4 de set. de 2015

Heavy Metal em Combustão Espontânea - Entrevista com SYREN



Por Marcos "Big Daddy" Garcia


A banda carioca SYREN já é uma velha conhecida dos headbangers brasileiros que apreciam um bom Heavy Metal tradicional.

Guitarras com riffs pesados e agressivos, além de solos melodiosos. Baixo e bateria formando uma base pesada ora simples, ora mais rebuscada. E um dos melhores vocalistas do gênero. Esta é a fórmula da Locomotiva Heavy Metal conhecida por SYREN, que foi mostrada no ótimo "Heavy Metal", de 2011. Mas com "Motordevil", a banda mostrou-se renovada, seja na formação, seja na musicalidade, que ficou mais moderna e agressiva que antes.

Aproveitando o bom momento, onde shows e mais shows ocorrem, além da entrada do guitarrista Leandro Carvalho, fomos bater um papinho com os Brazilian Metal Bastards e ver as novidades, bem como saber um pouquinho do passado.

Da esquerda para a direita: Julio, Leandro, Luiz, Maurício

BD: Antes de tudo, quero agradecer demais pela entrevista. A primeira pergunta é: o que ocorreu com a banda entre o lançamento de "Heavy Metal" e a chegada de "Motordevil"? Inclusive, a formação que gravou "Heavy Metal" toda saiu, menos o Luiz (vocalista). O que causou toda essa evasão?

Luiz Syren: Muito obrigado pela oportunidade de falarmos com nossos amigos (fãs) que nos apoiam tanto e obrigado a você por manter a bandeira da música pesada hasteada no topo.

Bem, você ter uma banda como prioridade na sua vida em um lugar como o Brasil é uma das tarefas mais complicadas que existe, a manutenção é cara, o investimento é alto para um retorno ínfimo a curto ou médio prazo, conclusão : Só os loucos com visão permanecem nessa estrada louca.

A formação que gravou o "Heavy Metal" não foi a mesma que saiu em tour e eu só tenho a agradecer ao Marcos Kult (COLDBLOOD), D. Arrawn (COLDBLOOD), B. Arrawn e Guilherme De Siervi (SKYRYON, OMEGA BLAST) por fazerem parte dessa família chamada SYREN. Todos tinham suas bandas e projetos, apenas retornaram para eles, permanecendo apenas eu e o Bruno Coe na banda. Hoje posso afirmar que temos uma formação sólida e focada em fazer e levar muito barulho da SYREN para todos vocês.


BD: Outra: o que causou essa demora entre os dois discos? Foram as mudanças de formação ou algo mais?

Júlio Martins: Tínhamos um contrato com uma gravadora americana para relançar o "Heavy Metal" e o "Motordevil". Esse contrato foi assinado antes mesmo de gravarmos o "Motordevil", em 2013, o que fez o disco ser finalizado em tempo recorde! Tudo feito em um período de 1 mês, por causa de prazos impostos por essa gravadora para o lançamento do CD. Daí o prazo foi sendo prorrogado. Foram passadas para nós umas 4 datas de lançamento nessa janela de 2 anos entre os dois discos, e nada. Então finalmente, após esse tempo todo, a gravadora abriu mão de lançar o "Motordevil" e liberou o disco. Foi aí que surgiu o interesse da Shinigami Records de fazer o lançamento.

Luiz: O engraçado foi que a gravadora americana (assim como várias pelo mundo) tinha um medo enorme de fazer negócios com brasileiros por nossa famosa falta de comprometimento ou de cumprir prazos e etc. e os próprios fizeram justamente o que mais temiam.


BD: Olhando em perspectiva, vemos que a diferença entre "Heavy Metal" e "Motordevil" é gritante. O primeiro, apesar de soar pesado e moderno, não chega a ter toda a agressividade do segundo. O que houve que "Motordevil" saiu tão agressivo assim? Não que eu esteja me queixando, acho-o ótimo.

