11 de jan. de 2016

JACKDEVIL: os Cangaceiros do Thrash Metal voltam à carga



Por Marcos "Big Daddy" Garcia


São Luis do Maranhão tem uma triste marca para o Metal, que é o festival Metal Open Air de 2012, que entristeceu todos os headbangers brasileiros do Brasil. Mas incrivelmente, como se uma maneira da natureza reequilibrar tudo, uma leva de novas bandas anda surgindo naquelas paragens, e causando um forte barulho no underground nacional.

E um dos nomes mais promissores de lá é o quarteto de Thrash/Heavy Metal JACKDEVIL, que anda caminhando com passos firmes na cena nacional, correndo o país com shows e lançando ótimos trabalhos. E seguindo um caminho oposto à maioria, a banda lança "Evil Strikes Again", seu novo álbum, pouco mais de um ano depois de "Unholy Sacrifice".

Aproveitando a deixa, lá fui bater um papo com eles, e saber um pouco sobre tudo relacionado à banda desde "Unholy Sacrifice" até o momento, e dos planos futuros do quarteto.


BD: Antes de tudo, muito obrigado por nos concederem esta entrevista. Vamos lá, então: nesses tempos em que as bandas de Metal andam apelando muito para músicos contratados ou possuem inúmeras mudanças de formação, como o JACKDEVIL consegue esta proeza de ficarem 5 anos com a mesma formação lá do início? Sério, quando parei para pensar nisso, quase que deu bug aqui (risos)...

R. Speedwolf: Nós que agradecemos o carinho e o espaço, Big Daddy, deixamos de pronto nossa admiração pela sua figura, obrigado mesmo pela atenção dada ao nosso trampo. Pois bem mano, esse ponto que você levantou quase não é explorado, porém é recorrente no cotidiano da cena do Heavy Metal. Eu tenho uma visão um tanto dura acerca disso, acredito que o Metal nacional não necessita de pseudo-músicos, e sim de guerreiros, ou melhor, guerrilheiros, já que manter uma banda, loja, zine, produtora é, antes de tudo, uma prova de resistência. Acredito que o grande culpado por criar essa visão romântica da figura do músico foi o ANGRA que criou um exército de autointitulados músicos que nada fazem além de se promoverem individualmente através deste circo de técnicas estéreis e carreiras forçadas a todo custo encima de polêmicas e ego. O JACKDEVIL sempre procurou andar na contramão disso tudo, aqui existe o grupo e o individual só serve se estiver a serviço do todo. Não queremos carreira solo, vender DVD de técnica ou sermos contratados por ninguém. Nós só existimos enquanto integrantes do JACKDEVIL. Talvez esse seja o segredo da longevidade de nossa formação e qualidade da relação interna da banda.


André Nadler (guitarras/vocais)
BD: Bem, "Unholy Sacrifice" já saiu há um ano e meio, mais ou menos. Como foi a recepção do disco? E como a banda foi recebida por público, dentro e fora do Brasil? 

RS: Nós temos muito orgulho deste disco. O "Unholy Sacrifice" foi a verdadeira realização de um sonho de gravar um álbum completo. Ele representou a nossa afirmação como banda já que até então tínhamos gravado apenas uma demo ("Under The Satan Command" - 2012) e um EP ("Faster Than Evil" - 2013). Esse álbum também contou com o início da nossa parceria com a Urubuz Records e o balanço que eu posso fazer disso tudo é o melhor possível. Achávamos que era hora de lançar um álbum completo e o "Unholy Sacrifice" se encaixou perfeitamente com nossos objetivos. Sem contar com as boas histórias e lembranças que todos nós guardamos daquelemomento, foi uma fase que significou muito pra todos da banda.

BD: Por falar nisso, "Evil Strikes Again" veio pouco depois de um ano de lançamento de "Unholy Sacrifice". E isso é algo que quase não se vê mais nos dias de hoje, uma banda lançando discos todos os anos, devido à crise causada pelos downloads ilegais. Houve alguma pressão externa para o lançamento do segundo disco assim, tão rápido? E como a Urubuz Records recebeu a proposta para o segundo disco de vocês tão cedo? 

RS: Não houve nenhuma pressão, nós começamos a trabalhar ainda em 2014 com a Cronos (NR.:  Cronos Entertainment, que empresaria a banda) em prol de uma gira pela América Latina. Quando tivemos a confirmação do período em que a turnê iria se concretizar pensamos: e se nós gravássemos um novo disco? No começo essa ideia parecia um tanto ousada, porém nós decidimos desafiar o risco e emplacar esse novo material. A Urubuz ficou um pouco surpresa com esse novo projeto, já que nós tínhamos acabado de lançar o "Unholy Sacrifice" em formato vinil, no entanto deu suporte incondicional e caiu pra dentro do trabalho ao nosso lado. Com o JACKDEVIL não rola esse lance de pressão, temos total controle de todas as nossas ações e não temos rabo preso com ninguém. 


