12 de ago. de 2015

Inteligência a serviço do Metal extremo - Entrevista com o IN TORMENT




Em termos de Metal extremo, o Brasil tem uma longa tradição no gênero. Mas raras são as bandas das vertentes mais extremas que usam letras mais rebuscadas e inteligentes, como é o caso do quinteto de Death Metal IN TORMENT, de São Leopoldo (RS). Na luta a quase 20 anos (a banda foi fundada em 1997), e que estão em seu terceiro, "Sphere of Metaphysical Incarnations", e acabam de retornar de uma bem sucedida tour pela Europa.

E por meio da MS Metal Agency, lá fomos nós bater um papo com a banda.

In Torment

BD: Primeiro, gostaria de agradecer de coração a vocês pela entrevista. E de cara, vamos logo partir para uma pergunta quente: como foi o giro na Europa? Foram quantos meses e quantas datas? E por quais países passaram? E o mais importante: com quais bandas tocaram, e como foi a recepção ao som de vocês por lá?

Alex Zuchi: A “Metaphysical Incarnated Euro Tour” aconteceu no mês de julho juntamente com as bandas Vulvectomy da Itália e Bloody Violence do Brasil. Passamos por diversos países como Alemanha, Itália, Holanda, França, Bélgica, República Tcheca, Hungria e Sérvia. Foram 12 shows no total e a receptividade em geral foi positiva. Os shows foram realizados com bandas locais e na Itália dividimos o palco com os americanos do Pig Destroyer.


BD: Ainda sobre a tour na Europa: tendo em vista que o Brasil está passando por uma crise financeira, acreditam que este é o caminho (ou seja, ir mais frequentemente para o exterior) para que as bandas possam viver de seu trabalho? Mesmo porque, em termos de Brasil, para existir um grande tabu quando se fala em viver de música... E não só no meio Metal, digamos de passagem...

AZ: Eu percebo que a crise que assola o Brasil não é tão diferente da crise que assola o mundo, em menor ou maior grau, obviamente. Portanto, dificuldades são encontradas em quase todos os lugares. Viver de música? Não temos essa pretensão e muito menos condições de transformar isso numa realidade. Viajamos única e exclusivamente para divulgar o álbum novo, juntando grana e tentando viver o sonho de, pelo menos por um curto espaço de tempo, ser um músico “profissional”. Não lucramos com as turnês, o que buscamos sempre é equalizar os gastos para tentar voltar zerados, o que nem sempre é possível. Somos movidos somente pelo amor pela música, por isso todos nós trabalhamos em outras atividades e usamos os recursos com o objetivo de fazer um trabalho diferenciado no IN TORMENT.


BD: Falando um pouco de "Sphere of Metaphysical Incarnations". Parece ser mais um álbum conceitual, como foi em "Paradoxical Visions of Emptiness". "Sphere..." seria uma seqüência de "Paradoxical...", ou temos um conceito totalmente novo?

AZ: Sim, ambos os álbuns são conceituais. Porém, os conceitos são diversos, não há correlação entre as narrativas.


BD: Ainda sobre o "Sphere...", achei o conceito bem interessante, e parece-me ter influências de filosofia e mesmo elementos científicos ali, misturados. Como a idéia surgiu e foi sendo amadurecida? Aliás, parabéns, pois particularmente, ando bem farto de capetismo vazio e temas pobres em letras (risos).

AZ: Obrigado, também estou cansado dos clichés que muitas bandas adotam. “Shere...” descreve o nascimento de um novo Deus, manifestado por uma esfera de poder. A carne é a passagem, as almas a energia e a divindade representada pelo cosmos é o responsável pela transformação. Tua observação é precisa, tentei fundir alguns conceitos de filosofia, religião, bem como alguns conceitos científicos numa estória fictícia. As músicas vão narrando cronologicamente o desenrolar dessa narrativa.


BD: Existem duas citações interessantes no encarte do "Sphere": uma de Carl Jung e outra de Henri Bergson. Confesso que fui procurar saber um pouco mais do último, a quem não conhecia. Onde o pensamento de ambos se encaixam no conceito lírico de "Sphere"? 

AZ: Durante a criação do conceito do álbum, eu buscava frases que corroborassem com toda a ideia por trás do material. Questões relativas ao poder da mente, a condição humana e a capacidade de compreensão de eventos que estão acima do nosso conhecimento. A grandeza do universo e a necessidade da humanidade em apenas acreditar no que seus olhos registram (aqui excluo os conceitos religiosos).

BD: Falando do lado musical, vocês mostram uma música que foge aos padrões dos gêneros, usando uma música mais bem arranjada e dinâmica, com algumas melodias bem colocadas. A que atribuem estes elementos tão diferenciados dentro de sua música? Ecleticismo em termos de Metal, poderia ser?

AZ: O IN TORMENT é formado por cinco indivíduos com gostos musicais bastante diversos, porém unidos pelo amor ao Death Metal. Assim, tentamos não nos prender em rótulos enquanto estamos criando. Se uma música pede uma melodia, ela será incluída, se um andamento mais lento é necessário da mesma forma será incluído. Isso torna a música mais interessante. Existem centenas de bandas de Death Metal absolutamente iguais, e nosso objetivo é justamente o oposto, queremos tornar o som do IN TORMENT único.

