2015
Nacional
Nota 10,0/10,0
Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia
O Metal ainda é um dos estilos musicais onde a cultura ainda é preservada a unhas e dentes. Sim, pois são raras as citações que tenham o mínimo a nos ensinar fora dele. E no Brasil, terra em que reinam preconceitos estúpidos e vazios, muitos preferem o capetismo vazio ou mesmo temas vazios a temáticas que nos desafiem a sair de nosso marasmo e ir mais fundo, a abrir nossos olhos e espíritos para algo mais profundo e relevante.
E é com plena convicção que afirmamos que o quarteto OCULTAN, de São Paulo, é um dos grupos com maior riqueza temática do Metal extremo nacional, e isso aliado a um trabalho musical excelente. E não é à toa que "Nexion Chaos", seu mais novo trabalho, mostra o grupo ainda mais forte que antes.
Musicalmente, parece que a entrada de Malus (bateria) e Kazoth Bey (baixo) deram um novo sopro ao agora quarteto. Sim, pois assim, Count Imperium pode se concentrar apenas nos vocais. A base rítmica ganhou um pouco mais de diversidade técnica, sem alterar a essência dura e agressiva do grupo, ao passo que os vocais estão bem mais trabalhados em termos de tons, indo dos timbres rasgados tradicionais a outros guturais sombrios sem esforços. E não há o que falar do trabalho de Lady of Blood além de que, mais uma vez, ela se encontra entre os melhores guitarristas dos estilos extremos do Brasil, apresentando riffs ótimos e bem diversificados, mas sem nunca perder aquela sonoridade sombria tradicional que o OCULTAN imprime desde seu início. Sombrio, agressivo, bruto, ora mais lento e azedo, ora mais veloz e ríspido, mas sempre com bom gosto. Por isso, o trabalho deles é um exemplo de como se explorar com profundidade o próprio estilo, sem, no entanto sair do mesmo.
Ocultan (da esquerda para a direita: Lady of Blood, Count Imperium, Kazoth Bey, Malus) |
Gravado no Kripta Bestial Studio e no The Dark Studio, com o próprio Count Imperium cuidando da mixagem e masterização, em termos de sonoridade, é o melhor disco do grupo, pois consegue associar aquela sujeira já conhecida e timbres fúnebres com um nível de clareza maior que antes. Ou seja, a música da banda se tornou bem mais compreensível, e assim, mais fácil de ser absorvida. E do lado artístico mais uma vez enfoca a figura de Exu, que possui amplo e profundo significado na cultura afro-brasileira, mas bem feita. Layout e encarte também estão ótimos.
Musicalmente, como dito acima, o OCULTAN evoluiu sem fugir de seu próprio estilo. Digamos que a banda se aprofundou ainda mais na própria musicalidade, sem nunca perder a visão do que já haviam construído. Mas não se pode negar que os arranjos musicais deram uma melhorada, e o prumo da banda é o bom gosto, o feeling que os guia há tantos anos. As letras ainda tratam sobre Quimbanda, óbvio, mas há momentos em que há citações a outras culturas, e mesmo a forma da banda se expressar é bem mais encorpada. Coisa de quem entende do que fala, simples assim.
Temos sete músicas excelentes, usando de durações maiores que antes, e não é possível destacar esta ou aquela, pois realmente, o disco está perfeito.
Exu Lord of Fire - Alternando momentos mais velozes e outros mais cadenciados, vemos uma verdadeira invasão de riffs macabros e ótimos arranjos de guitarra. Mas os vocais estão assentados de uma forma excelente.
Reino da Morte - Mais sombria e carregada com uma atmosfera soturna e introspectiva, é uma canção bem executada, com a base rítmica mostrando um trabalho excelente. A velocidade oscila entre o cadenciado e o um pouco mais veloz de forma bem espontânea, mais uma vez mostrando como os vocais melhoraram bastante.
The Essence of the Oposser - É ouvir e ficar grudado. Os arranjos são ganchudos, envolventes, a base mantém um ritmo um pouco mais tradicional em termos de Black Metal, mas realmente os riffs fazem uma diferença absurda.
Mother of Chaos - Um dos melhores momentos de todo CD. É uma musica causticante, aliando uma bateria com bumbos excelentes, riffs sinistros, ritmo que se alterna bastante. E reparem como o baixo dá um peso extra em muitos momentos;
Tehom - Mais uma vez, o grupo uso sua pegada e jeitão mais tradicionais, com belas incursões de mini solos de guitarra, vocais extremamente bem encaixados, e uma mórbida riqueza musical.
Perdition - Outro ponto alto! Uma música sinistra, onde melodias macabras surgem nos arranjos de guitarra, mas ao mesmo tempo, a base rítmica segura muito bem o ritmo e suas mudanças, que não são poucas.
Dissolução do Universo - Fúnebre e introspectiva, é uma faixa digna de encerrar com chave de enxofre o disco. Melodias sinistras, vocais urrando com boa dicção, e um andamento lento e azedo, deixando a faixa com uma atmosfera opressiva que poucas bandas conseguem criar.
Podemos afirmar com certeza que o OCULTAN é um dos maiores nomes do cenário extremo nacional, e que "Nexion Chaos" é seu melhor trabalho. Aliás, merece uma edição gringa, pois o Brasil anda pequeno para eles há tempos.
Músicas:
01. Exu Lord of Fire
02. Reino da Morte
03. The Essence of the Oposser
04. Mother of Chaos
05. Tehom
06. Perdition
07. Dissolução do Universo
Banda:
Count Imperium Vociferus Necrocosm - Vocais
Lady of Blood - Guitarras
Kazoth Bey - Baixo
Malus - Bateria
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