Por Marcos "Big Daddy" Garcia
O ano de 2015 está chegando ao final, marcado por muitos problemas em escala nacional e global. Nem preciso citar muitos, pois não creio que as pessoas venham a esquecer tão cedo os ataques terroristas ao Charlie Hebdo, a Paris, massacres do Bokum Haram, a fuga de refugiados sírios e nigerianos para a Europa, a ruptura da barreira de Mariana e contaminação do Rio Doce e do litoral do Espírito Santo. E não podemos esquecer a crise político-econômica que nasceu junto com o início do segundo mandado de Dilma como presidente do Brasil.
Percy Weiss |
Infelizmente, 2015 para os fãs de Metal e Rock em geral foi marcado por enormes perdas para o gênero.
Chris Squire (baixista do YES), Alexandre Rangel Araújo (vocalista do ATTOMICA), Percy Weiss (ex-vocalista do MADE IN BRAZIL, entre outros), Philty Animal Taylor (ex-baterista do MOTORHEAD), Lemmy Kilminster (baixista/vocalista e líder do MOTORHEAD), e ainda por cima, o fim do DR. SIN... Todos eles muito importantes, e isso nos leva a um questionamento:
Os grandes estão partindo, logo, quem tomara os seus lugares?
É necessário que o headbanger deixe de ser tão conservador e deixar que novos mitos surjam e que tomem o lugar daqueles que estão partindo. E Lemmy, sempre ele, é um exemplo para muitas coisas.
Lemmy, para quem são sabe, foi um dos maiores lobbystas por iniciantes. SAXON, GIRLSCHOOL, TWISTED SISTER, PLASMATICS, WARFARE, todas são bandas que ele deu uma forcinha, seja como for. Lemmy tinha prazer em receber o que era novo, em abrir portas e permitir que novidades fossem bem recebidas. Uma das mais célebres é a gravação de "Born to Raise Hell" em que ele gravou um vídeo tendo Ice-T (célebre cantor de Rap e de Metal) e Whitfield Crane (do UGLY KID JOE) nos vocais junto com o velho mais aloprado e sacana do Rock.
Além de lobbysta do bem, ainda mostrava um puta senso de humor e abertura ao que era diferente. Se não fosse lendário, muitos tacariam pedras no velhinho.
Lemmy |
Ainda sobre Lemmy, ele nos deixou um legado que vai muito além da música, como a educação polida, uma honestidade ácida, e um sarcasmo forte. Mas sempre embalado por uma sabedoria profunda e um conhecimento que, muitas vezes, transcendia a estética mental que muitos dos chamados "troos" não conseguiriam aceitar nem em um milhão de anos.
Voltando: a partida dos velhos demanda o surgimento de jovens valores, que virão levar a tocha adiante. É assim, sempre foi e sempre será.
Há potencial para isso, pois existem bandas que, em 2015, lançaram discos excelentes. Tudo bem que IRON MAIDEN com "The Book of Souls" e SLAYER com "Repenteless" voltaram às boas, mas bandas jovens como HAMMERCULT, ETHEREAL, ARANDU ARAKUAA, VOICELESS, STONE COLD DEAD e outros mostram disposição para segurarem a barra pesada quando alguns gigantes tanto do exterior quanto do Brasil vierem a parar. E isso sem falar nos experientes JACKDEVIL, HIBRIA, KAMALA e outros que andam crescendo demais em termos qualitativos.
Em termos de festivais, três merecem menção honrosa: Monsters of Rock, Rock in Rio e Metal Land.
O Monsters of Rock, com seu formato de dois dias, caiu muito bem para o público. As criticas que este autor se dá o direito de fazer são: a necessidade de termos alguns nomes mais jovens e/ou inéditos, e uma maior abrangência de estilos. Apenas essas, mas entendo a necessidade de headliners batidos, já que, como todos sabem muito bem, poucas são as bandas internacionais que conseguem chamar o público necessário para se ter algum retorno comercial da coisa.
