Nota 10,0/10,0
Por Marcos “Big Daddy” Garcia
Alguns músicos são revolucionários por natureza. Eles nunca estão satisfeitos com o que já fizeram, sempre buscam novos desafios, e expandir limites. E esses, apesar de poucos, são capazes de gerar revoluções que ecoam por anos, décadas, e que talvez tenham ecos por toda história do Metal como um todo. E digamos que falar de qualquer trabalho onde Thomas Gabriel Fischer (mais conhecido por Tom Warrior) está envolvido sempre chama enorme atenção. E não sem motivos, já que seus trabalhos com o HELLHAMMER e o CELTIC FROST são muito importantes para uma enorme gama de gêneros do Metal. Discos como “Apocalyptic Raids”, “To Mega Therion” e “Into the Pandemonium” são muito adiante de seu tempo, muitos deles copiados hoje em dia à exaustão, mas nunca igualados em nada. E com o TRIPTYKON, temos mais uma vez trabalhos excelentes que transcendem limites. Ouvir um disco como “Melana Chasmata”, segundo álbum do grupo, é uma experiência única e maravilhosa.
Antes de tudo: se você busca algo que lembre o HELLHAMMER ou mesmo a fase inicial do CELTIC FROST, já pode ir desistindo. Mais uma vez, vemos um trabalho onde regras não são obedecidas, usando um enfoque soturno e mais experimental, mesmo estando dentro do Metal extremo (se é que até isso importa a eles). Como visto em “Eparistera Daimones”, disco anterior do quarteto, em “Melana Chasmata” mais uma vez evidencia o lado revolucionário, aglutinando influências musicais diferentes, mas de forma coesa e palatável, em uma música que pode soar soturna e intimista, e logo a seguir, virar uma explosão de agressividade. O trabalho vocal ainda se baseia em vozes rasgadas, mas há espaço para vocais limpos e femininos em belas aparições; os riffs são pesados e azedos, mas com melodias densas e cativantes, baixo e bateria mostram peso e boa técnica, conduzindo os andamentos da banda com variações importantes. Se o quarteto não abusa da técnica, mostra que dentro do que se propõe, sabe ser criativo e original.
Com Tom e Michael Zech (que fez a mixagem) na produção, mais Michael Zech como co-produtor (e que masterizou o CD), vemos uma qualidade sonora que consegue aliar peso, agressividade e limpeza de uma vez só. Tudo está audível e em alto nível. A parte artística é mais um trabalho do finado H. R. Giger, com o design de Marsen Angler, e ficou ótimo, transparecendo o trabalho musical do grupo.
Triptykon |
Com nove faixas cuja duração média é de seis minutos, permitindo que a banda desfile um verdadeiro arsenal de boas composições, o disco é perfeito. Nada nele se joga fora, mas é de assustar ver composições como “Tree of Suffocating Souls” (uma música bem agressiva e abrasiva, cheia de nuances sinistras, com ótimas guitarras e bateria mostrando força nos bumbos duplos), seguida da mórbida e introspectiva “Boleskine House” (com vocais agonizantes e outros mais góticos contrastando com vozes femininas bem melodiosas, em um soturno desfilar de ótimo trabalho das guitarras, e solos surpreendentemente melodiosos). Em “Altar of Deceit”, temos um início bem calmo, para então virar uma canção também de andamento mais cadenciado, com um trabalho ótimo de baixo e bateria. “Breathing” seria uma música que chega perto da fase mais agressiva do CELTIC FROST, rápida (embora não o tempo todo), com riffs pesados, solos abrasivos e alguns “uh!” para os fãs, sendo a faixa um pouco mais direta do trabalho. Um clima introspectivo permeia “Aurorae”, que é uma canção mais voltada ao Doom Metal, mesmo com alguns momentos mais agressivos, mais uma vez mostrando a força das guitarras. Batidas tribais e alguns efeitos dão início à “Demon Pact”, outra com jeitão denso e introspectivo, e vocais góticos, antes de virar uma pancada tenebrosa e de andamento arrastado, mesmos elementos que vemos em “In the Sleep of Death” (sendo que esta apresenta alguns arranjos de baixo e bateria ótimos). O disco fecha com a soturna e climática “Waiting”, que mistura em partes iguais bom gosto e peso, mais alguns momentos mais introspectivos cheios de efeitos eletrônicos e algumas guitarras limpas. Mas se essas músicas não te convenceram, não tem problema: a penúltima, “Black Snow”, com mais de 12 minutos de duração, riqueza instrumental, diversidade de momentos e clima sombrio e pesado, recheado de belo trabalho de cozinha rítmica, vocais bem postados e riffs ganchudos, o fará de mudar de idéia.
Amem ou odeiem, mas a verdade é simples: tudo que Tom Warrior cria é de primeira linha.
Músicas:
01. Tree of Suffocating Souls
02. Boleskine House
03. Altar of Deceit
04. Breathing
05. Aurorae
06. Demon Pact
07. In the Sleep of Death
08. Black Snow
09. Waiting
Banda:
Thomas Gabriel Warrior – Vocais, guitarras, programação
V. Santura – Guitarras, vocais
Vanja Šlajh – Baixo
Norman Lonhard – Bateria, percussão
Contatos:
Metal Media Management (Assessoria de Imprensa da Tellus Records)