Ric Mukura (guitarras)
BD: Ainda sobre este tempo, como foi compor músicas nesse ritmo, já que ano passado, fizeram muitos shows? A impressão é que vocês ou são workaholics por música ou que tinham canções guardadas, estou certo?

RS: Você acertou na mosca, acredito que somos viciados nesse lance de trampar com a banda, tanto é que não temos férias ou qualquer tipo de pausa. O trabalho é ininterrupto desde 2011. Mas pensando bem, se eu tivesse que elencar uma característica que mais admiro na nossa banda é essa pressa, a vontade de fazer as coisas acontecerem, a nossa correria contra o tempo. Penso que esta simples virtude está em falta em algumas bandas da atualidade. O que vejo a todo momento são bandas sabotando seu próprio trabalho através de atitudes imbecis e ridículas, esquecendo de pôr a mão na massa, pagar o preço por suas escolhas.Voltando as novas composições tenho que destacar a enorme evolução do Ric Mukura que neste disco novo nos apresentou sua primeira composição: "Beelzebub", uma das melhores do disco. 


BD: Agora que "Evil Strikes Again" (que eu cismo de trocar o nome por "Evil Strikes Back" sempre. Perguntem pro Márcio da Urubuz quantas vezes ele já me corrigiu (gargalhadas)) está lançado, a pergunta que fica é: quais as maiores diferenças que você vê entre eles hoje em dia? Particularmente, achei "Evil..." um pouco mais melodioso e com as composições um pouco mais lapidadas.

RS: Eu ainda estou viciado no "Evil Strikes Again", ouço diariamente e a cada escuta a sensação de dever cumprido fica mais forte. As músicas vieram mais legais e ao mesmo tempo o instrumental ficou bem mais ajustado, pois desta vez tivemos uma preocupação maior com a tonalidade e harmonia das músicas justamente pra criarmos um material que no todo fosse rápido, cortante, equilibrado e que tivesse uma audição agradável para os fãs de Speed/Thrash. Neste quesito eu dou um ponto especial pro Filipe Stress que conseguiu fazer uma mixagem certeira, conseguindo impor mais personalidade ao novo álbum e ainda mantendo intacta aquela “sujeirinha” que deixa o Heavy Metal mais legal.


R. Speedwolf (baixo)
BD: Outro contraste que vi foi entre o vídeo promocional de "Age of the Antichrist", do "Unholy Sacrifice", e "Evil Strike sAgain". No primeiro, algo mais voltado ao mundo do horror, e no segundo, algo mais leve e muito bem humorado. Por que deste contraste? Pergunto por que realmente chega a ser algo gritante.

RS: Nós sabíamos que a repercussão deste nosso novo clipe seria esta. Mas o que eu acho mais curioso é que no Brasil fazer um clipe de com a temática de humor dentro do Metal choque mais do que falar, por exemplo, de Satanás ou da Era do Anticristo. As nossas temáticas continuaram muito semelhantes aos dos trabalhos anteriores, o que fizemos foi um clipe que propositalmente não segue os ditames da letra da música. Na verdade o clipe se tornou um fator independente e quase autossuficiente e nós achamos isto fantástico, pois nossa expectativa era ampliar os horizontes já que, como dito anteriormente, temos o controle total dos nossos trabalhos e não somos escravos de qualquer regra do Metal que determine, por exemplo, normas de conduta. A cena precisa de personalidade e não de repetições de ideologia importada.


BD: Aliás, parabéns, pois o vídeo de "Evil Strikes Again" ficou muito, muito legal mesmo. Mas como escolheram justo ela, e como foi que a idéia de algo mais bem humorado surgiu?

RS: Tenho que admitir que foi bem complicado decidir qual seria a música de trabalho. Debatemos bastante e fizemos uma espécie de exposição de motivos pelas quais dávamos nossos votos. No final decidimos que "Devil Awaits" sairia em Lyric vídeo e "Evil Strikes Again" seria a música do clipe. Poderia ser qualquer uma outra, eu gosto de todas. A ideia inicial para a realização do clipe nesta temática partiu do André e foi aprimorada através de muito suor e dedicação de todos da banda.