Julio: Principalmente a formação da banda. O baterista e os guitarristas que gravaram o "Heavy Metal" eram outros, com outras influências. E creio que uma galera mais das antigas. A minha entrada e a do Guilherme, acabou trazendo mais modernidade ao som, pelas nossas influencias de bandas mais atuais. Todos nós sempre tivemos um pezinho no Thrash! Adoramos o estilo! E na época, estávamos escutando bastante coisa nesse meio do Thrash e Death Metal. Temos várias bandas amigas que estavam lançando discos fodas nesse nicho, e isso acabou influenciando um pouco na pegada do "Motordevil" também. E acho que podemos dizer que nesses últimos anos, essa "agressividade" vem aumentando bastante nos novos lançamentos dentro do estilo em geral.


BD: Ainda falando de "Motordevil": um dos pontos mais legais da produção é que ela deu a clara impressão de que a banda está tocando ao vivo. Sim, eu mesmo comprovei isso quando tocaram em 16/01/2015 com o DREADNOX e o STATIK MAJIK. Era a intenção da banda, quando estava gravando, buscar essa fidelidade ao som mais visceral de seus shows ao vivo?

Maurício Martins: A intenção da banda era que o disco soasse o mais orgânico possível. O que isso quer dizer? Quer dizer que as músicas fluem naturalmente, sem a necessidade de se inserir elementos que, mesmo enriquecendo a música gravada, poderiam acabar impactando na versão final, ao vivo. É interessante, porque uma música gravada fiel ao que é tocado ao vivo aumenta muito a identidade do público com aquela composição, o que aproxima de maneira geral, o público da banda.

Luiz: Desde a Demo, eu sempre lutei pelo som orgânico e fico feliz por você ter percebido isso, particularmente não gosto das bandas que processam demais o sem som final, a idéia é colocar o ouvinte dentro do estúdio com a banda ou em um show com o som e a vibe. Fazer esse mix é muito complicado hoje em dia, para não soar nem datado e nem moderno demais em termos de mixagem. O Alexandre fez um trabalho maravilhoso no "Heavy Metal", mas Bruno Coe conseguiu captar toda a essência do som que tinha na minha cabeça insana no "Motordevil"... ahhaha


BD: Aliás, esse show foi insano, pois poucos dias após Guilherme (ex-guitarrista) sair da banda, veio o Metal Inc, e tocaram com o Carlos Losch. E eu jurava que ele seria o novo homem das seis cordas. Mas no final, Leandro (ex-UNLIVER, PAINSIDE) quem ficou na vaga. Como foi todo esse processo até ele entrar na banda? E como tem sido a convivência, os shows, os ensaios com ele? Aliás, parabéns: mais um ótimo guitarrista no SYREN. 

Maurício: Pois é! Quando o Guilherme saiu da banda, houve um breve momento de tensão, em que nos perguntamos: “Porra, quem vai conseguir tirar 9 músicas em 1 semana?!”. Eis que Luiz surge com a resposta ideal: Carlos Lösch. O cara não só tirou as 9 músicas (muitas das quais ele sequer tinha escutado na vida), como fez um show monstruoso ao nosso lado. O Carlão, no entanto, sempre deixou claro que era tudo temporário, respeitamos muito isso... afinal, o cara tem dezenas de outros projetos, que demandam muito tempo. O Leandro entrou durante os ensaios para o segundo show do ano, fazendo uma parceria com o Carlão. O cara tem uma mão de pedreiro! Os riffs soam absurdos na mão do Leandro, destruição pura! A cara da banda, rsrsrsrs... Além disso, o cara é amigo antigo da banda, o que facilita demais a formação convivência de toda a banda. Bastaram dois shows e o cara conquistou a gente, assumindo de vez a guita da SYREN. 


BD: Já que falamos de guitarristas, em "Heavy Metal" a banda tinha uma dupla, mas depois, ficou só um guitarrista. O que motivou essa mudança? E isso não chega a ser um fator que acaba limitando um pouco o som do SYREN em certos aspectos?