O Rock in Rio, nesta versão que andou sendo tão criticada, teve três dias dedicados às vertentes mais pesadas do Rock. E a presença de monstros como MOTLEY CRUE em sua tour de despedida, do GOJIRA e seu peso mais moderno, o lado sombrio representado pelo MOONSPELL (que teve a participação de Derrick Green, do SEPULTURA), o Metal Industrial pesadelo do MINISTRY, do novato de sucesso MASTODON, e as surpresas do HOLLYWOOD VAMPIRES e LAMB OF GOD justificam uma nova versão em breve. E ANGRA, NOTURNALL, KROW, MOTOROCKER, AGE OF ARTEMIS, ABOUT2CRASH, REPUBLICA, EMINENCE representaram bem o peso nacional. Óbvio que houve uma avalanche de mimimis por conta da terceira vez seguida do METALLICA como headliner, mas lhes pergunto: se não for um nome do porte do METALLICA, IRON MAIDEN, AC/DC ou BLACK SABBATH, qual banda poderia ser e arrastar multidões?
Pensem nisso antes de criticar, e em sua responsabilidade em apoiar mais bandas. Se bem que para muitos, pensar por si mesmo deve causar dores imensas...
Krow no Rock in Rio 2015 |
Ainda sobre as críticas ao Rock in Rio, muito se falou das bandas "underground" não estarem lá. Dou-me o direito de perguntar qual é a concepção de underground que algumas pessoas possuem, e mesmo se alguma das bandas nacionais acima é tida como "vendida".
Mais uma vez: pensar besteiras com a evidência clara de que suas palavras estão erradas, e na sua cara? Realmente, as cefaléias devem ser imensas!
O Metal Land, por sua vez, mostrou-se um evento ótimo e de bom nível profissional, com um cast quase todo de bandas nacionais (exceto pela presença de Tim "Ripper" Owens). Mas infelizmente, o público não compareceu como poderia (e deveria) ir.
Voodoopriest |
Espero que isso não desanime a equipe, e que possa existir uma segunda versão em 2016.
Antes de encerrar, teço uma crítica aos headbangers brasileiros: nunca, em meus 32 anos dentro do gênero, vi tamanha divisão no cenário.
É muito truísmo, muita regrinha boba que não faz sentido, e que acaba resultando em ofensas mútuas e desunião, no afastamento do público de eventos. Muitos shows este ano deram prejuízos severos a promoters locais e tour managers. Se não gosta de como alguém pensa, apenas o deixe em paz, não é necessário declarar guerras sem nexo, onde ninguém sai ganhando. Os únicos que ganham com isso são oportunistas de porta de botequim, que possuem prazer em ver o Metal eternamente como um estilo amador, e tocando em equipamentos ruins que nem mesmo bandas cover aceitam.
Hora de acordarem, pois não existem crianças aqui.
Em termos de lançamentos, vou ser breve: lá fora, a maioria ainda prefere o continuísmo. Mais uma vez, "The Book of Souls" e "Repentless" são ótimos discos, mas não apresentam nada muito diferente do que IRON MAIDEN e SLAYER já fizeram. E muita banda nova quebrou a banca. Torno a citar HAMMERCULT, ETHEREAL e STONE COLD DEAD como ótimos. Dê-lhes uma chance de convencerem vocês, saiam da zona de conforto.
Monstractor |
No lado nacional, o Brasil vai muito bem, obrigado. Bandas como KAMALA, PÚRPURA INK, DIRTY GLORY, FÚRIA LOUCA, JACKDEVIL, HIBRIA, MONSTRACTOR e outros lançaram discos fantásticos, assim como discos de músicos nacionais como LUÍS KALIL e NANDO MORAES são obras-primas. Larguem a mania de "culto ao que vem de fora" e olhem mais para o Brasil. E ainda temos a expectativa que NERVOSA, PANZER, ANCESTTRAL, YEKUN, SINAYA, THE BLACK ROOK, HELLARISE venham logo com trabalhos excelentes.
No mais, 2015 está acabando, deixando um gosto bem amargo na boca. Mas prefiro pensar que, depois dessa tempestade, virá uma bonança e tanto.
Feliz 2016 a todos!