Felipe Stress (bateria)
BD: O famoso tema chato de toda entrevista, mas é preciso: sobre o André, há algum tempo, algumas pessoas ficam com fofoquinhas na internet, relacionando ele e igrejas. Não sei bem o que é, pois não é algo que tenha peso para mim (me importa a música, apenas), mas em um momento em que o metal brasileiro anda cheio de extremismos, é sua vez de falar. O espaço é de vocês.

RS: Já nos pronunciamos acerca disso. Quem já teve um contato mais próximo com a gente já pôde perceber que nós somos pessoas muito pacíficas e jamais iremos discriminar alguém por sua ideologia, raça, credo ou o que for. Não somos adeptos de qualquer ideologia segregadora e essa balela envolvendo White Metal tem como finalidade unicamente tentar tirar a legitimidade do nosso trabalho e são disseminados pelos que não têm capacidade de fazer melhor. Essa leitura ainda demonstra que nosso nome está se tornando cada vez mais tema de debate na cena do Metal Nacional, os esclarecimentos prestados pelo Andrezão bateram recorde no site da UOL. Não participamos de qualquer culto, seita, congregação ou afins. 

Meu recado então será direcionado a duas vertentes: Aos que se utilizam disso pra de alguma forma atacar pejorativamente nossa banda desejo boa sorte na empreitada e obrigado por dedicar tanto tempo e energia de sua vida à gente, sei que você quando faz isso nos dá prioridade frente a diversos outros fatores de sua vida. Aos que estão começando na cena agora ou que estão começando a descobrir o nosso trabalho digo que nós devemos começar a criar uma estrada sólida para tentar aprimorar o cenário nacional que está apresentando cada vez mais sintomas de crise e o primeiro passo pra isso é: Valorize o trabalho das bandas do Brasil. Fofocas, zum zum zum, mexericos ou qualquer tipo de distinção não levarão a cena a lugar algum senão do fosso pra onde ela já está caminhando. 


BD: Ainda falando sobre extremismos e mesmo no radicalismo que vemos no Metal, não acredita que isso acaba prejudicando o cenário como um todo? Poxa, as pessoas parecem achar que conservar instrumentos, gravar e mesmo fazer shows é feito de graça... 

RS: Eu vejo de outra forma, não vejo os radicais, por exemplo, como inimigos, eu entendo perfeitamente o ponto de vista deles e concordo bastante com a visão deles acerca do Metal. O que atrapalha, a meu ver, é a militância vil de alguns alienados com objetivo de sabotar a cena. Quando reflito sobre isso, me vem à mente o exército de babacas que fazem oposição ao trabalho das meninas do NERVOSA, pelo fato de ser uma banda constituída só por mulheres, o hilário é que estes imbecis recebem por resposta a carreira cada vez mais consolidada delas no cenário internacional, o NERVOSA já é uma realidade. Quanto aos problemas da cena nacional, me refiro a boicotes, produtores corruptos, excesso de shows gringos, etc. Isto sim causa impacto negativo na cena. Extremistas ou radicais não trazem obstáculos concretos com relação ao JACKDEVIL, pois aqueles que têm convicção do que fazem e acreditam em seu próprio trabalho não necessitam da aprovação de ninguém.


BD: Lá no início, falamos sobre os famosos downloads. Muitas vezes, os fãs esquecem que a música é uma coisa que pertence ao compositor, que ele criou e isso dá trabalho demais. Não acham que já está na hora de uma conscientização maior dos fãs de Metal nesse sentido? E qual a opinião de vocês sobre downloads ilegais? 

RS: Eu não sou contra o download. Vejamos bem, o download digital é apenas uma das consequências trazidas pela expansão da internet. Décadas atrás era exigido de uma banda uma quantidade de trabalho exorbitante para divulgar seu material fora de sua região de atuação. Dessa forma algumas bandas selecionadas recebiam uma quantidade gigantesca de investimento por parte das gravadoras que detinham o poder da disseminação da informação. As bandas que não tinham gravadora estavam fadadas ao fracasso e ao esquecimento, salvos apenas pela paixão dos verdadeiros fãs de Metal que não deixaram seus trabalhos serem em vão. As bandas que se saíram vitoriosas dessa verdadeira loteria estavam aí ganhando cifras astronômicas por terem se beneficiado deste investimento maciço em mídia. Vale destacar que inexiste qualquer apoio dos Titãs do Metal aos artistas novos, salvo raríssimas exceções. Assim, era necessário que a crise viesse para deter esse crescimento exagerado destas grandes bandas. Neste momento, eu vejo o surgimento da única oportunidade que nós, artistas novos, temos para formar nossa carreira. Por isso é que afirmo que o download é o grande herói das novas bandas. Com ele é criado uma grande rede de compartilhamento que iguala, em certas proporções, este abismo que existe entre as bandas grandes e as de menor porte. O download é o fator que dá equidade a balança. Nosso EP "Faster Than Evil", por exemplo, foi disponibilizado gratuitamente e alcançou mais de 25.000 downloads. Embora nós fazermos questão de manter o lançamento de materiais físicos, trabalhamos de forma tranquila com os downloads pagos e não fazemos alguma oposição ao compartilhamento digital dos nossos materiais.