Maurício: Limita como? Nós não temos a pretensão de que a sonoridade da banda ao vivo seja exatamente igual à do CD. O show é um momento ímpar, no qual a música que você toca mexe não com o lado musical do ouvinte, mas com a parte do feeling. Isso quer dizer que a interpretação ao vivo deve ser perfeita, sendo até mais importante que a execução. Existem momentos chave nas músicas que devem ser feitos precisamente iguais ao CD, lógico, mas quando se cria um bom arranjo instrumental, a música soa de maneira perfeita. A mudança para apenas um guitarrista foi uma coisa natural, que aconteceu durante o período que Guilherme tocou com a gente. Um novo momento está amadurecendo, de repente ele nos trará surpresas em breve!

Luiz: Um guitarrista incomoda muita genteeee (risos e mais risos)... Dois guitarristas incomodam , incomodam muito maissssss !!! ahahhahah (e mais risos)

O Guilherme sempre reclamava por nós mantermos apenas uma guitar para o "Motordevil", mas, estávamos traumatizados com o número de mudanças de formação e preferimos manter a banda como um quarteto, isso seria de forma passageira como sempre colocamos... Aguardem novos capítulos...


BD: Voltando a falar de "Motordevil", a capa é bem legal. O trabalho de Antonio Cesar da (da Not.A.Pipe) é ótimo. Mas como chegaram até a capa? Ele apresentou um desenho ou vocês mesmos deram a idéia do que desejavam?

Julio: Acho que fazer a capa do "Motordevil" foi mais complicado do que compor e gravar o disco em si (risos)! Estávamos entre dois nomes para o disco inicialmente: "Fighter" ou "Motordevil". Optamos por "Fighter"! Então começamos a trabalhar em uma capa para o disco com o Antônio, visando esse título e esse conceito. Por influência da gravadora americana, com quem tínhamos contrato, mudamos o nome para a outra opção, "Motordevil" e mudamos o rumo da concepção da capa. Fizemos uma primeira versão. Era bem brutal! Mas por sugestão da gravadora, novamente fomos moldando a arte até chegar ao que é hoje se encaixar nos "padrões ideais" para o lançamento. Mas a ideia sempre foi fazer uma capa desenhada a mão, para fugir um pouco dessas artes de hoje, que são todas muito parecidas! E o Antônio fez uma arte incrível! Da vontade de mandar fazer um quadro com a arte e colocar na parede (risos)!

Luiz: Lembro que fiquei uns quase três dias sem dormir com o Antônio e seu sócio, a banda e o dono da gravadora simultaneamente enviando mensagens a cada mudança na capa mesmo que mínima, ao final eu simplesmente desmaiei em frente ao computador, e isso foi sério. 


BD: E as letras? Quais seriam os temas mais centrais que usam? E de onde surgem as idéias? 

Luiz: As letras desde o primeiro álbum seguem a mesma temáticas, somos pessoas positivas, achamos que tudo é responsabilidade sua, se está na m. a culpa é sua, se está muito bem na vida isso também é culpa sua. O objetivo das mensagens nas letras é que você pode mudar o seu meio ambiente independente do que acontece de ruim ao seu redor, e também exploramos algumas vezes o lado escritor e historiador do Bruno Coe (baixista) onde ele relata acontecimentos que marcaram as pessoas em determinado tempo da história. 


BD: "Motordevil" tem tido uma recepção muito boa da crítica, mas e em termos de público? O que as pessoas estão achando do SYREN e das músicas novas nos shows?

Maurício: O público tem dado um retorno espetacular!! O pessoal sempre manda mensagens elogiando, falando as músicas favoritas, muito legal! Esta boa receptividade é muito importante para a gente, motiva demais. Afinal, que banda que não tem aquele receio de ter um disco mal recebido pelos mais importantes críticos, que são os fãs?

Quanto às músicas tocadas nos shows, a galera se amarra em peso. E o "Motordevil" tem isso de sobra! Isso, somado à uma boa execução e bons arranjos, torna a música muito atraente ao público. Temos ouvido opiniões muito motivantes com relação às apresentações da banda!