BD: Em "Sphere...", pela terceira vez, Sebastian Carsin produziu um disco de vocês. Qual o motivo dessa fidelidade? Poderíamos dizer que o Sebastian é o sexto membro do IN TORMENT? E digamos de passagem que a sonoridade de "Sphere..." é ótima.

AZ: Sim, consideramos o Seba como um sexto integrante da banda. Além de ele conhecer profundamente a sonoridade da banda, ele conhece muito sobre produção e demais aspectos técnicos necessários para que um álbum de Metal extremo soe bem. Inclusive, o Seba é um guitarrista muito talentoso e contribui sempre com ideias para solos e andamentos. Nesse terceiro álbum, ficamos muito satisfeitos som a sonoridade alcançada.


BD: Um pouco depois do "Sphere" chegar ao mercado, o batera Dio saiu, dando lugar ao Cássio (ex-THEORDHER). Aliás, parece que bateristas são um problema crônico do IN TORMENT. Turminha difícil de se trabalhar junto a dos bateristas (risos).

AZ: Tocar em uma banda sempre é uma atividade complicada, uma vez que cada integrante convive com os demais numa espécie de “casamento sem consumação física” e as relações às vezes se desgastam (risos). No nosso caso, porém, acabou que após o lançamento do álbum novo. O Dio Britto tinha alguns projetos de morar no exterior e acabamos perdendo novamente o dono das baquetas. Historicamente sempre foi um problema para o IN TORMENT encontrar um músico competente para esse posto. Tivemos muita sorte quando encontramos o Dio e muita sorte também quando o Cássio Canto se juntou a nós, visto que é um grande músico e um cara muito tranquilo de se trabalhar. Temos uma expectativa enorme em começar a compor o 4° álbum com ele. 


BD: Outra: o Renato Osório (do HIBRIA) gravou o solo de "Mechanisms of Domination". Isso é bem fora do comum, já que a cena extrema no Brasil é bem fechada (mais em termos de mentalidade). Como foi que surgiu a idéia dele tocar este solo? E já que radicalismo não parece ser a de vocês, como enxergam a mentalidade que uns só querem ouvir Metal extremo, outros só o lado mais melodioso, uma vez que o Metal é um estilo só? 

AZ: Somos apreciadores de boa música e avessos ao radicalismo gratuito. Se eu escuto uma música e percebo qualidades nela não me importa o estilo ao qual esteja categorizada. Rótulos não são importantes e não deveria haver regras e imposições acerca disso. Escuto do Pop, Clássico até o Brutal Death Metal e não vejo problema algum em ouvir outros estilos. O Renato foi convidado por um dos nossos guitarristas e ficamos felizes quando ele aceitou participar. A pegada um pouco Hard Rock do solo trouxe ainda mais diversidade ao álbum. 


BD: Bem, e em termos de shows? Como andam as coisas por aqui? Se bem como eu disse antes, a crise deve estar tornando tudo mais difícil... Não há previsão para um giro por SP e outros estados?

AZ: Temos marcado um show na cidade de Novo Hamburgo/RS com os poloneses do Vader em Novembro. Fora isso, algumas sondagens de shows que talvez se concretizem. Temos a intenção de divulgar o novo álbum fazendo o maior número de shows em território nacional possível, porém as ofertas precisam ser factíveis. Paralelamente, iremos iniciar o processo de composição para o 4° álbum ainda esse ano.


BD: O RS tem uma tradição em termos de Metal. E se falarmos de Death Metal, nomes como KRISIUN, o do agora regresso REBAELLIUN, e o do IN TORMENT são mencionados como pontas de lança do gênero. Como enxergam a cena do RS? O que poderia melhorar? E em termo de Brasil, ainda é viável fazer Metal por aqui? 

AZ: A cena do Rio Grande do Sul é muito forte, temos excelentes bandas nos mais variados estilos musicais como o Thrash, Black, Death, Doom, Heavy, Hard. Acho que muitos aspectos poderiam melhoram em nossa cena, principalmente no que tange ao profissionalismo do underground e me refiro aqui a todo o Brasil. A cultura nacional está baseada no músico underground tocar no amor, sem receber cachê, e com equipamentos muitas vezes precários. Isso é desrespeitoso. O músico tem que ser valorizado. Não querem investir nas bandas que tocam no seu evento? Coloquem som mecânico para alegrar o público. Claro que existem produtores honestos, dedicados e que apoiam a nossa cena, mas ainda eles são minoria. 

Não é viável fazer Metal no Brasil e acho que nunca foi economicamente falando, tiradas, obviamente, meia dúzia de bandas mais conhecidas. A grande maioria das outras, assim como nós,toca por amor a musica, a arte da criação e ao bom e velho underground.


BD: Agradecemos demais pela entrevista. Por favor, deixe sua mensagem para seus fãs e nossos leitores.

AZ: Nós é que agradecemos pela entrevista e pela oportunidade de divulgar o IN TORMENT. Aqueles que tiverem interesse em obter informações mais detalhadas sobre a banda sinta-se livre para mandar um e-mail para alexzuchi@hotmail.com. Vocês também podem checar nossa página no Facebook (www.facebook.com/intormentbr). Continuem apoiando o metal nacional!




Por Marcos "Big Daddy" Garcia


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