BD: Bem, a Cronos Entertainment está tomando conta da parte de shows de vocês, e vi que tem uma boa tour chegando, com várias datas fora do Brasil. Como é a expectativa para os shows fora? Já existem planos para alguns shows na Europa ou EUA? E por que cargas d'água nada no RJ? Olhem que eu vou me aborrecer com o manager de vocês por isso (risos)!

RS: Na verdade esta é apenas a primeira parte da turnê "Evil Strikes Again", nosso plano é estendê-la por 2016 também e pode ter certeza, amigo, nós também ficamos um tanto tristes por não ver o RJ na primeira rota. Aqui posso ressaltar que no ano de 2014 fizemos um dos melhores shows da história da nossa banda na Cidade Maravilhosa. Pois bem, não estamos nervosos, porém muito ansiosos. Vamos ter a possibilidade de conhecer diversas pessoas que curtem nosso trabalho desde o lançamento do "Under The Satan Command" e isso é incrível, na verdade é uma das coisas mais legais de se ter uma banda, poder tocar nas cidades das pessoas que realmente querem assistir um show seu, isto não tem preço. Vamos tocar no Sudeste e Sul, além de países do Mercosul e falar disso me dá um orgulho ímpar pelo fato de sermos a primeira banda Maranhense de metal a trilhar uma tour latino americana. Devemos isso a todos aqueles que sempre apoiaram o nosso trabalho, aqui vai a certeza de que daremos o nosso melhor.


BD: A última: após o fracasso do Metal Open Air em São Luis, em contrapartida, muitas bandas novas daí estão mostrando a cara, como vocês, o PÚRPURA INK, o FÚRIA LOUCA, o BRUTALLIAN... Está até parecendo que São Luís vai se tornar mais uma grande cidade em termos de Metal em breve, se já não o é. Falem-nos um pouco da cena local, da experiência de vocês por aí, bem como o que é bom e o que ainda pode melhorar na cena maranhense.

RS: A cena maranhense é igual a do resto do Brasil, com todos os defeitos e virtudes, há algum tempo vem-se querendo criar uma expectativa de que São Luís poderia se tornar um novo pólo do Metal. A meu ver isto não tem fundamento ao passo que bandas promissoras podem surgir em qualquer parte do Brasil. Acredito que seja até perigoso levantar um status a uma região específica pois isto além de tirar os méritos de quem realmente merece ter o trabalho reconhecido, pode acabar beneficiando uma ou outra banda de qualidade duvidosa. Fora de São Luís, mas ainda no Maranhão, nós temos bandas excelentes, o Mortos (Death Metal) está aí para não me deixar mentir. Concluindo, a cena de São Luís nunca será melhor do que nenhuma cena de alguma região brasileira, pois isto de ser melhor não existe, é falácia, é falso. O Metal não precisa de mais lendas ou mitos, o que devemos é apoiar bandas de qualidade independente de que região do Brasil sejam oriundas. Tenha certeza de que se você trabalha firme com os pés no chão, se você tem talento e age com honestidade sua banda colherá frutos você estando em São Luís ou em qualquer parte do Mundo, o JACKDEVIL é um exemplo disso.

Devils alive!

BD: Chegou a hora. Agradeço de coração mais uma vez, e por favor, deixem a mensagem de vocês para nossos leitores e seus fãs.

RS: Em primeiro lugar queremos dizer aos estimados amigos que acompanham a jornada do JACKDEVIL que somos imensamente gratos pela energia que vocês nos passam e neste momento nos sentimos completamente incentivados a seguir em frente com a força total que nos é peculiar. Também quero aproveitar a oportunidade para agradecer o espaço que nos foi dado por você, Big Daddy, nós realmente te admiramos muito e nos sentimos realizados por ter nosso trampo reconhecido por alguém de sua estirpe. E, por fim, para aqueles que não conhecem o nosso trabalho, acompanhem a banda pela nossa página do Facebook e canal no YouTube. 


Assistam os vídeos de "Evil Strikes Again", "Devil Awaits" e "Iron Fist" (cover do MOTORHEAD e uma homenagem da banda a Lemmy):







Contatos:

Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.
Liberaremos assim que for analisado.

OM SHANTI!

Comentário(s):