17 de nov. de 2015

REBAELLIUN: decretando o inferno na Terra


Por Marcos “Big Daddy” Garcia


Pouco é preciso se falar do quarteto gaúcho REBAELLIUN. 

Com dois álbuns marcantes (“Burn the Promised Land” de 99, e “Annihilation” de 2001), várias tours pela Europa, o quarteto marcou seu nome na cena brasileira do gênero com um Death Metal bruto, pesado, veloz, mas muito técnico e usando de elementos não tão convencionais ao gênero. Mas infelizmente, quis o destino que a banda parasse em 2002, deixando órfã uma legião de fãs.

Mas em 2015, 13 anos após o final, o quarteto retorna às atividades e está se preparando para gravar o terceiro álbum, “The Hell’s Decrees”, agora em dezembro, e se preparando para uma tour.

Aproveitando o momento, fomos bater um papo com a banda e saber um pouco do passado, bem como os planos para o futuro.


BD: Antes de tudo, quero agradecer de coração pela entrevista, e acreditem: sempre foi um desejo particular meu vê-los de volta. E é justamente esta a primeira pergunta: o que levou o REBAELLIUN a voltar? Seria um sentimento que quase todos temos, de que tinham coisas a fazer?

Lohy Fabiano: Muito obrigado, Marcos! Você é um dos grandes apoiadores do REBAELLIUN e sempre colaborou para que o nome da banda sempre estivesse vivo. Certamente o que nos levou a retornar as atividades é o sentimento de que ainda temos muito o que fazer e mostrar. Claro, a banda no seu breve tempo de vida anteriormente conquistou muitas coisas, mas sempre soubemos que poderíamos ir adiante. Mas acreditamos também que nada é por acaso, e esse era o momento certo de voltar a fazer música juntos.


Lohy Fabiano (baixo, vocais)
BD: E durante esses anos, o que cada um de vocês fez, musicalmente falando? Algum projeto? Sobre Penna (guitarrista), sabemos dele no HORNED GOD, e no THE ORDHER, mas e vocês, Ronaldo (guitarrista), Lohy (baixo/vocais) e Sandro (bateria)?

Lohy Fabiano: Eu estive tocando com amigos de longa data, mas apenas ensaiando pra “tirar a ferrugem”, nada sério. O Sandro foi baterista do Mental Horror durante esse período, e hoje ele também é baterista do Exterminate. O Ronaldo seguiu estudando violão clássico, musica instrumental brasileira, que ele sempre gostou muito, mas não tocou em nenhuma banda de Metal durante esse tempo.


BD: Bem, “Burn the Promised Land” causou um furor muito grande na cena Death Metal mundial, e "Annihilation" confirmou o nome do REBAELLIUN como um gigante do gênero no Brasil. Mas voltando no tempo, quais foram as sensações de gravarem ambos, e tinham a idéia de que seriam tão grandes assim?

Fabiano Penna: Quando a gente gravou o “Burn the Promised Land” em 1999, a gente tava muito empolgado. Tínhamos passado 3 meses na Europa tocando pra promover uma demo-tape com 2 músicas, conseguimos um bom contrato, fizemos shows com Deicide e Behemoth e de repente estávamos fazendo um disco completo, algo que a gente queria desde adolescente. E era um disco esperado por muita gente, existia uma expectativa em torno da banda. Não tínhamos a menor experiência em gravar tanto material junto, o estúdio também não entendia muito de gravar Metal, mas fizemos nosso melhor. Hoje em dia ouvimos o álbum e vemos quanta coisa poderia ter sido feita melhor, mas na época foi o nosso limite, e o disco acabou atingindo muita gente em função da espontaneidade das músicas, nada era muito pensado ou planejado, a gente só queria tocar rápido e fazer um disco bruto. Já o processo do “Annihilation” foi bem mais planejado, já fomos trabalhando nas músicas com foco, com noção de como elas se comportariam no álbum, chegamos a gravar uma pré com boa parte das músicas pra melhorarmos arranjos, etc. E a produção foi feita no Stage One com o Andy Classen, na Alemanha, estávamos finalmente trabalhando com um profissional do meio e com estrutura pra botar nossas ideias em prática. O disco foi muito bem recebido na época, chegou a figurar na lista dos álbuns mais importantes de Metal de 2001 na revista inglesa Rolling Stone. Realmente fizemos um álbum com um diferencial naquele período.


BD: Ainda sobre os dois álbuns: quais seriam as maiores diferenças entre "Burn..." e "Annihilation", olhando em perspectiva agora?

