30 de mar. de 2016

SCARPAST - In Memoriam (Álbum)


2016
Independente
Nacional

Nota: 9,0/10,0

Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Um dos pontos mais fortes do Doom Death Metal é ele estar fora de evidência no momento. Longe dos olhos, e perto do coração, o gênero é capaz de mutar, evoluir e ganhar novos contornos, e quando o vemos este nosso velho conhecido, ele está renovado e preparado para novos desafios. E conhecer bandas que surgem em nossas terras, mostrando como se pode evoluir, mas mantendo as raízes firmes, é algo sempre bom. E ver o que o quinteto SCARPAST, de Santa Maria (RS), fazendo bonito em seu primeiro disco, "In Memoriam", não tem preço.

Mantendo o peso, a cadência e mais aura soturna do gênero, mas impondo alguns elementos novos, o grupo se mostra diferenciado de muitos que andam por aí. Basta ver que os arranjos pesados e bem feitos de baixo e guitarras não são lá muito convencionais (lembram muito algumas coisas do Dark Metal), vocais que usam uma diversidade de timbres ótima (que vão do limpo sussurrado ao gutural profundo e mesmo alguns tons mais rasgados), a bateria mostrando que pode ser técnica, pesada e bem trabalhada sem perder a cadência, além de teclados, flautas e pianos usados com sobriedade e nos momentos mais certos. A banda sabe ser diversificada, mas consensual, pesada e elegante, e que está começando a abrir novas possibilidades sonoras para o gênero. E acreditem: eles são capazes de encaixar belos momentos limpos e com certa melodia no meio de tanto azedume e peso. É algo bem diferente!

Ricardo Gehling segurou a produção. E o resultado foi uma gravação mais seca, mas suja e agressiva, longe dos tons graves usados à exaustão no gênero. E mesmo assim, a banda consegue ter uma clareza instrumental quase orgânica, sem muitos enfeites e efeitos. Além disso, o trabalho gráfico de Cássio Lemos ficou ótimo, especialmente pela capa que deixa claro o lado artístico e soturno do grupo.

Em oito músicas ótimas, fica claro que o SCARPAST é uma banda ousada, que resolveu não descartar as possibilidades que as influências musicais individuais de seus membros poderiam render. Usaram de tudo, tiveram a sabedoria necessária para tanto, e foram capazes de lançar um disco que, sem exageros, pode se tornar a pedra angular para muita coisa feita no gênero.

Renascido das Águas, Abençoado por Rosas Negras - É uma introdução sinistra, adornada com teclados e vocais sussurrados, mas bela e bem cuidada.

My Deep Loneliness - O azedume começa com uma canção capaz de deixar os fãs de Doom Death Metal de queixo caído. O peso é avassalador, fora a cadência fúnebre ser envolvente, mostrando a ousadia do uso de vocais rasgados e guturais nas mesmas proporções, fora orquestrações bem feitas. Mas cuidado, pois as mudanças de ritmo são muitas.

Despised by God - Imaginem um BLACK SABBATH dos primórdios com um jeitão BATHORY. Sim, a banda é capaz de chegar a tanto, mas sem deixar de soar ela mesma, mostrando um trabalho de riffs e solos de guitarra de primeira. E se existem mudanças rítmicas ótimas, é apenas para valorizar ainda mais o grupo, além de belos e introspectivos momentos limpos.

Queen of the Seven Crossroads - Aqui, os tempos não são tão lentos, mas em termos de criatividade, o grupo arrasa. Os pianos estão muito bem colocados, mesmo nos momentos mais agressivos, além de a base rítmica ser bem variada. E mais uma vez, os vocais fogem dos padrões do estilo.

Abyssum Abyssis Invocat - Uma pequena instrumental focada em teclados e cordas limpas, apenas para aclimar o ouvinte.

Awaking From the Lethargy - Curta e agressiva, mostrando um lado Doom Death Metal mais ríspido, mas onde algumas melodias nos solos funcionam muito bem, fora os teclados estarem muito bem mais uma vez.

In Memoriam - Como é uma faixa mais longa (mais de oito minutos), o lado mais depressivo e melancólico do quinteto aparece, justamente pelo uso de vocais normais mais góticos, além de muitas mudanças rítmicas fascinantes. E isso tudo sobre uma base instrumental muito boa e diferente do que costumamos ouvir por aí.

Painted in Blood and Coldness - A faixa mais longa de todas, com mais de 10 minutos de muito peso, azedume e diversidade rítmica, sendo que ela não nos cansa em momento algum (e veja como a flauta aparece muito bem, sem destoar dos outros instrumentos). E, além disso, lá perto do final, uma surpresa maravilhosa: a banda emenda com "Man of Iron", uma versão bem pessoal e acústica do hino do BATHORY.

Não tenho medo de dizer que o grupo se atreveu a pegar o estilo a partir de discos clássicos como "As the Flower Withers" do MY DYING BRIDE e "Gothic" do PARADISE LOST e resolveu abrir um caminho diferente de ambas as bandas, aproveitando e tornando mais versátil o lado bruto e agressivo do Doom Death Metal.

É ouvir, conhecer e compreender o que digo. E sim, ouvir, pois a banda disponibilizou "In Memoriam" para download gratuito aqui, ou para streaming no Soundcloud e Youtube.

Deixem de ser acomodados, e conheçam o futuro que a música do SCARPAST nos possibilita ver agora.



Músicas:

1. Renascido das Águas, Abençoado por Rosas Negras
2. My Deep Loneliness
3. Despised by God
4. Queen of the Seven Crossroads
5. Abyssum Abyssis Invocat
6. Awaking From The Lethargy
7. In Memoriam
8. Painted in Blood and Coldness


Banda:


Patrick Gomes - Vocais
Rafael Léguas - Guitarras
Gregory Wolf - Baixo
Cibelle Hollerbach - Teclados, flauta, piano
Daniel Lopes - Bateria 

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