BD: Vocês já liberaram duas músicas de "Motordevil" para a audição, que foram "My Shadow, My Friend" em um lyric video, e "Eyes of Anger" no Soundcloud. Há a expectativa do lançamento de um vídeo oficial? E se já existe algo em andamento, poderia nos adiantar informações?

Maurício: Sim, estamos avançados no projeto de lançar um vídeo oficial de uma das faixas do "Motordevil". Por razões óbvias, não vamos revelar a faixa, mas ela foi escolhida baseada na opinião pública, ou seja, na música que nos mostrou ter maior repercussão. Nos parece muito claro que todos querem ver um vídeo daquela faixa pela qual têm mais identidade.


BD: Desde 2014, vocês fazem parte do rooster da Metal Media. E de lá para cá, o SYREN tem crescido bastante. Acreditam que parte desse crescimento vem como fruto dessa parceria? 

Maurício: O Rodrigo e a Débora são tudo o que precisávamos para a divulgação do nosso material. O quanto eles trabalham, sugerem ideias, batalham diariamente por nós é indescritível. Em tempos atuais, nos quais se vê muita gente trabalhando mal e apelando para a concorrência desleal, encontrar uma parceria honesta como essa nos dá uma firmeza muito grande para continuarmos nosso trabalho. Certamente, muito do material que tem sido gerado atualmente se deve demais a esses dois, e por isso somos eternamente gratos.

Luiz: Acredito muito nisso. Trabalhei com algumas assessorias e posso afirmar que a Metal Media foi a perfeita para nós e para divulgação do nosso trabalho, e no fim além de trabalhar com ótimos profissionais com pés no chão ainda ganhei um ótimo amigo na figura do Rodrigo e sua esposa Débora. Agradeço a paciência e competência dessa dupla para conosco. 


BD: E shows? Vemos que estão à toda, com apresentações como o Metal Inc, depois no Unmasked Brains Festival, abertura para Paul Di'Anno... Já está na hora da Locomotiva Heavy Metal entrar nos rumos em direção a SP, MG e outros cantos...

Maurício: Estamos negociando várias datas ainda para este fim de ano. Devemos começar a estender em breve a divulgação do "Motordevil" para outros estados e países, assim como fizemos com o "Heavy Metal". O fechamento de novas datas depende de muitas coisas, como a consolidação de parcerias em outras praças. Todos que estão no meio sabem como é enjoado caminhar como banda independente neste país, não há nenhum incentivo, público ou privado, havendo a necessidade de a própria banda ou o produtor arcar com os custos básicos de viagem. Mas felizmente somos uma banda afortunada.Em breve teremos muitas datas para a galera! 

Metal Inc: SYREN com Carlos Losch e as meninas do grupo de Pole Dance Studio Anna Bia.

BD: Uma notícia recente de vocês fala de um show acústico de vocês. Sei que a idéia é nova, mas como ela surgiu? E mesmo já sabendo que serão lançadas em vídeo, existe alguma possibilidade de virar mais um EP da banda? Se não, a idéia está dada! (Risos)

Maurício: A ideia surgiu na verdade durante um ensaio, ainda quando tocávamos somente com o Carlão. Tocamos uma música em um formato um pouco diferente, mais leve, apenas de brincadeira. Gostamos do resultado e pensamos em dar uma investida. Selecionamos quatro músicas para gravações acústicas, que estarão sendo disponibilizadas nas próximas semanas. A ideia do EP já foi ventilada e é possível que se concretize, mas a ideia ainda precisa amadurecer muito! 


BD: Bem, vamos encerrando por aqui. Mais uma vez, agradeço demais pela entrevista, e por favor, deixem a mensagem da banda aos seus fãs.

Queremos agradecer a cada um que comprou e compra o nosso merchand (CDs, camisas, cerveja, etc ), que comparece em grandes números nos shows que participamos, cada um que ajuda compartilhando ou simplesmente falando da SYREN com os amigos ou em suas redes sociais e a inspiração que vocês nos dão para manter essa locomotiva barulhenta nos trilhos.

MUITO OBRIGADO.


Contatos:



Veja o lyric vídeo para "My Shadow, My Dear Friend", faixa de "Motordevil":


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