Lohy Fabiano: Na minha visão são abordagens diferentes. O “Burn…” possui composições mais cruas, apesar de trazer também andamentos mais lentos e um ritmo mais cadenciado do que o “Annihilation. Ele é um disco mais pesado do que rápido. No “Annihilation as músicas trazem uma complexidade maior e ele naturalmente soa mais extremo. Ele não dá descanso, realmente. Queríamos transcender nossos próprios limites com aquele disco, e acho que ele demonstrou bem essa intenção.


Fabiano Penna (guitarras)
BD: Essa me persegue há anos: em "God of a Burned Land", existe um "insert" de "Requiem", de Mozart. Como tiveram a idéia de usá-la? Alguém da banda possui formação clássica? E digamos de passagem: ficou perfeita.

Fabiano Penna: Todos nós gostamos de música erudita, eu e o Ronaldo já estudamos um pouco de violão clássico, eu também estudei composição e orquestração com um maestro por um tempo. A inserção do texto na música foi ideia minha, eu assisti ao filme "Amadeus" já uma dúzia de vezes, é um dos meus prediletos, e ouço muito o famoso "Réquiem em D Menor", última obra do Mozart. Um dia ouvindo e acompanhando a tradução em Inglês do libreto me surgiu a ideia de usar alguma referencia, já que essa obra fala sobre o ‘fim’ em vários aspetos (fim da própria vida dele, fim da humanidade, dia do juízo final), e o tema central do “Annihilation” é justamente o fim da humanidade. Acabou caindo bem na música e sendo uma referência humilde ao maior mestre de todos, Wolfgang Amadeus Mozart.


BD: Desde que voltaram, apesar de nenhum show ainda, não param de surgir boas notícias, e a Hammerheart Records, que lançou tanto "Burn..." como "Annihilation", vai relançá-los. Haverá alguma diferença entre as versões novas e as originais? Aliás, já há algo no sentido de relançá-los por aqui também? E já sabem: nem por decreto abro mão deles! Quero todos (risos)!

Fabiano Penna: Agora em Novembro tá saindo o “At War” em vinil, é a primeira novidade. EP 7”, som remasterizado, edição limitada de 500 cópias, a gente tá muito feliz em ver essa demo que gravamos em 1998 tendo a vida dela prolongada com esse lançamento. Entre Março e Abril saem “Burn the Promised Land” e “Annihilation”, em LP e CD. O “Annihilation” vem com toda arte diferente, mantém a capa mas o encarte é todo novo, a gravadora nunca ficou satisfeita com o encarte na época e foi a chance de fazer um novo, que ficou bem bacana, diga-se de passagem. Estamos vendo pra lançar no Brasil também, mas o lance da desvalorização do Real tá complicando um pouco, mas vamos seguir trabalhando pra ter os discos saindo também em versão nacional.


BD: E chegamos a atualidade. "The Hell's Decrees" é o título do novo disco. Como ele foi escolhido, e o que ele representa dentro do contexto musical do novo trabalho? E sendo sincero: parece quase que uma declaração de guerra.

Lohy Fabiano: Quando conversamos sobre o conceito do novo disco, foi um consenso que deveríamos continuar de onde o “Annihilation” terminou em 2001. “Os Decretos do Inferno” traz o que ficou estabelecido após a aniquilação no disco anterior. O homem, seus mitos, suas crenças, e verdades dizimadas. Nesse cenário a humanidade já caiu. A guerra já foi vencida e não foi uma vitória do homem. Uma era de ruína, degradação e miséria é o que buscamos retratar com esse conceito. É fato que a humanidade nunca esteve tão à beira do caos completo e irreversível, do que está atualmente, então basta olhar ao redor que a inspiração para ilustrar esse cenário é jogada na sua cara, todos os dias.


Ronaldo Lima (guitarras)
BD: Uma pergunta que não quer calar: neste material que já está preparado para entrar em "The Hell's Decrees", existe algo de antes do final em 2002 que será aproveitado agora, ou é tudo novo? E como as coisas estão fluindo em termos de composição e arranjos?

Lohy Fabiano: Dessa vez quisemos fazer algo diferente, e trazer somente material 100% novo. Estamos trabalhando bastante a pré-produção dessas músicas, e testando novos arranjos constantemente, e a tecnologia e a internet nos presta um enorme serviço nessa situação, já que moramos atualmente em estados separados. Quando a banda se reúne para ensaiar tratamos de alinhar os arranjos compostos e os demais detalhes das músicas.


BD: Penna, você é muito conhecido como produtor musical. Será você mesmo quem produzirá o disco, ou existe mais alguém que vai trabalhar na produção? Aliás, existe a possibilidade da mixagem e masterização serem feitas no exterior? Quanto tempo devem usar para gravar e terminar tudo? E já existe alguma idéia de quando o disco deve sair?

