disponibilizou "In Memoriam" para download gratuito aqui, ou para
streaming no Soundcloud e Youtube.
Deixem de ser acomodados, e conheçam o futuro que a música
do SCARPAST nos possibilita ver agora.
Músicas:
1. Renascido das Águas, Abençoado por Rosas Negras
2. My Deep
Loneliness
3. Despised
by God
4. Queen of
the Seven Crossroads
5. Abyssum
Abyssis Invocat
6. Awaking
From The Lethargy
7. In
Memoriam
8. Painted in Blood and Coldness
Banda:
Patrick Gomes - Vocais
Rafael Léguas - Guitarras
Gregory Wolf - Baixo
Cibelle Hollerbach - Teclados, flauta, piano
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