Fabiano Penna: Sim, eu já tô trabalhando desde a pré-produção no “The Hell’s Decrees”, todas demos estão sendo gravadas no meu home-studio e é possível que a gente use coisa das demos no disco mesmo. Eu vou gravar e mixar o disco aqui mesmo, a masterização vai ser feita no Absolute Master, estúdio onde masterizo todos meus trabalhos nos últimos anos. Se mais no futuro surgir a oportunidade de trabalhar com um bom produtor fora do país, vai ser excelente, somará pra banda e eu pessoalmente vou poder ver um outro profissional trabalhando, a gente sempre aprende. Mas esse disco estamos fazendo em tempo recorde e seria loucura envolver alguma pessoa de fora nisso. Vamos começar a gravar dia 10 de Dezembro e entrego o álbum pra gravadora final de Janeiro, é nosso prazo. O disco sai em Maio de 2016.


BD: Uma curiosidade: musicalmente falando, o REBAELLIUN sempre se caracterizou por uma técnica musical mais refinada, uso de refrões, mesmo com tanta brutalidade. Me parece que as influências do grupo não são somente de bandas de Death Metal. Estou certo? Poderiam comentar algo sobre isso?

Fabiano Penna: Realmente, nunca fomos pessoas radicais em relação à música. Eu pessoalmente só consigo categorizar a música em boa ou ruim, não fico pensando muito qual estilo o artista faz pra ver se gosto ou não gosto. Tem dias que gosto de ouvir Bob Marley em casa, sou fã declarado do Johnny Cash, meu herói na guitarra é o Hendrix, não é o Dimebag Darrel. E é assim com o Lohy também, que é um garimpador de música nova e obscura, o Ronaldo que é um grande conhecedor de música brasileira, o Sandro que tem toda sua base no Hardcore e começou a tocar Death Metal bem depois. Acho que essa salada só soma pro trabalho que a gente desenvolve.


BD: E chegamos a uma pergunta quente: junto com a volta do REBAELLIUN, a Domination Management também retornou, ou seja, vocês intimaram a dona da empresa a voltar com vocês (risos). Como é viver nessa parceria? Aliás, pelo que sei, a Janaína é uma excelente profissional. E por falar nisso, os shows estão chegando. Já existem datas em vista? E como os interessados podem contatar vocês?

Fabiano Penna: Exato! A Janna acabou virando uma amiga próxima, eu encontrei ela dezenas de vezes nesses anos em que o REBAELLIUN estava inativo, tanto em shows que fiz no Rio de Janeiro com outras bandas, quanto em visitas que fiz a ela também. E ela foi uma das pessoas que acompanhou o processo da possibilidade da gente se reunir de perto, dando força e tal. Ela vai estar responsável pelos shows no Brasil que acontecerão a partir de Maio do ano que vem. Já estamos negociando as primeiras datas, e se você é um produtor lendo essa entrevista e tem interesse no show do REBAELLIUN na turnê de 2016, mande um e-mail para rebaelliun.booking@gmail.com

Sandro Moreira (bateria)

BD: Após "Burn..." ser lançado, em 99, vocês estiveram em tour pela Europa. E acredito que o pessoal de lá também anda ansioso por revê-los. Já há planos para datas por lá?

Fabiano Penna: Sim, ao todo foram 4 turnês pelo continente europeu entre 1998 e 2002, quando a banda acabou. Formamos uma base de fãs bem sólida em vários países, mas claro que estamos cientes que o tempo passou e que temos que recomeçar esse trabalho visando atingir o público mais novo e literalmente recuperando o público daqueles tempos. A gente já tá estudando junto ao selo possibilidades de entrar em turnê em 2016 na Europa, mas até o momento nada concreto, com o lançamento do disco novo isso vai ficar mais perto de acontecer.


BD: E chegamos ao final da entrevista. Quero agradecer mais uma vez por tudo, e por favor, deixem sua mensagem para nossos leitores.

Fabiano Penna: Valeu Marcão pelo espaço e pela força de sempre! Fiquem ligados que em breve já divulgaremos mais novidades sobre o álbum e também como vai ser o começo da turnê no Brasil. At War!

Lohy Fabiano: Novamente obrigado, Marcos pelo apoio e pela grande entrevista. Agradeço também a todos que têm nos ajudado, divulgando, compartilhando, e acreditando na força do REBAELLIUN, seja pessoalmente, ou pelas redes sociais.  Aguardem, que em 2016 estaremos de volta à estrada, trazendo o “The Hell’s Decrees” para declarar de vez que o inferno é aqui!


Da esquerda para direita: Lohy, Fabiano, Ronaldo, Sandro


Ouça os álbuns "Burn the Promised Land" e "Annihilation".


"Burn the Promised Land"



"Annihilation":


Contatos para shows: rebaelliun.booking@gmail.com


Contatos:

Metal Media (Assessoria de Imprensa)
Domination Management (Management)
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